blog caliente.

31.5.06

Prémio "As Gajas Dizem Que Eu Sou Bonito Mas Eu Sou, Sobretudo, Muito Estúpido"

Para David Beckham.

30.5.06

Jardinagem


O senhor pretende saber, depreende-se que com pouca demora, se a Madeira pode ser auto-sustentável.
Se eu mandasse, há já muito tempo que ele sabia a resposta a essa pergunta.
Como não mando, sugiro que lhe seja dada, rapidamente (no próximo OGE, por exemplo, se não se puder emendar este), uma oportunidade para ir estudando a questão.

O fenómeno explicado por quem não percebe nada da bola

Se for verdade que o gosto pelo futebol (lembro, sem se perceber nada da bola) pode servir de critério para definir estratos socio-económicos, graus de desenvolvimento moral ou sentido estético, é legítimo concluir que estamos perante um atraso civilizacional à escala planetária. Retiremos, por pureza de análise, desse largo espectro de populações idólatras dos ícones futebolísticos, as elites intelectuais que, auto-excluídas do futebol de massas, pensam o futebol e chegam a proclamar-se orgulhosos amantes da modalidade, desde que seja perceptivel por terceiros, nessa paixão futebolística, uma dimensão moral e estética muito acima do que é comum ou banal (de resto, extensível a qualquer outro fenómeno social). Desfeito o equívoco - isto é, esclarecida a pertença a estrato diferente - passa a ser socialmente correcto adoptar comportamentos neo-hooliganescos, que se recriaram à custa do estatuto, entretanto conquistado, de aficcionado intelectual - pressuposto essencial que se impõe esteja sempre presente em qualquer pronúncia pública sobre o tema. Por definição, qualquer análise será inevitavelmente credível e meritória, mesmo quando se limite a um esotérico "SLB, sempre!". Com a vantagem, se se apostar numa cuidada gestão de imagem, de se poder obter um gratificante séquito de admiradores incondicionais e acríticos.

E bilhetes destes há sempre...

No Prós e Contras, espreitado só de esguelha e entre risadas dos miúdos a propósito doutra coisa qualquer, consegui ouvi Belmiro de Azevedo a estabelecer, em directo, mais uma verdade moderna.
Foi a propósito da OPA (é espantosa a capacidade que Belmiro tem de desencadear abundante salivação na classe jornalística, aliás: foi ele próprio que teve de lembrar à senhora que "isso tem que ver com o meio empresarial, com o mercado finaceiro, pouco tem que ver com a economia do País...", mais ou menos isto). Pelo meio do discurso sobre o rescaldo da OPA, lá veio ela, a verdade: " - ... aliás, o público soube entender-nos e apreciar-nos muito bem".

Cito de memória, claro. Não garanto as vírgulas nem a entoação.
Garanto é que não era ao jornal diário que ele se referia quando emitiu o substantivo "público". Embora se perceba que também o acha fácil de folhear, a esse.

Era a toda a gente. Pode haver quem caia no encantamento de pensar que ele se referia apenas aos pequenos accionistas da PT, mas não: é mais abrangente que isso. E, se fosse só isso, ainda seria mais redutor como perspectiva "do País", pensando bem...

Não há melhor nem mais justa maneira de transformar a vida num verdadeiro espectáculo do que esta: fazer do povo um imenso público, todo na geral, mirando os artistas no palco (ou nas cadeiras de orquestra, consoante o tempo e as marcações de cada companhia).

Palavra de honra que estou de acordo. Acreditem em mim! Eu sei o que se espera de mim! Não me chamem nomes, eu já sei, eu percebi!
Eu, a esta, até já a aplaudi do segundo balcão, nos lugares de rastos! Juro.

29.5.06

Ainda o futebol...

... é sabido que é, cada vez mais, um desporto de multidões, estas entendidas como o o povo em geral (incluídas a pequena e a média burguesia) e que, no povo, o fenómeno enebria tanto homens como mulheres. As mulheres, essas, raramente percebem o que quer que seja sobre a bola, sejam elas do povo ou de elites mais recatadas; mas, no seio destas, as mulheres, por culto do bom gosto que se exterioriza pelo típico "c'horrore", desinteressam-se pela teologia da modernidade, preferindo dedicar-se aos elegantes ditos de espírito próprios das senhoras ou à atitude contemplativa dos temas que, por essência do género, não dominam mas sobretudo, por imposição da etiqueta, não devem dominar. Não estão erradas: na verdade, o futebol não interessa um chavo, se se lhe retirar o estrelato dos jogadores e as saborosas declarações dos dirigentes que, um dia, se um aparentado de João Pedro George (o homem que não se lembra de alguma vez se ter arrependido; o Carlos Vaz Marques está aí que não me deixa mentir) a tanto se dedicar, farão parte de antologias críticas e anotadas.

(continua)

Vão descansar, miúdos

Alguém tem de falar a sério com o Quaresma.
Tem de ser.

Hoje, mais uma vez, esteve bem. Não chegou, mas esteve.
Está diferente, está mais maduro. Quando o guarda redes alemão se pôs a refilar (com alguma razão, mas isso é secundário) e a querer "comê-lo" vivo, Quaresma ficou calado, quieto. Desafiado, a partir daí, mostrou-se calmo e participativo.

Quaresma não fez nenhum grande jogo, nem era suposto que pudesse ter feito: a selecção de sub-21 tem seis ou sete jogadores que não são bons. São razoáveis.

Quaresma tem de ser conversado. Tem de perceber que, embora já seja melhor que os colegas da selecção de sub-21 (mesmo que o Moutinho, mesmo que o Meireles, mesmo que o Nani - e estes são bons, também), não é, ainda, melhor que os que estão na selecção A. Mesmo que falhem, estes que lá estão são, ainda, melhores. Mais completos. Isto nem sequer admite dúvidas, a não ser que descambemos para merdices cartesianas fora do tempo e do lugar.

O que eu quero dizer, abreviando, é que gosto muito de ver jogar o Quaresma. É bonito e bom a jogar. Às vezes. E que quero vê-lo na selecção A em breve. Não agora, mas para a próxima. Ele e outros. Quando forem um bocadinho mais do que bons.
Da selecção de sub-21, na A futura, estarão só quatro ou cinco. Com ele. Não serão mais. E isso é bom.

Ele tem de entender isto: esteve onde mais era preciso, saiu mal, saiu-lhe mal, saiu-nos mal, mas a culpa não foi dele.
Nem de ninguém. Saiu assim.
Gente que nunca jogou à bola e que a vê mal, por nunca ter levado um encosto a sério, nem cabeceado uma bola vinda directamente dum pontapé de baliza, nem ter experimentado a sensação estranha de cheirar (quase tocar!) o suor do outro ali tão perto, o outro a resfolegar contra o nosso propósito, essas coisas que aleijam ou podem aleijar um bocadinho, pode achar que o futebol é um textozinho à base de uma espécie de jogo da playstation. Mas não: nem é um texto nem um jogo de botões. Nem sequer é, "também", isso. Não é nada disso, pelo contrário: pode ser poesia ou prosa, o que quiserem, mas é o oposto dessa poesia e dessa prosa choca dos balofos.

28.5.06

Culto de quase nada

Sobre as competições futebolísticas em curso, não consegui ainda perceber se o país está pouco esperançoso, dividido sobre as escolhas de Scolari ou apenas ressacado das quase vitórias de 2004. O facto é que não se pressente a sede de folclore de há dois anos atrás, o que, sem deixar de ser um desperdício de um excelente pretexto para iludir as amarguras, sempre nos permite manter o espírito mais próximo da lucidez e das vidas reais.
Quando se fala de vidas reais, de duas uma: ou se trata de um evento que, de tão mórbido-sensacional, atrai reportagens perfeitas para horário nobre, ou se trata de colectividades, classes ou grupelhos que cultivam a arte da reivindicação estratégica, na certeza de que, em cada dez exigências do caderno reivindicativo, uma delas seguramente há-de ser atendida.
O insólito acontece quando se sabe de milhares de quase escravos, algures no país profundo, que chegaram a essa condição sem que antes não deixassem de o ser, por submissão meramente incidental. A família de que se fala na reportagem do Expresso é apenas uma de milhares, no Vale do Ave ou em qualquer outro ponto do país, a quem o ganha-pão dos sapatos da Zara que cosem em casa é não só o único meio de subsistência como, também, aquele que lhes serve e basta. Pelo meio desses viveres miseráveis, mas conformados, entram as crianças e os púberes que, por tradição ancestral, devem ajudar os pais como os pais ajudaram os avós - e ajudam tão bem que até mostram ter jeito para o metier. Nenhum é carrasco, claro. Excepto, claro, os execráveis mediadores de Zaras e outros semelhantes. Pequenos empresários, ó sustentáculos da economia nacional, não desesperem. O país está atento, os incentivos vão a caminho. Quarenta cêntimos por sapato é muito dinheiro, se se pensar à escala global.

26.5.06

Eu não sabia

Hoje vi tudo. E, bem ao contrário do que pensava, não melhorámos isto.
Não discuto tácticas. Não sou pago para isso e, bem vistas as coisas, nem sequer tenho habilitações (fiz a quarta classe e depois aprendi anatomia, logo directamente das letras para a carnificina) para discussões que se elevem da víscera. Ou do osso.

Portanto, não discutindo isso, não discuto nada.

Mantenho: Quaresma não tem culpa, é o jogador da selecção de sub-21 (curiosamente, a maior parte dos tipos têm 22 ou 23 anos, mas eu sei por que é assim, é apenas como curiosidade que refiro isto) mais talentoso. Mas não é muito evoluído da cabeça. Ainda. O trabalho a fazer com Quaresma tem de continuar a ser feito no Porto, que é o clube mais sério de Portugal. Tem de levar na cabeça, o ciganito, mas não se dá na cabeça dum cigano como se dá na cabeça dum "aldeano", sobretudo se se quer que o cigano melhore: eles, apertados, amuam ou agridem. É assim.

Tivemos mais um jogo em que nada saiu bem. Jogámos contra uma selecção de jogadores evoluídos, que são de equipas como o Estrela Vermelha, o Partizan, o CSKA de Moscovo. Ainda não dá. Só dá se correr bem, com miúdos da Académica, do Marítimo, do Boavista, etc. E com o Lourenço, esse exemplo acabado de como as escolas de formação mais produtivas conseguem, em correndo mal, produzir tipos suficientes para suplentes do Leiria.
E não correu nada bem.

Muito bem o Bruno Vale (excelente guarda-redes, talvez o melhor de Portugal, sobretudo em potencial). Muito bem Raul Meireles, sobretudo quando a sorte nos voltou as costas de vez. Muito bem Manuel Fernandes, que está "preso", ele que é o tipo de negrinho que, em se soltando, vai ser titular A em dois anos. Muito bem Moutinho, o puto pequenino, lutador e ainda com muito para aprender, de maneira a enchumaçar o talento (e isto é para definir: é 10? é 6? é que falta ali tempo e definição, cuidado, pode o Sporting - e a Selecção - estar a criar mais um polivalente que não se cumpre em nenhuma das valências). Muito bem, dentro do género (está desgostoso, o puto, se calhar ninguém lhe explicou nada, ainda) o Quaresma.

Quaresma é, sem dúvida, o jogador mais habilidoso da selecção de sub-21. Percebam isto: na selecção A nem isto seria. Mas não misturem mais Quaresma com estas coisas: Quaresma há-de ser, se souber e puder, um grande e constante e inteligente jogador.
Os ciganos novos têm garra, são espertos e, geralmente, bonitos. Mesmo a jogar a bola. Fazem asneira, muitas vezes, eu sei. Conseguem parecer burros. Não são.
Tem de se deixar crescer um ciganito, claro. É como com os "aldeanos". Tem de se deixar crescer o ciganito até ele estar suficientemente crescido para fazer menos tolices que coisas úteis e ganhadoras. Em dinâmica ganhadora, esta casta de individualistas - ainda que amuados - é quase imparável. Mas é só em dinâmica ganhadora, ao menos até a casta aprender a ser quase imparável, quase sempre.

