blog caliente.

31.10.04

Insucesso

Entrámos vivos no dia de finados.
Toca o sino na torre, as doze do costume.
É outro dia.
Faltam os do costume, mais o Nélson.
Reprovou.

Fim de Outubro

Que excelente cerâmica me dedica o João Tunes! Oferece-me a figura dum imbecil subalimentado, delgado e alongadito, "à Modigliani", fardado de semideus, com a iluminada e asceta fronte estupidamente erguida, a campânula do estetoscópio roçando-lhe o umbigo, as torpes pendurezas descaídas, entre o "sandalame". Tudo para eu pôr, pelos vistos, em cima da minha lareira. Para o João, eu sou aquilo. Se não sou, é, pelo menos, o que vinha no embrulho.

Muito obrigado, João. A sua opinião de mim é tão sua que lha devolvo: nem me cabe em cima da lareira nem eu a queria lá, se me coubesse.
Tente você sentá-la no seu sofá.

Rocco, o mártir

Sentem-se mais puros, hoje? Sim? É natural. Todos sabemos que, periodicamente, isso acontece.

Lixo selectivo

Há um político, um político do aparelho socialista, que mora aqui perto. Há pouco tempo atrás, esse político teve um público desaguisado com o partido que lhe terá feito esmorecer a pequenita ambição de chegar ao poder autárquico - o poder que, em Portugal, mais se ajusta a uma gestão destutelada (e, portanto, desabrida) e que, para quem tem fígado suficiente, melhor serve de trampolim para negócios lucrativos e influências duradouras: é pequenino e interessa a poucos, o que garante a pouca ou, pelo menos, intermitente, intrusão dos media(*).

Esse político, dizia eu, zangou-se com o partido. O amuo, mágoa, fúria, seja lá o que for, que o ostracismo socialista lhe provoca fê-lo tomar uma decisão. Decidido que foi, tratou de executar. Tenho de tirar o PS da minha vida.

Hoje de manhã, junto aos contentores de lixo selectivo, já lá estavam os caixotes de cartão, cheios de livros, de recortes de imprensa, de registos partidários, de CD-ROM cheios de discursos, de medalhas comemorativas, de fotografias suas com notáveis do partido e do Governo, com outros autarcas e até com o Presidente da República. Limpou os resíduos do passado e respirou de alívio. Um verdadeiro divórcio, que lhe tornará o luto mais curto.

Umas horas depois, já os seus despojos de guerra tinham sido partilhados. Uns ficaram com os livros, outros com as papeladas, outros dividiram as fotos. A mim, mostraram-me algumas delas. Não é, porém, seguro que nenhum deles pegue no acervo que lhe coube e o vá mostrar... claro, aos media(*). E o político abandonado pelo partido, que tanto se pôs em bicos de pés para parecer o que nunca pôde ser, estará de novo na ribalta. Mais lhe valia ter esperado por uma fogueira do São Martinho para queimar tudo.


(*) A palavra Media é latina. A suprema e banalizadíssima parolice consiste em lê-la como se de uma palavra anglo-saxónica se tratasse. É mesmo media que se lê; não "mídia". Diz obrigado, besugo, pela acha que deitei na fogueira do Paes. Exultate.

30.10.04

Antes do andebol

Confesso que o que escrevi ontem sob o esbugalhado título "O congro" resulta, apenas, da minha péssima formação moral e duma inenarrável inveja.

Sim, admito aqui, prostrado de vergonha, que adoro com veneração quem, mais do que trabalhar em comunicação, afirma trabalhar em "mídia". Assim mesmo, "mídia", como "deve de ser". Mais admito que ser assim, "aloirado, comprido, com ar de franganão de aviário", é uma qualidade do "fêxen" (é como se lê "fashion"; e bem, que é para imbecis como eu não pensarmos que estamos a falar de modas e que a Maria Gambina é para aí alguma modista), uma meta a atingir que me enerva porque, ó vã cobiça, já lá não chego. Eu admito o que quiserem. Mesmo a esbelteza, a finura grácil de Manuel Serrão. Tudo, mesmo.

Também gosto de quem diz "fêmiélias", em vez de "famílias". Agora estou sempre a ouvir falar em "fêmiélias". E gosto, gosto muito, é como se deve dizer "famílias" , denotando real preocupação pelas "fêmiélias". É toda uma sonoridade "fêxen", que empresta unto engrandecedor ao substantivo colectivo mais antigo e pequenito.

Eu gosto de tudo.
Não me meçam por um escrito infeliz, por favor.
Não me façam a folha, façam-me a "mídia".

Muito obrigado. É hora do andebol. Até mais ver.

O congro

O Sporting ganhou 3-8 à Fundação Jorge Antunes, em futsal. Pronto, é o futebol de salão, nomenclatura abandonada ( e bem) porque "de salão, evidentemente, só as danças e algumas anedotas". Bom resultado, João Benedito.
Fui espreitando, enquanto o meu filho mais velho escolhia toques polifónicos para o Nokkia, o mais novo me explicava que "o pai do Henrique também lê o Harry Potter, só tu é que não", e a Ferreirinha (excelente série) me mostrava a casa vista de fora.

Lembrei-me, evidentemente, de Paes do Amaral. Aquele aloirado comprido com ar de franganão de aviário. Lembrei-me dele, claro está, na única vertente (para mim) interessante de Paes do Amaral, que é muito menos atraente do que eu, mesmo esforçando-se: "a barba por desfazer dá um ar blasé e faz estarrecer".
Isto depende, evidentemente. Mas nele, que ainda por cima tem cara de congro, o desleixo é estudado e pornográfico. Em mim, que sou belo e latino, é mera e excelente falta de tempo. Fica-me melhor a mim o deleixo ocupado que a ele o estudo mal feito de si.

Não gosto de tipos assim. Já se tinha percebido, creio eu.

29.10.04

O direito de pernada

Alguns portugueses que vivem no Estados Unidos foram questionados sobre "o que pensa você das eleições americanas?". Isto deu na SIC, na TSF, se calhar noutros sítios, lá foi dando.

Muitos desses portugueses vão participar na votação (com expressão mais marcante que a que aqueles votantes europeus empenhados tiveram nas "eleições paralelas feitas aqui para provar lá que, cá, ele não ganhava!". Bacoquices. Não interessa nada, é lá que as coisas se estão a passar).

Que disseram eles, esses portugueses?
1 - Que o petróleo está muito caro.
2 - Que havia pessoas que há uns anos ganhavam 15 dólares por hora e, agora, ganham só 8. O que preocupa essas pessoas.
3 - Que daqui até Maio há pescadores sediados no porto de New Bedford que só têm 36 dias para pescar e ganhar a vida. A vida ganha em 36/210 dias, mais avo menos avo, há-de ser uma vida fraccionada e fraccionária...
4 - Que Bush é mais forte que Kerry, porque lá fora (é no resto do mundo... que parece que, mesmo visto de lá, ainda há mais mundo) têm mais medo ao Bush e, assim, "não voltam a morrer aquelas pessoas do 11 de Setembro". Eu, isto, até garanto.
5- Que há um seguro de saúde para os pobres, pago pelo governo (eles lá não usam a palavra Estado, percebem que Estado e governos são coisas diferentes, não é como aqui), que é rejeitado, muitas vezes pelos médicos. Falou um dentista que disse que "não lhe compensa tratar aqueles desgraçados" porque, inclusivamente, tem de os tratar mais depressa para poder entrar o próximo, "o que lhe compensa".
Este filho da puta, já de "soteique na vocalisation", que é português e dentista, não tem vergonha nas fauces. Acha, adicionalmente, que a economia cresce mais se baixarem os impostos sobre os empresários "y sus empresitas", porque assim "eles" (os filhos de algo, os eleitos por esse deus menor) dão mais emprego (ó generosidade!) aos desgraçados que não o têm.

Amanhã, se estiver para essa merda, venho aqui falar sobre o Feudalismo e, em geral, sobre as vantagens da Idade Média sobre o livre pensamento. Encontrei as raízes do liberalismo num baú, que querem? Regressámos, do ponto de vista filosófico ( e filogenético) ao senhor Darwin. Que nem tem culpa, ele era um primata superior que estudava as relações entre os animais da selva.

Ou então, não. Tenho é de repensar a educação dos meus filhos. Eu quero que eles sejam felizes. Não que sejam especialmente respeitados por quem (imbecis!) pensar como o pai.
Vamos pescar, que faltam poucos avos para quase tudo.

28.10.04

A vichyssoise

É simples, Alonso. É evidente que Marcelo não mentiu. Repara:

- Foi o último a falar. Falou depois de Santana Lopes, de Gomes da Silva, de Paes do Amaral e, sobretudo, depois de todo o país ter percebido que, aqueles sim, omitiam o aspecto mais relevante do episódio de que cada um conhecia uma parte. Como naquele filme dos Irmãos Cohen, o Blood Simple, que acaba... enfim, não posso contar como acaba. Dele, até ontem, apenas se soube o mínimo indispensável - que se demitia da TVI, na sequência da dita conversa. E só depois de convocado pela AACS - só existindo pretexto, como se o assunto, por ele, estivesse encerrado - é que falou para pôr fim à bagunça (ou para iniciá-la de vez, pensando bem), mas não sem antes deixar que os outros se espalhassem ao comprido - pobres néscios - na suposição de que Marcelo se calaria para sempre quando ele apenas esperava pelo momento certo para regressar à boca de cena.

- Não vimos o Paes do Amaral a refutar com firmeza o que ele relatou. Viste? O que vimos foram evasivas, conceitos indeterminados, generalidades. Para refutar o que Marcelo circunstanciadamente relatou, seria necessário contrapôr factos aos factos de Marcelo. Esperar-se-ia, também, indignação pelo facto de Marcelo ter mentido e ter revelado pormenores de uma conversa que ambos tinham acertado ser sigilosa. Também nada disso se viu.

O que se viu foi que Marcelo, velha raposa, percebeu imediatamente que a médio prazo rentabilizaria o seu silêncio. Assim, limitou-se a comunicar o estritamente necessário quando a bomba explodiu, deixou, no entretanto, correr todo o marfim e só depois voltou, para contar a parte que ele sabe, que a ele em tudo beneficia e aos outros em tudo amarfanha. Até o Alonso, mais a sua boa vontade para com a coligação governante, percebe que isto é a única coisa límpida de toda esta história. Tal como a Vichyssoise, que não passa, afinal, de uma sopinha aguada, só traumatizante para o Ministro de Estado, da Defesa e do... pois, do Mar. Ainda não é desta que o Portas se reabilita daquele barrete que tão candidamente enterrou(*).


(*) A faceta cândida do Portas é algo que me dá uma enorme vontade de rir...

Que sopa terão comido?

De todos os comentários que li até agora, de todos os relatos da "audição" do Marcelo, julgo perceber que nenhum dos membros da AACS lhe perguntou que sopa teriam (ele e o P. Amaral) comido no famoso almoço.

É uma questão trivial, mas foi através dela que o Paulo Portas pôde saber que o Marcelo mentia (a ser verdade o que o Portas contou publicamente, e que o Marcelo nunca desmentiu).

A questão é esta: o Marcelo pode mentir, sabe mentir e já mentiu.

Eu não sei se ele agora está a mentir outra vez ou não. Mas faz-me impressão que, nem neste blog nem em parte alguma, essa hipótese seja, sequer, abordada.

27.10.04

O que pretende Marcelo?

Tomemos a evidência de base: muito mais do que frontalidade (ou a par disso) Marcelo possui notabilissimas inteligência e sagacidade. Muito mais do que emotivo, Marcelo é cerebral. Donde, o seu demorado silêncio, hoje quebrado em estilhaços, pode significar que cometeu um premeditado e intencional hara-kiri político, com efeitos devastadores não só no seio do PSD mas no seio de todo o espectro político e partidário.

Ao explicar tudo o que se passou, sem sequer cuidar de evitar que se percebesse a forma obscena como foi pressionado, Marcelo rompeu com os ancestrais usos e costumes políticos em tudo a que respeite aos silêncios convenientes, ao tráfico de influências, às contrapartidas partidárias ou à cartelização de áreas eleitorais. A partir de hoje, Marcelo provavelmente tornar-se-á um proscrito da classe política: porque qualquer um deles pode vir a estar na berlinda, nenhum poderá confiar num homem que, a dada altura, divulgou o teor de uma cena explícita de pressão em tudo semelhante às que diariamente sucedem com outros protagonistas da política e da economia nacional e prosseguindo os mesmos exactos fins. A única diferença é que esta, por inabilidade do Ministro Gomes da Silva (o da tese da cabala subjectiva) e imediato aproveitamento de Marcelo, tornou-se pública. Não é inédita, mas é pública.

