blog caliente.

30.11.05

E.R.

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Não é interessante contar histórias que não importam a ninguém. Muito menos contar um pedaço de filme, um pequeno episódio duma série longa de comprida: quem viu, viu, quem não viu, não viu.
Ainda por cima, não sei contar histórias. Perco-me em detalhes, disperso-me e disperso. Já me disseram isto e é verdade. Para que conto esta? Sinceramente, para nada. Por que conto? Isso é diferente. Conto, porque vi. E porque é uma história simples. Eu, às outras, nem as entendo.

A sério, se tiverem tempo, continuem a ler. É um favor que me fazem.

Na semana passada, um miúdo maltratado pelo pai (fracturas várias, hematomas, essas coisas) foi colocado sob a custódia da assistência social. A assistência social é uma merda, já se sabe, mas tenta evitar mais fracturas. É uma questão a discutir, sobretudo pelos pobres do mundo. Se a querem.

O pai ficou aborrecido e, neste episódio, transformou-se num serial killer, por lhe terem tirado o miúdo dos amores e das práticas torcionárias (onde é que isto se mistura?). Matou várias pessoas, feriu gravemente outras. Criou, sem o saber, uma colecção de histórias que, excepto no final, o ultrapassaram largamente.

Disparou sobre um homem de cinquenta anos, talvez menos, com SIDA, que escolheu morrer do ferimento em lugar de se esvair, deslizante, na sua falta de CD4. Benton quis operá-lo, mesmo contra a sua vontade verbalmente expressa, mas isso é porque há Bentons que não concebem que ninguém lhes morra, mesmo quando lhes dizem que se estão a cagar para o "lhes", perfeitamente.

Tentou abater um miúdo, mas falhou. Ficou quase ileso, o petiz. Mas a radiografia que lhe fizeram levantou uma questão: terá um osteossarcoma? Tinha. Criou-se uma cumplicidade entre Carter e o miúdo, acabando ambos a perspectivar percentagens... 70% ou 30%, vida ou morte, nenhum deles sabia, nunca se sabe. E eu nunca saberei entender estas conversas entre pais e filhos, em que o pai (que era ali Carter?) não se limita a afagar o filho, tristemente.

Finalmente, foi ele próprio abatido, sumariamente, chegando em estado precário ao Hospital. Tinha-se discutido, na urgência, que tudo aquilo se devia à venda livre de armas nos EUA. Eis que quem o abate é um taxista puto, que também gosta de andar armado. Greene, que já foi agredido quase até morrer no sítio em que trabalha, sabe que está na lista do assassino, porque foi ele que desencadeou o processo que levou à separação dos dois entes fulcrais desta pequena história: o pai que maltrata mas ama e o filho que é maltratado mas também ama. E o taxista, sabedor do drama pelas notícias, quando um tipo com ar de louco lhe pede para o levar a uma morada qualquer, percebe que tem ali, à mão, o homicida. Dispara cinco tiros, prostra-o, mas não o mata. Fez isto com uma arma de venda livre, o que coloca dúvidas em mentes mais franzinas.

O homem chega vivo ao hospital, reconhece Greene (que, entretanto, estivera a tratar da assistente social, também ela vítima da sede de tiros e vingança do liberal mais liberal do filme, o pai que ama e que bate, que a vida é como é!) e ameaça-o, mesmo quase morto.

Greene trata-o, executa maquinalmente e de forma eficaz os gestos do costume, mesmo sabendo que a morada que o assassino ordenou ao taxista, na sua última viagem, era a sua, a do careca Dr. Greene, aquela morada onde estavam, "jiboiando", a mulher e o rebento.
Quando calha terem de subir para o Bloco, é Greene que vai com ele. O homem olha-o com ódio, como desde sempre. Subitamente, no monitor, lê-se "fibrilhação ventricular". Greene arma as pás, carrega a 360 W, lê o monitor, que se aproxima das nossas caras, lê os olhos do outro, que também sofrem de "zoom" e, determinadamente, dispara as pás no ar, sucessivamente, deixando-o morrer aos sarrabiscos.

Que se passou ali?
Quem viu que diga. Eu vi e sei que, se escrever sobre isto, demoro uma semana, quinze dias, a vida inteira. Sem me sair nada de jeito.

