E o electromecânico registou, para memória passada, presente e futura
Um electromecânico encontrou um génio que se entretinha a entrar e a sair da sua lamparina hipotecada, sucessivamente, enquanto gemia sempre de si.
Reparou, o electromecânico, que, nesse movimento mole, o génio tentava gemer cada vez mais alto e que, dada a sua capacidade de repetição, se tratava ali dum gemebundo crónico armado aos cucos e com amplificador. Dum utilizador das emoções dos outros sem as sentir ele, a menos que empiteirado sem ser até ao excesso da vómica, isto, já se pressente, por incapacidade sensitiva sóbria, mas dotado, ainda assim, da mímica manipuladora dos símios. E que parecia tenso, sempre à beira de arrebentar-se ou, por fragilidade mais provável, de o arrebentarem um dia.
O electromecânico, que vinha de fato-macaco azul escuro e iluminado apenas pela decência, atreveu-se a perguntar ao génio se aquele afã quase pavloviano de estar sempre naquela rotatividade sem outro sentido além do que lhe seria, se fosse o caso, mas não parecia, conferido pelo próprio e repetitivo movimento de "entro e saio da lamparina quando eu quero", ou seja, um exercício de "posso, portanto quero", se devia a um desgosto de amor, a um homicídio culposo (mas provavelmente involuntário) antigo, à evidente e genial estupidez característica dos moluscos com espelhos baços no quarto de banho, a alguma cornucópia antiga, à mercenária e génica - e genial - cupidez dos tarados, ou, apenas, tristemente, a uma desgraçada procura incessante do próprio umbigo; uma coisa que fosse, mais ou menos, "onde foi que deixei a minha cicatrícula, que não sei dela e preciso que dela me digam que é especialíssima, embora crie cotão?".
O génio, que, apesar de maluco e molezinho, não era desprovido daquelas colagens (ou autocolagens?) cerebrais que acontecem facilmente em gelatinas dadas à disautonomia e ao velcro fácil - reparem, quantas vezes, para compensação do vazio, se fazem colagens, se faz "velcragem"?; a sério, faz-se tanta merda em tanto cérebro, assim invadido, assim permissivo, assim permitido, assim frouxo, assim tão enrabado, assim tão... quase auto-parasitado - , respondeu ao electromecânico, numa voz aguda de varina serrana, que o umbigo era dele "e, portanto, cala-te".
O electromecânico preferiu calar-se, de facto, mas verificou que, na boquinha apanascada do génio, ali colado, ali quase velcrado na dentição maligna, havia uma espécie de letreiro que dizia "quebra-ma toda".
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