A ser assim, e como não acredito num Marcelo precipitado e inconsciente, nunca ele quis, afinal, candidatar-se a PR. De ora em diante, e depois de um providencial período sabático, colocar-se-á do lado dos críticos apartidários, onde dará largas à sua prodigiosa capacidade de influência das massas, ceifará estratégias políticas e promoverá novos talentos, eventualmente - quem sabe - num novo jornal, que ele próprio fundará à sua medida.

Isto não é, evidentemente, o que vai acontecer. É só o que me daria gozo que acontecesse.

Rocco, herói da Cristandade (versão séc. XXI)

Não, não morreu no Coliseu de Roma, como no séc. I

Não, não morreu nas Cruzadas, como na Idade Média

Não, não morreu a tentar evangelizar tribos amazónicas ou senhores da guerra japoneses, como depois do Renascimento

Não, não morreu guilhotinado pela Revolução Francesa

Não, não morreu numa missão obscura em África ou na Ásia, como foi costume no séc. XX

A verdade é que nem morreu ... tristes tempos estes, em que nem é preciso morrer para se ser herói.



P.S. - À lolita: Não te tentes enganar a ti própria. Fosse o Rocco simplesmente um conservador no que respeita à sexualidade e à família (como se calhar outros candidatos à Comissão são) e este pagode não existia.

Repara que não lês uma notícia, não vês uma reportagem, não ouves uma declaração política sobre o assunto em que não esteja presente a dimensão católica do personagem.

E em política o que parece, é.


P.P.S. - Hoje ouvi o Bagão na TSF a dizer que era católico (não deve ter sido coincidência, acho que lhe deu gozo dizê-lo). Eu sei que ele, além de católico, é conservador.

Concluo ser inevitável que o IRS do próximo ano agrave específicamente os escalões dos homossexuais e das mulheres trabalhadoras. E que o IRC seja proporcional ao número de trabalhadoras que cada empresa tenha nos seus quadros.

É que, como católico, deve desincentivar o pecado, nem que seja pela via fiscal. Se não o fizer, arrisca-se ele próprio a pecar, claro.

P.P.P.S. - Não sei bem porquê, mas tudo isto me diverte.

26.10.04

Esguichos de besugo



1 - O Sporting, embora treinado por José Peseiro (4-3-3?, 4-4-2?, 1-2-3-4-1? como é que disse?) lá eliminou aquela equipa da Figueira da Foz. Isto alegra-me, embora seja trivial. Ambas as coisas são triviais, aliás: a pequena coisa de ganhar à Naval e o facto de eu me alegrar com pequenas coisas. Descansem, com as tristezas sou igual.

2 - Os amigos entendem-nos sempre: quase nunca nos explicamos mal aos amigos. E, mesmo que não sejamos totalmente claros, os amigos entendem que, pelo menos, quisemos fazer-nos entender. E procuram perceber, porque são amigos ( lá está), qualquer coisa que não tenha ficado totalmente clara. Outra pequena alegria, bem grande, esta. Obrigado, Alonso. Por, pelo menos, te esforçares por ler.

3 - Quanto a Buttiglione: tenho andado a informar-me sobre a pessoa em questão. Apenas aqui, no remanso de casa, e no Mar Salgado. O Mar Salgado é muito bom, muito cálido, muito calmo, sempre muito azul, sempre com marés de ir e voltar. Há mares assim, toma-se lá banho muito bem. São mares azuis de bandeira sempre verde. E, como têm marés honestas, devolvem sempre à costa os corpos estranhos que neles se aventuram. Vive-se sempre melhor na certeza do regresso.

O Rocco, os pecados e os crimes

Não me parece relevante, para se analisar o grau de "modernidade" do Rocco, que ele distinga (pelo menos no discurso... eu desconfio dele, sim) entre censurabilidade religiosa e censurabilidade penal. Não é só pela via da penalização que se atribui desvalor ético aos comportamentos sociais; também o pode ser pela via da segregação, só para dar um exemplo. Parece-me é ser impossível que uma qualquer pessoa colocada em situação em que tenha de intervir sobre o bem-estar colectivo ou que tenha o poder, por qualquer forma que seja, de influenciar o curso da história, que o faça com total demissão das suas convicções políticas, éticas ou religiosas. É também por esta razão que tudo isto me parece um embuste.

Lembro, também, o Alonso (embora ele saiba, que eu sei que sabe) que o pensamento ultra-conservador Buttiglioniano não se limita à condenação da homossexualidade. O Rocco defende, por exemplo, que o homem é o protector da mulher e dos filhos e que o papel social fundamental da mulher é o de dedicar-se à família. Isto não é novidade, já o Ratzinger diz o mesmo. A questão é que o poderoso cardeal Ratzinger, que é poderoso no seio da Igreja, não foi proposto comissário da justiça, da liberdade e das garantias de um organismo supra-estadual laico - e o Rocco foi. O que defenderá ele, pergunto, no que respeita à implementação de medidas para a garantia da igualdade de oportunidades, por exemplo, no emprego?

O Alonso refere-se à forma ostensiva com que o Rocco mostra a sua condição católica destacando-a quase como um acto de coragem. Ora isto parece-me um preconceito virado do avesso. Não me tinha apercebido de que ser católico é uma condição não divulgável ou, pelo menos, contidamente divulgável. Tenhamos em conta, Alonso, outro dado não dispiciendo: nem todos os católicos são ultra-conservadores. A polémica da nomeação do Rocco não reside, assim, no facto de ele ser católico - o que seria, de facto, persecutório e absurdo, mas sim na circunstância de ele sustentar doutrinas incompatíveis com as actualmente unânimes políticas europeias da defesa dos direitos, liberdades e garantias em relação a, pelo menos, estas duas matérias: sexualidade e família.

Por isto tudo, espero eu que o braço de ferro entre o Zé Manel e os socialistas do PE penda para o lado destes. Em alternativa, e porque assim é mais democrático, espero que a nomeação do Rocco integre um período experimental de... cinco anos.

de pecados e crimes

Vem esta fugaz prosa a propósito do seguinte excerto, escrito pela lolita:

"Continuo sem perceber muito bem como se pode defender que a homossexualidade é pecado sem que isso não signifique que, face ao Estado, constitua um crime; também me custa a entender como convivem, na mesma pessoa e no mesmo pensamento, duas morais distintas que, nos "resultados" éticos, mutuamente se excluem"

lolita, deixa-me explicar, escrevendo aqui a lista dos sete pecados que a Igreja Católica considera os mais graves de todos (na clássica linguagem eclesiástica, os "mortais"):

1 - Ira
2 - Inveja
3 - Soberba
4 - Luxúria
5 - Gula
6 - Preguiça
7 - Avareza

Pela lista verás, sem necessidade de mais explicações, que não é, sequer, possível "criminalizar" pecados.

O que posso admitir - e foi disso que falei - é que sobre o Rocco recaia, fundadamente, a suspeita de "conservadorismo" político e legislativo, no que respeita a comportamentos sexuais que ele acha errados.

Mas não é isso que afecta a corrente dominante do pensamento político "europeu". Sabe-se que há conservadores e que estes têm da homossexualidade o conceito de que é um desvio do comportamento sexual. E que são relutantes em conferir às uniões ou relações homssexuais os mesmos efeitos (ou direitos) que são conferidos às relações heterossexuais.

O que afecta essa corrente, neste caso, é que o homem, mais do que conservador, é católico e, pasme-se, não o omite. É essa a "fractura" a que me referi, no mundo "absolutamente" laico que quer proibir o uso de véu às muçulmanas, de turbante aos sikhs e de sotaina aos padres.

P.S. - besugo, li-te e percebi-te. Se algum dia eu for teu doente, espera que eu te faça a pergunta para me responderes.

Hill Street Blues



Ainda que seja inquestionavelmente pertinente a preocupação do LNT quanto à inoperância do law enforcement face ao crescendo de assaltos, não se admite que ele transforme o Officer Relker, o detective que ladrava e mordia os assaltantes na saudosa Balada de Hill Street, no exemplar fotográfico de um comum e perigoso delinquente!

OK, na aparência ele não andava lá longe, admito. E, com isto, o LNT fez-me lembrar de uma série que já tem mais de vinte anos e de que eu não perdia um episódio (perdia, pois, mas não gostava). Quando não havia SIC, TVI ou Sport-TV. Afinal, vivia-se bastante bem quando ainda não havia canais alternativos - e quando o Morais Sarmento ainda era caloiro de uma universidade qualquer.

25.10.04

Histórias pequenas

Decididamente, não devo explicar-me bem. É a segunda vez que noto isso hoje.

Uma pequena história que aqui deixei ontem mereceu-me, do Ma-Schamba, algumas invectivas sobre o obscurantismo da profissão médica, uma (quase) ameaça de enxovia, um manifesto de "como médico não te queria" e uma maldição. A propósito da mesmíssima historieta, o Água Lisa, tirando a maldição e a ameaça de cadeia - vá lá, ter-se-à contido - (e uma coisa sobre um capelão cuja batina não vejo que me sirva) atira-me mais do mesmo, tudo misturado com um frango mentiroso qualquer. Eu sobre isso do frango não digo mais nada, já disse o que tinha a dizer ali abaixo: não era disso que se tratava.

Agora, sobre a minha pequena história, digo só mais isto: o César, que não se chama César mas que está doente, nunca me perguntou se vai viver muito ou pouco tempo. Se me perguntar, um dia (acabam sempre por perguntar) eu dir-lhe-ei a verdade que sei, da maneira que me parecer, na altura, que ele quer sabê-la. Sem saber, obviamente, se estarei a dar-lhe a melhor resposta, a resposta certa. Há muito de "parece-me que" em tudo aquilo que não é ciência exacta (há quem lhe chame obscurantismo, a este não ter bem a certeza, mas eu admito que Sócrates não esteja na moda).

Para já, o César tem a resposta que tem querido ter. Bastava terem mesmo lido o início daquela pequena coisa que eu escrevi para que vos ficasse ao menos isso, claro e plácido na sua calma limpidez. Ora releiam, se quiserem fazer o favor: "O César está cheio de medo de estar mesmo doente. O pior é que está, de facto, muito doente. Julgo que sabe, no fundo; acho que até lhe palpita, mais ou menos, o que o espera. Só ainda não encontrou nos meus olhos a verdade que lhe escondo, nem no fundo de si a resposta para o que evita perguntar-se."

O tempo e os anos são bons conselheiros. Fui aprendendo que nem toda gente que trato carrega cestos vindimos e se chama César. Que há pessoas que, com legítimo direito, me perguntam de olhos nos olhos, com impressionante firmeza, "vou morrer? quanto tempo?". E aprendi, também, que algumas dessas pessoas, após uma resposta directa, tão directa como a pergunta, uma resposta plena de informação e de percentagens, emudecem e ficam profundamente tristes, ou indignadas, ou ambas as coisas (o que também é legítimo, note-se), logo a seguir. No Vemos, Ouvimos e Lemos conta-se, aliás, um caso que não se afasta grandemente do que acabei de afirmar.

Eu terminei aquele desengraçado escrito de ontem dizendo que "quando for a minha vez, César, se chegar a ser, não me enganarão nunca como eu te faço a ti. Consola-te comigo. E insulta-me sempre que te sentires pior, eu não tenho culpa mas também não sei muito bem que mais hei-de fazer connosco".

Desejo que nunca chegue a vez do Ma-Schamba, nem a vez do Água Lisa, cruzes canhoto. Como gostaria que não chegasse a minha, evidentemente. Mas não consigo deixar de invejá-los a ambos por saberem tão bem aquilo que quereriam saber, se a vez deles chegasse. Eu tenho dúvidas. Mas talvez atinja esse elevado patamar de lucidez e segurança um dia destes, quem sabe...

E o César não fala convosco, senhores, que eu não deixo. Enquanto puder, claro. Se ele insistir...