Recursos necessários e não facultativos

Altino: como sabes, não se pode acreditar nas mulheres. Nós acreditamos (julgo que tu também, ainda) porque somos sofredores. Eu mais que tu, que já viste os trabalhos em que me ando a meter à conta duma ideia que me inculcou o meu Pai, esta coisa do Sporting, que até já lhe telefonei a dizer que estou tramado e a culpa é dele. Conto com o teu apoio. Caso te ponhas com merdas, olha que eu sei a tua morada...

Vital Moreira: ainda acredito que, um dia, talvez depois da derrocada do meu velho liceu, você há-de sair-se com um texto brilhante sobre "a saúde em Portugal". Mas um em que não sejam os "facultativos" os maus, só os mais ou menos, ao menos, como toda a gente. Isto em média.

Siga a marinha. Vou ler a Casa de Cacela, que é um sítio bonito e, por fundas razões, um bocadinho triste.

memórias de besugo

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O antigo liceu, o colégio velho, está a cair.
Há anos.
De cada vez que vem aí uma ventania, uma chuvada forte, um raro nevão, espera-se que desabe. Que se esmoreça todo naquela calma fria e feia, paralela à de quem o vê todos os dias, naquele abandono alquebrado de quem já se partiu por dentro, faltando-lhe só morrer com o estrondo vetusto das memórias altas.

Fiz, ali, os três primeiros anos do liceu. Tínhamos, na altura, uma reitora. Que está velhota, muito velhota, mas ainda vive, ainda bem. Foi uma das primeiras licenciadas em matemática em Portugal. Terror da miudagem, sobretudo nas chamadas à reitoria - para tabefes por garotice - e quando espreitava da janela a ver se, naqueles Fevereiros frios, estávamos todos de blusa branca, calções e sapatilhas, por cima do corpo gelado que pedia lumes ou calores de correria.

Todos, enfim, nunca estávamos. O Jerusinho (que não se chamava assim) podia vestir fato de treino, azul escuro duma vergonha baça, de "nylon", mas todos sabíamos que ele era doente. Se não era parecia, só saltava trinta centímetros e, a seguir, quase que desmaiava de fraqueza. Mas não era, como se viu depois: era só o Jerusinho.
Agora não deve saltar muito mais, mas mesmo que saltasse a gente lembra-se dele é assim, quentinho e muito "pupilinho da senhora reitorzinha", enfeitadinho daquele seu corpinho de pequena saca de batatas murcha, minhoca protegida pelo liceu velho, que vinha à janela, o liceu inteiro que mandava, o liceu que está a cair há anos mas que, naquela altura, não.

Telegrama

Caro Alonso:

Queres fotos de gajas, vais aqui.
Escreve mas é, pá!
Tu e o Stkaneko farão o favor, aliás, de escrever a verde, sim?

besugo

(segue foto de como me ameaçaram que ficarei depois de sexta feira, o que me provocou "imensa risa")

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"besugo em prato ladeiro, de olhar fixo, mais ou menos como as ideias"

Registos

Por falta de tempo ou de esquecimento não saudamos aqui, em devido tempo, o segundo aniversário do Causa Nossa, que surgiu há dois anos atrás orgulhoso, proclamando-se futuro blogue de referência. Apostaram e ganharam. Tornaram-se (mais) mediáticos e, hoje, é irrecusável que o Causa Nossa define, por mérito e consistência, a agenda das discussões políticas na blogosfera, que nós aqui acompanhamos com atenção, mesmo quando o besugo se angustia com derrotas inevitáveis. Parabéns.

Entretanto o mau-feitio do Altino ultrapassou as cem mil visitas. É obra.

Eu queria que o Altino soubesse o seguinte:
Que fique ciente de que eu leio diariamente o food-i-do, enquanto que o besugo só o lê de dois em dois dias (se tanto).
Que fui uma das primeiras subscritoras da famosa petição, que o besugo só subscreveu depois de eu o ameaçar que votava no Cavaco Silva.
Que esse mesmo besugo quis, imagine-se, impedir-me de registar aqui o feito notável do Altino, ao cativar tal multidão de visitantes.

Espero, por isso, que o Altino não esqueça este pequeno gesto que lhe dedico e que, na sexta-feira, dedique um brinde à avassaladora vitória portista sobre a lagartagem.

Besugo (contrafeito, mas rendido) e Lolita

Foi você que pediu isto para Presidente?

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Acho bem que Manuel Alegre não centre o seu discurso político (nem um único pensamento, sequer) no "contentinho de Boliqueime". Aprovo integralmente a sua decisão.
Manuel Alegre que faça, então, o que achar melhor.
Eu já disse o que tinha a dizer e farei conforme sei, também. Depois de sexta feira.

