blog caliente.

31.10.07

Bailar pegados sí, es bailar


Concordo com aquele senhor da Graciosa (não será mas é um picaroto?) que agora possui - sem preservativo, provisoria e aparentemente - o blogue do maradona.

O fair-play é uma coisa que se pode meter no jogo mas, como tudo o que se mete seja onde for, não pode ser assim à pressão: meter à pressão é sempre mau, até para o recipiente, quanto mais para a rolha. Pode não ser sempre, mas é quase sempre. Aquilo depois não aguenta.
Sim, eu sei que mentes tenebrosas podem tresler-me, mas que se foda.

Um jogo de bola com fair-play a mais podia vir a dar nisto que está na fotografia, que é uma coisa repelente, sobretudo o gajo de branco, que está todo liderante na coreografia.

Num jogo do Sporting não digo que isto pudesse acontecer, era o que faltava. Mas num Porto-Benfica, enfim...

Não, a sério, ó Paulo Bento, lê antes este, enquanto o Veloso se penteia

"Ó minha cabra loirona, estilizada, perneta, barbichuda e lenta: pára lá com essa merda geométrica que estás a fazer, há já três quartos de hora, aos pintelhos pintados de amarelo-néon que tens na cabeçorra, sim, que tu estás aí pasmado em frente do cabrão do espelho há um ror de tempo, com cara de quem está a pontos de fazer um minete ao vidro, que até já o embaciaste todo, e vai mas é com os outros, logo que desliguem a merda dos telemóveis e o caralho dos "aipòdes", lá para dentro do campo, ganhar o caralho do jogo e a puta da eliminatória!
Seus paneleiros da merda! Havíeis mas era de ser todos obrigados a conviver com o Lito no balneário até ao treino do dia seguinte! Sim, o Lito, aquele preto que veio do Braga nos anos oitenta para fazer aqui de toalheiro colectivo! Corja de pin-ups que eu aqui tenho, seja lá o que for essa merda!
Andor e pouca letra!
Vá, agora oremos.
Cala-te, Paulinho, já sei que também te lembras do Lito, toda a gente se lembra, foda-se!"

Texto para o Paulo Bento ler alto no balneário, antes do Fátima, enquanto o Veloso se penteia

Há três anos atrás pus aqui o retrato duma estrada que subia.
Fui eu que tirei o retrato, mas não subi a estrada, fiquei ali a olhar para a boniteza dela. Não a subi, não fosse ela ser ainda mais íngreme depois da curva. Estava bem assim.

Pouco tempo depois, no mesmo dia, deu-me para vos mostrar uma estrada que descia. Também fui eu que tirei o retrato. E fiquei ali quedo, a vê-la descer sozinha, bonita de sombria, não fosse encontrar-me ainda mais na sombra depois da curva, caso a descesse.

Preferia, na altura, estar ali a olhar, ver que uma subia, que outra descia, vê-las subir até onde conseguia, vê-las descer até onde podia. Deixá-las ir.
Que as que sobem são sempre mais claras, é verdade. E as que descem mais sombrias, isso vê-se.
Hoje já não sei. Já não prefiro. Aprendi que todas as estradas se sobem ou se descem, conforme se combina a disjunção.
Eu não quero é misturar estradas.

Continuo a ter saudades do dia em que tirei ambos os retratos. Foi no mesmo dia e tenho saudades, porque estava sol e porque foi um dia muito bom, mesmo não me tendo aventurado para lá das curvas da minha vista.

27.10.07

Já se sabe

Consigo imaginar o que se passou.
Foi dentro. Era previsível.
E o blogue está - provavel e provisoriamente - nas mãos dum tipo qualquer da Graciosa.

(Revisto e corrigido)

24.10.07

green acres

- E quem é você para me dizer isso?
- O quê? Eu não lhe disse nada, eu nem o conheço, estamos apenas comungando de vizinhanças na bicha do Pingo Doce, eu atrás de si...
- Ai não me disse nada? Pois não. Não me disse nada. Está aqui para comungar não sei o quê! O santo! Perfeitamente. Este, agora, não me disse nada, está bem! Não me disse nada, o gajo. Está bem, não disse. Oiça lá: e não me disse nada porquê? Hem? Julga-se superior, é? Não fala comigo, é?
- Não, nada disso, eu até estou aqui a falar consigo...
- Cale-se!
- Bom, ó meu amigo, você começa a irrit...
- Cale-se! Eu não sou seu amigo! Essa é que era boa! Eu, logo eu, amigo duma cambada de sacanas com a mania. Quem é você para me chamar amigo, pá?
- De facto tem razão. Não sou seu amigo e começo a detestá-lo.
- Ao facto de não ser meu amigo?
- Não. A si.
- Eu sabia. Boi.

reparos de besugo

Não sei o que se passa aqui. Mas sei que, seja o que for que se passa, passa-se há tempo demais.