Rocco

Continuo sem perceber muito bem como se pode defender que a homossexualidade é pecado sem que isso não signifique que, face ao Estado, constitua um crime; também me custa a entender como convivem, na mesma pessoa e no mesmo pensamento, duas morais distintas que, nos "resultados" éticos, mutuamente se excluem. No limite, e por absurdo que possa parecer, Buttiglione nega a relevância social da religião que professa, ao recusar-lhe qualquer tipo de ingerência no seu pensamento e acção política como futuro comissário europeu. Nessa dimensão poderá, por hipótese, reduzir-se a um mero tecnocrata executor de políticas alheias, o que é muito pouco para um comissário. O que torna esta hipótese, nessa medida, muito pouco verosímil. Ou então mente e não é nada disto que ele pretende fazer.
Em qualquer caso, e em qualquer hipótese, nada disto parece normal.

Tudo isto a propósito da fracturância que o Alonso lhe atribui. Não basta ser diferente, é preciso ser evolutivamente diferente. Senão, regride-se ou estagna-se, e uma fractura engessada demora um bom bocado a curar.

Notas internas

1 - O Alonso reapareceu. En hora buena!
Desta vez a ausência foi justificadíssima. E, perfeitamente, registei: já não segue o raio do microscópio. Segue , ao invés, foto autografada da Ana Drago, para culto ou, em alternativa, para voodoo... que não deixa de ser uma espécie de culto, vendo bem.
As alternativas ficam à escolha da petiza, quando ela crescer o suficiente para se interessar por estas coisas do (o)culto, sendo certo que, por essa altura, já Louçã será presidente da república, Ana Drago ministra da administração interna e Fernando Rosas, que terá cortado o cabelo, primeiro ministro dum governo de coligação. Obviamente, uma coligação (a décima terceira coligação pela viabilidade governativa) com o CDS-PP, um partido treinado nestas lides da viabilização que, por essa ocasião, terá uma expressão eleitoral de cerca de 1,27%. Ou seja, caberão todos, à larga, na porção de bancada que o SLB reserva aos adeptos vistantes. Quanto a Miguel Portas? Não sei, não consigo ver tão longe.
Olha, isto às tantas não vai ser nada assim, mantém-te calmo e pega lá um abraço.

2 - O stkaneko afirma que o canto que antecedeu o primeiro golo do Sporting foi mal assinalado. E eu acredito, que remédio: nem sequer vi a repetição e ele viu-a mais de um milhar de vezes (provavelmente para tirar as dúvidas todas, digo eu... não?)! Mas o golo foi limpinho, não foi? E soube-me que nem ginjas, rapaz!
Também afirma que o golo que o Ricardo sofreu pela selecção não tem nada a ver com o que o Moreira encaixou ontem, porque o livre era indirecto e a bola não tocou em ninguém. Ora bolas, eu devo explicar-me mal, só pode ser isso! Eu referia-me, como (pensava eu) era evidente, ao tipo de lance em questão, àqueles cruzamentos côncavos para a baliza, que passam por toda a gente e ninguém lhes toca, ficando o guarda-redes "suspenso" dum toque que não aparece para, depois, se fazer à bola... tarde demais. Até lhe chamei "bola doida" e tudo!
Quero lá saber, para esta discussão, se o livre era indirecto: o que sei é que vários jogadores se fizeram à bola, ninguém lhe tocou, ela lá foi, o Moreira lançou-se tarde (como é da praxe, tal qual o Ricardo) e "lá entrou ela".
Lances em tudo iguais, do ponto de vista da "análise do goleiro", que era o que estava, pelo menos por mim, desde o início, em discussão.
Estamos entendidos, ó lampião?
Outro abraço.

Ditadores que caiem e comissários que vão à missa ...

Antes de mais, começo por agradecer ao besugo e à lolita as palavras simpáticas que aqui deixaram a propósito da mais nova das minhas "alonsitas".

Pedindo ao besugo que, em vez do microscópio, lhe ofereça um daqueles martelinhos com que os médicos nos faziam dar um pontapé sem querer. Acho que ela vai precisar mais de uma arma para se defender dos irmãos do que de um aparelho que eles estragam antes dela saber olhar lá para dentro.

Pedindo à lolita que lhe mande "O Capital" (perdi o meu). Leva menos de dezoito anos a ler e, se o ler na idade certa, compreenderá melhor mais tarde porque é que o BE precisa de uma refundação, com menos vedetismo e mais humildade proletária e colectiva. Ana Drago ... prepara-te para a reforma!

Mudando de assunto:

1 - O Fidel caiu. Vai por aí (e por aqui) um sururu enorme sobre aqueles a quem a queda diverte e aqueles a quem a queda não diverte.

Eu, por mim, tive pena dele. É uma sina minha, ter pena de ditadores militares sul-americanos.

a) O Pinochet, esse banana que entregou o poder em referendo (o que o transformou num renegado dessa ilustre família) fez-me pena quando o vi na cadeira de rodas (se bem que nunca percebi porque é que ele se vestiu à civil e tirou os óculos escuros. Perdeu-se um ícone ...);

b) O Noriega, esse ícone do "flower power" ou do "sex and drugs and shoot'em all", fez-me pena quando o vi preso pelos americanos;

c) o Videla, esse "uomo di rispetto" argentino, faz-me pena quando o vejo acossado pela justiça argentina;

d) O Fidel, esse arauto da liberdade, que chora copiosamente quando manda prender escritores e fuzilar "compañeros" que não percebem bem como ele é bom para eles, fez-me pena quando caiu.
Consola-me que tenha caído fardado. Não há nada como uma bela farda para amenizar a indignidade de uma queda;

Enfim, todos estes deviam "cair" como fizeram cair tantos outros. Com honra, com farda e diante um pelotão de fuzilamento (sem venda). Gritando o que quizessem, de preferência "Libertad o muerte" ou então "Pátria o muerte".

Ridículo, ridículo é cair como caiu o nosso Salazar. Um reles civil ... que caiu porque se partiu a cadeira. Enfim, não gozarei com o homem, para não ofender o sentido de "respeito", tão caro à lolita.



2 - Outro sururu que vai por aí - não tanto neste blog, é certo - tem que ver com o Butigglione (ou lá como é que isso se escreve). A lolita diz que não percebe porquê, e aproveita para mandar umas farpas ao Berlusconi.

Eu percebo: o Butigglione é "fracturante". De uma "fracturância" nova. E é também um sinal dos tempos. À medida que a "doutrina social dominante e politicamente correcta" se vai consolidando, vai também evoluindo na sua relação com aqueles que lhe escapam. Agora já não lhes exige apenas que sejam discretos nas suas convicções religiosas - se as têm e querem ser políticos - exige também que as percam ou reneguem.

Dito de outra forma, levanta-se agora, com pertinência, a seguinte questão: a da compatibilidade do exercício de funções públicas com a pré-existência de convicções religiosas do candidato ao cargo.

Como sinal dos tempos que é, este episódio é merecedor da devida nota e da devida reflexão.

Mister Mourinho!



Está a chegar o novo simulador de treinador de futebol da EASports. Mais completo que o anterior e exigindo ainda mais astúcia na gestão de uma equipa de futebol este jogo vai merecer a minha atenção.
Tem ainda a particularidade de ser apadrinhado pelo sempre irreverente Mourinho.

P.S. - Com esta pose o homem ainda vai fazer o anúncio da Martini...


La nave va

Não percebo a discussão tão alargada sobre a possibilidade do Buttiglione ser comissário europeu apesar das suas expressas convicções sobre a família e a sexualidade, tendo em conta que não se sabe, nem se discute, que possíveis qualidades políticas, científicas ou sociais ele possui que o tornam apropriado para o cargo - para além de ter sido indicado por Berlusconi, o homem que há uns tempos atrás decidiu que Darwin e o determinismo biológico fossem eliminados dos curricula escolares italianos. Tudo para que não se mate o sonho bíblico.

Arbitragens cuidadosas...

Depois de termos visto, durante a semana, que a bola do SLB – Porto não entrou, como mostra a fotografia, tivemos este fim-de-semana mais uma mão cheia de boas decisões de arbitragem. Venho aqui exclusivamente para avivar alguns…

1º caso – Vi mais de 1750 vezes o lance do canto que dá origem ao primeiro golo do Sporting contra o Belenenses. Não há canto nenhum pois quem cabeceia a bola pela linha de fundo é o Polga, mas o assistente entendeu que sim!

2º caso – O segundo golo do Porto contra o Penafiel é conseguido depois de um fora de jogo descarado do McCarthy… O assistente estava a olhar para as moças da bancada e não viu!

3º caso – O Besugo de certeza que estava desatento e não reparou que, o golo sofrido pelo Moreira hoje não tem nada de parecido com o do Ricardo. E não tem nada de parecido porque o do Ricardo era um livre directo, não tocou em nenhum jogador, entrou e valeu. O do Moreira hoje era um livre indirecto, não tocou em ninguém, entrou, valeu (embora esteja o contrário nas leis de jogo, mas isso é só para alguns…)!

P.S. – E um dia destes vamos ver um árbitro a marcar, ele próprio, um golo ao SLB!

Calços

O César está cheio de medo de estar mesmo doente. O pior é que está, de facto, muito doente. Julgo que sabe, no fundo; acho que até lhe palpita, mais ou menos, o que o espera. Só ainda não encontrou nos meus olhos a verdade que lhe escondo, nem no fundo de si a resposta para o que evita perguntar-se.

É daqueles que vai fazendo quimioterapia como quem tomasse uma aspirina, protestando de cada vez que se sente mal, “porque é tudo da aspirina que você me mandou tomar!” . Revolta-se, fala alto, atira-se a mim como gato a bofe, “que raio de tratamento você me deu desta vez, que arreou comigo!”. Sempre com olhos amigos, de manso revoltado. Gosto dele.

Na sexta-feira apareceu-me, à tarde, com sensações esquisitas, as famigeradas neuropatias da oxaliplatina. E revoltado contra mim, como de costume. Uma revolta amigável, como se andássemos os dois a cortar uvas na mesma ramada e ele me culpasse por ser eu a marcar o ritmo. Não sou, ele não sabe, mas é ele que o marca, raios o partam!

Tem um cancro do intestino, mas para ele “aquilo é tudo do fígado” . E é, tem razão. Lá estão as metástases, o cancro espalhado, às bolinhas, pelo fígado todo.

O César sabe que não está bem, mas não sabe que vai morrer antes de passar mais um ano.
Faz algum sentido explicar-lhe que estas foram as suas últimas vindimas? A um tipo da minha idade, que ainda acarta cestos vindimos cheios de uvas, de calço em calço? Que quando não está cheio de medo me ameaça de tainadas em que "aí é que se vai ver se o senhor é um bom garfo ou não, logo que eu melhore!"?
Não faz sentido nenhum. Hei-de enganá-lo enquanto puder. Hei-de prometer-lhe, quando ele duvidar, outros outonos.

Enganar pessoas é, talvez, quase sempre, a minha mais nobre missão. Mentir não é torpe quando se sabe isto, de ciência exacta: quando for a minha vez, César, se chegar a ser, não me enganarão nunca como eu te faço a ti. Consola-te comigo. E insulta-me sempre que te sentires pior, eu não tenho culpa mas também não sei muito bem que mais hei-de fazer connosco.

24.10.04

O redentor



O uga-buga brasileiro que reside na Quinta poderia ser, se preciso fosse, um arquétipo de todas as variante da sub-cultura brasileira. Agrega em si tudo o que o Brasil tem de mau - é palavroso, prolixo, pastoso, bajulador e presunçosamente ignorante - e nada do que o Brasil tem de bom (que, felizmente, é bastante mais e mais marcante do que aquilo que Brasil tem de mau). Ostenta, com apatetado orgulho, abundantes músculos profusamente tatuados e cultiva meticulosamente o look pró-rapper mais vulgar de que há memória, com o que se sente satisfeito com o que é e seguro de que não precisa de mais, como sempre sucede com os néscios.

No entanto, o público acha-lhe graça, como diria a Cinha, sua (dele) colega. E isto tem uma explicação longínqua, muito embora evidente: é ao advento da importação massificada da telenovela brasileira e quejandos, precedido de quarenta e muitos anos de sistematizado embrutecimento cultural, que devemos agradecer uma boa parte da estagnada anti-cultura portuguesa moderna, feita de idolatria de Wanderleys e de Suelis, de Carnavais de Alcobaça e de casinhas onde moram famosos ao serão depois da sacro-santa visita dominical ao xópingue. E de gritos primitivos de morte ao árbitro, de adeptos bairristas que odeiam sanguinariamente os adeptos dos outros bairros. E de baboso assombramento sobre os pormenores das mortes macabras perpretadas por agressores psicóticos, que possuem a essencial característica de serem reais.