Eu ainda não desisti, mesmo depois desta tarde. A França de Hugo que faça o seu melhor papel. E Scolari que vá lá, a Guimarães. Que vá ver, santificar e enfeitiçar a tarde, fazer sombra ao boçal que armou a equipa (eu não discuto isso, mas é um boçal que ainda não entendeu que sub-21 não é sub-18, nem que o Ivanildo devia ter jogado de início no lugar do Valente), de tal forma que os boches se sintam como se o Sérgio Conceição estivesse em campo, no ano 2000, na tarde minhota.

Nao sei se é possível. Agora estamos em tempo de bambúrrios, de "aos calhares". Mas vamos ver.
Eu pago para ver.

Agora uma coisa mais, apenas. Nada disto prova que Quaresma não deveria estar nos AA(*). Prova, apenas, que a vida pode ser difícil e, geralmente, infelizmente, inevitavelmente, é.

(*) Como também não prova que deveria. Eu acho que não deveria, mas achei antes. Nestas coisas "acha-se" antes, não é depois. "Achar depois" é coisa de indicadores panascas.

24.5.06

Eu já sabia

Ontem só vi a segunda parte do Portugal - França.
Há já bastantes pessoas a fazerem mais uma quadratura do círculo, uma espécie de catarse simplória (como todas) acerca de Quaresma.
Uns dizem que este jogo sem chama do ciganito prova a razão de Scolari.
Outros sustentam que isso não prova nada.

Isto que esta gente diz parece esgotar o tema, mas não.

Mantenho que Quaresma ainda não deve ser uma aposta para confrontos de grandes, embora, de vez em quando (cada vez mais, mas devagar, como deve ser), tenha momentos celestiais. Mas não há céu todos os dias.
Mas não digo isto por uma má exibição (que nem foi assim tão má, foi mediana). Digo porque já disse e pelos motivos que já disse.

Acrescento que é preciso perceber muito pouco de bola para achar que, em dez jogos contra nós, esta miudagem francesa não ganha cinco, empata três e perde dois.
Jogámos contra a melhor equipa do torneio. Que diabo, não seguem as coisas da bola e falam dela? Não sabiam que era?

Quaresma será muito importante para ganharmos à Sérvia e à Alemanha. Não vai ser fácil, mas vamos ganhar. Eu sei.

E vê-se isto: há tipos na selecção francesa que são mais maduros, mesmo sendo mais novos, que Quaresma. Não queimem o rapaz querendo queimar (mal) Scolari.
O rapaz é muito bom. Falta-lhe ainda um bocadinho, em momentos decisivos, vem com o tempo. Ou não. Mas, a isso, só o tempo e o Quaresma poderão (se souberem) responder.

O público foi o costume: vão à bola como quem vai a um concerto. Esgotam-se nos preparativos. Daí para a frente, perdem tusa, já acabaram o seu trabalho histérico, passa tudo a ser com quem, de facto, é. Eles, aquela malta fixe que grita "Pertegale" para as câmaras, é só malta fixe. É só aquela "multidinha" histérica erigida sobre o monturo do folclore. Aí é mais fácil, no folclore, nos concertos "Rock in Quebradas de Cima", não é?
É, claro que é mais fácil. Que os concertos, salvas raras excepções, não são contra ninguém.
Vamos melhorar isto. Com Quaresma.

21.5.06

Please: don't eat the daisies!

O próximo Junho há-de ser um mês de emoções. Futebolísticas, mas não só. E eu, que tenho José Sócrates na conta de um homem com apreciável sentido de oportunidade e um admirável talento para dar más notícias de forma, não apenas indolor, mas grandiosa, estou certa que dedicará a esse objectivo a sua melhor colaboração.

Assim sendo, pergunto: que más novas nos trará o mês de Junho, enquanto estivermos todos anestesiados com as vitórias do Clube Privado Scolari & Friends no mundial? Que catástrofes se abaterão sobre nós? Mais maternidades encerradas? Mais agricultores em guerra ao Ministro? Novo aumento do IVA? Novo aumento do petróleo? Novo discurso de Cavaco ao país? A alteração do aeroporto da Ota para o Parque das Nações? Uma micro-causa dedicada à alteração do aeroporto da Ota para o Parque das Nações? O encerramento compulsivo do Blasfémias, será possível? E o Rodrigues, meu Deus, será mesmo irmão da Joana?

Só coisas que me consomem.

20.5.06

Brincar de roda aos futebóis

Desculpe lá eu vir chateá-lo, Francisco.

Já não me bastava ser companheiro de blogue - há quase 3 anos! - duma destemperada que também acha que percebe da bola, vem-me agora você com isto?

Ah! Não, senhor. Agora vai ter de dizer nomes!
Claro, não tem de dizer nada, isto é uma maneira de falar, era o que faltava: ninguém tem de dizer coisa nenhuma.

Eu refiro-me a isto, sobretudo: "...acho que temos direito a ver Quaresma a jogar na selecção principal em vez de algumas das meninas que andam por lá".

O Francisco quer informar-nos, então, por favor? Quem são essas meninas?
Olhe: tem quatro meninas para escolher, já se sabe, em se falando dos lugares do Quaresma: ele é ponta, faz ambas, a direita e a esquerda, que diabo, só há quatro para "a troca"! Não vale dizer como a Lolita, que levava o Quaresma em lugar do Petit "porque o Petit é feio!".

O Francisco tem aí estes quatro: tem aí o Figo, tem aí o Simão, tem aí o Boa Morte e tem aí o Ronaldo. Tem só estes. Não tem mais, não invente.

O Francisco diga, por favor, quais dos(as) quatro são meninas. E qual deles(as) subtraía ao grupo, nesse caso, para entrar o Ricardo Quaresma, esse jovem talento que foi eleito "o melhor da Liga" pelos jornalistas, pelos adeptos do FCP e, sobretudo, pelos adeptos do FCP que são jornalistas. E explique porquê, já agora. Como se fosse o Francisco a escolher e a ser responsável pelo que escolhesse, evidentemente.

Eu digo isto porque o que afirmou não me pareceu mero bitaite: é o que lhe parece, é o que pensa, mesmo.

Eu fico à espera, palavra de honra.
Embora não possa esperar sentado, nem eternamente, que eu tenho uma companheira de blogue que não me permite sossegos. Além disso, sei interpretar os silêncios quase tão bem como os ruídos. Mesmo os de fundo.

The talking tomato

gif animation

Isto de saber da lolita pelos jornais... tsc, tsc


Para ler melhor a notícia faça como eu fiz: carregue no jornal com o botão esquerdo do seu rato. Deve ter aí um, não?

Tempos



O azul escureceu-se, avivou-se, até ficar ferrete, ainda durante o sol da tarde.
Parece que tudo viceja, do que pode vicejar, quando é assim.
Nem sequer o vento do fim-da-tarde, o que vem do mar, aqui faltou: tem de haver sempre alguma música, um sopro arrepiante dela.
As cerejas estão quase: o que quer dizer que ainda não estão.

(Des)construção

E se um homem escolhesse meia dúzia de livros e outras bugigangas na FNAC e, depois, se dirigisse à caixa declarando, em tom descontraído, que queria comprar aquilo tudo mas, porque não tinha dinheiro, contava que alguém, ali presente, o ajudasse a pagar a despesa? E se, dito isto, se dirigisse às pessoas que estavam na fila da caixa, perguntando com cortesia a cada uma se lhe fazia esse favor? E se não esmorecesse nas intenções ou nos modos afáveis, perante cada negativa que lhe dirigiam, de entre o pasmo, a indignação ou a inútil boçalidade do insulto baixo pela bizarria do pedido?

Saiu, sempre sorrindo, escoltado por seguranças. Dançou e gargalhou como se fosse o próximo. E tropeçou no céu como se ouvisse música. E flutuou no ar como se fosse sábado.

19.5.06

Se calhar é por isto que passamos a ser um país de imigração

Um homem velho, com pinta de reformado, foi um dos milhares de portugueses (em que se incluem o Presidente da Câmara de Gaia e o Ministro da Economia) que não resistiram à opulência magnética da inauguração do El Corte Inglés. Assombrado com a visão de uma loja do tamanho de um arranha-céus - que lhe bastou como prova concludente da hegemonia castelhana - sentenciou ali mesmo, sem contemplações: nós nunca íamos conseguir fazer isto; só os espanhóis.
Que não se estrague tal sonho ao aposentado. Afinal de contas, o El Corte Inglés de Gaia é um pedacinho de estrangeiro encravado na Avenida da República. Um enclave, em pleno território português, dos míticos caramelos Solano ou do torrón de Alicante.
Mas, enfim, nós somos os melhores nos idiomas. Todos podemos, julgo, viver reconfortados na certeza de que não há um único espanhol em todo o planeta que não pronuncie échpáice, se quiser pedir pimenta em língua inglesa.
Ay, madrezita.

Post onomástico/reaccionário (2)

O Auditório Jorge Sampaio, no Largo Dr. Francisco Sá Carneiro ... de duas, uma. Ou foi construído depois de 1974, com grande desperdício de dinheiro (luvas incluídas) e fundos comunitários, ou não passa de uma redecoração onomástica do Auditório Marechal Carmona, no Largo Dr. Oliveira Salazar.

Que por sua vez (e salva a hipótese de ter sido construído durante a longa noite fascista, com pouco dinheiro e recurso a trabalhos forçados de presos políticos), provirá provavelmente do Auditório Bernardino Machado, no largo Dr. Afonso Costa.

.....

.....

do Auditório Afonso Henriques, no Largo Egas Moniz ...

...

...

do Auditório Al Mansour, no Largo dos Sarracenos ...

...

...

do auditório Calígula, no Largo Augusto César ....

...

...

do auditório Lusitano, no Largo Viriato

...

...

do auditório Grrrrrrr ...., no largo Grrrunffff!

Post reaccionário

O Ary era um gordalhufo que compunha canções nas estações de metro de Moscovo, não era?

Se bem me lembro eram muito levezinhas. Se as tivesse composto nos goulags de certeza que tinham mais sentimento ... :-D

PS (ainda mais reaccionário que o próprio post) - Ok, ok, nos goulags fazia frio, mas foi uma pena que não tivesse ido compôr as musiquetas dele para o Tarrafal. Tenho a certeza que se arranjava lá um cantinho para ele escrever, com grande privacidade.

...e eu anuncio que vou para o Aston Villa!

Petit anuncia interesse do Manchester United.
Queiroz nega interesse em Petit.

Isto bate certo. E pode acabar por bater ainda mais certo do que o que já bate agora.

Besugo:



Mas é justamente por ser um tipo "às direitas" que não podes contar com o Alonso para isso. Nos anos de ouro do Tordo com o Ary, o geronte Alonso já há muito se deliciava com as melodias doces da Madalena Iglesias, por quem tinha um fraquinho e a quem chegou a escrever, afirmando-lhe apoio incondicional e manifestando-se frontalmente contra o movimento de renovação musical que, na época, foi impulsionado pelas canções de intervenção política.

O Alonso acha muito mal isto da intervenção política. Que fará em forma de canção... É que não podemos esquecer que ele é um confesso nihilista.

Toiros!

Eu sei, isto é horrível. Os animais a sofrerem e tudo. Eu sei isso tudo. É indefensável. Eu sou um boi. Enfim, sei que muita gente gostaria que eu fosse um boi, e se calhar era merecido que fosse. Um boi sem glória nenhuma nos cornos embolados.
Mas pronto.

Foi uma boa corrida hoje, pelo menos os três primeiros toiros, no Campo Pequeno.

Moura está cada vez mais gordo, mas mantém aquele registo de "rojeneador" entusiasmado. António Ribeiro Telles é mais sóbrio, sempre foi assim, seguro e fino, contrastando com Moura: toureio de "meia praça, ele que arranque primeiro", nem sempre conseguido. Rui Fernandes, que eu nunca tinha visto tourear, foi o triunfador da primeira metade da noite. A outra metade não vi.