23.10.07

Não há Carlos Martins mas ainda há o sueco, o Faz-mum-neruda

Amanhã, a Roma.
No Euro 2000 havia um forum que eu frequentava, era um da Eurosport, que me divertia.
A língua oficial era o inglês, já se sabe. E eu chamei paneleiros e outras coisas - cheguei a meter as mães deles ao barulho, e eles a minha - a dois italianos que diziam que Totti era o melhor jogador do mundo. Tenho pena de não ter guardado os "triálogos", tinham piada, eu achei, ao menos; e os putos irritavam-se mesmo comigo, nem sei como alguém pôde um dia enervar-se tanto comigo como aquelas duas "aveculae", até porque me insultavam em italiano e eu, por ignorância e coerência, de caralho para baixo é sempre em português.

Amanhã joga o Totti, contra mim. Outra vez contra mim. É um grande jogador, de facto. Um Rui Costa mais transformador e menos esperto. Um Figo elegante e personalizado. Lá está: um Rui Costa "tóino".
Tem lacunas, o Totti. Eu disse isso aos italianos do forum da Eurosport, deviam ser putos - há sete anos até eu era puto - mas não gostaram. Que não gostassem era,aliás, o que eu queria, era embirração. Disse-lhes que o Totti era burro como um cepo
E é.
E o Mèquecèsse, já agora, é uma puta loirona. Um "faz peito". Isto são verdades.

Bento, flor: vamos levar uma puta duma coça, provavelmente. E tu, se andas a ver a bola como eu, sabes bem dessa possibilidade.

Reza, Bento.
Eu vou ver o jogo mas é só por poder ser didáctico.

Aliás, vou ver a final do Federer contra aquele argentino aloirado e aloilado, "souvent" entesoado, com o mesmo espírito com que tenciono assistir ao destroçar romano do Sporting: o meu espírito é, aliás, só meu e - em sendo meu - há-de ser o Santo.

22.10.07

I don't like mondays. Mas aprecio corolários e SG filtro.*

Porreiro, pá, correu bem!
Correu?
Não senti nada.
Pode ser que seja apenas um "ainda não senti".
Deve ser isso.
Deve ser a velha questão do "adiamento do cigarro", não tarda nada e sinto.
* Revisto e amputado, mas mesmo assim valha-me Deus.

20.10.07

O problema do Quaresma com o 112

É grave, do ponto de vista nacional.

O Quaresma sabe fazer aqueles dribles e aquelas trivelas (uma trivela é uma coisa fácil de fazer, tão bem como ele sabe é que é mais chato) mas está habituado a defrontar jogadores mais inteligentes do que os defesas laterais do Azerbaijão e do Cazaquistão. É muito difícil para o Quaresma fintar um jogador um bocado burro, porque quando o jerico percebe que aquilo era uma finta, como ficou parado como um cepo, já tem a bola nos pés: o Quaresma, geralmente, entrega-lha.

O Quaresma precisa de jogar contra jogadores ao menos medianamente talentosos e inteligentes, que percebam os seus movimentos e reajam a eles, de maneira a que o Quaresma possa, depois, gerir (adoro esta palavra, gerir, cumprimentos da gerência) a reacção.

Que tem isto que ver com o 112? Nada.

O Condesso

Disse-lhe que precisava de fazer quimioterapia e expliquei-lhe o que era. Escutou tudo como se estivesse a ouvir o relato, o rádio de pilhas era eu.
"Percebeu, senhor Condesso?", arremessei.

"Percebi. Era uma úrcela mas agora passou a ser um tumor fâmea. Uns dizem que é uma coisa, você diz-me outra".

"Não sabia que era um tumor? O cirurgião não lhe disse?", arrisquei.

"Disse. Mas sois todos uns madraços. Eu não me trato, não quero, enganaram-me, sois todos uma trampa".

Calei-me, a olhá-lo. Sabia que vinha dali mais metralha. E veio.
"Ide-vos foder. Um diz-me que é um tumor, o outro diz-me que é um tumor, entendei-vos! Tratar-me aqui é que não me trato. E, se eu morrer disto, estais fodidos, que eu tenho um filho só da minha senhora que anda a estudar na universidade. Para juiz! "

A senhora dele nem roncou. As Condessas emudecem.

19.10.07

O Roncas

O Roncas chega sempre à consulta antecedido da mulher. A Roncas.
A Roncas é vesga, deve ter menos cinco anos do que o Roncas, ou seja, dezasseis lustros e, ao fim de quase quinze anos de intimidade mensal, a Roncas já manda naquilo tudo. Vem sempre de saca, invade-me o consultório sem bater, ignora o doente que está a consultar-me (o que indigna sempre o visado) e dispara, sem uma pausa:
"- Ele vem a morrer, está muito mal, está a morrer, já nem respira, ande lá, mande este embora que não tem nada, eu vou já buscá-lo, está mesmo a morrer, olhe, trouxe-lhe isto para beber à noite, pegue lá, mas depois devolva-me a saca!"

Traz-me sempre conhaque, tem filhos emigrados.