No entanto, como conheço muitos portugueses e sei que, em grande parte, ou são parecidos com aquilo que ali está em cima, ou, alternativamente, almejam (gosto do verbo almejar, lembra-me logo de lhes introduzir uma almejália pela alma adentro!) babar-se debaixo daquilo que ali está, trato eu de lembrar às hostes o Tino que agora aí se perfila, todo ele dentes e olhinhos baixos, como regedor.
E anda com sorte, que podia ter-lhe pespegado um emblema do Porto entre os dentes da frente. Cabia lá...

Dedico-lhe um poemeto. Uma especie de "decângulo" que Cavaco escreveria, se soubesse. E se se visse ao espelho.

"Eu, que de mim sei que nada sei,
não é que saiba mais do que o que digo.
Mas sei, por não saber sequer um "cibo"
daquilo que apregoo como um rei,
que basta afivelar este sorriso
de dentes separados, de indeciso
que finge ser talhado para a grei,
para fazer soltar de cus doentes
os flatos imbecis e indecentes
que vos farão cismar, de mim, que sei".

"Esta luz fica acesa". É uma frase de Fernando Tordo, caso não saibam. Cantada por ele fica mais bonita. E fica acesa, para o que for preciso durante qualquer noite.

Ó Manuel Alegre: trate você, então, do resto, que eu faço o trabalhinho sujo. Ensinaram-me a sujar as mãos quando é preciso e a lavá-las muito bem depois.

29.11.05

Cruzes

Não se consegue perceber muito bem a razão pela qual se determina, por decreto, a retirada dos crucifixos católicos das escolas. Assim fora de tempo, de contexto, de motivo. Os símbolos perdem-se com o tempo, se deixarem de ser símbolos; morrem de gastos. Os crucifixos pendurados nas salas de aula, na verdade já se perderam há muito; há muito tempo que passaram a ser, apenas, crucifixos.

É provavelmente evidente que as salas de aula não devem ter crucifixos pendurados. Mas ordenar que se retirem, numa operação pseudo-tolerante de desinfecção, como se causassem incómodo intolerável, faz-me lembrar as mensagens escritas em letra fúnebre nos maços de cigarros; não servem de nada, mas cumpre-se o processo formal de sensibilização anti-tabagista. Com os crucifixos passa-se um fenómeno análogo, embora inverso: já ninguém se lembrava deles, até a Ministra determinar que saíssem. Agora toda a gente fala disso. Agora sim, renasceram.

Está no ar, o Batatoon ...

Os fiéis leitores que desculpem (eu próprio, o mais fiel dos leitores, desculpo) mas o blog segue dentro de dias.

PS - Sempre cuidando de que este seja um blog plural, aqui deixo um "vivó Benfica". Não é por mais nada, que eu nem sou benfiquista, mas prontes ...

PPS - Inda se metessem fotos de gajas ...

Declaração de princípio, embora já vamos a meio.

1 - Este blogue está radicalizado. Manuel Alegre (que até é benfiquista) que nos desculpe. Retomaremos a campanha a partir de sexta-feira, os que sobrarmos.

2 - Eu prometo, raios me partam, que se não ganharmos ao Porto naquela espelunca com aspecto de "mal acabada por falta de reboco e tinta", deixo a lolita tirar do frontispício do blogue aquela frase que ela, aliás, logo riscou, "Viva o Sporting!". E que venho aqui dizer "Viva o Porto e gosto da vida como ela é!", que é coisa que não gosto, mas pronto.

3 - Em contrapartida exijo, caso ganhemos (que ganhamos, evidentemente), que a lolita retire o risco que está por cima da referida frase ("Viva o Sporting") e que nos mostre aqui uma fotografia sua, que pedirá ao "hooliganzinho" que lá tem em casa para lhe tirar, equipada de verde e branco, olhando a barra com aquele ar submisso que tanto favorece as mulheres de bem e de bom tom...

4 - Se o alonso quiser entrar nesta justa querela, que se lembre sempre disto: olha que já te matei essa fome com muita costeleta de porco e muita batata frita, animal, e sempre te elogiei o capacete personalizado com que fazias de conta que sabias andar de kart! Tu vê lá! Ao menos, se decidires não participar, mantém a análise política em dia! Quando não, qualquer dia temos menos visitantes que o Blasfémias, mesmo antes da cisão! Do cisma!