Três boas pegas, sobretudo a terceira: o toiro era mais leal que os outros (sobretudo que o segundo) e não derrotou. Nem o velho cabo dos Amadores de Lisboa merecia que derrotasse.

Isto é horrível, mas eu não consigo. Gosto, pronto. Paciência.

Lolita:



Se o Alonso fosse um tipo mesmo "às direitas" e um bocadinho mais dado a proporcionar alegrias e contentamentos aos amigos (em lugar de se andar a lamentar da idade vetusta), amanhã estávamos .

Não te parece?

18.5.06

OK. Destroçar.

Uma vez mais, lá fomos. Eu nunca digo "lá foram", porque é sempre comigo.
Falo do Festival da Eurovisão, desta vez.

Não vale a pena tecer muitas considerações sobre o mercado, as torpes vizinhanças geográficas, o malévolo jogo de influências, enfim, sobre essas variáveis que nos prejudicam sempre, ao ponto de sermos, talvez, o único país europeu não fundado (ou refundado) após a queda do muro de Berlim que nunca conseguiu ganhar aquilo. Nem é relevante versejar, sequer, sobre o interesse que o Festival tem (que já se sabe que não tem), até como simples montra do que se faz nos vários países concorrentes, em termos de produção musical.

A maior parte das cantigas são duma pobreza atroz. E a nossa (aquela caca que o Gobern, o La Féria, a Simone, a Fátima Lopes, o Tozé Brito e o povo das SMS escolheram) é uma bosta. Sempre igual. Igual a dezoito das outras concorrentes em espavento, igual a duzentas e dezasseis mil na construção(?) melódica, constituída por um refrão repetido até à exaustão e por "uma merda qualquer até se chegar ao refrão" (safam-se os metais - iguais de princípio a fim, contudo -, no meio das vozes fraquinhas das meninas; eu diria "nas recuperações" das fífias delas).
Mal cantada, mal coreografada (as gajas são incapazes de decompor, seja com que parte do corpo for, um compasso quaternário simples!), pobrezinha, igual ou pior que as cantigas pobrezinhas com que competiu, a nossa cantiga é o reflexo dos nossos "escolhedores de coisas": ventripotência e ventania na testeira.

A ficarmos pelo caminho, como temos ficado sempre, ao menos que aproveitemos para mostrar aos países subdesenvolvidos e com nomes esquisitos, músicas bonitas, bem feitas, bem construídas. Que tenham um poema em vez duma letrinha "bués, em inguelez", que um bom poema com música serve-me sempre bem, se a música o ajudar.

Que sejam canções melhores, feitas por gente melhor. Há aí bastante. Perdemos na mesma, mas ao menos não desperdiçamos tempo a apascentar cançonetistas bitaiteiras, mini-génios da luminotecnia, gordos, tozés e costureiras.

'tás velha, lolita!

mas eu ainda 'tou mais, aqui a cantarolar o "sobe, sobe, balão sobe ..."

O besugo, por seu lado, e se soubesse cantar, cantava "o cantinho do Morais".

Eu, mais que velho, geronte, acho que estas músicas se deviam chamar mesmo era ... hop-hop (música para cavalos, sem desprimor para a raça equina).

17.5.06

Allez!

O povo gosta de hinos galvanizadores, com melodias lineares, de compassos binários e letras simples, como "força, pá frente Portugale" ou "avante, campeões" ou, ainda, "a caminho da vitória". Por isso a Nelly Furtado se safou muitíssimo bem com o "coum'uma fourza" e o Ricky Martin, no Mundial de França, melhor ainda com o "tu y yo: allez, allez, allez!". Para tais propósitos, exaltadores de sentimentos patriotas que todo o português dedica - acima de tudo - à selecção de futebol, bastaria até uma melodia inspirada numa qualquer canção infantil, como aquela dos patinhos-que-sabem-bem-nadar, que encomendassem, digamos, ao José Cid. Mas não. Desta vez, temos o hip-hip bera da SIC, que não entra na memória nem com muito boa vontade; o hip-hop da TSF, que ouvi hoje, consegue ser ainda pior - o que, só por si, já seria muito difícil. Adquirido que está, ao que parece, que neste Mundial teremos de nos amanhar com os hip-hop's para encontrar a motivação de mais este desígnio luso, cumpre-se, também aqui, a tradição portuguesa no Festival da Eurovisão: os hinos à selecção no Mundial correm risco sério de integrar o nosso património cultural na prateleira onde se guardou o, aliás saudoso, "dali-dali-dou". Que, aliás, conseguia não ser assim tão mau, visto à distância, redimido entretanto pela estética kitsch do novo milénio.

Não é tratados, é tratar...

Ainda bem que o Alonso veio, caspité! Veio trazer-me a luz e eu, já se sabe, com luz vejo melhor.

Agora percebo que a pergunta "o que é e para que serve a Segurança Social, no que especificamente respeita ao pagamento de pensões por velhice?" admite duas hipóteses de resposta - que o Alonso, depois, pedagógico e normativo, explana -, e que, sobre cada uma delas, o Alonso tem dúvidas sobre "se são de esquerda ou de direita".

Depois de enunciar as duas hipóteses que ele pensa esgotarem o assunto, e de considerar, sobre cada uma delas, que tem dificuldade em lhes encontrar uma orientação dicotómica (esta é de esquerda? é de direita?), o Alonso conclui afirmando, mais ou menos, que "o que interessa é que qualquer dia já não há".

E afirma-se disposto a deixar sobreviver a lolita no caso de ela aparecer por Lisboa, em visita ao Cristo Rei.

Eu considero tudo isto duma virtude extrema, sobretudo a parte em que o Alonso se manifesta misericordioso: a lolita, de facto, merece a vida; e uma boa vida, não abreviada por precipitações homicidas do alto de locais de culto terno e altaneiro.

Proponho o seguinte: definam, talvez, de maneira normativa, "o que é e para que serve a Segurança Social, no que especificamente respeita ao pagamento de pensões por velhice". Antes de mais nada, sem carecerem de saber se a definição é mais de direita ou mais de esquerda. Não coloquem hipóteses a meio do jogo. Penso, até, a este respeito, que já deveriam ter definido isso antes, para agora não estar o Alonso, que até é advogado e conhecedor destas coisas, carregadinho de dúvidas, a especular sobre o assunto.

Se precisarem duma hipótese C, ou, mesmo, duma D, eu contribuo. Mas peçam por escrito: eu não contribuo com mais nada para coisa nenhuma sem ler o contrato, a partir de agora! Mas, em não carecendo disso, ao menos digam lá com o que se conta e que alternativas existem àquilo com que se conta, isto para quem andou este tempo todo convencido de três coisas:

- que nem merece, na velhice, só uma esmolinha "para subsistir" (isto é horrendo de caridoso!)
- nem, na mesma velhice, é credor de progressão na carreira (acabou, não é?, a carreira, a pessoa não...), sendo credor - por outro lado - da possibilidade de manter o seu nível de vida.
- nem, na idêntica e hipotética velhice, espera mais do que aquilo que o deixaram convencer-se que lhe era devido, pelo motivo básico de lhe ter sido sugerido que seria assim. Ou, pelo menos, que doutra forma não seria.

Se é para dizer, apenas, que "olha, isso não importa muito discutir, vai acabar-se e pronto", fica a sensação de que a coisa não foi tratada, este tempo todo, com lisura. E que há-de haver, se não culpados - eu não gosto de culpas, tenho sempre pena dos culpados, porque são apontados e eu detesto indicadores em riste -, muitíssimos (demais!) mal entendidos e alguns mal intencionados. E, ainda, um punhado de gozões.

P.S. - Já agora, caro Alonso, diz-me: que pensas tu da não convocatória do Quaresma para o Mundial? A lolita já me disse que não concorda e que, para ir o ciganito, "tirava o Petit, que é feio!".

Um abraço.

16.5.06

Role-play

No episódio de hoje do Emergency Room havia uma cena digna de antologia: Peter Benton, o cirurgião que horas antes havia arduamente estancado uma complicada hemorragia toráxica, a ser submetido a um exame de ADN (por exigência do "outro pai" de Reese), na pele de anónimo e - presumível - amedrontado cidadão que desconhece os caminhos obscuros dos cuidados de saúde. Asha, encarregada da colheita necessária, fala-lhe em tom maternal, assegurando-lhe que o teste é indolor enquanto lhe passa um tubinho de vidro pela parte interior do lábio e conclui: that wasn't so bad, was it? Ao que Benton concorda, sem contexto e sem escolha que não a de submeter-se, obediente, encolhido entre a submissão imposta e a dúvida instalada sobre a consanguinidade.

Aquilo, meus senhores, é um tratado!

Refiro-me, obviamente, ao texto do besugo sobre aquilo que pensa - e muito pensa - sobre a segurança social.

Não fui ler o que escreveu o Mário a que o besugo se refere, que ando com os neurónios incapazes de ler mais do que um tratado de cada vez, por isso dou aqui apenas a minha achegazita ao assunto, dizendo que, antes de termos respostas, temos que fazer esta singela pergunta:

O que é e para que serve a Segurança Social, no que especificamente respeita ao pagamento de pensões por velhice?

Hipótese A: para assegurar que as pessoas que já não têm rendimentos do trabalho têm a sua subsistência garantida pelo Estado. Se assim fôr, só deverá haver uma pensão, e essa pensão é apenas a necessária e suficiente à subsistência dos reformados. Mais, essa pensão só deverá ser paga a quem, comprovadamente, não tenha amealhado ao longo da vida o suficiente para viver depois de ter deixado de trabalhar.

Eu não sei se esta hipótese de resposta é de esquerda ou de direita. É de esquerda se se considerar que é absolutamente igualitária. É de direita se se pensar que assim se cumpre, com rigor, o papel subsidiário do Estado na manutenção do tecido social.

Hipótese B: para recompensar quem teve uma vida contributiva longa e profícua, dando a cada um de acordo com aquilo que cada um deu ao Estado enquanto trabalhava.

Eu não sei se esta hipótese de resposta é de esquerda ou de direita. É de esquerda se se considerar que o Estado tenta manter, à sua custa, o nível de vida a que os seus reformados se habituaram enquanto trabalhavam. É de direita na medida em que se está nas tintas para o igualitarismo e, inevitavelmente, dá mais a quem, em princípio, já tem mais e por isso pôde ao longo da vida contribuir com mais também.

Seja como fôr, a discussão qualquer dia é vã. A Segurança Social caminha a passos largos para a falência, e quem não pensar adiantadamente no assunto arrisca-se a passar mal na velhice.

Desculpem lá o nihilismo.

lolita: Já andava preocupado a pensar se terias abandonado os teus hábitos contemplativos. Quando vieres cá a Lisboa, levo-te ao cimo do Cristo Rei. E nem te deito de lá abaixo nem nada!

Dores

O Mário engana-se quando pensa que eu me tomei de dores seja por quem for.

Tomo-me de dores por isto, apenas: não partilho nada do seu conceito de reforma como pensão de subsistência. Não me venha com essa história de isso ser um princípio de esquerda, que não me leva por aí. Então agora temos, para os nossos velhos (eu não sou, caramba, aguardam-me ainda 20 anos de trabalho, se tudo correr bem), no fim da vida, o princípio da esmola? E isso é de esquerda? É que nem de direita é, é um atropelo à dignidade!

Era com isso que, aliás, eu tentava brincar consigo, sem dores nenhumas, quando lhe disse que só queria 500 euros (daqui a 20 anos), para os cromos da bola dos netos e para a sandocha.

O meu amigo parte do princípio de que eu terei, entretanto, até á velhice, amealhado? Ou investido? E que, nessa altura, estarei confortavelmente instalado? Mas parte mal. Sabe porquê? Porque é o Estado que tem amealhado por mim, desde há vinte anos. E que amealhará durante outros vinte. Pelos vistos não amealha bem, não gere bem o que amealha e não dedica uma séria pesquisa aos profissionais liberais - e a outros, sim, admito -(a mim e aos tipos como eu nem sequer precisa, fica logo lá tudo) para penalizar os que não cumprem as suas obrigaçoes para o mealheiro.