Vou sempre espreitar o Roncas, antes de a expulsar do consultório e de berrar com ela. O Roncas, hoje, vinha como de costume: mal, arfante, confuso, protestante, às caralhadas. Um verdadeiro adepto do Glasgow Rangers com dispneia em hospital católico.

Quando o chamei, dez minutos depois, demorou dez segundos a entrar. Veio pelo pé dele, aparentando vida e, quando lhe disse "sente-se, senhor Roncas", disse logo "sente-se você, que ao pé desta puta não me sento eu".

Fiquei calado, a rabiscar uma data no processo. A de hoje. E ele prosseguiu. De pé.

"Estou a morrer, ando a morrer há mais de sessenta anos, e você não me dá com a cura. Era Deus livrar-me desta puta, esta puta é a minha doença! É ela e é a doença, duas putas, mas é mais ela, esta puta que aqui está!, mas esse remédio não me põe você nunca na receita!".

A vesga falou: "E tu, meu corno?, que és mau como as cobras, que deste um tiro no teu genro que está nos "cuidados istensibes" e que, em novo, tiveste uma amásia e lhe deste para cima de mil contos?".

O Roncas nem roncou. Nem se sentou.

17.10.07

Um género da espécie

Continuo a acreditar que o feminino é algo de precioso. Como tal, e por inerência, pretender que o feminino, por si, gera discriminação (mesmo que positiva) é quase um absurdo. A gratificação do feminino (antagónica do feminismo) convive, aliás muito bem, com uma certa impaciência perante a perpetuação do arquétipo da mulher serena e protectora, cujo papel social se resume a assistir, mais do que a participar - o que, na prática, equivale a acatar. Não há, mesmo, esse flagelo estrutural a que se insiste em chamar de "problemas das mulheres", sobretudo para aquelas (e aqueles) que têm mais ou melhor em que pensar. Conheço poucas mulheres que não se fascinem por um par de sapatos ou que não se sintam incomodadas pelas variações hormonais ao longo da vida e do ano. Mas não confundamos: no plano dos princípios, a igualdade de direitos cívicos está assegurada. Naquilo em que ainda não está (sim, há mulheres discriminadas no trabalho ou vítimas de violência conjugal), essa igualdade já não depende, nem podia depender, de causas e de movimentos: depende, nuns casos, da regulação do mercado; noutros, da "law enforcement". É que, no fundo, no fundo, e exceptuando os casos de grave condicionamento, cada um pode construir o seu próprio destino. E isto é, na verdade, uma regra universal dos Homens.

Duzentas mil e tal page-views depois

Pequenos (mas indispensáveis) ajustes à lista de links, à direita. Os dias continuam afanosos e o tempo, infelizmente, não chega para tudo. E, com a falta de tempo, esvai-se a iniciativa. Aliás, o tempo não tem culpa de nada: as pessoas é que o esgotam. Impõe-se, portanto, remar contra a corrente. E os blogues continuam aí, viçosos e viciosos. E bem nutridos.

15.10.07

Eu estou aqui mas apesar de estar aqui não é aqui que eu quero estar, ok?

O meu pai levava-me sempre a ver o Sporting quando jogávamos em Guimarães. Era mais perto de casa, seria por isso.

Íamos de manhã cedo, não havia auto-estradas, chegava-se lá por volta do meio dia, dávamos uma volta e íamos almoçar ao resturante Jordão. Não sei se ainda existe, o restaurante Jordão, perto do estádio. Ainda o Jordão nem era do Benfica. À volta, parávamos sempre em Amarante, para comer um prego no Zé da Calçada. Mas eu falo agora de idas, não de regressos.

Estava sempre cheio de sportinguistas, o restaurante. Naturalmente, os vimaranenses almoçavam em casa.

Agora um aparte: nunca vi o Sporting perder sem ser na televisão. Sabiam? Pois nem eu, até me lembrar agora disso. Minto: vi uma vez, nas Antas. Ia levando no focinho porque marcámos primeiro, no 2-1, e atrevi-me a mostrar contentamento.

Uma vez o restaurante Jordão estava cheio. O serviço demorava e o jogo era às três horas. Havia tempo, o campo era logo ali, escutavam-se já ao longe aquelas buzinas que ainda hoje se escutam nos jogos da Bélgica, da Áustria e da Suíça, países recessos, parados, países bons para fotografias de calendários de parede.

Numa mesa ao lado também havia só homens, mas eram todos adultos. Penso que nenhum deles teria filhos, porque senão ali estariam, com os pais. Iam nos aperitivos, aquilo do pão com queijo Zeca, o cerimonial das azeitonas.
O serviço demorava-se, derivado às inúmeras encomendas de lombo de porco e perna de vitela, e um dos homens bradou, sotaque alcantarense, como se fosse para toda a gente:
"Ó senhor empregado, isso demora? É que eu vim aqui para ver o Sporting, não vim aqui para almoçar no resturante Jordão, ouviu?"