O uga-buga brasileiro, porém, e tal como já tem sucedido com outros profissionais do arame, chegou para nos redimir: "opá! Eu adoro voceís, adoro Portugau, país irmaoum, os portugueses saoum legais, vai daqui dji dentro um abraçaoum prá todos voceís!. Tá, OK.

Na foto, aí está ele a desejar-nos "tudo dji bom". Até lhe mudarem o chip...

O problema dos tempos e, sobretudo, dos tempos verbais

Deixam-me aqui sozinho e eu, evidentemente, aproveito. Não deixo de ser um português "aqui e agora", não há que estranhar.
Bom.
Agora apetecem-me quatro soltas sobre futebol. E, depois, uma presa sobre futebol e a nossa vida. Enfim, uma espécie de pirueta parcial. OK, mais parcial que de costume.

1 - Mário Mendes, o árbitro do Benfica - Nacional, apitou de forma deprimida. Talvez não soubesse que a TVI iria transmitir o jogo, ainda por cima comentado por duas vocalizações de um cérebro (meio mais meio) que pensam (as vocalizações, daí o plural) que o futebol é uma mistura de "jogo de consola" e de "espectáculo desportivo" (baseados naquela teoria que afirma que se não fosse um espectáculo não se cobravam bilhetes, ora!).
Pois muito bem: o árbitro apitou quase sempre que alguém caiu, exibiu sempre uma expressão de profundo sofrimento e, bem vistas as coisas, a função correu bem ao Benfica. Dois bons golos, de dois dos três bons avançados que o Benfica tem, limparam a face duma equipa que mantém (e, pior que isso, põe a jogar!) Paulo Almeida e Argel. Que não deviam ter acabado o jogo, por indecente e má figura. Argel é um caso clínico, Paulo Almeida um caceteiro. Isto não é nada com o Benfica, atenção. É o com o "eçelebê", que me enerva.

2 - Aliás, isso do "eçelebê" enerva-me tanto que reparei que o Benfica começou a jogar melhor (até eu, que torcia contra, obviamente, que eu sou do Sporting, e só não estou a ver, roidinho, o Porto - Penafiel porque acho que vai sair dali o tipo de jogo que os "andrades" ganham facilmente, nem valerá a pena incomodar-me a engalinhá-los), quando das bancadas começaram a sair alguns gritos de "Benfica, Benfica". Com mil diabos, ó stkaneko! Tu vê lá se metes aquilo na ordem. Dizer "eçelebê" é uma paneleirice pegada, bolas. Tu manda-lhes um mail a veicular este profundo sentimento do teu irmão mais velho!

3 - O Álvaro Magalhães, que é aquela pessoa que sobressai no banco do Benfica porque tem um narizito esquisito (quanto mais o que tem à volta do narizito embalofar, mais o narizito "assuinado" será estranho, valha a verdade), devia ser obrigado a rever-se de cada vez que aparece na televisão. Que nauseabunda e parola figura aquele arremedo de tasqueiro faz, pelo menos de fato. Em tempos, quando se limitava a ser o defesa direito(*) raçudo do Benfica, aquele que recuperava bolas para entregar ao Chalana (que, depois, fazia dela - da bola - coisas bonitas) ainda se tragava. Agora, sobretudo de fatinho, não descanso enquanto não o vir a treinar o Sacavenense ou o Lourosa. A Naval não, "chiça-penico", ao largo!

(*) Corrigenda: o Álvaro era, de facto, defesa esquerdo; mas eu gostava era de ver jogar o Chalana, que tanto lhe fazia um lado como o outro, era sempre bonito a jogar, independentemente do acessório que lhe cobria as costas.

4 - O jovem Moreira demonstrou, hoje, à blogosfera e ao mundo, que a blogosfera e o mundo devem, imperativamente, ler besugo. Não apenas quando fala de futebol mas, sobretudo, valha a verdade, quando fala de futebol. No resto pode não ser imperativamente, vá lá, pode perfeitamente ser de forma, digamos, condicional.
O caso é o seguinte: Moreira mamou, hoje, um golo de bola doida, igual àquele que Ricardo (e tantos outros, antes dele) teve de mamar contra o Lixtantan. Eu deixo aqui o link para o que escrevi na altura. Não, não me agradeçam (aqui eu tento fazer uma voz tipo Eunice Muñoz). Mesmo que ninguém me felicite por ele, pelo link, sinto-me eu felicitado. Eu sei, eu sei, desde que li Nuno Bragança: o onanismo é o desporto dos imbecis. Mas eu nunca disse que era esperto, pois não? Tungas. Nem sou, calha bem. Como, à saciedade, prova o facto pueril de me citar. É que ninguém se cita meu Deus, nem os próprios toiros! Muito menos duas vezes!!!
Cala-te, besugo, que caladinho és mais lindo...

5 - Pronto, acho que era só isto. Ah! Falta a presa.
Que o Sporting ganhou ao Belém já toda a gente sabe e a normalidade não merece comentários. A menos que haja falta de novidades, o que nem é o caso. Há, por exemplo, a estranha ocorrência daquela miúda de 13 anos que escapou aos raptores (que a tinham, adivinharam, raptado, com saco e tudo) para ir a um cyber-café dizer que estava bem, embora não soubesse muito bem onde estava (vá lá, sabia como estava, não é mau...), crendo ela que estaria mais a norte do que já estivera antes. Isto tudo eventualmente.

Queres calar-te, besugo dum raio!?

Ellos dicen que puso, pues que sí...

Uma pessoa vai lendo títulos ao calhas e apercebe-se duma parcela não dispicienda da realidade. Não, de facto não admira que o Real Madrid pareça uma equipa cansada...

Monumentos



Para 31 de Outubro a RTP tem programado um documentário que considera explosivo. Intitula-se «THE WORLD ACCORDING TO BUSH / LE MONDE SELON BUSH».

Caramba! For Christ's sake! Oh-la-la!

A julgar pelos comentários que podem ouvir-se na "promoção-antevisão" da estação pública, o documentário abordará (centrar-se-á, mesmo) no pensamento político de Bush.
Ora, assim sendo, será um documentário muito curto.
Se ao menos focasse, por exemplo, todo o pensamento de Bush, seria um documentário um bocadinho mais comprido. Ainda assim, duvido que durasse mais que um intervalo para publicidade de qualquer uma das estações de televisão portuguesas. Sim, mesmo da 2, que só passa publicidade institucional.

Por que é que a RTP afirma tratar-se dum documentário explosivo? Pois, exactamente, a verdadeira questão é essa.
Na verdade, não sei dizer-vos. Contudo, se em vez dum documentário, se tratasse duma entrevista em directo ao actual presidente dos EUA, confesso que manteria uma certa e esperançosa expectativa. Sim, porque Deus é justo.

Recompensas



A RTP presta, provavelmente, um excelente serviço público.
A RTP acaba de prestar, sem qualquer dúvida, um excelente serviço a Nicolau Breyner.
De facto, ao ser indicado pela RTP para apresentar o programa “Rir Com Gosto” , o encorpado e monocórdico humorista atingiu o paroxismo do nirvana.
Confessou-me até, por e-mail, o seguinte: “besugo, é indescritível de comovente! Ver pessoas a rirem-se, mas a rirem-se de facto, num “show” em que eu entro!”.

Adenda à queda

Seguindo a linha metódica do João Tunes (embora em posta autónoma) devo dizer, antes de mais, que me pareceria estéril qualquer discussão sobre a tal "essência da questão", porque provavelmente estamos - eu e ele, muito mais de acordo do que ele pensa. Em todo caso, a discutir, preferiria uma discussão mais ampla, debruçada sobre governantes prepotentes, onde cabem ditadores declarados e opressores disfarçados que só não são alvo de manifestos panfletários de defesa de direitos humanos porque trazem uma encandeadora etiqueta de democratas.

Reitero e reafirmo que o que está em causa é a qualidade do gosto das piadas sobre velhos ditadores que caiem, assunto sobre o qual, como eu ao enjeitar a discussão da indiscutível ditadura, o João nada diz, o que me leva a crer que concorda comigo embora preferisse discutir as barbáries castrenses. Coisa que, como acabo de dizer, é indiscutível.

Concordo com quem quero e com que me apetece? Não. Concordo com quem opina de acordo com o que eu penso. O processo é todo ao contrário, João Tunes: no que toca a informação, nunca compro o que me querem vender. Sou eu que digo o que quero comprar. Esta, a opinião do JPP, comprei, assinei por baixo e associo-me a ela. E olhe que ele partilha do ódio que você devota ao Fidel. Já eu, por feitio ou defeito, resisto a alimentar ódios.

Quando digo que lamento manter intacta a minha opinião, referia-me só à desolação em estar em desacordo com o João Tunes e em nada às conjecturas que ele faz. É que eu ontem, quando falei disto, nem falava dele, como expliquei; e, quando falei, foi para falar do seu ternurento descendente.

No final, concordo consigo: se estivessemos sempre de acordo, seria como se discutíssemos sem fim a irracionalidade da ditadura cubana. Mas a verdade é que não foi isso que eu discuti. O que eu discuti foi o direito ao respeito (ou o reverso dever de respeito. E como fui eu que iniciei o tema, será isso que o João, se quiser, terá de discutir.

Saludos, João.

23.10.04

Sobre a queda de Fidel

Algo estarrecida com o que acabo de ler no Água Lisa, venho aqui esclarecer, sumariamente, o seguinte:

1. Não sou seguidista do JPP, não sou seguidista do Fidel, não sou e acho que nunca serei seguidista de coisa nenhuma. Muito menos discípula. Impõe-se alguma cautela quando, depois de as ler, se opina sobre as opiniões dos outros.

2. Não discuto, porque não é oportuno, porque não é esse o tema da discussão e porque simplesmente não me apetece discutir a evidência de que Fidel Castro é um ditador fossilizado, obsoleto, cruel e autista. A repulsa que o João Tunes mostra ter por Fidel não é muito diferente da tristeza que sinto em relação às más condições de vida dos cubanos; enternece-me e entristece-me. Mas não me esqueço de que ele, Fidel, não é o único culpado. Pois não?

3. Causa-me repulsa, isso sim, o riso fácil sobre fraquezas alheias para cuja existência o visado em nada contribuiu. Que dependem do decurso do tempo, que se lhe impõe. Falo de Respeito, a provavelmente mais sublime qualidade humana, que permite separar, com sabedoria, aquilo que é criticável do que é, apenas, circunstancial, às vezes tristemente circunstancial. E que torna elevada e consistente a crítica ao que seja efectivamente criticável.

4. O mais curioso de tudo isto é que, antes de criticar os que riram, eu não tinha lido o João Tunes a rir da famosa queda. Espanta-me, do que julgo conhecer dele, que tenha rido disso. E continuo a achar que é de mau gosto rir e fazer piada - que, com este pretexto, é tosca, sim - sobre tal circunstância. É a minha opinião que, por acaso, é semelhante à do JPP.

Espero ter sido clara, João Tunes. Lamento, mas mantenho intacta a minha opinião.

Algálias

A véspera do exame de Urologia estendeu-se até ao próprio dia da prova: eram 4 da manhã quando o P.P. (eu, deste P.P., sou amigo; a minha vida comporta alguns P.P. que são boa gente) e eu decidimos largar o ZX- Spectrum e uma tosca futebolada emocionante conforme estava na altura. Não me lembro quem ganhou, mas penso que fui eu. Por que não, já agora?

Desligámos a infernal e sofisticada maquinaria e, até às 9 da manhã, devorámos a sebenta. E, às 10 horas, lá estávamos, de banho tomado, no anfiteatro Poente do HSJ. A provas. Olarila.

Nunca saberemos algaliar em condições, que não se aprende isso nas sebentas, é pegando em "gaitolas" inapetecíveis. Mas que jogávamos bem aquilo do "futebolzito by Spectrum", lá isso, jogávamos.

O exame fez-se, não houve - nem há - qualquer crise: nenhum de nós é Urologista.

Mas este texto está bonito e faz-nos lembrar coisas engraçadas e um bocadinho antigas. Vai dar no mesmo, em a gente querendo.