5 - Termino como terminaria António Vitorino, esse ideólogo que também poderia contracenar com a Júlia Pinheiro, sem perda de qualidade evidente do pugrama dela:
"Habituem-se! Habituem-se a gostar da vida como ela foi!".
É que o árbitro pode sempre roubar, há Costas e Paixões a mais por todo o lado. E Xistras, que são os da nova vaga. E se houver gatunagem, caramba, vai tudo raso, implodo isto tudo comigo dentro e vou chagar Alá! Vou chagar Alá, mas levo setenta preservativos no bolso, que eu gosto da vida como ela é e não nasci na Lourinhã!

6 - Também podia dar-vos o NIB da minha conta, mas para já não.

Intervalo

Respeito, besugo, pelo momento difícil que Portugal atravessa. A tua natureza fútil impede-te de reflectires sobre os desígnios de um país que, dentro de menos de um piscar de olhos, passará a contar com um presidente tão rígido como a maleta Dunhill que lhe ofereceu a Maria pelo aniversário (a piada nem é minha, é dos repórteres da Visão).

Así que te propongo: a partir de sexta-feira, retomaremos o tom sério e circunspecto com que habituámos os leitores. Falarás de política, de geo-estratégia, de relações bilaterais e do desarmamento do Irão. Lerás, com periodicidade que em devido tempo definirei, todos os hebdomadários de referência, nacionais e internacionais. Escreverás sobre Cesar Pavese, esse brilhante ensaísta e romancista, tão fortemente inspirador da nata dos atletas nacionais. Lerás, de um só fôlego e numa madrugada, o Bilhete de Identidade da Maria Filomena Mónica, que aqui criticarás, sem descurar as transcrições dos excertos que honram e sustentam a pesquisa. Lerás toda a obra de Sócrates: o pop-star ou o clássico, à tua escolha. Tudo regado com links abundantes.

Eu quero fazer deste blogue um blogue sério. O país precisa de nós.
Depois decido se te deves alistar nas Forças Armadas (não, besugo, no MFA não pode ser, que já foi extinto).

Divergências

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"Eu não uso bandelette mas tenho estes olhos. Isto não são olhos de feroz malvadez, sou eu a ver se consigo perceber onde está a bola, carai!"

Betooo, és lindo, pah!



O único jogador do Sporting com inteligência suficiente para destronar Tony Carreira no Olympia de Paris.

Confidências de Beto: eu e a minha bandolette somos inseparáveis.

texturas...

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"Se bocê me preguntare se eu aixo que jogamos beim, eu digo-le já que noum. Se bocê me preguntare se eu aixo que bámos perder cu Ceportengue, aixo. Agora, se bocê disser que eu disse isto eim público, bocê bai ber como gostaba da bida cumu ela era!..."

E logo por trás, cartão amarelo!

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"É faaaaaaaaltaaaaaa, carai....!"

Corococó!

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"Esta ainda não entrou! Não me venham cá com a história da linha de golo, esta AINDA não entrou! Tungas! Aliás, eu, a bem dizer, nem a vi passar, estava a pensar que gostava da vida como ela era, há quem abra a boca e há quem feche os olhos a pensar na vida..."

Sempre é um bom bocado maior do que o esférico.



Conta-se, nos balneários, que Ricardo "mãos-de-unto" treina as suas magistrais defesas usando Liedson enrolado num cordel. Ricardo confirma, confiante: "assim, não falho uma".

28.11.05

Isto não, isto é só a brincar!

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"... Sí, Tonel ya me telefonó diciendome que me vay hacer otra tatuage... sí, que sí, que quasi no tiene espacio para eso, pués... pero él me dice que me la hace en las "canielas", sí, que suerte, coño!"

O frang... o goleiro.




De facto. Da próxima vez, podia experimentar defender de boca fechada. Entra muito ar, só pode dar mau resultado.

Pues que sí, que sí...

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"Sim, gostava mais, sim, gostava mais, sim, até eu gostava mais da vida como ela era..."

O patrão do urinol



Errr... eu por mim nem íamos ao... errr... Dragão, tenho andado a... errr... pensar e... errr... eu penso muito...errr... devagarinho, mas... errr... não há mais ninguém que pense neste clube de betos franguinhos, errr, quero dizer, franzinos... errr, ja rezei à Santa Maria de Chelas, padroeira dos frangos de churrasco, caraças, já disse àquela alimária que desta vez tente defender de boca fechada, que ele de boca aberta troca os olhos. Caraças!! Que eu quando me lembro do gajo até me sinto... errr... mais esperto.