O Sporting ganhou esse jogo, um a zero, golo do Nélson; nem foi o Yazalde que marcou. Mas esta foi a primeira vez que eu percebi que um adepto do Sporting pode ser estúpido, ou dizer coisas estúpidas. Está certo, depois disso também tenho relido algumas coisas que já escrevi e que, relidas, me reforçaram a "desfloração".

Quando escutei Manuela Ferreira Leite, ontem, a fazer de Grão-Vizir, lembrei-me do irmão dela. Dias Ferreira. Mas hoje, que o Sporting nem joga, ao escrever isto, é só dela que me lembro.

14.10.07

a pastoral

Eles cresciam e olhavam agora o homem de maneira diferente, parecia que já nem o olhavam, parecia que já nem podiam.
E diziam-lhe coisas agrestes como urzes.
O homem ripostava, agastado, mas a mulher não o deixava, pedia-lhe que não.
Ela aguentava-lhes melhor aquele já não olhar, aquele já não poder, suportava-lhes bem todas as urzes. Além disso, na verdade, não era nada com ela.
Ela fora criada no mesmo campo que eles. Antes deles. Por definição, um campo bom, fértil, com provas vivas disso. Num campo assim o estrume, adubo natural, é apenas isso mesmo.

Receitas de besugo (*)

Vá à despensa e pegue numa garrafa de leite Suil já vazia. Encha-a com um quarto de ácido sulfúrico e três quartos de gasolina (pode ser de noventa e cinco octanas, sim). Tape a garrafa com uma rolha qualquer e coloque-lhe um farrapo de pano, cru e bem seco, à volta do gargalo.
Meta-se num quarto pequeno, aí com nove metros quadrados, sem janelas, e feche-se lá dentro. Muito importante: engula a chave, para dar um ar mais interessante à coisa. Espionagem, e tal.
Já fez isso?
Muito bem.
Agora pegue num isqueiro e deite fogo ao farrapo. Deixe pegar bem o lume. Já está? Perfeito. Agora atire a garrafa contra uma parede qualquer, com força. Viu que espantoso?

Quer "Agarol"? Um frasquinho de lactulose? Uma grosa de microlaxes?


(*) Não façam isto. OK? É uma receita muito má, bebam antes leite Suil, se encontrarem; ou um copázio de cachaça.

Ragtime

Muita gente me chateia a cabeça com isto e se ri de mim. Mas eu não consigo perceber a razão.
O jogo chama-se, aparentemente, "rugby". E eu digo "râgbi".
Como é que se diz isto, afinal?

Bom. Em França diz-se "ragbí", com acentuação aguda na vogal final, como é costume deles. Na Espanha há-de dizer-se "rúgbi", e vamos com sorte. Na Geórgia não faço a mínima ideia como se diz, nem me interessa. Nos países anglófonos cuido que dizem "râgbi".

E em Portugal? No aportuguesamento da palavra, sempre vi escrito "râguebi", o que parece correponder à manutenção da fonética anglo-saxónica, mas tudo bem, somos todos um bocado pasmadinhos com essa merda do "perfect accent", o que me faz sempre rir. É o "râgbi" que eu digo, mas com três sílabas em lugar de duas, não faz diferença, sempre que podemos silabar a mais, silabamos, e olha logo eu a falar disto.

Assim sendo, incapazes que somos de dizer que "ó, António Joaquim, chama a maralha, que vamos agora jogar mas é um bocado de rúgbi", porque é assim que se lê, fonética portuguesa pura, igualzinha à fonética espanhola, tivéramos nós colhões na língua, como eles têm, que cada beijo luso seria um acto sexual bastante complexo - e nem sei como se chamariam os beiços, nesse caso, nem os dentes, nem o incómodo que isso daria no acto da alimentação -, incapazes que somos disso, dizia eu, por que raio é que dizemos"ó Diogo, vá buscar aquela coisa oval e vamos para casa do Lourenço jogar "râiguebi".
O que não percebo é onde se foi buscar a fonética "râiguebi", aquele "izinho" entre o "â" e o "g". A não ser que tenha sido ao sítio do costume, à nossa mania de sermos mais papistas que o próprio papa, esse culto antigo de tentar pronunciar tão bem as outras línguas que inventamos "accents".

Isto não me admira. O culto da "pronúncia certa" tem mais adeptos que o próprio SLB. Já contei isto, se quiserem procuro o texto e ponho-o outra vez. Eu tinha umas primas, há muito tempo, que se riam de mim por eu dizer que "O Lens é uma grande equipa (e era, e eu dizia "Lãns"), onde joga o Vercruyse", porque, segundo elas, Lens se dizia "Lànç". E eu fodia-as, de cada vez que me diziam que iam a Paris: "então não ides a "Pàri" por quê, ó vacarronas?".

12.10.07

Dogma de besugo

Parece que, brevemente, vai haver "pontómetro" no meu hospital. E noutros.