Dirá o Mário que amealhando mais não geririam melhor o mealheiro, e que daria no mesmo; e que eu digo isto por alto, que nem sequer tenho números: não tenho, de facto, é bem capaz de ter razão, aí.

Mas repare nisto: vem, preocupado, dizer-me que as reformas de mais de 5000 euros são imorais, porque há quem tenha reformas muitíssimo baixas. E que isso que diz é de esquerda.
Eu não acho. Acho é que é um bocadito manipulador. Se o Mário pensasse mesmo como diz e isso o importunasse estaria preocupado, desde já, mas era agora mesmo, e se calhar há muito tempo, com quem passa 36 anos da sua carreira contributiva a ganhar menos de 150 contos por mês. Que é muita gente. Mas não: o Mário deixa-os andar assim e só se preocupa em nivelar (e por baixo) os vários escalões da nossa global miséria - e por baixo - na velhice. Exactamente como quê? Como prémio de sobrevivência? É mesmo assim que pensa?

Desculpe, mas continuo sem entender muito bem a sua opinião. Que não há dinheiro nem sustentabilidade, já ouvi. Já me disseram. Deve ser verdade. Penso, até, que se esticou demais a corda.
Mas recuso-me a aceitar a ideia que me parece que vem daí, do seu lado: o Estado amealhou pouco, distribuiu mal, geriu pior, facilitou na fiscalização, perdoou ou fechou os olhos a muitas coisas e, agora, qualquer dia, não há mais. Muitíssimo bem, se calhar não há.

Mas olhe que isso não me impede de pensar que não sou culpado de nada disso (eu e outros, muitíssimos outros) e que, aos 65 anos, no fim da minha carreira (que não é só contributiva, é também uma carreira - ou espero que seja, e que continue a ser - produtiva, limpa e digna) será (ou seria) um direito meu poder manter o meu nível de vida.

Aceito perfeitamente esta medida de alargar os "cálculos finais de mim" a um número maior de anos da minha carreira profissional e contributiva, o que reduzirá substancialmente os meus proventos na altura das fraldas XL, até porque já não terei, querendo Deus, que sustentar os filhos (mas terei, talvez, doenças; e que me tratar delas, cada vez mais, a expensas minhas) e não me pedirá o Estado que continue a alimentar-lhe tanto o mealheiro: ou seja, se eu ganhar 5000 euros (que não ganho), dos quais só vejo, habitualmente, 3500, faz sentido que me entreguem, na velhice, apenas esses mesmos 3500, limpinhos. É justo. Mas é o máximo que concedo do ponto de vista da justiça social que, repito, não é estandarte que se levante, apenas, na velhice, quando já nem com estandarte nenhum se pode bem, para corrigir erros cometidos com jovens empresários e suas engenharias fiscais pré-falência, com habilidosos liberais (liberais? ou trafulhas? é diferente, eu sei) que se regem pelo recibo transparente e com muita incompetência e oportunismo da parte de quem foi fechando os olhos a estas coisas.

Eu digo-lhe, com estima, duas coisas:

A primeira é que, em relação ao que me conta de colegas meus (deu isso como exemplo) que se terão dedicado à vida pública em exclusividade, já em fim de carreira, para poderem ter melhores reformas, eu não lhe posso dizer se tem razão ou não. Nenhum deles (dos poucos - olhe que são muito poucos, mesmo - que conheço) me disse que o fazia por isso. Se o fez, foi manhoso, aproveitou uma lei mal feita, mas o Estado permitiu-lhe isso. Lá está, má gestão de recursos e doutras coisas. Mas a lei deve tê-lo permitido, não? Não é bem a mesma coisa que vigarizar o Estado indefeso nos impostos que se não pagam. E das intenções dos outros seremos sempre juizes levianos.
Mas eu aceito que a mulher de César deve parecer honesta e, aí, estou consigo: a ser assim, parece-me mal. Também me parece mal, como o resto que já disse. Repare que dificilmente um tipo de 50 ou 55 anos, que sempre optou, nos 25 ou 30 anos anteriores da sua carreira, por um regime de 35 horas - para poder fazer privada- , passará por ser gente de bem (neste particular engenho) se se decidir pela dedicação exclusiva ao serviço público numa altura da sua vida em que, é legítimo pensar-se, não se apresenta, já, na sua pujança inteira para o servir. Devia, se calhar, a ser assim, ser-lhe recusada a dedicação exclusiva. E podia ter sido.
Repare que nem aqui me tomo de dores: eu estou assim há vinte anos. Já vê que não é comigo, isso. Nem você disse que era, de facto, eu sei.

A segunda, é que passe os olhos por isto, do Francisco José Viegas. Concordo com quase tudo o que lá está.
Você pode dizer-me, porque sabe que sou um defensor do sistema público, tanto que me gasto nele, que "tu concordas só porque ele não fala ali do FCP"! Mas não é verdade. Concordo com coisas que ele escreve e diz sobre o FCP, da mesma forma que não me parecem bem algumas outras opiniões que ele veicula, porque pode e deve, aliás - se quiser - fazê-lo. Isto é normal.
Aliás, mesmo no texto que lhe aconselho (e que, se calhar, já leu, eu é que só li há bocadinho), devo dizer-lhe que não apreciei o que ele insinua sobre as paternidades da insustentabilidade, ou sobre a sua manutenção, quando afirma que "os socialistas garantiam nessa altura que podíamos continuar a viver sem a espada sobre a cabeça", porque isto é chamar nomes ao pai esquecendo a mãe e a restante família: não foram os socialistas, foram governos sucessivos de coloração dupla - ou mesmo tripla.
Já com isto, crente na coisa pública como reafirmo ser, estou de acordo, na generalidade: "Parte dos problemas vem de as pessoas abdicarem de defender as suas ideias e interesses em benefício do que seriam os "interesses colectivos". A história ensina-nos que os "interesses da sociedade" são sempre os interesses de quem os interpreta".

O Mário pode dizer-me que isto não vem a propósito, mas acaba por vir. E até aborda outras coisas que tem escrito nos últimos dias.

Um abraço.

15.5.06

Coisas simples da bola

Se se confirmar o que parece evidente, Quaresma não irá ao Mundial.
Parece-me bem.

Eu explico: não coloco em causa a habilidade e o amadurecimento do ciganito.
Digo é que não me parece tão possível chegarmos aos quartos de final (ou às meias finais, o que já será óptimo) do Campeonato do Mundo como me parece provável podermos ganhar o Europeu de sub-21. Aí, Quaresma fará mais falta e será muito mais importante do que seria na Alemanha.

Vejam isto: Quaresma não seria titular. Ou seria? Não seria. Entraria em jogos que estivessem a correr mal. E não tem, ainda (nem sei se terá, alguma vez, é ainda catraio, aguardemos) aquela "estaleca" que o transformaria num homem capaz de virar um jogo adverso, sem ser num golpe raro - raro de genial e raro na probabilidade de acontecer.

Para isso, antes Rui Costa. Não faz mais de meia parte mas é mais genial ainda que Quaresma, mais mobilizador e, sobretudo, muito mais inteligente a jogar em hora adversa. Eu isto nem admito réplica.
Eu vi o Portugal - Inglaterra há dois anos. Já o Rui Costa não servia, lembram-se disso?
E quem joga no lugar do Deco, se ele se aleijar ou for expulso?

Nisto não tenho dúvidas. Quaresma tem tempo e nós esperamos por ele até ele se cumprir, se se cumprir. Um ano não são anos, eu espero que se cumpra, mas ainda é cedo para ele.

14.5.06

A barra (*)



Ei-la de volta. Estava assim, hoje, por volta das nove. Não se vê a grua que fica à esquerda nem os blocos de betão dos molhes novos.
Foto manipulada, sim. Para parecer igual ao que era.

(*) Post com uma dupla função: mostrar o mar ao Besugo e tentar o Alonso a escrever, a ver se já lhe passaram os delírios de uma noite no Leclerc de Lamego.

Alprazolam, esse excelente imã

Estava a ver a final da Taça de Inglaterra quando o velho precisou de me falar duma coisa qualquer e me ligou. Ainda se fosse sobre um problema importante do mundo, aquilo do Irão, ou de Darfur, ou da gripe das aves e do Tamiflu, essa abrangência... Mas não. Era só sobre um problema dele.

De maneira que falei com ele e continuo a achar que podemos, perfeitamente, ir espreitando o Liverpool - West Ham enquanto falamos com pessoas comuns, de problemas comuns, placidamente.

Os problemas importantes do mundo são do mundo. E o mundo carece imenso de que se olhe para ele cagativamente: parece cada vez mais um sapo inchado, o mundo.

13.5.06

Il ritmo della passione

- Ó mãe, o Eros Ramazotti canta melhor do que a Anastacia.
- Eu cá gosto da voz dela...
- Mas ele tem voz de homem.
- Claro.
- OK. Ela também tem um bocadinho, pronto.

Verão Azul (por mim, verão verde, mas mantenho o verbo)

Hoje o dia correu-me bem, ou mais ou menos. Não salvei ninguém, acontece, mas acordei cedo. E desfiz a barba; isso foi ontem, mas eu digo só hoje porque só hoje é que me lembrei. De dizer.

Fui, mesmo, à tarde, à reunião do serviço. É uma coisa a que se deve ir sempre, ou quase sempre, fundamentalmente porque está no horário e o horário é para se cumprir. O horário é a versão milesimal (é fazer as contas) do anuário. E do Januário não falo, porque não conversamos amiúde.

Nota 1: Não foi por ter ido à reunião de serviço que não salvei ninguém hoje, foi porque, aparentemente, hoje, não havia ninguém para eu salvar. Aliás, mesmo que houvesse, eu iria sempre à reunião. Também gostava de ir à Reunião, mas não tenho dinheiro para ilhas dessas. Bom. Que dizia eu? Falava do meu dia, pois.

Depois de ter percebido que, basicamente, as Joint Comissions (Comissões do Charro) levantam fundamentalmente um problema de papéis e de cruzinhas para se preencherem (joint venture é diferente, lá está, é mais tipo jam session, dá menos qualidade em termos de papelaria, claro...), regressei a casa. Devo dizer que, antes disso - e antes mesmo da catarse de serviço, que é aquilo de a gente ir ali catar-se dentro do horário, uma espécie de quitoso regulamentado - ingeri, à pressa, duas pataniscas grandes de bacalhau, que me souberam bem.
E, sobretudo, regressei a casa.

Estive a ver o FOMF1998, que é o Filme Oficial do Mundial de Futebol de 1998. Ora, em 1998 eu já era nascido. Por isso, lembro-me. Estava pela França, em 1998 e hoje. O meu filho mais velho não se lembra, por isso estava (hoje, coitadinho) pelo Brasil. E eu, que sou mau como as cobras, deixei-o ver tudo, até à final, até aos 3-0, dois do Zidane e um do Petit (sem ser o outro gnomo do Benfica, o francês mesmo, o bretão guedelhudo).

No fim, um bocado combalido (até porque "até já jogava o Ronaldo, pai, isto parece recente, mesmo!", " e é, tratante, e é, foi há oito anos, é muito recente!") o adolescente que aqui tenho argumentou:
- O Brasil não ganhou este?
- Não, filho. Não ganhou este nem vai ganhar o próximo.


Ficou esta aposta, entre nós. Por mim, não ganha o Brasil. E não ganha.

Tenho de ver é se os meus doentes conseguem transformar, de forma sistemática, a sua quantidade de dor numa espécie de numerário. Senão, não tenho eu qualidade, não têm eles qualidade. Qualidade é que se quer. E isto percebe-se: um tipo chega e diz "Ah! Isto dói-me muito!". E já se sabe, isto é uma porcaria, o tipo tem de dizer o que lhe dói, claro, mas é de zero a dez, senão não vale, não tem qualidade, isto.

Depois, à noite, jantei fígado de cebolada e vi o Lêndeas e aquilo do Humberto Delgado. E agora estou aqui, isto é que é o pior.