A remissão dos pecados

Sobre a queda de Fidel eu diria antes uma coisa assim:
"Ontem caiu um homem que, por acaso, é velho. Houve quem se risse porque o homem velho, além de ser homem (e, no caso dele, velho), é, como todos nós, "outras coisas". Trata-se aqui de gente alarve, que encontra motivos para rir que ultrapassam a própria e malévola causa do riso. Que é alarve por isso. E malévola pelo resto".

No entanto, se caísse Paulo Portas, fracturando, por hipótese, o sacro, eu acho que diria isto:
"Ontem finalmente, o senhor ministro deu um trambolhão. Ao comprido. Não vi as imagens, mas espero que ninguém se ria tão desbragadamente do triste evento como eu me estou a rir neste momento. Por uma questão de originalidade e de decência vossa: é que a ideia foi minha!"

Por tudo isto, pensando bem, desculpe qualquer coisinha, JPP.

Outlook

Hoje virei o blog para dentro, às vezes é preciso, valendo-nos, a todos, a lolita: que o faz manter-se mirando o exterior.
Fui ler o João Tunes: parabéns, João, até porque Bagão, depois das fraldas, consta que subsidiará chupetas, garrafas-termos e leitaria adicional à da natureza.

JPP, para explicar que quem se riu de Fidel Estatelado (rima com Portugal Amordaçado) é estúpido e alarve, não carecia de se justificar com preâmbulos politicamente correctos.
Caiu um homem? Ninguém se deve rir. Bastava isso, sem alusões à identidade política do homem que caiu, que eu apenas registaria aqui um "tem você plena razão". Assim, fico sem saber se JPP veio dizer que não gosta de Fidel, ou se veio afirmar que não gosta de quem se riu da queda dele, ou (será, afinal, apenas isto?) se veio dizer uma das coisas (mas qual delas?) escudado na verdade da outra.

É que se veio dizer ambas, não faz sentido: a queda de Fidel é um facto isolado na sua infelicidade de tropeço, que devia valer só por si. Isto se, de facto, é para falarmos nele como "apenas um velho".

Beringel, o pensador



Beringel (é um nome ao calhas, mas estava na reunião de serviço, amuadito), de mental penico na mãozita frágil, referiu-se a eventuais estatutos especiais dos outros. Zombeteiro e leve, todo ele um pensador de refeitório, cuidou refulgir na sua malévola asserção.
Subitamente, perguntaram-lhe quantas vezes despejava ele, por semana, o penico dele; ao que retorquiu que "despejo uma".
Apontado a dedo por tão triste despejar, refugiou-se no sistema. Que não quis, infelizmente, discutir.
Tiro no pé. No mimoso pezinho de Beringel. Ainda lhe deve doer.

A dinastia

O bravíssimo Tomás, de pura raça Tunisina, futuro líder do movimento ASST (Anarquismo? Sim, Somos Tunisinos), provável benfiquista (enfim, a perfeição reside no aperfeiçoamento do erro...) está no Água Lisa. Parabéns ao babado avô João (*).


(*) Por mail, segue uma pequena contribuição de lenços de papel.

No entanto, o cubano continua a dar nas vistas.

O JPP tem razão. O simbolismo é atraente, mas fácil, e por isso não escapa do mau gosto. Associar a queda física do idoso Fidel à queda do regime cubano é piada tosca.

22.10.04

Reunião de Serviço



A coisa prometia. A reunião do serviço de Medicina Interna tinha, como ponto forte em agenda, o tema "como estamos, para onde vamos: a discussão, a decisão".

A mesa era mais ou menos igual à da figura. À volta, não havia nenhum tipo tão espadaúdo como o da "cabeceira de cá", nem nenhuma figura físico-intelectualmente tão decorativa que roçasse, sequer, a "sensual performance" da Mónica ou da Fátima Preto. Muito menos da Ana Maria Lucas, a única senhora, daquelas todas, que foi "miss"; embora o senhor Castelo-Branco quase tenha sido dama-de-honor, no tempo dele.

Também não havia comida sobre a mesa, verdade seja dita. Nem câmaras mais ou menos ocultas (espero eu).

A discussão centrou-se, como seria de esperar, não nos problemas do serviço (que os tem, tantos) mas, como era inevitável, no inefável serviço de urgência.

Houve quem apelasse ao espírito de sacrifício. Houve quem se queixasse de já não aguentar trabalhar mais horas por semana. Houve quem dissesse que tinha família (o que é ridículo, até parece que quem não tem família pode ser praxado adicionalmente, tipo "casasses-te, tivesses tido filhos"), quem batesse no peito sussurando alto que"eu trabalho muito", como se o trabalho dos outros, que é sempre medido por rasa menos fiável, não fosse trabalho, só porque é o trabalho dos outros.

Discutiu-se, na reunião do serviço de Medicina Interna, como era de prever, o serviço de Urgência. Esse cancro dos hospitais e do serviço de Saúde. A cloaca torpe e desgastante do sistema. A foz dum rio com muitos afluentes, em que todos os afluentes desembocassem, dezasseis Ganges em uníssono, na foz. Eu já disse isto. Discutiu-se como é que vamos continuar a remar bem a nossa barcaça e, dormindo cada vez menos, continuar a esvaziar os porões inundados pela turbulência das águas, com pequenos baldes de papel de jornal.

Erros de burros. O problema dos serviços de urgência hospitalares resolve-se com a assunção clara de que são serviços autónomos, devem ter quadros próprios, devem ser verdadeiros "serviços de urgência" (e não Serviços de Atendimento Permanente para consultas que têm de ser agora, disse-me o senhor doutor clínico geral que não sabe ler electrocardiogramas nem radiografias e, sobretudo, não está para ter problemas).
Os serviços de urgência devem ser tudo menos o que são. E os seus problemas, os do serviço de urgência, devem deixar de ser discutidos no âmbito das responsabilidades doutros serviços. E, muito menos, no contexto de "se vocês fizessem mais horas extraordinárias nada disto se passava".
Porque ao voluntarismo desbragado não pode, honestamente, apelar-se senão excepcionalmente. Mais: o voluntarismo não deve ser, nunca, programado. Nem promovido institucionalmente, como se fosse obrigatório. Porque o voluntarismo nos aproxima, perigosamente, da desresponsabilização ("coitado, estava cansado!"), atraiçoando-nos o profissionalismo. Porque o terreno da "desculpa do cansaço" é movediço e cada vez mais perigoso ("estava cansado, que não estivesse lá!") e, sobretudo, porque não é correcto atraiçoar a vida de ninguém - nem a nossa! - por "problemas que se resolvem atacando-os pelos cornos em vez de ser de cernelha". A cernelha é sempre uma alternativa, nenhuma praça de toiros aplaude uma pega de cernelha sem que se tentem, pelo menos meia dúzia de pegas de caras. E pegar isto de caras é, se calhar, assumir que não há mais pegas. Não, não falo aqui de "pegas" no sentido de putas, mas não deixaria de fazer sentido, em ambos os sexos. E, às tantas, em ambos os casos. Basta olhar para a figura.

Eu prossigo no tema, mesmo que não seja hoje. É uma jura.

21.10.04

A Foz do Rio



As pessoas da Foz velha são diferentes de todas as outras pessoas portuenses. Muitas vezes reconheço nelas o falar à Foz que ouvia da minha avó paterna, nascida e criada numa das inúmeras casas das labirínticas ruelas estreitas onde a cada curva se descobre o rio. As pessoas nascidas na Foz diziam, e ainda dizem, que "vão ao Porto", como se dele não fizessem parte.
A Foz, a Foz velha, tem qualquer coisa difícil de definir que a torna diferente do resto da cidade: é elegante - uma espécie de Montmartre, embora e felizmente mais duriense e mais atlântica, e é, ao mesmo tempo, um cenário imenso de famílias cruzadas, de vidas duras, de insanidades latentes.
Um destes dias, passei na rua por uma mulher da Foz velha, uma mulher envelhecida, de cara sulcada. Chorava, explodia em lágrimas, expressava um qualquer desespero que a queimava por dentro. Seguia pela rua, aparentemente não tinha rumo e eu, que comecei por olhá-la algo desavergonhadamente, acabei por ouvir o que dizia à outra mulher que a acompanhava, provável vítima dos mesmos males que a primeira acompanhou noutros pesares. Falava do homem, que lhe bate desde sempre. E que desde sempre foge de casa sempre que ele lhe bate. Ainda ouvi a outra perguntar-lhe se tinha ido à polícia. Que não, não tinha ido, que já tinha ido antes e que nada aconteceu. Destino negro o dela, palavrão vazio para quem está de fora, que a persegue.
E eu, cá de fora daquele destino, ouvia-a e via-lhe os olhos sofridos, com a Foz Velha, a sólida Foz Velha, mais o rio Douro, os dois, como sempre, juntos como cenário de fundo.

20.10.04

1,2,3. E boa noite.

1 - O Porto perdeu em Paris. Jogou mal. Acontece. Para um sportinguista, jogar mal não é pecado, é uma decorrência possível do acto de jogar: joga-se muito bem, bem, mais-ou-menos, mal, muito mal. Calha assim, olhem, calhou. E calhou, hoje, ao Porto.
Ainda tem melhores jogadores que o Sporting, que eu sei que tem, mas também os tinha em 2000 e 2002. Não baixamos os braços, espero eu, perante estas duas evidências:
a) O Porto é capaz de não ser a melhor equipa europeia... e, no entanto, é o campeão europeu em título. É mentira? Não é. E pode repetir? Pois pode.
b) O Sporting não é, de certeza, a melhor equipa nacional... e, no entanto, também não era (pelo menos de forma clara) em 2000 e 2002. E ganhou a Liga, nas duas vezes. É mentira? Também não é. E pode ganhar este ano? Pois pode.

Ou seja: vamos indo e vamos vendo. É melhor assim que ir vendo antes de ir indo.

2 - O Benfica tem um problema grave e eu já disse qual é, uma vez: são muitos. Agora parece que querem despedir alguns, eventualmente por causa da retoma. Mas também não me parece que seja assim que vão melhorar.

3 - Aquela senhora cujo primeiro nome ignoro, mas que se abrevia, ela toda, num mimoso "Cinha" (e se potencia, também ela toda, num florido "Jardim" final... ), tem olhos de má pessoa e sorriso "apenas de boca". Isto não interessa nada, mas fica aqui dito, para memória futura. Como tudo o que eu digo pode ficar, em sendo útil. Do que duvido. Mas pode ficar, sem problema nenhum.

19.10.04

Besugo tenta explicar mais coisas da bola, sem grandes expectativas.

Hoje deu-me para aqui. Já se sabe que gosto de futebol, só me faltava assumir que acho que sei de futebol. Assumo hoje, para o bem e para o mal.
Mais dois casos, mais dois guarda-redes.
1 - O Moreira, o miúdo talentoso do Benfica. Bom. O Moreira, ontem, sofreu um golo que lhe entrou pelo lado mais antigo. Aquilo foi rápido, nem sei se a bola bateu em alguém pelo caminho, mas o avançado do Porto chutou na bola com "o pé de fora", estas bolas novas são levezinhas, uma "trivela" batida de longe fá-las "variar". Que é o mesmo que dizer que as faz fazer um "s". Um "s" a fugir. Quando eu era miúdo e jogávamos com bolas de borracha, "testinhas de cheias", aprendíamos todos a fazer aquilo. E dizámos, era ali no campo do Ciclo, que a bola "vareia" muito...
2 - O Baía. O Baía, que é um excelente guarda-redes, mas que não é (globalmente) melhor que o Ricardo (está bem, lolita, tem melhor pernão, pronto!), o Baía deu ontem uma "pitarada monumental". Essa é que é a verdadeira "pitarada" total. Porquê? Porque o Petit chutou em força, a bola foi direita e honesta no seu rumo... e o Vítor Baía, há dias assim, deixou-a passar por entre as "peneiras", despenteando-se todo. Depois, o senhor Benquerença ajeitou-lhe os cabelitos envergonhados. E já o temos aí, ao Baía, outra vez, com ar de galo. Mas ontem não passou dum frango. Dum franganito.

18.10.04

Besugo explica futebol o melhor que sabe

O MEM não gosta do Ricardo e, evidentemente, está no seu direito. Para quem não sabe: algumas pessoas, se calhar muitas, quando se referem ao "Ricardo", estão a falar do guarda-redes do Sporting ( e este facto não os indigna muito) e da selecção nacional (aí é mais complicado, costumam entoar "o Ricardo" como quem dissesse "aquele sacana que tirou o lugar ao Baía na selecção!", tudo isto seguido dum tsc-tsc mental, denotando total desaprovação).