Para os enfermeiros não seria preciso: são muito rigorosos nas entradas e nas saídas. E nas pausas para refeições. O mesmo se passa com os auxiliares de acção médica: anos de vida hospitalar ensinaram-me isto, entre outras coisas.
Com os funcionários administrativos a coisa é semelhante: cumprem os horários escrupulosamente, à horinha, ao minutão.
Cuido que com os administradores será igual, não sei. Mas deve ser. Talvez não seja: para ser justo, tenho de dizer que os vejo por lá, ao menos a alguns deles, até tarde.

Eu dispensava os enfermeiros, os auxiliares de acção médica, os administrativos e - eventualmente - os administradores destas maçadas de "pontómetros".

O "pontómetro" devia ser só para os médicos. Estou a falar a sério.
Mais: o "pontómetro" devia ser só para mim.

Porque eu prevarico, de facto.
Eu confesso que, para cumprir escrupulosamente os pressupostos do "pontómetro", teria de passar a chegar ao hospital meia hora mais cedo do que chego agora (tempo que dedicaria à observação da limpeza de cus - "as higienes" - levada a cabo por enfermeiros e auxiliares) e, sempre para cumprir integralmente os pressupostos do "pontómetro", passaria a ter de sair duas ou três horas mais cedo do que agora saio. Isto todos os dias.

"A escalada de regras, em qualquer sistema, significa o climatério do sistema: cataménios que começam por ser cada vez mais abundantes e frequentes, depois cada vez mais frequentes mas menos abundantes, a seguir uns calores um bocadinho aleatórios, uma certa falta de humidade, até o sistema secar de vez".

9.10.07

Sobre clusters e manifestos

Há muito tempo que todos sabemos que a verdade jornalística é, sobretudo, aquilo que vende jornais ou garante audiências. No processo criativo, é tudo uma questão de grau de tratamento do facto, situado numa ampla moldura de hipóteses que pode ir desde o simples relato ipsis verbis de uma declaração polémica (da inteira responsabilidade do autor) que é, claro, ouro sobre azul no jornalismo sensacionalista, até ao destaque de uma particular (mas, quase sempre, secundária ou irrelevante) circunstância envolvente do facto que é elevada a facto nuclear da notícia. Todos sabemos, também, que todos os executivos políticos, aparelhos partidários ou, em geral, qualquer grupo ou organização cuja imagem dependa, em medida substancial, de acções de propaganda e de divulgação de eventos devem, forçosamente, estar dotados de eficazes e bem relacionados gabinetes de imprensa (na verdade, trata-se de aspirantes a gabinetes de controle de informação) que assegurem que o conteúdo da notícia que se quer divulgar é o conteúdo da notícia que efectivamente será divulgada - melhor, aquilo que permanecerá indelével na nossa retina, enquanto leitores/espectadores, venha o ruído que vier à mistura. A isto, também todos sabemos, chama-se manipulação das opiniões dos cidadãos que, na sua maioria, são sobretudo eleitores, para o que aqui importa.

Deste ponto de vista, o governo Sócrates tem gerido as suas relações com a imprensa de forma calamitosa. Já guardámos na memória a desinformação incómoda sobre os putos seleccionados num casting para a promoção daquela variante escolar de choque tecnológico. E, no último fim de semana, azedou de vez o estadismo dinâmico de Sócrates nas inaugurações dos mais recentes projectos de parceria tecnológica. Na aquacultura de Mira, de que se ouviu falar? Da oposição da Quercus. Nas pilhas de hidrogénio de Montemor-o-Velho, o que ficamos a saber? Que o PCP organizou-se em manifestos para ensombrar o feliz evento, com a agravante de que, provavelmente por intervenção dos caciques socialistas locais, os agentes da GNR ordenaram a retirada dos cartazes. A cereja no topo aconteceu quando aos manifestantes, em transe revolucionário, lhes veio à memória uma frase batida: vinticincodabrile, sempre! Ei-los, os media, sempre a abrir e todos nós a ajudar, colaborantes (enfim, o Sócrates mais do que todos; eu diria até que, vistas bem as coisas, até o Avante! o tem poupado de mais embaraços). Deixo, portanto, aqui expresso o meu desejo de que o governo Sócrates se mantenha firme e magistral neste propósito de conseguir que, a cada novo cluster de inovação que inaugure, a cada primeira pedra que deposite ou a cada fitinha que corte, esteja presente um repórter, mesmo que novato, a relatar a violência da contestação popular, a oposição dos ambientalistas ou uma qualquer desastrosa derrapagem financeira. De preferência, até às próximas legislativas, em que o PS ganhará tangencialmente, para que todos nós, eleitores, possamos beneficiar de uma oposição parlamentar mais, digamos...motivada.

6.10.07

sonhar bem

O Sporting enfiou três batatas no Guimarães.
O primeiro golo, disse um tipo qualquer da SportTv que é fanhoso - e disse o Joaquim Rita -, foi irregular: houve uma falta do Vukcevic sobre aquele gajo do Guimarães que jogou no Moreirense e que parece o Paulo Carroça - o azeiteiro da Ilha dos Amores, mas em guedelhudo - cinquenta metros atrás e seis toques na bola antes.
Eu queria deixar bem claro que quero que se fodam o fanhoso, o Joaquim Rita, o Paulo Carroça e a falta.
Ficou 3-0 e que bem que ficou.