Por falar em patinhas de frango...

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"Que fuâie? Istou a descàunçàre! Num ce puâde?"

Foi você que pediu duas pastilhas de flúor?

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"Queim? Bámus perdiâre doizizero, ceistafeira, pois bàmus, iâles boum metêre duas na baliza da minha màinhe, que se chàma Bítor! Eu teinho esta cara porque gosto da bida cumuelaié-e!"

O plantel de ouro



Depois de um longo, cauteloso e expectante silêncio que guardei sobre os resultados desportivos, eis-me aqui a festejar a vitória e o podium. Para mim trouxe champanhe; para o besugo, uma patinha de frango (sem luvas, que só atrapalham).
Aqui de cima vê-se tudo muito bem. Até o besugo, a espumar de raiva pela guelra.

A continuación: variações sobre as alternativas possíveis da hecatombe que se abaterá sobre a lagartagem dentro de poucos dias.

Nistagmus

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"Penalty? O quê? O gajo até já se levantou, pah! Dava-me jeito era um Primperan na veia, agora..."

Recolhimento

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"Eu gostava da vida como ela era..."

Coisas que nunca se passaram

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"Ai que me dói o peito, é um ataque! Falta, falta, alguém que apite!!!"

Portanto, o Porto joga isto... OK.

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Este homem assumiu, hoje, uma coisa difícil mas que já se sabia: para ser marcado um penalty contra o Porto é preciso, regra de Costa, que um dos seus jogadores (mesmo se for o Peixoto) cometa homicídio dentro da sua área. Derrubar um gajo chamado Carlitos não é suficiente para Costa: "ele está vivo, levantou-se, logo, siga!".

O passarão Baía, por outro lado, ia mamando outra das dele: saiu à "maria tonta", como faz de quinze em quinze dias (em Barcelona era semanal, até ir para o banquillo), e embateu, fora da sua pequena área, num tipo do Gil Vicente que já lá estava e que lhe ganhou a bola de cabeça. Depois, só não foi golo porque o tipo do Gil foi nabo, ou azarado, ou estava comprado, sei lá, mandou uma espécie de "cornada" na bola, salvo seja, e ela passou por cima da barra. O Baía atirou-se logo ao chão, de gola alta, cheio de dores de cabeça (tenho pena de não ter a fotografia da cara de pânico com que ficou aquela espécie de avécula, quando viu que tinha feito mais uma passarada daquelas que o notabilizaram: ficou com cara de "ai,ui,ai,ui", antes da cefaleia, palavra, o nóvel escritor que lia Pavese na versão original! eu vi!) e o Costa fez logo "prrrrip" e foi falta contra o Gil Vicente. Como ninguém poupa o Ricardo, venho eu aqui dizer isto: este tipo, o Vitinho, tem lugar em que selecção? Na dos Costas?

E digo mais, para alimentar o ambiente de guerrilha que se espera ocorra neste blogue até sexta-feira, a menos que a lolita faça como o Cavaco e fique caladinha: este Porto não é que seja fácil, que fáceis são as putas, mas não tem a mínima hipótese, na sexta-feira, em as coisas correndo normalmente. Não jogam nada.

Fígados de besugo

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Ó lolita: tinha piada se o Baía tivesse lido ao menos este, não tinha?
Pois tinha, pois tinha.

De los poetas

Gosto do sul de Espanha. Da Andaluzia.
Não se dobra tanto a língua para "decir nada, a nadie". Y es caliente, dai-me água!

É mais "Egpaña", se me entendem. Castilla la Mancha, un coño!

O Vítor Baía, por falar nisso, era o "manos de mantequilla" do Barça. Vizca Barça.

Barcelona é uma cidade onde "hay pibas que te hacen una mamada por una pastilla". É como Lisboa e como Pousada de Saramagos, basicamente. No me gusta.

Também gosto de Valência e das Astúrias. Isto é um momento didáctico para quem se lembra de onde jogou o Damas durante muitos anos. E o Pablo Aimar é um jogador da bola do caraças, qual Lucho, qual ... Karadas!

Sexta feira! Sentido e faz o jantar!!

é por estas e por outras...

"Porque todos nós temos, ou gostávamos de ter, um bocado de Vítor Baía dentro de nós".