O MEM pode não gostar do Ricardo. Pode, claro. Por milhares de motivos. Até, mais que não seja, pela falta de grossura de voz que o homem tem.
Mas não querer perceber como é que entrou aquele segundo golo do "Lixtantan" (gosto deste país, que querem, mas é só se for pronunciado assim) denota uma profunda falta de sentido de... enfim, caro Colega, denota alguma falta de sentido de baliza.

Caro Colega: acredite que ali, naquele particular lance, não há nenhuma negligência do Ricardo. Aquela bola, saída "à sorte" da bota dum "lixtantanho" , podia, até, ter saído da bota do Deco, do Diego, do Simão, do Barbosa, do Figo ou do Beckham, mesmo do Areias, ou do defesa esquerdo do Sacavenense (sei lá quem é), que o resultado tinha grandes possibilidades de ser o mesmo. Quem vê futebol, quem já jogou futebol, já viu aquilo acontecer várias vezes. É sempre igual, esteja na baliza o Khan, o Ricardo, o Moreira, o velho Bento, o falecido Damas, o Schmeichel, o Zenga, o Buffon... eu sei lá quem mais, se calhar todos juntos! É quase sempre assim. E só refiro guarda-redes que já vi passarem pelo mesmo.

Por isso o Ricardo não precisa de explicar nada porque, na imprensa, senhores que percebem pouco de futebol, de geometria e de física (mas percebem largueiro de ventripotência), já explicaram a quem (também) não quer perceber rigorosamente nada da bola que "o Ricardo tem A culpa".
E não tem A culpa, de facto: aquela bola é a chamada "bola doida", que um guarda-redes só defende se for nabo ou imprudente. Ou seja, se assumir, desde logo, desde a "biqueirada original", que ela (a bola) vai para "ali", para aquele cantinho virginal... depois de passar por 7 ou 8 cabeças que tentam tocar-lhe e desviá-la.

Acredite ou não, aquela bola é o tipo de bola que toda a gente deve ficar a saber que "alguém tinha de tirar dali antes daquilo acontecer".

E isto não é fácil de explicar, de facto. Mas que é assim, é. E o Ricardo tem razão.

A Musa


Toda a gente já experimentou a sensação de ouvir uma música que lhe traz recordações passadas. Isso passa-se, por vezes, com uma série de canções que se revelaram, num dado momento, aperfeiçoadoras da nossa existência ou, o que dá no mesmo, todas tornadas elas perfeitas, ou imprescindíveis, por efeito desse preciso momento. Há sempre uma música certa para cada estado de espírito; em certas situações, a música certa é, aliás, o silêncio, até mesmo um silêncio vagamente ruidoso.

Todos temos, para uso exclusivamente privado, uma banda sonora criteriosamente escolhida e recorrentemente recordada que acompanha toda a nossa existência. A minha, que é longa e consideravelmente eclética, tem a Nara Leão pelo meio. A Nara Leão, por sua vez, também era assaz eclética: de menina bem da zona sul carioca e elemento catalizador do movimento Bossa Nova, transformou-se a dada altura em cantora de intervenção política, em que denunciava, em forma sambista, as misérias da pobreza brasileira. Coube-lhe, por isso, o exílio europeu, onde retornou à Bossa Nova que cantava (sussurava) como ninguém. Há uns (muito) valentes anos atrás, comprei o disco "Garota de Ipanema", quase todo com músicas do Tom Jobim. Foi a Nara Leão que me mostrou toda a Bossa Nova de que eu, desde esse tempo que me lembro ser azul de mar e céu, de noites suaves e de dias serenos, passei a gostar, de gosto cultivado. Nara Leão morreu quando ainda cedo para morrer, mas deixou os abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim que o Tom também compôs, sem saber, para ela.

Lições: as contas são no fim.



Os açorianos são uma espécie de trasmontanos rodeados de mar, em vez de ser de montes. O mar são as montanhas deles, o cinzento é igual ao nosso. Têm, a mais, o Pico, que é uma montanha imensa no meio do mar. Nós, isso, não temos. Devíamos fazer por ter, mas ainda não temos. Arranjamos "florões".

Mas eu estive lá, um ano de Açores chega para percebermos que aquilo não é a Madeira. A Madeirita. É muito melhor, muito mais bonito, muito mais difícil. Os Açores não precisam de Portos Santos para serem um arquipélago. Coisa bonita, gente boa, bonita, cinzenta, esperta, com olhos virados para fora. Besugos melhorados.

Há quem diga que ser cinzento é "bera". O tipo mais cinzento que eu conheço veste-se às cores, varia imenso de coloração, estuda-se imenso na sua pose de "colorido". Nem um camaleão varia tanto, muito menos por tão pouco. E não é "bera". É só assim, feitios de irrequietas criaturas.

Na blogosfera, os açorianos que "conheço" são estes. Não sei, sequer, se estão contentes ou tristes, mas eu estou contente e lembrei-me deles.

17.10.04

E foi mesmo.



O homem do ramo de rosas que vislumbrei anteontem quando passei na Rotunda da Boavista era, afinal, um sinal dos céus. A águia estava ali subjugada pelo leão (não esse, o do símbolo da vitória portuguesa) mesmo à minha frente. Não vi o jogo, aviso; por isso não sei, nem quero saber, de quase-golos do Benfica ou de frangos do Ricardo (que, aliás, hoje nem sequer jogou - não percebo, aliás, porque é que o rapaz tem sempre de vir à baila quando se fala de frangos). Em vez disso, vi as celebridades da quinta, vi a saltitante e prolixa Júlia Pinheiro, vi até o Santana Lopes a dizer que nem da quinta há censura do governo; e li, há pouco, o João Tunes, pesaroso com a derrota, a contar sobre a águia que nunca viu na Rotunda que conheceu bem. É esta, que aqui vê, a estátua aos heróis da guerra peninsular: uma águia (Napoleão nas suas aventuras ibéricas) subjugada por um leão (os portugueses). Sou tentada a concordar consigo, João: são pouco correntes os leões no Porto e a águia só ali está porque foi, talvez, imprudente.

Bom. O Porto ganhou e isso é bom. O Benfica perdeu e isso só não é tão bom assim porque conheço dois ou três benfiquistas que me fazem vacilar. O Porto saúda-o, João Tunes. Eu aposto que o homem do ramo de rosas há-de estar, por estes dias, a dar um anel de noivado à ditosa senhora.

Tudo verdades.

1 - O Porto jogou melhor. O Benfica jogou mais.
2 - A bola entrou na baliza do Baía, de caras. Toda a gente viu. Sem necessidade de repetição.
3 - Se tivesse sido o Ricardo a deixar passar aquela bola por entre as "patículas", caíam-lhe em cima, sequencialmente, a Pasteleira, o Caixodrê, a Bola e o Record. "O Jogo" não, está o melhor jornal desportivo português, "O Jogo", assumo isto: pelo menos online, está.
4 - O resultado justo era o empate.
5 - O Sporting vai ser campeão. Isto é a única coisa discutível que eu disse hoje, vejam lá se me poupam, OK?

But is still number one...

Como ninguém escreve, e como já sei o que poderão escrever os amigos bloguistas do blogamemucho, começo eu e vou ser curto e grosso!

O Benfica hoje foi nitidamente roubado e não me vou perder com esguichos como por vezes faz o Besugo. Eu vou directo ao assunto…

Em relação ao penaltie não marcado sobre o Karadas deixo para quem quiser comentar… desKarada a falta e só quem está deliberadamente a tentar esquecer os erros do Del Neri, do apito dourado e do centro de estágio de Gaia pode ignorar (o meu dinheiro a rolar nos bolsos dos corruptos como sempre...).

Aos 74 minutos - penaltie sobre o Miguel… O Olegário, amigão do Rodolfinho, não viu… Alguém os viu juntos esta semana??? Onde???

Aos 79 minutos (mais uns segunditos…) golo limpo do Benfica… a bola entra depois de um frango do Baia e o árbitro e o fiscal de linha são cegos e não viram… (in record online: 79 m - Petit remata forte de fora da área, Baía não consegue segurar e a bola salta sobre a linha antes de o guardião portista afastar. A bola parece ultrapassar a linha mas a equipa de arbitragem não sanciona o golo...)

Aos 84 minutos e 47 segunditos há uma falta inexistente do Miguel que o árbitro entende marcar… O Olegário, que tem a mãe mais conhecida do país a seguir à Salgadinho… (e essa tem uma história que até pela Régua rodou… Certo ó Pilatos???)

A expulsão do Nuno Gomes é conveniente… Pinto da Costa deve ter ido ao balneário do Olegário e ele ouviu o que tinha que fazer…

De resto… O BENFICA AINDA ESTÁ EM PRIMEIRO! NÃO ESTÁ?


P.S. - Resta-me só rejubilar pelo facto de os adeptos do Porto estarem contentes (bem podem depois da roubalheira...), os do Sporting terem finalmente ganho fora de casa e terem visto o eterno rival perder (injustamente, diga-se!) e o PSD ser liderado por um palhaço que tira umas sestitas e tem ministros imbecis como o da Administração Interna e palhaços como o Secretário de Estado do Desporto...
Na altura de deitar o voto, como diz a minha bisavó Melim, lembrem-se que a laranja está podre! Muito podre!

A nossa menina chegou

Pela voz contidamente exultante de recém-pai, soube que, à tarde, a nova herdeira do Alonso já dormia a sono solto, a primeira herdeira de todos nós a nascer em plena era blogosférica. A serenidade dos primeiros dias não é, porém, significativa. Pode, com efeito, ir buscar à mana mais velha, a endiabrada mini-lolita, os genes necessários para aumentar o distúrbio familiar. E eu espero, porque acredito no pluralismo (mesmo no seio da família), que a alonsita se torne a mais recente enfant-terrible da família e que, para desgosto (ou não...) de seu pai, se filie no BE aos dezoito anos, onde substituirá a Ana Drago com larga vantagem.

Parabéns à mãe da alonsita e ao Alonso, que até a constituir família é teimoso. E muitas felicidades à alonsita.



Há sempre, tem sempre de haver, uma maneira só nossa de ver as coisas.
Para mim, a Régua é um vinhedo que desliza, aos socalcos, da montanha até à estação antiga dos comboios. Uma estampa desbotada que se firma, moçoila louca (como uma ribeira de costas para o rio), nas casas velhas da rua dos Camilos. E que, acinzentada e clara, se enquadra no Douro que a faz sonhar que é um Porto pequenino.

16.10.04

Círculos



1 - Os miúdos, todos eles, estiveram bem. E nós, na bancada, os quarentinhos pais, também não estivemos mal. Não houve mais nada senão o jogo.
Trata-se, aqui, do campeonato inter-regional de iniciados de andebol. Tudo miudagem abaixo dos 15 anos, como a imagem confirma.
Os de verde são os meus, representam a A.D.G. Os outros são da Juventude de Ronfe, ali para o meio do Minho. É um campeonato entre onze equipas do Minho (ABC, Francisco de Holanda, Fafe, Ancorensis, Vizela, Ronfe, etc...) e uma de Trás os Montes e Alto Douro. Exactamente, a nossa: a A.D.G. "G" de Godim, Peso da Régua.
O meu filho é um dos que está de verde. Tem 14 anos, está-se a pôr, cada vez mais, um rapazelho de boa índole. Tenho outro ganapo nos infantis. Boa índole também. Se a gente quiser, boa é a índole de todos, verdes ou amarelos.
Os verdes ganharam 25 -11. Ganhámos. Mas não foi só o jogo, o que que ganhámos: a fotografia foi tirada no fim da contenda. E a maior vitória, a de toda a gente, é a que a fotografia mostra. Claro que uns estavam mais contentes do que outros, mas eu também já vi os verdes a perder e sei do que falo. Tenho esta razão, pelo menos, para estar contente. Hoje, ninguém estragou nada.

2 - O Sporting ganhou ao Estoril. Como era preciso. Por hoje, basta-me.

3 - Não me basta nada. Isto tem de ser dito. O Alonso tem uma filha nova, uma menina que há-de ter os padrinhos da praxe, os padrinhos que todas as meninas e meninos que nascem têm, mas arranjou aqui (sem os pedir) mais uns quantos padrinhos. E madrinhas. Eu quero ser um deles, um dos padrinhos. Vou dar-lhe folares na Páscoa, carícias na cabeça tonta, no Natal hei-de oferecer-lhe o primeiro microscópio, como o meu padrinho de verdade me fez a mim. Para a miúda sentir, desde cedo, o apelo da ciência. Da verdade flutuante em solução de Bouin.
Estou de olho em ti, miúda.