O pequeno soviético (eu peço desculpa por proceder assim à reunificação dum império por interposto pequeno russo, ainda por cima com um nome que parece o título duma canção do Gilbert O'Sullivan, mas se me dessem um pedaço do muro de Berlim para recordação do tipo "guerra fria nunca mais" eu arremessava-o logo à testa do fervoroso democrata que mo ofertasse e perguntava-lhe, já no transporte para a urgência, se ainda preferia a "guerra quente") Izmailov marcou dois golos. Bem bons, os golos. Aquele guarda-redes do Guimarães ainda agora deve estar a perguntar o que lhe aconteceu no primeiro; no segundo, foi a erva - e um erro, dizem, gravemente, o fanhoso e o Rita; uma vez que já decretaram que no segundo golo do Setúbal em Alvalade a culpa foi do guarda redes, este tipo de golos passa a ser um erro, portanto, mas não é, eles é que são palerminhas: foi a erva. Acreditem em mim e vão para dentro.

Portanto, agora parece que está tudo mais ou menos bem, excepto no que respeita à minha relação pessoal com o maradona que - mas eu já nem tenho provas disso, porque ele já apagou, ou deixou cair no saco das batatas que ambos demos ao Guimarães, isto é sempre a mesma merda - "já não me linka".
Eu fodo-o. Há-de acordar tão coberto de "visits & page views" que tem de se ir banhar ao Ganges.

sonhar mal


“Em sonhos, é sabido, não se morre; aliás, essa é a única vantagem”, disse-me o Sérgio Godinho há quase vinte anos; está bem, Sérgio, então não morremos nos nossos sonhos, mas podemos sempre morrer enquanto estamos a sonhar uma coisa qualquer, tanto assim é que conheço muitos casos de pessoas que acordaram mortas, ou então despertaram com mortos ao lado, o que vai dar no mesmo. Esqueci-me de te dizer isto, ó Sérgio, digo-te agora.
Por causa do cheiro das tintas.

Quando eu era mais novo, ou seja, quando eu era novo (sim, que isto de dizer apenas “quando eu era mais novo”, quase subentende que poderia ter sido anteontem, ou na Páscoa do ano passado, ou mesmo em Outubro de 1997), cheguei a interessar-me pela “interpretação dos sonhos”.
Quer dizer, não cheguei mesmo a interessar-me por essa pastelada, mas, nesses tempos, tempos difíceis, tinha algumas amigas e conhecidas - que frequentavam, aliás, quase todas, a Faculdade de Letras, ou então militavam no ensino secundário com pretensões a penetrar nas Letras, dá no mesmo, o que faz com que, ainda hoje, injustamente - suponho -, eu associe a Faculdade de Letras a uma espécie de “Escola Subneuronal do Esoterismo” e, ainda mais do que isso, faz com que não consiga pensar na Praça da Galiza sem me rir e sem me lembrar de pedrezes e outras aves de quinteiro –, dizia eu que me dava, nessa altura, com raparigas que gostavam de abordar esse e outros temas, com outros rapazes e comigo, mas agora interesso só eu e este tema, a interpretação dos sonhos, e eu, palavra de honra, não é que bocejasse pouco, mas lembro-me de as coisas se passarem mais ou menos assim, dentro da minha cabeça, querem ver?, era mais ou menos assim que se passavam: “olha, cheiras tão bem, entre outras coisas que agora não interessam, de maneira que continua lá a falar dessa merda dos sonhos e não páres; não páres sequer de falar”, e lá ia escutando, tendo – por uma espécie de osmose táctil-olfacto-enxergativa – memorizado algumas coisas sobre a matéria.

Isto é bacoco. Eu considero isto uma pústula na minha vida académica, mas também a minha vida académica já passou há muitos anos e, portanto, não vou agora empanturar-me de antibióticos, nem lancetar a memória, só à conta dum abcesso antigo e calcificado.

Isto vem a propósito de quê?
Bom. Isto vem a propósito de eu andar a “sonhar mal”.