Bolas. Eu não gostava nada de ter isso, nem nenhum bocado disso, valha-me Santa Clotilde!
Que fetiche parolo e apaneleirado! Um portista apaixonado torna-se numa espécie de Rui Santos (aquele tipo da Bola que parece o Ribeirinho) em "menos azeiteiro, mas pouco"! Bolas! O que tu vais buscar!

Eu gosto é de quando vem o Verão, sabes, lolita? Que fica tudo mais claro e quente, em lugar desta neve aqui à volta que me chateia e me arrefece.
Mas na sexta feira levas. Ai levas, levas. E, daqui até lá, caramba!

Redacção

Eu, se não fosse do Sporting, era do Porto. São engraçados.
Eu também gosto muito do Porto. Tinham o Madjer.

Isto vai bem.

A Caixa, antes que me esqueça.

Bom, basicamente, a Caixa é um sítio onde um tipo remediado mete mil e quatrocentos contos que conseguiu poupar, mete-os lá para os tipos gerirem a massa e, ao fim de seis anos, os tipos dizem-lhe que "pegue lá mil e duzentos contos, e é se quer, que entretanto houve o onze de Setembro na América...".

A caixa é uma bosta gira, gosto que me depositem lá o vencimento, é mesmo de vencimentos que se trata aqui. É disso e de vencidos.

O que me faz lembrar o FCP... estás aí, lolita?

27.11.05

Mas o gajo tem mel, é?

César Peixoto já declarou a Isabel Figueira que antes quer marcar um golo na própria baliza do que vê-la triste.
Isabel Figueira já lhe asseverou que "não faças pela minha vidinha, não, ó Peixotinho, que isto do amor é fodido e, se não te pões a toques, vais outra vez pó Restelo, aquele Sahara azulado, óvistes?".

É trágico. Eu esta semana sou como os Marretas, gosto da vida como ela é.
Mas é só esta semana.

Interlúdio musical

Este ano, o árbitro de serviço conseguiu não marcar penalty a favor do Benfica, depois duma bola douda ter ido, casualmente, à mão dum jogador do Belenenses.
No ano passado era mais um golo do Sabrosita.
Eu sei, que eu vi, que o Benfica jogou melhor. Mas isto não é só jogar melhor, se isto fosse só jogar melhor o Sporting ia agora no "deca-campeonato"!

Topas, ó arquitecta do "quintângulo"?

Espera sentadinho para não te cansares (ou "wait on a little bench in order not to get tired")

Eu devia, antes de mais, inteirar-me do ranking actual da super-liga e em particular do Porto e do Sporting. Dava jeito saber, também, com quem joga o Porto amanhã. Que é amanhã, o jogo, isso eu sei muito bem.

Deduzo, da fanfarronice besugal, que na próxima semana a lagartagem se desloca ao Dragão. Eu compreendo que o besugo se esforce por espantar o temor reverencial, quase religioso, que sente qualquer lagarto ao antecipar jornada tão humilhante. Mas ele sabe que o destino é fatal e que se cumprirá, mais uma vez, a tradição. Ides levar tantos, mas tantos, ó besugo, que quando o Ricardo acordar no dia seguinte há-de sentir o desejo indomável de se exilar num aviário. Nós temos Quaresma, ó impertinente! Temos Lucho e temos... enfim, temos muitos! Ah! O Baía, pois! Sabes que o Baía, aos quinze anos, lia Cesar Pavese? Ah, pois é. Está tudo aqui.

Os binóculos, pois. Tinham gravado, a vermelho, o famoso acrónimo do gigante comunista, eu bem me lembro: CCCP. Tratava-se, enfim, de um souvenir que o besugo trouxe de Minsk quando lá esteve a trabalhar nas minas. Tem outros, nas prateleiras do escritório; uma virgem fosforescente, por exemplo, que mantém ao lado da fotografia do velho Cintra.

Diz ao Bento que se cuide. E que mude de gravata, embora não lhe adiante de muito. Quem nasce Paulo nunca chega a Vítor.

Esta é a semana ("this is the week", para a lolita entender)

Ora bem. Já está o que era fácil. Andávamos a brincar, era?

Agora é só ir ganhar ao Porto.