Um abraço, Alonso. Transmite-o mas não deixes de ficar com ele.

Blind date

Faltavam dois minutos para as oito da noite quando hoje estava à espera que o semáforo abrisse para entrar na Rotunda mais famosa do país - a da Boavista. Na esquina oposta à lendária Casa da Música estava um homem, quarentão, aprumado e apertado num fato justo e numa expressão ansiosa. A rua estava quase deserta e o homem estava ali, sózinho, fora de contexto, com um ramo de rosas na mão. Entretanto, o semáforo abriu, e eu, que tive de arrancar e entrar na Rotunda (da águia que, se correr tudo bem, há-de ser subjugada no Domingo), nunca vou chegar a saber o que sucedeu ao homem que chegou pontualmente ao encontro marcado às oito da noite, como era a ditosa receptora do ramo de rosas, se gostaram um do outro e se, por exemplo, estão neste preciso momento a dançar num baile de pares ocasionais onde eles deixaram de o ser. Reconheço: esta é a minha costela reality-show, despertada por uma cena destacada da vida real que se atravessou à minha frente e, note-se, sem aTVI pelo meio.

15.10.04

À Sexta, a Quinta

Estive a ver, com atenção, a Quinta das Celebridades. Aquilo não educa, mas diverte.

1 - Qualquer deles é, de facto, cada vez mais mais célebre que eu. Ninguém me conhece, bolas! Isto não é justo.
2 - A Cinha Jardim está cada vez mais parecida com a Florbela Queiroz.
3 - O Alexandre Frota é um excelente contraponto da "Tancinha" (quem se lembra ?), mas corre o sério risco de escacar a frágil e engraçada Ana Afonso numa carícia qualquer.
4 - O tipo que tem nome de empresa (tipo A. Bramão & H. Ramos) é mais "salta-pocinhas" que o José Castelo-Branco. Aposto.
5 - O José Castelo Branco, pelo seu lado, é muito mais "mulherão" que a Fátima Preto.
6 - A morena tendinosa, a Mónica, merecia melhor enquadramento. Merecia, até, escrever neste blogue. Lá está, tinha melhor enquadramento.
7 - O Avelino apresenta-se com bronzeado "à trolha" e é bem capaz de conseguir ganhar as eleições para a Junta dos Carpinteiros. Nota-se ali a pujança flácida dum ex-qualquer coisa...
8 - A Júlia Pinheiro continua igual a si própria. O Manuel Serrão também. Fazem um par comovente, ela de rancheira, ele bem arreado, como de costume.

Perspectivas



Este excelente(?) trabalho fotográfico (que não é meu) é totalmente dedicado ao LNT. É a minha perspectiva da coisa.

Pegue lá, como bónus, três adjectivos:
"Bandido"! "Encarnadão"! "Vieiroso"!

Sempre atento!! Ouviu? Ah!

14.10.04

Soltam-se os dedos

1 - Os debates entre Kerry e Bush parecem-me superficiais, parolos. Como se se dirigissem a um eleitorado de mentalidade primária, bacoco nas suas análises e nas suas sínteses. Não vi tudo, posso estar enganado. Contudo, observá-los ali, de pé, de gesto estudado, encostaditos a "pinocos" que parecem as mesitas de fórmica alta do bar da minha SA, debitando "banalidades de intenção" sem, sequer, se atreverem a afrontar-se no plano inclinado do "e como é que você vai fazer isso que está a dizer que vai fazer?" , pareceu-me frouxo.
Suponho que o eleitorado americano global não difere muito, na exigência, do eleitorado global português. Há algumas diferenças: eles são mais afirmativos (como todos os asnos) , são mais anafados e, possivelmente, mais incultos. E pensam que mandam no mundo, que é a única semi-razão que detêm. Mesmo essa, creio, não a entendem na essência. Cuidam mandar nele, no mundo, aparentemente, por uma inerência qualquer da sua condição... o que é ridículo.
Retiro o que disse se o nível de abstenção nas eleições presidenciais americanas for superior a 50%. Se ninguém votar, então, será fantástico: teremos Saramago a mudar-se de Lanzarote para Washington, de Pilar ao colo, qual Obelix agarrado a um menhir.

2 - José Alberto Carvalho, que tem bom gosto para gravatas e é bem parecido, está a ver-se confrontado, num programa da RTP, com vários senhores. Retive, "en passant", Carlos Magno, que se aperfeiçoa cada vez mais na arte do esoterismo analítico (ele meter-se-à no absinto? Virá ele, um dia, empiteirado, dissecar Rankin, ou, mergulhando no obscurantismo apneico, defender o futuro princípo do "pagador-pagador"?) , adivinhando futuro a Santana Lopes fora do eixo Kremlin-Kapital-Cinhas. Ah! E um educadíssimo senhor do PSD que, nos trejeitos, se assemelha a uma senhorita. Não é por ser do PSD. É verdade, juro: é pela saia-calça, pela gravata-laçarote e pelo falar de lísbio panão.

3 - O Outono está aí outra vez. Sinto-me bem entre ocres e castanhos, mas fico com melhor feitio sempre que há sol aberto em céus azuis ferrete. Sou do Sporting. Não tem nada a ver uma coisa com a outra mas é o caraças!

4 - Contei as consultas que já dei este ano, no Hospital. Se as desse na privada e levasse 10 contos por consulta (o que seria pouco, é ver as tabelas da especialidade) , já teria ganho 10.000 contos. Só nas consultas. Não falo do trabalho no internamento, nem nas urgências, nem nos mais de 2000 tratamentos de quimioterapia. Só falo em consultas. Era um porradão de contos.
Não quero o dinheiro, que eu só quero o que é meu e gosto muito assim. Quero é respeito.

Debates imaginários quase reais


Nem sempre com resposta pronta, o ex-comentador da RTP defendia-se das investidas, esforçando-se para aparentar a segurança de quem, mais do que não deve nem teme, considera os seus interlocutores uns perfeitos bananas. A seu lado, o ex-director da Amostra, de sorriso escarninho à caius detritus e inevitável fato azul-furta-cores-petróleo (irra...), ora girava os olhinhos malévolos em torno do hemiciclo ora se investia de olhar distante, do género "falem para aí que quem está deste lado sou eu". Entretanto, como seria de prever, o outro ex-comentador da RTP apontava novamente ao seu ex-parceiro a dolorosa verdade da sua legitimidade democrática, a que se seguiu a sua falta de jeito para ser chefe de governo. Ou de outra coisa semelhante.

Tomada a palavra, o ex-líder do PSR denunciou com a conhecida galhardia o escândalo da prematura cessação de funções do responsável madeirense da PJ que liderou a investigação contra o futuro ex-autarca de Câmara de Lobos. Rejeitando a velada acusação, o ex-comentador da RTP - aquele que possivelmente terá falta de jeito para ser chefe - rematou a resposta com a rusticidade hábil que só se poderia esperar de quem está angelicamente inocente: "ninguém pode provar nada".

Nesse preciso momento, passou à sua frente a senhora da cantina que, sempre solícita, lhe perguntou: "vai um cafézinho, menino?"

A Selecção de alguns...

A Humilhação de ter empatado no Liechtenstein deu lugar, nos jornais desportivos e não só, à humilhação da Rússia. A mesma imprensa que “crucificou” o Sr. Scolari e os nossos jogadores no empate a dois no sábado pega neles ao colo e faz manchetes do tipo “Comprem, Comprem… somos os maiores!” Somos? Mas somos os maiores só porque enfiamos 7 à Rússia? E quem disse a alguns dos senhores jornalistas que estão incluídos no “somos”?
Cada vez mais me convenço que não há espaço para três jornais desportivos. Muito menos para jornais desportivos de “colagem” tão óbvia a alguns clubes. Jornais que escrevem as mesmas notícias e conseguem ter três opiniões diferentes, de acordo com a sua cor (de clube, claro está…). E neste ponto eu coloco em causa a “qualidade” de alguns jornalistas. Veja-se por exemplo o espaço cómico que por vezes se torna A Nota do Editor escrita no jornal Record. Quem vai lendo estas notas verificará, certamente, o que eu pretendo dizer! Aqui ficam duas destas pérolas referentes a dois jogos da Superliga (Guimarães – Benfica e o Porto – Belenenses). No primeiro a nota do editor foi apenas “0” e recai só sobre o erro infantil e inqualificável do jogador Marco Ferreira que colocou em causa, com a sua expulsão, as aspirações da sua equipa (e as do clube do editor, nitidamente). Não se vê referência nenhuma aos dois bons golos do Benfica, nem tal poderia acontecer! E se nos lembrarmos bem do segundo jogo verificamos que até à altura da expulsão do jogador do Belenenses tinhamos um 0-0 (expulsão injusta depois de vermos o que se passou…) tendo o editor atribuido nota “5”, esquecendo esse pequeno pormenor limitativo da equipa que passa a jogar com 10 jogadores e exaltando a equipa "fantástica" do Porto e os seus golos. São pérolas senhores! Autenticas pérolas! E pérolas destas não faltam diariamente nos jornais desportivos!
E escrevo sobre o Jornal Record porque ontem achei “curiosa” a interpretação dos jornalistas César de Oliveira e Céu Freitas à entrevista do Ricardo e do Costinha. Estes jornalistas sabem tudo. É de se lhes tirar o chapéu. E tiram eles próprios as conclusões que querem fazer passar para os leitores, ridicularizando quem bem entendem. Sempre ouvi dizer que o jornalista, qualquer que ele seja, deve ser imparcial. Saberão estes dois senhores o que isso significa?
Ontem li também o insulto que foi lançado desse mesmo jornal, por alguém que de jornalista tem pouco, a todos os anteriores capitães da selecção e respectivos seleccionadores que por lá passaram até à data. Pareceu-me uma notícia puramente mesquinha e desde logo percebi que Scolari não ia desperdiçar a oportunidade para lhe responder.
Percebi a ira do Scolari e entendo-a bem. É o reflexo da constante campanha de provocação e de difamação que alguns jornalistas desportivos têm vindo a fazer. Podem não gostar do seleccionador mas isso não lhes dá o direito de constantemente procurar fazer notícias onde colocam em causa o seu trabalho, a sua honestidade e o seu profissionalismo. Scolari sempre disse tudo com frontalidade e isso não é muito bem visto por cá. Ontem respondeu curto e grosso à jornalista do diário desportivo Record, que hoje, curiosamente, não faz nenhuma alusão ao sucedido!
Porque será?


PS – Vejam bem o fabuloso golo do Deco (sem dúvida que é…), elogiado por todos os jornalistas desportivos portugueses. Nenhum deles fez referência ao facto de o guarda-redes russo se ter lançado tarde. Em contrapartida os jornalistas referem a culpa do Ricardo por se ter lançado tarde num golo quase idêntico ao do Deco, mas onde o russo não teve mérito nenhum. E não sou do Sporting…

Injustiças

Marcelo come Santana, Santana come Mendes, Mendes come Menezes, Menezes come Cavaco, Cavaco come Santana, Santana come Pacheco, Pacheco come Gomes da Silva, Gomes da Silva come Marcelo, Marcelo come Menezes, Menezes come Rio, Rio come e cala.

Bolas. Marcelo come dois (mas um é fácil), Santana come dois (mas um é pequenino), Menezes come dois (mas um é vizinho). Até aqui, tudo bem. Mas Cavaco come só um (e é o fácil), Pacheco também (mas o dele vale por dois, porque é um dos 3 milhões de benfiquistas que, realmente, há), Gomes da Silva também come só um (mas é indigesto) e, suprema injustiça, Rio não come ninguém, nem mesmo o vizinho.

Não me parece nada justo, isto, pronto. É preciso que se arranje uma entidade reguladora do canibalismo partidário.
Bom, Rio devia ficar fora destas coisas: é de fora que é comido, pelos vistos, embora seja de dentro de casa que lhe vem o jejum.

Eles comem criancinhas, acreditem.

N'O Acidental, sobre o "Código da Esquerda":

"Cuidado: eles pensam que são os guardiões da bíblia do que é politicamente correcto, do que está certo ou do que está errado, mesmo que isso nos possa parecer profundamente anti-democrático."