Sonhar mal é ter pesadelos?
Não. Não é bem a mesma coisa.
Um pesadelo, um pesadelo mesmo, eu sei o que é.
Um pesadelo é, por exemplo, quando sonhamos que nos morre alguém e acordamos desesperados, a chorar de pena; ou quando Morfeu nos manda uma espécie de SMS a vomitar que o Sporting perdeu com o Fátima em casa, e despertamos num espumar de raiva vingadora; ou, então, quando sonhamos que estamos no altar, naquela erecção desconfortável e engomada do fato e da gravata, ansiosos na espera duma noiva que se demora e – exactamente quando começa aquela música maluca da marcha nupcial – vemos penetrar o templo, conduzidos pelo Professor Aníbal Cavaco Silva e pela sua Mulher, em rancho alegrete, a Sra. Dra. Maria Barroso, a Sra. Dra. Odete Santos, o Sr. Manuel Luís Goucha, a Sra. Dra. Zita Seabra, o Sr. Nicolau Breyner, aquela Sra.D. Pipinha que o Sr. Nicolau Breyner lançou para as pantalhas, a Sra. D. Lili Caneças, o Sr. Manuel Cajuda e, ainda, um senegalês de duzentos centímetros de comprimento por cento e vinte quilos de peso, todos eles e elas de mãos dadas, elas e eles e eles e elas, todos e todas de vestidinhos aos folhos e de rendinhas, todas e todos a avançarem para nós de olhos gulosos, as rendinhas e os folhos a roçagarem o soalho por onde nos apetece escapulir para outro inferno qualquer, este Carnaval todo com uma menina possuidora dos traços fisionómicos da Sra. Dra. Manuela Ferreira Leite à frente, uma criança alternativa a marchar naquele passo da soldadesca da ex-URSS, sendo portadora de cestinha de alianças reluzentes, grossuras variáveis, onze ao todo.

Isto são pesadelos.

Sonhar mal é diferente.
Sonhar mal é isto a seguir.

Sonhar mal é haver uma espécie de Congresso de tipos vestidos de fato preto e com óculos escuros, mas que não são assim tipo Matrix, são diferentes, um bocado sebosos, tipos esses que se deslocam em carrinhas celulares de cor cinzento-aço pela minha cidade, sendo aplaudidos pelo povo inteiro nesse seu tonto circular - mas durante pouco tempo, curiosamente, porque rapidamente vai tudo à sua vida - e, sem que se entenda porquê, eu começar a notar que os tipos de preto me olham com ar implicativo; e é eu meter-me no carro e derrapar dali para fora, sem medo, mas com uma sensação de bizarria semi-assustada, que não é bem o medo, e aperceber-me de que me perseguem, de facto; e eu acelerar cada vez mais, até os despistar, estacionando depois à porta de minha casa, apercebendo-me, nessa altura, ao sair do carro, que sou possuidor dum Porsche; mas que esse Porsche, sem deixar de ser um Porsche, está pintado de vermelho e de cor-de-laranja, e tem um ailleron traseiro roxo, com leitor de CDs incorporado, o que me fode a auto-estima (e, como toda a gente sabe, a auto-estima é aquela parte do ego masculino que depende largueiro da viatura que se possui, nem que seja em sonhos).

Eu interrompo agora a narrativa para explicar que não sei, sequer, se isto que narro é apenas um sonho ou se é, em alternativa, uma sucessão deles. Sei é que “os maus sonhos” – não é “os pesadelos”, eu aqui tenho de ser muito explícito, é “os maus sonhos” -, vistos de fora, olhados “acordadamente”, tendem a encontrar uma espécie de fio condutor que nunca teriam enquanto acontecem, e que esse fio condutor lhes confere uma bizarria que nos pasma um cisco. E sei que, sendo apenas um sonho ou sendo um ror deles, nesse caso entrecortados por despertares incompletos, estes sonhos são o que são: são “sonhos maus”.
E aproveito também para contar que, quando ainda era muito mais novo, era muito novo mesmo, estava mesmo por estrear, sonhava muito repetidamente que me tinham dado uma bicicleta, uma Vilar com três mudanças, só não tinha marcha-atrás, era tipo “Chopper” - mas não chegava a ser uma “Chopper”-, e, puta que pariu o sonho e a bicicleta, a Vilar tinha pneus de veludine: travava muito mal.

Eis que os tipos de preto me topam novamente e eu resolvo não entrar em casa, para não descobrirem onde moro, e arranco novamente no meu Porsche, chegando, numa vertigem instantânea, à descida da capela do Cruzeiro onde, do lado direito, fico pasmado diante duma discoteca nova que não havia ali e, curiosamente, passa a ser de noite.
Passa a ser de noite mas vê-se bem lá para dentro, está tudo alumiado de luzes lilases, claras, donas de transparências aniladas, e a mobília é toda de metal cinzento, e os tipos de preto estão lá dentro, um gang-bang seboso e preto, a dançarem "slow" uns com os outros, eu a ver do carro, “olha que paneleiragem”, mas eis que os tipos de preto me vêem novamente e saem, aos baldões, atrás de mim, sempre calados, sem um som, eu já chateado com esta merda toda, “então estes caralhos estavam atrás de mim, agora já não estavam, pelos vistos, andavam era no roço e aos amassos uns aos outros dentro daquela merda lilás, e agora já estão outra vez atrás de mim, caralho, mas por alma de quem?”, fujo novamente, mas já nem sei se ainda tenho o Porsche, sei que aquilo andava bem na mesma, e deparo com o meu pai na zona do antigo sinaleiro, saio do carro e digo “ó pai, resolva-me isto”, e ele deve ter resolvido, que nunca mais vi os tipos de preto – nem o Porsche, mas a esse devo tê-lo vendido bem.