Nota 2: Devíamos contratar o Costinha, o Hugo Viana e o Pauleta. E manter o Caneira. Mas também não é à conta destas opiniões que eu não salvei pessoas hoje. É que não as havia. Há dias em que parece que está toda a gente bem, eu não tenho culpa, por mim não estavam, pela Beleza também não, "dia em que não haja vidas para salvar, caramba, é porque não são precisos médicos". Também acho. Precisamos é de médios, lá está, Costinha e Hugo Viana, foi o que eu disse. Está bem, o Pauleta não é médio, mas isso, lá está, pois, pronto.

Eu gosto muito da Leonor Beleza, é uma excelente reformada no activo e que me faz lembrar ceifas de milho e pipas ocas.

Nota 3: E também gosto de colocar bolds e itálicos. Quando falo - ou escrevo - "eu é que sei". E até sei onde isto aborrece quem acaba por escutar - ou por ler.

12.5.06

Olha eles!

Põe este sítio ali ao lado, lolita. Eles andam por e é mais fácil ir lá assim, pela porta da frente, que entrar pelas traseiras.

Eu sei que isto das facilidades depende muito.
Perfeitamente. Sim, eu já sei disso tudo.

Pela parte que me toca, olhando para a mistura nova, eles arriscam-se a ser - apenas - uma espécie de blogame mucho em melhor escrito, em melhorado. E, sacanitas, em muito mais lido.

Se bem que, às tantas, em lhes dando para achar que andam a ser lidos demais, ainda se dispersam outra vez, por isso calma, vamos com calma, devagarinho.

mas dou na mesma

Pois. Eu respondo-me.
Não somos mais que "boa onda" por coisas destas:

Ele diz "... que do outro lado da estepe, uma boa parte da esquerda ressequida tem ataques de asma de cada vez que se fala em deslocar funcionários públicos ou trabalhadores para zonas deprimidas do país".

Começa logo a azia pelo contraponto forçado entre "funcionários públicos e trabalhadores". É forçado. É uma graçola fora de tempo. É como dizer que "o Sporting não passa do Natal". Desculpem. É.

Depois, sendo eu funcionário público e cuidando-me trabalhador ao mesmo tempo - o que nem sequer envolve "tambéns" demais -, ainda por cima já me deslocalizei, por três vezes, desde os tempos em que Leonor Beleza pensou a Saúde em Portugal, para zonas tão deprimidas do país que, sinceramente, até eu fiquei um bocadinho deprimido.

Poderão, sempre, argumentar que "dizes isso porque não és da esquerda ressequida, homem!, eu falava dessa esquerda árida e gretada das geadas velhas, dessa esquerda quase sahariana, por conseguinte vem a meus braços, tonto amuadinho!".

Está bem. Não será comigo. Até porque não escuto no peito pieira nenhuma. E, em alguém me chamando aos braços, quase sempre vou.

Mas também não sou da outra esquerda, da que agora há, da que é assim mais ambidextra nas suas humidades.

Eu também dou

Eu também dou os parabéns ao "Mar Salgado"!

Viram? "Também" dou, mas este também é porque a lolita - e, provavelmente, metade da blogosfera - já deu. Por isso, está correcto, como também estava aquilo do adepto vesgo do FCP. Certo?

Parabéns, cotas. Três anos.
Sois bons e calmos e espertos e só não sabeis muito de bola. Também não admira, olhando-vos para os emblemas.

Agora uma coisa pequena, senhores. Nunca percebi por que raio não somos, nós, "vagas de fundo". Ou, ao menos, um "bom bordo". Ou, vá lá, que eu já estou por tudo, "outro bordo".

Isto é, também, estranho.

E, já agora, ó marinhagem!, se decidirdes, depois disto, que já nem "boa onda" somos, sois, também, uns sacanitas!!!!

Também me dá para isto, pois dá.

A palavra "também" devia, obrigatoriamente, ligar ideias, coisas, conceitos; pressupõe uma certa iteração, independentemente da validade, da concordância, da contradição dos valores que assim se integram, que desta maneira se somam, numa frase.

" Fulano é vesgo e, também, adepto do Porto". Isto está correcto.
" Cicrano vendeu a mãe e, logo a seguir, também vendeu o pai". Isto entende-se, sobretudo em tempos de crise.

Da mesma forma que se pode dizer isto:

"Sharon Stone já precisa de muita luminotecnia mas, também, já podia ser avó."
"Sean Penn é actor e, também, um mau actor".
"Almodôvar faz filmes bons (ou maus) e, também, tem intestinos.

Reparem: isto tudo está correcto.

Agora isto:

"Carrilho é, também, um tipo antipático..."
"Manuela Moura Guedes é, também, uma espécie de cantora antiga..."
"Koeman foi, também, uma espécie de corte com o pragmatismo da velha Itália..."
"António Variações foi, também, diferente de Martim Moniz..."
"Vasco Graça Moura tem, também, uma espécie de aura..."

Isto é bacoco. Apetece perguntar: "muito bem, essa gente, esse conceito é (ou foi, ou tem, ou outro verbo qualquer - são sempre pequeninos, estes verbos, por acaso) isso tudo, também; mas, antes do também, essa gente, esse conceito, era (ou foi, ou tinha) mais o quê?".

A terra é redonda, disse Copérnico

Já vem fora de tempo, é certo. Certo, também, é que - pelo menos - uma vez por ano se declara, aqui, o inteligente Mar Salgado como um blogue favorito. Parabéns, pois, a toda a tripulação, sempre com lugar cativo e inamovível na nossa link list, pelo terceiro aniversário da circunavegação.

11.5.06

Os novos problemas e a lógica contributiva

Isto resolve-se bem:

1 - Eutanásia activa já!, ao menos antes da puta da idade da reforma. Por exemplo, fuzilem-me aos 64 anos, se eu ainda estiver vivo. Se já não estiver, enforquem a minha mulher, por exemplo. Generalizem esta merda, claro.
2 - Contratem gajos desempregados, daqueles licenciados em merdas esotéricas e um bocado eunucos da glia inteira e dos acessórios dela, e ponham cada um deles a vigiar os coitos alheios. Quando chegar a parte em que um dos parceiros (desde que os parceiros sejam de sexos diferentes e estejam em idade fértil - senão, não interessa nada - e, claro, não utilizem químicos: nem pela boca, nem por outro lado qualquer - relembro aqui que a borracha é toda química, é um derivado do petróleo; e, se duvidam, cheguem-lhe um fósforo com ele dentro que vão ver que nunca mais atestam o depósito), dizia eu que, quando chegar essa parte em que um dos parceiros berra "agora, já, depressa, tira fora!", os controleiros que afinfem com uma marreta no parceiro que estiver por cima.

Estou despedido? Por quê?

Ele é que diz as coisas e depois sou eu

Por exemplo, isto de vir a ter uma reforma aos 65 anos chateia-me. Não quero. Prejudicarei o país, daqui por vinte anos, bolas! Às tantas, ainda mais do que já o prejudico agora. Não me aumentam há quatro anos, congelaram-me a progressão na carreira, mas nem assim me sinto, ainda, de contas saldadas com os meus patrões. Que são os senhores e as senhoras todos. Estou contrito e humílimo na minha bata branca de palhaço, cabeçorra baixa, a pedir mais chibata. Acreditem.

Eu sou o défice, eu sei. Sou eu. Olhem aqui, sou eu, o défice! O "duh", como agora dizem os "bués", a propósito de qualquer discrepância. Fazem bem: quem sabe, apenas, sete palavras e dezoito interjeições, dispensa o léxico comum.

Desculpem.

Têm razão.
Eu, quando tiver 65 anos, se lá chegar, não quero reforma nenhuma.

Quero, se puderem, sem agravarem - por minha causa - as lombalgias do país, que me dêem 500 euros por mês, apenas isso; para poder comprar cromos dos filhos do Cristiano Ronaldo, titulares da selecção de sub-21 daquela altura, mais a caderneta, para os netos; para as salsichas e o atum de conserva, mais as batatas "pré-palitadas" e algumas resmas finas de queijo fatiado, para as sandochas; para poder obter remédios (genéricos, claro, mas de marca!, e já cortados em metades bio-equivalentes genéricas e de marca, ah!, e mais Tamiflu, se ainda houver, para as galinhas - terei quatro, vejo-me a apascentar quatro galinhas, na reforma); e para uns óculos com lentes progressivas, comprados com 65% de desconto, para poder ver os dezassete sub-canais da SIC e os telejornais todos, e os debates do Pacheco Pereira com o João Almeida, o António Vitorino, um amigo do Paulo Portas que ele ainda arranje e, claro, alguma discípula do Vasco Lobo Xavier, sem ser nenhuma das bloggers actuais; e as opiniões do neto do Marcelo, claro, ainda com a substituta da Sousa Dias, que será igual, nessa altura, à Sousa Dias; sim, eu só quero poder assistir a essas catarses todas, em que se discutirá a possibilidade de os meus filhos se reformarem aos noventa e oito anos, esses celerados filhos que eu agora tenho, são dois!, que carregarão as minhas culpas e as deles e - ainda, como eu - as de toda a gente.

Eu quero é ter uma velhice digna. Sim. Só isso. Não se incomodem comigo. Aliás, a minha dignidade na velhice não há-de ser mais merecedora de coisa nenhuma do que a dignidade que agora ainda tenho (dão-ma?) já merece.
Há-de ser é menos cara para os filhos dele, disse ele, quase acerca dele (mas no fim não se percebe bem, embora ele domine muito bem os léxicos, o comum e o incomum).

Bumba, meu boi! (ou: porque é que ela lhe chamou bovídeo)

O besugo gosta de se referir à senhora como adida para as relações exteriores mas, na verdade, trata-se de uma mãe de santo que ele consulta frequentemente para, lançando as conchinhas, lhe prever o futuro perfeito. Na última visita, quis saber se o Sporting ia ganhar a Liga. Não importa quando, só queria saber se. A virtuosa lá lançou as conchinhas e asseverou que sim, que o Sporting ia ganhar. O quê?, perguntou o besugo, ansioso. Não se vê bem, respondeu a santinha. Não se vê bem como. Os Orixás só fazem previsões para equipas de primeira água.

Mesmo sabendo, o besugo, que a baiana era mortal - embora equipada com um dispositivo que lhe permitia comunicar com os deuses da profanidade - deu como certo que estava a ser gozado com requinte e não só lhe vituperou a saia rodada como a raça toda, passando pelo turbante. Saiu enfurecido, não sem antes lhe sugerir que metesse as conchinhas, uma por uma, em local que me dispenso de descrever e, por pura e primária vingança, ligou imediatamente ao Soares Franco, apenas para lhe desaconselhar a contratação de jogadores brasileiros.

Quando chegou a casa, ainda pegou numa vara. E quem pagou foi o limoeiro.

A orquestra no fosso: e o solista?

Ela pediu-me para pensar em coisas muito concretas e da actualidade, em lugar de estar sempre concentrado em porcarias que não interessam a ninguém. Eu despedi-a (mas já lhe telefonei a tentar marcar-me outra vez, ela ficou de pensar; até disse "boi", bastante alto, antes de desligar, devia estar a ser incomodada por um anormal qualquer, uma coisa de trânsito, ou assim), não me pareceu que ela tivesse sido muito condescendente comigo quando me disse aquilo.
Bom.

Agora estou centrado e, tanto estou, que descobri a solução para a crise do Irão. A nova. Não é a do Iran-gate, é esta de agora, a crise da manipulação atómica.

Para já, não se manuseia assim um átomo. Nem vários. Um átomo é uma coisa muito pequena, constituída por coisinhas ainda mais pequeninas. Quem não gostar de Físico-Químicas e estiver quase a desistir de me ler (sim, é contigo, lolita) pode imaginar que um átomo é a bancada parlamentar do PP e que as partículas atómicas são aquilo que já se sabe, que eu até já aí pus, um dia, a fotografia de algumas, todas elas (e são poucas, no caso) nas respectivas orbitais e nos respectivos núcleos. Por exemplo, o Nuno Melo é uma espécie de neutrão; e o Almeida é um electrão estouvado, daqueles que andam a circular por ali, às voltas, convencidos de que têm uma valência positiva.