Vou pensar no que isto me parece. Para já, parece-me o Alberto João Jardim nos seus piores dias...

Parabéns, Alonso! Et voilà, les uns et les autres, encore une fois.

O Alonso fez 40 anos. Atingiu uma idade marcante. No meu caso, quando a atingi (foi anteontem, já, bolas...), fracturei um pequeno ossículo na pedaleira esquerda, o que me obrigou a agruras de gesso durante mais de um mês. Um nirvana. Depois fiquei bem, enfim, fiquei isto que se vê. Nunca pior.

Parabéns ao Alonso, que vai ter, de prenda, um rebento novo. E, uma vez sem exemplo (elogios ao Alonso têm de ser espaçados, quase bienais, quando não ele incha, baloniza-se, ainda nos explode nas ventas!), o rebento há-de ter o pai que merece. Um abraço, rapaz.

Quanto ao silêncio do professor MRS, que incomoda o Alonso e boa fatia de Portugal, tenho para mim que colherá uma de três possíveis explicações:

1 - Emudecimento idiopático (não se sabe a causa; mas que emudeceu, lá isso emudeceu).
2 - Afasia motora (pouco provável; geralmente estes individuos falam, balbuciam, mas as palavras saem-lhes "enrodilhadas")
3 -"Les petites conneries des enfants terribles quand ils veulent tellement quelque chose qu'ils se fachent, les uns avec les autres, sous nos yeux" . Acho que é mais esta síndroma, com todo o seu cortejo sintomatológico, que o afecta. A ele e a outros protagonistas dum drama que só é drama porque, em Portugal, até Avelino Ferreira Torres e o Dr. Jardim têm qualquer coisa de dramaturgos e de protagonistas, em simultâneo. Assim como se La Féria decidisse fazer o papel da Anabela no "Minha Rica Tipa".
E, sobretudo, porque se vive de realidades virtuais, de purpurinas: o caixilho em vez da pintura.

As duas explicações são, afinal, três. E a que parece colher é a terceira. Desculpem. Eu arranjava mais. Mas, quantas mais arranjasse, mais o futuro (e a "intelligentzia" militante que aí anda, em derrama neuronal inflamada, tipo GALP) me desmentiria, desdenhosamente.
Ficamos assim? Pois ficamos.

Pressões

Caramba. Quando um jogo nos corre mal até o Liechstenstein nos crava duas pêras no alfobre. Quando nos corre bem, caramba, até o Armando Teixeira, esse Petit, enfia duas bombadas em russas virgindades.
Além disso, ainda não tinha ocorrido nenhum 7-1 no novo estádio de Alvalade, o XXI... olhem, foi desta, sosseguem os lampiões, agora só no Alvalade XXXI. Ainda falta. Ou em Vigo, mas também não deve ser em breve.

Por falar nisso: hoje, Pedro Barbosa (que não se resolve a assumir a progressiva careca, optando pela "farripa mal amanhada sobre a erma frontaria") veio dizer-nos que o jogo com o Estoril é um jogo difícil, "mas temos de o ganhar". Aproveito para informar o Pedro Barbosa, que sei ser leitor assíduo deste blogue, "que sim senhor, é que temos mesmo, percebe?".

É só para lhe aliviar a pressão. OK? A sua e a minha, como é bom de perceber.

13.10.04

Ao contrito

Abri esta página e deparei-me com o regressado Alonso em plena encruzilhada existencial. Agora percebo o motivo da prolongada ausência: quando se atinge uma idade lapidar, impõe-se o recolhimento sabático necessário à reflexão serena sobre a conta-corrente dos ganhos e das perdas da maturidade. Pelos vistos, deu-se bem e para tanto nem precisa de pagar quotas em ginásios, porque diz treinar em casa - suponho que pratica halterofilia.

No meio dessa reflexão profícua o Alonso refere, além dos fenómenos do momento - o Professor Marcelo e o indefinível fulano das plumas e paetês - o menos polémico fenómeno dos Tios que, pelos vistos, o incomoda. Se pensarmos, é sobretudo prático. Convenhamos: é menos estranho que os putos com menos de trinta anos - sobretudo se tiverem quatro ou cinco - tratem o Alonso por "tio Alonso" do que por "senhor Alonso". De todo modo, o tratamento por "tio" ("tiú", em Lisboa) é, de facto, um indicador de pertença a um dado segmento social que separa, sem qualquer margem para dúvidas, o vaudeville do possidónio. Como o é o cumprimento com um beijito (um apenas) displicente na face, este ainda mais ilustrativo dos hilariantes tiques dessa tribo emergente e que geram o já corrente embaraço de se ficar com a outra face (a segunda) à deriva. O segredo, digo eu, é tirar-lhes a pinta mesmo antes do(s) beijo(s): se usar fato cinzento e gravata de nó gordo, cabelo com ondinhas estudadas sobre as orelhas e elevar a voz para dizer "oiçaaa! você não vai acreditaaaar!" há fortes possibilidades de que se vai receber um beijo solteiro. O melhor será, em qualquer caso e ocorrendo dúvidas, deixar a cabeça e respectivas faces no exacto local onde está e esperar que o parceiro lhe dirija o ósculo, a ver se saiem dois. Poupa constrangimentos e suscita diversão.

Bom. Encerrada a rubrica de boas maneiras, cabe-me desejar ao Alonso, quarentão a partir de hoje, um excelente aniversário e uma excelente filha (menos enérgica do que a lolita aí de casa, a bem dos pais). Se não te importas, passo a tratar-te por "tio" de ora em diante, que eu ainda não fiz quarenta...

Parabéns.

Episódios, milagres e o meu aniversário

Aqui venho, contrito com a minha ignóbil escassez de escritos, dizer qualquer coisita de inútil:


1 - O episódio "Prof. Martelo" - Há uma pergunta que me assola em todo este folhetim:

Porque é que o Martelo está calado?

Se alguém arranjar uma resposta convincente para esta pergunta tão simples, eu talvez possa finalmente formar opinião sobre o que se passou.

2 - O episódio "Dr. Santana" - Em momento de aperto, criado pelo seu mestre, ampliado pelo "sempre preocupado" PR, o PM dirigiu-se ao País. Para anunciar que vai baixar impostos e subir pensões. Deve haver uma Santanette que descende em linha recta da Evita Péron.

2a) - E o curioso é que, em bom rigor, o episódio Martelo é irrelevante, quando comparado com isto. Mas em política, um governo pode cair por causa de um "fazedor de factos políticos que não existem", mas não cai por causa de um "Primeiro Ministro com tiques de Hugo Chavez". É pena.

3 - O episódio "José Castelo Branco" - Não tenho nada contra maricas, verdadeiros ou falsos. Causam-me instintiva repulsa, é certo, mas nada tenho contra eles. E não sou homofóbico, porque se a actividade sexual entre dois homens é coisa que me causa nojo, o mesmo não é verdade no que respeita à actividade sexual entre mulheres, que não me enoja mesmo nada.

Esclarecido que não tenho nada contra maricas e que não sou homofóbico (se é que me entendem), cumpre-me dizer que, depois de vários dias a ser alertado para o facto de que estava a ocorrer em Portugal um novo fenómeno televisivo (a que eu estava alheio, por não ver televisão, como já em tempos aqui confessei), vi finalmente um excerto do programa e um pouco do tempo de antena concedido àquele andrógino personagem .

Primeiro, achei o que já tinha pensado que iria achar: uma figura anormal, que é assunto por ser anormal. Até aqui, nada de particularmente diferente de qualquer programa de entretenimento cujo tema sejam aberrações da natureza.

Depois, e à medida que ia ouvindo as alarvidades que o personagem ia dizendo, cansei-me do assunto. Não sem antes registar que ele diz "noblesse oblige" duas vezes em cada três frases. Saberá francês? Não me parece. A certa altura, referindo-se a uma fulana que também por lá anda a fazer pela vida, apelidou-a de "Grand Vedette". (Ele só disse "Gran", mas assumo que, se lhe pedissem para escrever, lá poria um "d" no fim).

Enfim ... não sei se é de eu ser provinciano, mas - tirando o factor "curiosidade ante uma aberração", cujo efeito passa depressa - não percebi que interesse possa aquilo ter.

4 - O milagre da multiplicação dos Tios - Não sei se no Porto (ou mesmo na Régua) é assim, mas aqui em Lisboa não há cão nem gato que não descubra, de repente e a partir de meados dos trintas, que é "Tio" de centenas de crianças e jovens. Eu, por enquanto, vou insistindo com os meus filhos que "Tios" são só os meus irmãos/irmãs e cunhados/as. E vou insistindo com os filhos dos meus amigos que me tratem pelo meu nome próprio, que eu não me importo.

Mas aqui há dias, e a propósito disto, disse a uma pessoa que acha que "Tio" é que é fino e que qualquer outra coisa tem "falta de nível", o seguinte: "Só se fôr porque nos aproximamos de uma sociedade verdadeiramente interclassista. Antigamente, as classes sociais ditas superiores distinguiam-se por saber falar francês, e nas ditas inferiores é que se chamava Tio a toda a gente (estilo: "Tizé, TiManel, Ti Maria"). Hoje, ninguém com menos de 30 anos - filho de "dotores e engenheiros" - aprendeu a falar francês, mas chama "Tio" a toda a gente.

ehe ... se percebessem o tipo de pessoa a quem eu disse isto perceberiam porque é que acertei na "mouche". É o género de dizer "noblesse oblige" de vez em quando, não sei se estão a ver ...


5 - Faço hoje 40 anos. Na iminência do nascimento de (mais) uma filha. Que terá a minha idade no ano em que eu farei - se vivo ainda - 80. O que significa - entre outras e não menores consequências - que não terei tempo para "pantufas", em casa ou fora dela, antes de atingir meados dos meus 60.

Há quem se preocupe em se manter jovem indo ao ginásio. Eu, sem me preocupar muito, trato dessa manutenção de cada vez que regresso a casa. No mais, remeto para o que escreveu o besugo àcerca dos seus regressos e do que os seus filhos neles significam. É que ele explica melhor essas coisas do que eu.

Calmarias gratas

Hoje cheguei mais cansado que o costume, da urgência. Estou quase sempre de pé, não consigo sentar-me mais de 5 minutos, tenho sempre receio de que esteja alguma coisa a escapar-me. Cansa, tentar estar atento, nem que seja só pelo medo de errar, que é um motivo menos nobre, eu sei, que a atenção sem medos.

Mas cuido que o meu cansaço de hoje nem sequer foi causado pelos doentes. Os doentes são, em regra, excelentes pessoas que nos tratam bem se não os tratarmos como se fossem acessórios "chatos" da nossa alva indumentária. Há de tudo, as urgências são uma amostra de nós, mas é assim, em regra.

Não, hoje cansou-me outra coisa. Que, palpita-me, vai cansar-me mais vezes. Quem sabe, vai até cansar-me em permanência.
E essa coisa vai acabar por me fazer, mais uma vez, entristecer-me de mim, porque nos assanhamos sempre contra nós quando sentimos que nos tratam mal: "às tantas têm razão, são tantos, são mais do que eu...".

Falo de colegas. Em que não pressinto, no trajecto sinuoso, outro fio condutor que não seja a incoerência entre a elevada auto-estima de quem se julga forte e a desconfiança malévola da "tentativa de clareza do outro".
"O outro", foi como me senti hoje. Como noutros dias, há quase um ano, desde que decidi impor-me restrições económicas em prol da minha qualidade de trabalho, da minha vida. Do meu empenhado sossego, para que se não transforme, nunca mais, num desaustinado inferno de horas extraordinárias, que me gastam e consomem.

Não querem deixar-me. Hoje senti, claramente, que não. E vão conseguir, sei calmamente que sim, que vão consegui-lo, nas calmas.

Cheguei triste. Depois, afaguei os miúdos que me esperavam, amigos de sempre do pai que vai lutando para não estar sempre, para sempre, fora do seu tempo. Do tempo deles.
Jantei, tarde, mas bem. Em paz. Vim ler a lolita, a calma tensa e lúcida da sempre amiga lolita; ler as outras pessoas. Li, também, o Tunes, esse João que parece dizer a toda a gente, em cada escrito que lavra, por outras palavras, que "tudo pode ser diferente daquilo que é: basta ser afável, basta não ser estúpido, basta não ser mau". E fiquei melhor. E comovidamente grato.

Há-de ser da hora e do cansaço.

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