Até aqui tudo bem, estou mesmo a ver alguns entendidos e entendidas (mesmo sem formação na Faculdade de Letras) a rosnarem “pois, está bem, lá vem este caralho com o velho e estereotipado sonho dos gajos de preto que tendem simultaneamente para a homossexualidade e para a perseguição, já vimos isto”. Está bem.

O pior é quando, logo a seguir, dou por mim dentro dum edifício de seis andares – e eu sei que eram seis andares, não sei por quê, mas sei – que parecia o El Corte Ingles de Gaia, sim, mas com escadas antigas. Não havia escadas rolantes, tinha de ser tudo na base do galganço a penates, e o chão era alcatifado, uma alcatifa reles; e tinha, naquela estrutura híbrida, também, semelhanças com os antigos Armazéns Marques Soares, no Porto, em 1973. Mas vim a saber que, afinal, estava dentro da Maconde, também não sei como descobri esta merda, que se foda, e que andava eu lá a fazer?, pois é, eu sei, agora já começam a perceber melhor a diferença entre “pesadelos” e “sonhos maus”, eu sei, eu conheço-vos bem, pois fixem-se nisto: eu andava, acima e abaixo, a experimentar, num ritmo frenético de emergência, equipamentos principais, fardamentos alternativos - e, mesmo, fatos-de-treino - do Newcastle United.

Pausa.
Esta pausa é para vos permitir irdes buscar um agasalho, que eu sei da frialdade angustiada que se apossou de vós neste preciso momento. Ide. Eu já retomo o fio narrativo com o episódio do circuito de karts do Hospital de São João, prova em que me vi empenhado imediatamente após ter acabado de adquirir, na Maconde das Carmelitas, umas calças de ganga à boca de sino. Macjeans, presumo.


Já voltastes? Sede bem revindos.

A prova era complicada, sendo que a recta da meta era em frente à porta principal do piso 1 do Hospital de S. João, onde ficava em tempos o bar pequeno, e a recta oposta ficava cá em baixo, evidentemente paralela à recta da meta, mas com um desnível de cerca de 15 metros de altitude. O circuito era, pois, tudo menos um circuito. Era uma quadratura desnivelada, melhor dizendo, era uma “rectangulatura” desnivelada, sendo que se subia para a recta da meta e se descia dela para a outra recta por aquelas rampas que, quem conhece o Hospital de S. João, ou mesmo o de Santa Maria, bem sabe: uma sobe, a outra desce, tudo isto no sentido dos ponteiros do relógio, sobretudo se a vida for apenas andar às voltas num Timex rectangular.
Dada a partida, eu, que estava bem posicionado no meu capacete preto, percebi logo que regressara ao ciclo preparatório: eu guiava, com impulsos treinados de mão, um pequeno Porsche da Matchbox, decorado com pratas de chocolate, ali coladas à maneira, vermelhas e cor-de-laranja, na pista desenhada por mim e pelo resto da canalha da velha Escola Técnica, junto ao muro, perto da rede que separava a escola do resto do povo, sendo que o fiscal de pista era um contínuo, o Senhor Reboredo, todo de preto, seboso, de óculos escuros.

Podeis sair. O ponto é amanhã, mas sonhai bem.

1.10.07

Com esta lei com certeza há mais raptos

É assim que um leitor do Público se inicia a comentar a decisão de suspensão da pena de quatro anos de prisão à mulher que raptou a bebé recém-nascida. O cidadão em questão gostaria, mais até do que de castigo exemplar, que a mulher penasse de maneira tal que a pena fosse, também, inibidora de crimes análogos. Eu espanto-me sempre que vejo, e vejo tantas vezes, pessoas transbordantes de certezas, a ponderar sobre comportamentos alheios. Li (*), um desses dias, a Fernanda Câncio (não consegui encontrar o texto no 5 dias) a reivindicar de maneira inflamada o direito da pequena Esmeralda aos pais afectivos; o que fez, porém, foi apenas escolher a opinião fácil, a opinião óbvia, enfim, a opinião de curto prazo. A menos que se trate de alguém que esteja em perda emocional, a quem tudo se perdoa e entende, duvido sempre da boa ponderação de quem não é capaz de sentir compaixão pelo erro alheio. Relações afectivas são relações complexas, carregadas da nossa incontornável imprevisibilidade e circunstância; e, de dentro do problema, ninguém pensa ou age com essa sensata e ponderada consciência do Bem e do Mal (podendo, até, acontecer que o Bem se torne circunstancial). Foi por isso que a mulher de Valongo raptou a recém-nascida. E é por isso que o Baltasar quer a sua filha de volta. Ambos já penaram, por sua conta, o suficiente para saber que não quereriam voltar a fazer o que fizeram. Mesmo que, neste pré-juízo de improvável reabilitação, tornem a fazer o que fizeram.

P.S. Ler, até li; mas, pelos vistos, imputei a autoria do que li à pessoa errada. Por email, a Fernanda Câncio esclarece não ter escrito qualquer texto sobre o tema em questão. As minhas desculpas, portanto. Terei, entretanto, de procurar o autor correcto (isto é para eu aprender a não saltitar de blogue em blogue).

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