Ah! Valência! A Comunitat Valenciana é uma Catalunha em enjoativo. Pronto.

Claro: o problema é a cisão do núcleo. Mas isto levava-nos longe e ninguém tempo para decorar a tabuada enquanto usa calções, quanto mais para estas miudezas do adultério - que é a idade adulta.

Vamos directos ao Irão.
Não, bolas. Não comecem com coisas: ficamos aqui, vamos é ao tema. Sentadinhos, por causa do jet-lag (tradução: lago do jet; superfície aquosa no meio dum terreno qualquer, propriedade dum tipo com um pseudónimo ridículo).

O tema:
O Irão e o nuclear: uma ameaça.

Agora entram os violinos.
Zoing, zing, nhãaaaaaàc!
OK? Já está.

Hum.
- Ó Irão, tás bom, pá?
- Vamos andando, como Alá quer.
- Isso é bom. E a esposa?
- Bem, essa está com as outras...
- Isso é bom. E aquilo da energia nuclear?
- Bom, também não é assim, qual orgia, tás doido?
- LOL (Lorpa, O Lapantim!). Falava da energia, pá! Da nuclear!
- Ah! Disso!
- Pois, disso. Que vem a ser isso?
- É nuclear.
- Pois, também é bom, e tal. Mas podes dar garantias de que é só para fins pacíficos?
- O quê? Tu duvidas?
- Não, claro que não. Mas o que eu queria era, enfim, eu queria garantias.
- Ah! Se é isso, por Alá: tens a minha palavra.
- Mesmo?
- Mesmo, cão!
- Ah! OK. Então béu.
- Bye.
- Bai tu, mouro!
- Ã?
- Boca de rã!
- Frogs mouth?
- Não, já tive melhores dias... Agora, sabes como é, é cada vez menos...



Vou desistir, mas é, antes que ela caia na asneira de me perdoar.

10.5.06

As pioras

A série do ER que agora dá na 2 (hão-de interrompê-la, como sempre as interromperam, a todas a séries, mas eu depois arranjo os CDs e vejo sozinho o que faltar) mostra-nos a evolução dum hospital público a tentar gerir-se como se fosse privado.

Os tempos do estoicismo ainda se mantêm, mas já se sente ali, em quase todos os que restam, o inevitável medo grande - o grande medo! - de fugir para a frente. Hão-de acabar todos por preferir recuar, por fugir para trás, por tomar Prozac e um calmante ligeiro, por morrer por dentro, para não terem de se fenecer nessa garrotagem de terem chatices com essa excelente geração - de grande utilidade - do controle de qualidade (que são as zebras da cavalariça, são as riscas nos cadernos limpos e sebentos que ostentam o nome da empresa ao alto, EP, SA, MDLPSPEA, o grilo inteiro e sua alface).

Chegou agora, lá, um pequenino. Mais um. Com aqueles olhos espertos de bacoco do costume.
Lá, é cá. Eu disse mesmo isto: lá é cá.
E digo, ainda, isto: olhos espertos em tipos pequeninos são -isso tudo - pequenas coisas (os olhos e os tipos), que deviam ser esmurradas com alguma força. De preferência com muita, mas sempre com intenção do hematoma simples.
Não posso ir mais longe senão morro na praia, naquela parte ainda sem pé, isto quem vem de lá.

Greene vai morrer. Como todos os médicos, como todos os carpinteiros de limpos, como todos os empreiteiros e, seguramente, metade dos irlandeses que ainda há.
Vai morrer e não faltam, para isso, quatro terças feiras. Nem sequer três quartas.

O director do meio

O homenzinho, pequeno e envaidecido, estava há muito tempo instalado no pedestal do poder em que um qualquer acaso o investiu. Nas dúvidas calava-se ou, por cautela, opinava pelo "não", muito a medo, muito a custo. Nas certezas, gritava-as, triunfante, pelas regras estudadas de cor. Nos conflitos retirava-se, incerto e dissimulado, para que não lhe sobrasse o ingerível ajuste de contas. Aos fracos e aos novatos ordenava sem regra nem critério, enebriado pelo delírio do comando. Vivia acossado, sozinho, encurralado no último gabinete do corredor onde não passava ninguém, sentado em frente à secretária onde assinava as burocracias dos finais dos processos onde nunca participava a não ser para que se cumprisse o regimento. Nunca quis saber ao certo onde lhe falhava a eficácia, mas sabia-se tão fraco na frustre inabilidade que se deixou aprisionar de vez naquele sossego entorpecido, no dia em que se deu conta que nem os outros sabiam dele, nem ele os via.

9.5.06

Gerúndios

O brasileiro esquece a pobreza sambando. O português cobiça a riqueza lamuriando.

Eu gostava era de ser o Capitão Furillo


Quando fiz quarenta anos parti a vida.

No entanto, para efeitos radiológicos e da estatística cicatricial da minha existência, fiz apenas isto - além de quarenta anos, o que é muito ano, excepto para o Costacurta: fiz uma fractura do quinto metatarsiano do pé esquerdo. Fiz aquilo que está ali em cima, coisa roubada ao maradona. Vão lá ver, ele a chorar o Rooney, voltem depois se vos parecer que devem.

Eu espero.

Só voltaram vocês? Perfeitamente, somos quatro. Olá, Pai.

Reparem: eu estava a fazer anos nesse dia. Tinha aqui, à noite, para cima de trinta pessoas que diziam que gostavam de mim e que estavam aqui por isso, pessoas de quem eu também gostava.
Hoje, ainda gosto dessas pessoas quase todas e - quase todas? - muitas ainda gostam de mim, embora já não consigamos dizer isso na cara uns dos outros sem nos parecer, a todos, que falamos apenas de anteontem e que falta música.

O meu Pai estava a dar uma volta pelo jardim, nas cismas dele, quando o vi, ali sozinho. E eu resolvi visitá-lo na sua cisma e dividir-lhe a cisma em dois. Ele vinha, eu ia, na minha ideia ficávamos ali os dois um bocadinho.
Trinta metros. Eram trinta metros e eram dez horas da noite, pelo amor de Deus, uma hora decentíssima para um filho se dirigir, por momentos que seriam sempre calmos, ao Pai que tinha vindo, à pressa, com a nossa gente dele toda, das suas férias, para estar aqui.

Eu sou de Agosto, nasci no mês das férias, de maneira que, isto é fatal, ou estou onde estão as pessoas, ou só estou com quem me vem aonde estou, por querer vir ou por bondade de perder esses ficares.

Percebem? Percebam: foi sempre assim.

Fui lá calmo. Levava um copo na mão, que era para ele, a ver se queria. Não bebe, é um boi querido, mas podia querer.
Nunca saberei. Caí, torcido no meu pé que me doeu, mas muito pouco. Muito torcido, muito pouco dorido. O pé e eu e, para ser sincero, ambos: pouca coisa para tanta letra.
Pensei que não era nada, "olha, torceu!", e levantei-me. Ainda lá fui, ao meu Pai. E tudo prosseguiu, assim, mais duas horas. Sempre sem dores maiores e sempre bem, ou mais ou menos. Menos mal.

Tinha urgência no dia seguinte, estava já naquele torpor de achar que à meia-noite era, já, tarde para mim. E acabou tudo à meia-noite, eu a pedir que se acabasse, tarde para mim, eu grato a todos os que aqui estavam, por ainda aqui estarem, tarde para eles, por me terem feito esquecer-me do que me tinha acontecido, que não era, de repente, mais que quase nada. Tarde para toda a gente.
Não me doía, juro, não me doía: esquecer-me disso nem sequer era difícil.

No dia seguinte, acordei cedo. Seis horas. Com dores numa espécie de inchaço duro que era o meu pé esquerdo inteiro. Havia ali uma saliência dura, na face externa do pé, que me fez pensar "estou fodido". "Estás fodido, Barbosa!", pensou Zidane, com os botões toscos da camisa do Hugo.
E estava.

Estava. Isto de estar fodido vem sempre de muito antes, vem sempre de muito longe, repararam? Isto não é bem isto, pois.

Não conseguia andar sem me doer. Às oito, já de banho tomado, liguei ao meu cunhado e contei-lhe, "olha, foi isto assim, assim, desculpa lá..." e pedi-lhe que me levasse ao hospital. Ele, nessa altura, como a mim também me bastava quando lhe bastava, bastou-me. Nessa altura, bastava um falar que o outro escutava sempre e fazia o que tinha de fazer para que bastasse ao outro o que bastasse, acho que bastava a ambos, isto.

Veio e levou-me. Por acaso estampou-se à vinda, guia menos à vinda do que à ida, falta saber em que sentido anda agora para isto se perceber tudo melhor.

O M.D disse, logo ali, que estava ali a fractura, a tal, a que eu tinha, a do Rooney, a "da bailarina". Estava aquilo assim, por conseguinte: quebrado e a pedir um mês de gesso e atrofia.

Hoje, coisas de há mais de cinco anos, já não me dói nada. Já consigo, outra vez, parar bolas "Roteiro" - são chatas, demasiado leves, sabem?, variam se lhes acertarmos no lugar do "pipo" -, daquelas que vêm de longe, batidas com efeitos por fora: já ficam ali, outra vez, com um toque só da sola e um jeito do joelho. Mesmo descalço.

Os meus filhos, que são mais afeitados aos peitos abertos do andebol, nas pernas e nos gestos e no resto inteiro deles, mas que têm força para os desportos todos - nadam menos do que eu, ainda nadam menos, claro, isso mal feito fora, que eu ainda consigo (quase) vinte e cinco metros em apneia, estilo livre cada vez mais preso (mas são muitos mais os golfinhos presos que há aí do que qualquer besugo será, um dia, livre!), dizia eu que eles, os meus filhos, que têm agora força e jeito para os desportos quase todos, nunca saberão que foi nesse dia, na noite dos meus quarenta anos, que eu me parti todo, porque foi nesse dia que percebi que tenho o azar supremo de marcar as minhas datas todas com o roxo das despedidas e que qualquer dia já não há mais frasquinhos dessa cor, só para as páscoas públicas.

E que já não sou, sequer, opção de banco para os desportos todos. Sou apenas titular discutível e pouco discutido de poucos sonhos.

Boa noite.

8.5.06

Guarda-flores

Amanhã há-de vir ele, o meu problema maior.
Homem de fazer coisas, de estar ali sempre por cima do destino, como se fizesse de cada derrota um potro novo.
É benfiquista, o senhor Artur. Quando soube, há quase dois anos, que tinha "raízes" duma coisa má, cismou projectar um Lar de Dia para idosos, parece-me até que cismou projectar isso tudo para cima de mim, tudo isso, mesmo tudo. Ele e a mulher, que é duma beleza estranha e dura.
Ambos amigos, ele e a mulher de beleza estranha e dura, do Barbosa, do grande e intransponível Barbosa, pai de filhos e avô de netos, sempre grande e bom - e antigo defesa central de lugares antigos - naqueles olhos azuis de velho grande e rijo, que já só me visita para me dizer que ainda me quer bem apesar de a mulher, também antiga, nos ter morrido. Pequenina.

Eu quase choro à noite, lá nunca choro; lá, nem a barba desfaço.

Tem, têm ambos, amigos que são os dois - um, ainda ali amarrado à sua esperança e à minha, outro que nem sei porque aparece - essa mania torpe de me foderem, aos pares de sábios, a minha teoria de que cada dia é menos um: eles acham, sempre, que cada dia é mais um dia por estrear e por gastar, cumprindo-o, e que ainda faltam, a toda a gente, os dias que nos faltam: nem um a mais nem um a menos. E que isso é verdade simples para toda a gente, quanto mais para mim.
E para eles, por razão muito mais antiga - mas nem sequer mais certa, lá por isso.

Cismo nisto e nem sei se me sinto melhor, sei é que me sinto mais e que arrefeceu a noite.

Coleraine

Sei que gostava de tocar mais pessoas, as que eu queria e mais algumas, sem ser tocado por quase ninguém que eu não quisesse. Sei que gostava de ser bom, de ser melhor - até! - que menos mau. De inventar uma perfeição qualquer que fosse adoptada como... como uma possibilidade minha de ser quase menos que um rascunho.
Nem sequer era mais que isto.

Sei que não sei mais do que um milhão de coisas, o que é muito pouco.

Sei que, não sabendo mais que isto, não fazendo melhor que isto, me limito a relatar-me. Que me limito a isto, a relatar-me, limitando - mesmo - isto.

E, isto de nos relatarmos, isto tudo, percebem?, isto tudo aqui!, é mais inútil e doentio do que fazer (isto por exemplo centesimal de tão milesimal -mas não misérrimo! - de mim) revivalismos bacocos e parolos do pobre e ridículo Variações, que morreu por causa duma doença e não por outra causa nenhuma.
E que fazia música medíocre, às tantas já doente, mas mais nada. Mesmo assim, fazia mais do que isto (aquilo?) que agora fazem -e não é por ele - dele.

Vale a pena isto de exumar, comparado com evitar inumações?

7.5.06

O baile dos bombeiros

A Maria José Nogueira Pinto pôs o dedo na ferida, quando ontem se indignou, alertando os parceiros para o facto de que o CDS-PP não é um clube recreativo. Há estados que se mantêm latentes, inconscientes, como se não existissem, até serem declarados de viva voz. Ela não podia ter consciência, quando o disse, de que estava a abrir a caixa de Pandora que mostra o ponto de não retorno. O CDS-PP, partido respeitável e respeitado (até!) durante o PREC, foi tomado de assalto pelo bando da mise "à penico", que se consolidou nos desígnios partidários de forma tão avassaladora que mais lhes vale, a todos, encarar esta inquietante realidade: de entre betinhos, namoradas de betinhos, família dos betinhos, mercenários, distraídos e amigos do Ribeiro e Castro, o CDS-PP poderá contar, a partir de agora, com cerca de setecentos a oitocentos votos a nível nacional. Sem contar com os seis ou sete históricos que, pelo menos aparentemente, continuam pacientes.

Isto também é mentira?

Foi sempre hilariante, para mim, a revolta expressa pelo "povo tuga que lavas no rio" perante a quase constante ausência de Eusébio das variadas listagens europeias e mundiais dos "dez melhores", dos "vinte melhores", dos "qualquer coisa".

Cruijjf, Maradona, Pelé, Van Basten, Gullit, Rijkaard, Platini, Giresse, Rocheteau, Keane, Charlton, Puskas, Di Stefano, Vítor Damas, Rivelino, Jean Tigana, Tostão, Cubillas, Garrincha, Rep, Mario Kempes, Rummenigge, Laudrup, Sócrates, Zico, Ronaldinho, Deco, Figo, Eto, Santillana, Hugo Sanchez, Jesus Correia, Klinsmann, Beckenbauer, Coluna, Matthaus, Pauleta, Makelele, Bobby Moore, Kopa, George Best, Ian Rush, Dalglish, Kevin Keegan, Gerd Muller, Ronaldo, Cristiano Ronaldo, Juan Ramón Riquelme, Ortega, Raul Gonzalez, Van Nistelrooy, Romário, Baggio, Rooney, Igor Blokhine, Torres, Jairzinho, Van der Elst..., é um número muito grande, já, e ainda faltam mais quinhentos, mil, mais de mil indivíduos notáveis, um grande grupo em que Eusébio entraria, também. E em que entra. Mas sempre domesticado, sempre aquela voz do dono, faltando-lhe - sempre - o que sempre lhe faltou, para deixar de ser o que é e o que sempre foi para passar a ser, e já vai tarde, o que podia ter sido.
Isto, bem vistas as coisas, calmamente vistas.

É mentira?

Fico sempre triste ao escutar Eusébio. Mesmo quando não diz coisas destas.
Só o vi jogar pelo União de Tomar, o resto foram relatos antigos e imagens a preto e branco, filmes da vida. Jogava muito bem, muitas vezes.

Não diz nada de jeito, nunca disse nada de jeito, mas pronto. É o Eusébio, era o Eusébio, pago (mal) para jogar, tivesse ele os joelhos como tivesse. Como os tem agora, mais ou menos.

Pobre Eusébio, queimado no Benfica anos a fio, em fogo muito lento; esturricado no lugar em que sempre foi bombeiro. A fazer de bombeiro outra vez, à sua maneira tonta de burrinho e a dar coices ao lado da razão, já sem mangueira notável.

6.5.06

Das toupeiras

No meu zapping (zapping é, para quem não sabe, aquela reprovável patologia que consiste em estarmos ali a carregar em botões dum aparelho relativamente pequeno e sem fios, sem ser um vibrador ou um telemóvel, até aparecer futebol ou, havendo sorte, gajas nuas) também me surgiu uma espécie de debate entre várias pessoas, das quais só identifiquei o general Loureiro dos Santos (perito em geo-socio-estratégia guerreira-e-também-coisas-que-ele-leu, área em que só é ultrapassado por Nuno Rogeiro, embora este excelente e cada vez mais grisalho "repas" tenha sempre aquele ar de quem se enjoa a fundo nas ultrapassagens) e, quase irreconhecível sem aqueles óculos que eram confeccionados à base dos fundos de várias garrafas grossas, o Dr. Nogueira Pinto.

Estavam lá mais. Estranhei não descortinar (expressão grata a Gabriel Alves, quando analisa) Pacheco Pereira e Lobo Xavier, mas depois pensei logo que haviam de estar noutro canal qualquer, eventualmente no Suez ou na SIC-Eventual.

Não sei qual deles foi, mas sei que foi um outro, um que não sei como se chama, um que tinha dedos com unhas que pareciam um bocado sujas (focaram aquilo ao perto, pareciam unhas sujas, muito curtas, mas há tipos que roem as unhas e elas parecem sempre porcas; e estão, quando é o caso; ou seja, estavam...), que leu alto - e mostrou - a primeira página do Expresso de amanhã.

De forma que vos digo - sim, que eu tenho boa memória (que é, qualquer psi vos diz isto, uma função superior da inteligência, embora seja exercida no limite das rotações, geralmente - e lá está, pode ser o meu caso, admito - por entes inferiores) -, que amanhã ides ler o seguinte:

1 - Que Freitas chega ao fim do dia cansado, "o que quer dizer que se vai demitir".
2 - Que 70.000 famílias (ou seja, cerca de 210.000 pessoas) portuguesas deixaram de pagar os empréstimos bancários, "o que significa que a vida está difícil".
3 - Que Saramago teve uma crise de soluços. Esta parte deu origem a alguma risota, eu já a esperava desde que, antes mesmo de o culto de serviço explicar a notícia, vi o título. Um jornalista daqueles de oculozinhos pequenos, um que tem ar de quem é acólito numa Sé menor, até afirmou, alarve, que "não tarda nada, temos aí um ensaio sobre o soluço...".

O último tipo que vi com uma crise grande de soluços acabou hoje o terceiro tratamento e está um bocado melhor.
A aleivosia e a ignorância são pares. E as putas são, sempre, muito religiosas e conservadoras. Não me lembro quem disse isto, não fui eu.

Os novos radialistas da imagem

Ainda bem que há a SIC-Mulher. Porquê? Ah, isso não sei dizer.

Hoje à noite, num "relampejo", vi cinco minutos duma coisa que estava a dar nesse canal e em que participavam, eu digo que participavam porque estavam lá, a Luísa Castel-Branco (que estava um bocadito incomodada, cuido mesmo que não se mete noutra), uma moça retrognata que é irmã daquele magrinho feio que - também - anda com o Herman, uma outra tipa inacreditável que parece que consumiu daquela merda que consome o Fernando Alvim (é um tipo muito esperto que aí há, para quem não sabe; há, mesmo, quem suspeite que ele e o Rui Unas são a mesma pessoa em diferentes estados de consumo da tal merda que eu ali referi e que não sei qual é) e ficou, talvez por isso, num estado de perplexidade que a candidata a poste geodésico e, por fim, uma sexualidade alternativa da própria sexualidade, um tipo estranho, que estava de vestido.

Mudei de canal logo que percebi que se tinham pegado, as três primeiras, a discutir se os bissexuais eram mais promíscuos que os hetero e, mesmo, que os homo.
A outra (optei por atribuir valor absoluto de fenótipo, na dúvida, ao vestidinho) estava ali sentadinha, de joelhame grosso junto, patética, e eu lembrei-me do camionista com mamas do Almodôvar, de maneira que vim para aqui mas ainda estou de calças.

5.5.06

Ó Wender, vai pó tarata!

Gosto muito da selecção nacional.
Contudo, se fosse forçado a escolher entre "ou o Sporting ganha ao Braga, ou Portugal nem ao Irão ganha", afianço-vos isto: dependendo isto tudo só de mim, nem ao Irão Portugal ganhava.

Eu sei, não valho nada. Falta-me consciência nacional. E um milhão de euros no banco, para poder dizer "ah! tá tudo bem, ok, tá bem, ok, tá bem, ok, tudo tá bem, bem tá".

Mas vou melhorar muito, logo que comece a habituar-me a ir ao Leblon.

Claro, antes disso tenho de ir lá pela primeira vez, eu sei: a excepção antes da habituação. E, depois desse percurso, as clínicas de recuperação do eu.
Isso. As "euclínicas", as encíclicas do eu. Coisas (que) papais.
Eu sei disso tudo. Pouco.

mas lincharam outro, ontem, eu é que não me lembro onde foi

Um tipo roubou um leitor de CDs e ia sendo morto por um grupo de zombies (leia-se "um grupo de rapazes que saíam da boate").
Isto passou-se no Brasil (onde se passa quase de tudo, desde gajas que se deixam fotografar sem cuecas ao lado de presidentes - isto tem anos! - , até gajas bastante boas terem dificuldades em consumar o coito porque, isto já se sabe, os brasileiros tendem à malhação, que é uma forma como outra qualquer de afirmar sexualidades alternativas com base no esforço físico onanista e retroactivo.

Mesmo assim, agradeço pessoalmente à polícia do Leblon - e à respectiva delegacia - terem evitado o linchamento do homem. Ainda se o tipo tivesse roubado o carro, ok. Agora só um leitor de CDs, francamente.

O Leblon é uma espécie de bairro que, se fosse cá, podia ser o bairro do Aleixo. Mas há ali elevadores, nos prédios bons. Onde sobe e desce , constantemente, muita merda. No Aleixo aquilo -a merda - apenas se acumula: nem sobe, nem desce, fica ali.

Ponto para o Aleixo: ao menos não carregam em botões para as misérias.

4.5.06

Excerto de um episódio da história do Rodrigues™(*)

Quando hoje subimos da Rua da Senhora da Luz para o mercado da Foz ainda se conseguia passar em frente à esquadra de Cadouços. Estava tudo a postos para a gravação. Rodrigo desvairado sai de casa, take 1, de onde segue para casa do Miguel, take 2, toca à campanhia e ainda ouve o amigo a dizer "ó Sarita! Aunda, que inhantes de iurmos ao médico inda queuro tomaur um café na Celeiste".

(*) Directamente do Bósforo.

Estuários

Nos Açores, quando lá estive, reparei que toda a gente andava mais devagar do que eu. Percebi, cedo, que era porque não havia pressa. Vive-se assim, lá. Na pressa vagarosa dos vagares necessários. E eu aprendi tanto desse andar que, para o fim, já doseava melhor as passadas.

Na minha terra anda-se muito mais devagar que nos Açores. Qualquer micaelense ultrapassa um reguense. Embora - isto é estranho, mas já explico melhor -, por aqui, a marcha pareça sempre muito mais apressada. Coisas de passos rápidos mas pequeninos.
Um ego, aqui, é uma espécie de resumo mal feito da filosofia toda, de toda a psicologia, da sociologia e da literatura inteiras: um ego, aqui, é um pequeno capítulo da ignóbil epopeia dos calços vinhateiros, que são - sempre!- reduzidos (de forma amaricada e trepadeira) a escadórios para o céu. Uma espécie de pequena metafísica dos pobres - só quadrinhas ao euromilhões, entremeadas do suor e do sangue dos antigos.

Há um bom museu de arte antiga, mas o rio é mais plano ali à volta. E nem é bem cá.

Um dia destes

Um dia destes faço um blogue só meu, medianamente rebelde, sobre a minha terra. Mas mantenho este, se a lolita e o alonso deixarem. Sobretudo a lolita.

Esse novo e hipotético blogue também não terá caixa de comentários, que eu não consigo viver assim, aberto à enxúndia. Bem basta quando ela (a enxúndia) nos frequenta a casa a fingir de "coisa doce", antes de se ir embora outra vez, quase conforme veio, deixando os maus odores da intriga misturados com os do "já não preciso".

Um dia destes faço um. E será razoável. Bom, comigo, mesmo bom, nunca será. Porque será meu.

Eu sou daqui, sou do país, sou (até!) do mundo. Mas não tenho dessas origens e permanências outra ideia que não seja uma sucessão de acasos que tanto se acarinham como se renegam, consoante esta mistura de orgulhos bacocos e de legítimos nojos.
Nojo e luto. Dojo e luto. Judo. Juro.

Foi de estar a escutar os japoneses: acredita, lolita, falam inglês duma forma inacreditável e eu não tinha auscultadores de tradução. Que coisa horrível.

Matemáticas difíceis

Uma coisa que nunca hei-de entender na minha terra é esta: tem, pelo menos, dois jornais pequenos para o país e, isto é que é triste, para a cidade. A qualidade dum e a qualidade do outro são iguais. Nada valem. Temos ali os velhos do costume, a parir o ideário bacoco do respeito doutros tempos. Temos os poemas e as prosas um bocadinho poéticas de meninas e meninos que hesitam - se ao menos a hesitação se dissipasse... - entre matar-se pelos tempos antigos ou pelos de agora. Temos os cronistas encomendados, que vivem (ou arredondam o numerário da sua vida) da encomenda.

Há putas destas em todo o lado, no mundo inteiro. E se a Régua é minúscula, se o país é pequeno, o mundo inteiro, esse, é uma mistura pequeníssima de coisas pequenitas que, salvo raras excepções, nem sequer na soma delas (das pequenezas todas) se engrandece: que o integral das pequenezas todas não é, nisto da vida, a operação inversa da derivada das tristes e pequenas funções originais. Eu, assim, percebo as coisas bem mas não me interessam grandemente.

Da pequena ciência

A Régua é razoavelmente boa, ainda, a prestar homenagens. Sobretudo póstumas. Lacrimeja fora de tempo, no tempo certo, na medida correcta.

Obrigado (tu nem sabes, Beto Mendonça, que eu sei que foste: eu não estava lá, estava a escutar - em lugar de estar a dizer coisas que sinto - japoneses a dissertar, em mau inglês, sobre cancros do estômago, é a minha vida, tu bem sabes, da mesma forma que sei que foste lá - mas foste! - "entre teclados").
A Régua é como o país. Só não é o país porque é pequena. Mas, até nisso, é como o país. Não é o país mas é, de facto, mais coisa menos coisa, como ele.

Eu moro cá, na Régua e no país, pensem de mim o que quiserem, mas não se esqueçam de nada do que eu disse agora, que está aqui tudo. Tudo, menos o que ainda não disse. E que direi, mesmo que apenas me sussurre para não parecer que falo sozinho. Para não parecer, sim. Até disto tenho ciência, triste sina, deste falar assim.

2.5.06

A carreira dos gagás

Quando se morre, termina-se a carreira contributiva.

É para o que se nasce: para se iniciar uma carreira dessas. E morre-se, fundamentalmente, para que ela termine. A vida é, agora, para quem não consegue atalhos à carreira (contas de restaurantes "em serviço", viaturas, cartões "piratas" para o benefício do vinho generoso, ser amigo dum tipo que faça lavagens de dinheiro ou que controle um off-shore, essas coisitas), repito, para quem não consegue atalhos à carreira, a vida é uma permanente e efémera contribuição.

Uma mãe esforça-se a expelir um feto, agora cheia de novas vontades (até por causa dos futuros e inteligentíssimos incentivos à natalidade), para quê?: para parir um carreirista.
A criança nasce, berra, alimenta-se à babugem do leitinho uns mesitos, surgem-lhe dentições... e depois? Depois, mais lhe vale começar, desde logo, a trabalhar. Logo, cedinho.

Se começar por ganhar uma bizarria escassa, tem de se preocupar com a média: corre sérios riscos, em sobrevivendo o tempo devido, de lhe fazerem as contas com os "tristes e verdes anos". Arrisca-se a bradar, no fim, daqui a uns oito lustros, que "eu ganhava, ontem aos 64 anos, 350 contos e, agora, aos 65 e mais um dia, vou passar a ter, por mês, cento e oitenta..."

Depois, espera-se que a carreira seja longa. Quanto mais longa for uma carreira contributiva, melhor. Isto pensa o "carreirista", claro. O "gestor de carreiras" não, pensa diferente.

Isto não é sempre assim, claro.

Excepto se se morre entretanto. Isto é lixado.

Amanhã vai a enterrar um que, à luz da lei, tinha uma carreira contributiva que lhe permitiria receber, talvez, ou outros por ele, "um tanto", na velhice.
Mas não chegou a velho. Terminou a sua carreira, o imbecil. Bem feita, que não cumpriu a "basezinha da nova lei destinada a poupar nos pobres em lugar de poupar nos ricos, que é para os ricos poderem ajudar os pobres dando-lhes empregos, excelentes empregos, em que os pobres poderão ter largas e longas e caducas carreiras contributivas, para que o ciclo seja frutuoso, e se não for assim, paciência, houve azar".
Não cumpriu, logo, duas coisas, o desgraçado: não terminou a sua carreira contributiva e, parvalhão, morreu cedo de mais. Azar o dele.

Faz as contas, carrasquito. E esfrega as mãozitas liberais.

Regra nova para os novos tempos, e é se querem: quanto mais se prolongar a carreira contributiva, mais tempo tem um homem de viver, o que torna a medida boa, excelentemente boa, por se constituir em mais um incentivo à sobrevivência.

Se um contribuinte falhar, ainda que seja no auge da sua carreira, poupa-se.

Reformas aos 80 anos parece-me um passo importante. Há que ser engenhoso e filho da puta, que até o povo gosta disso - em lhe correndo ao pelo.

Nomes falsos. Todos. O resto é verdade.


Enganei-me. Não me chamaram mais. Não fui preciso e, bem vistas as coisas, não havia nada que lhe pudesse fazer. Nem ninguém, quanto mais eu.

Morreu no dia 1 de Maio.

Já só o vi de fato, no último fato. De camisa alva e de gravata azul: era portista; mas não sei se foi por isso se, apenas, porque lhe ficava bem o conjunto. O cabelo esbranquiçado estava bonito, brilhante, sobrevoando-lhe a palidez. Face serena, emaciada. Mas serena.

Puseram-lhe ali a fotografia da mulher, a sair-lhe do bolso do casaco, uma em que sorria. Fizeram bem. Ela esteve sempre lá, até ao fim, como ele quis. Como ela quis. Como tinha de ser.

A Mãe estava calma, resignada.
Deixou uma filha. Deixou muita gente.

Deixou muitos amigos. Eu era um deles, um dos mais antigos, do tempo dos calções, do primeiro rally-paper, das primeiras musicatas e das primeiras danças tímidas. Lembro-me dele em vários lugares, mas prefiro recordá-lo no Porto, longe daqui, quando eu ia ser médico e ele adorava Geografia. Ou na Póvoa, no meio das nortadas do fim de Agosto.
Acabávamos sempre por imaginar novas cantigas, novos teatros, novos poemas que metiam "homens com pelos no coração". Ele não gostava disso, preferiu sempre corações lisos, mas o poema era dele, brincámos tanto com ele à conta disso! Na Póvoa, entre o Diana e o D. Pedro, passando pelo D. Pasolini, ou pelo Bianca Neve, nada disto existe, já, conforme era, tanto o gozámos, lindo amigo que nunca se zangava sem a sua razão!

Lembras-te, Paulo? E tu, Beto Mendonça? E tu, Gastão? Lembras-te tu, Félix? Recordas-te ainda, Chico? E vós, Ermidas? E tu, Pinho? E tu, Frederico, poeta rude ainda hoje? E tu, João? E tu, Barros? E tu, Zézé? E tu, Eugénio? E tu, Eduardo, que também já morreste, fraqueza do coração tão precoce? E tu, Olga? E tu, Teresa? E tu, Belita? E tu, Carla? E tu, Luísa? E tu, Elza? E tu, Marisa? E tu, Carminho? E tu, Aurora? E tu, Tó? E tantos outros e outras que ele tocou da sua nobreza ainda juvenil...

Lembramo-nos todos, não é? Quando chegava, vinha sempre com uma ideia qualquer, ele à frente dela. Não era?
Era.

Morreu-nos a todos e vai a enterrar amanhã.
A mulher (excelente mulher ele tinha, e tem, ainda) contou-me, durante um abraço que me fez sentir pequeno, entre as lágrimas dela e o meu peito ressequido, que o meu colega que tratou dele nos últimos dias (bom miúdo, vai longe, pena ir-se embora, vai longe para longe, eu tenho pena), chorou, no fim. E estava comovida com isso. Coitada.
Choramos sempre para fora enquanto não nos ensinam a chorar só para dentro.

O povo é quem mais ordena

O inquérito de hoje do DN oferece aos leitores o seguinte sufrágio: "é pecado ler jornais e navegar na net em excesso?"
Pela consulta das estatísticas fica-se a saber que, as I write, 14% dos leitores que responderam ao inquérito votaram "sim", ao passo que os restantes 86% votaram "não". Tal como sucedeu com a justiça, com a televisão interactiva ou com a soberania popular sobre os finais das telenovelas, também a definição dos dogmas católicos está prestes a massificar-se.
Ora, isto pode ter um efeito propagador dos pensamentos, acções, erros ou omissões que caibam no conceito de pecado. Sobretudo se, como parece, a modernidade submete a definição de pecado ao sufrágio universal, com apuramento directo dos votos. Neste contexto, poderia Koeman, em vez de ter contido o riso com os golos do Sporting, sentenciá-los como pecado mortal. E até, se se confirmar que as papoilas não passam do terceiro lugar, de verdadeira e própria acção herética. Teríamos, então, os nossos seis (?) milhões de benfiquistas em protestos sangrentos às portas do Alvalade XXI, enquanto Eusébio apelava ao respeito pela diversidade confessional e condenava os licenciosos pecadores que, entretanto e muito antes, já festejavam no Dragão.

1.5.06

Não foram cravos, não foram (sequer) glosas

Boa perspectiva, esta, sobre o discurso da inclusão mais o cravo ausente. E eu, que tenho alguma dificuldade em me irritar com tais coisas, prefiro o Cavaco sem cravo ao Cavaco cantor da Grândola.
No que me diz respeito, recoloco a questão na irritação, mais do que em meras preferências. Numa dimensão, digamos, estética, Cavaco Silva e Grândola não condizem. A parelha resulta bizarra.

Quanto à - agora famosa - inclusão, a assinalar só há mesmo a admissível (boa) intenção de se descolar dos cálculos e subir à solidariedade social. Mas sempre que o recém-presidente retira do discurso a dimensão economicista do mundo fica quase nada, por mais se que esprema a laranja. Banalidades sem rumo, frases gastas, metas cautelosas. Tal como sucedeu com o apelo ao diálogo entre o ministro e os agricultores - via de resolução de conflitos de que, pasme-se, foi sempre firme defensor. Ou como a exortação de hoje, ao olhar para os barcos à vela, para relançarmos a "nossa vocação naútica", através de medidas que não quis pormenorizar porque era "dia de festa". Ou: "assim de repente não estou a ver nenhuma".

View blog authority