Eu, uma vez vi um Porto - Sporting de casa de uma amiga que morava perto das Antas. E mora, os andrades é que se mudaram para um sítio novo e muito mal construído. A lolita tambem viu, aliás, embora não perceba nada de futebol. Bom.
Só se via metade do campo, o que prejudicou imenso o Sporting. Era uma casa, portanto, mal situada. Perdemos, fundamentalmente, por isso. Ah! E por causa dum cão que ela, essa amiga, tinha (e tem, que ninguém compra aquilo), era um molosso que salivava muito e, coisas do demo, sobretudo para cima de mim, raio do boi. Ah!, e falta um pormenor não negligenciável, foi, também, (esta é para o Francisco José Viegas) por causa duns binóculos que paravam de funcionar sempre que o Sporting atacava. Eram uns binóculos de fabrico soviético, que eu tinha. Muito bons, mas muito estúpidos para a bola. Não focavam bem o verde.

Bom, lolita: o teu clube que faça o que quiser amanhã, lá no joguito que vocês ainda têm. Eu afirmo isto, convictamente: vamos ganhar ao Dragão, na boa, e mais nada. Não há cá conversas, nem orgulhos, nem preconceitos. Há mas é a chincha e aquele peneirento cheio de "patilhame" - que diz que é melhor que o Ricardo, deixa-me rir - a ir buscá-la, como o Tibi ia. "Vai buscar, Baía, sit Ubu, sit, good dog!".

Topas, ó "menina da barra"?
É a guerra!

A ver se não temos de nos arreliar

O Liedson não joga, não me interessa saber detalhes. Não joga, não joga.

Se o Sporting depende do Liedson para ganhar um jogo, então, batatas para o Sporting.
O Liedson não é o Maradona. Nem o Best. Nem o Ronaldinho. Nem o Deco. Nem o Lampard. E por aí fora. É um tipo magrinho e bom de bola, pronto. A Kate Moss também é uma tipa magrinha e... ponto final.

Por conseguinte, senhores, façam o favor de ganhar, mas é, o jogo ao Guimarães, daqui a bocado. Sem grandes sobressaltos, a menos que queiram que eu me chateie e venha para aqui falar da bola, que nem tenho falado, a lolita e Deus são minhas testemunhas! Não ganheis o caraças do jogo, grandes bois, que ides ver: venho aqui falar da bola e de vós todos, com palavras tão duras e singelas que até vós corais, cambada de peléns em ânsias!

Bem. Andai lá com a vossa vida. Eu já vos avisei. Ó Paulo Bento, muda de gravata, que o meu Pai usava uma assim, há mais de vinte anos e, se tiveres de ganhar, ganhas na mesma, veste-te decentemente, põe uma camisola que está frio, homem! E a camisola evita-te essa paneleirice da gravata, esse adereço panasca para estar no banco. Bom, no BES pode-se, e na Caixa. Eu hei-de dizer-vos o que penso da Caixa, talvez ainda hoje.

Bom. Concentrai-vos e fazei mas é o que tendes a fazer, sem ondas. O resto eu controlo daqui. Remotamente. Sim, com tudo o que o advérbio implica.

Céus

Metade do céu estava zangada com a outra metade. Como se, momentaneamente, houvesse duas partes diferentes e antagónicas em tudo, até no céu.
Eles perceberam isso, que só há um céu, e foi por isso que rumaram à metade mais cinzenta: porque tinha de ser e porque tanto lhes fazia a metade do todo que os cobrisse, estando bem.

Da deriva da noite e do que é

"... na verdade é, também, um mundo que acabou".

Eu desconfio sempre das coisas que "também" são. Nunca são nada: não há nada que seja que seja "também", isso é paleio de cineasta que "também observa pelo ângulo mais obtuso do triângulo equilátero": não o há, é que não o há!

Nem é um mundo que acabou nem, sequer, é um mau mundo.
É muito menos mau, ao menos, que esse mundo novo, feito de mestrados e de "fuçanga", esse mundo dos eternos aprendizes profissionais. Esse mundo prenhe de homilias sobre "eu sou humilde e fiz-me pelas minhas mãos!". Não há punhetas dessas, assim potentes, caramba: não as há! Já as houve, isso sim! Você não vê a semelhança entre esses "injustiçados esforçados" e os bacocos que já nasceram com o jugo sacrista de transportar a pasta ao lente? Essas humildades feitas de costas bambas para tudo menos para o talento lutador do "culambismo"?

Você anda bem, Francisco José Viegas? O empenhamento fá-lo tomar a nuvem por Juno, as geadas por nevões, calorzinhos de ar condicionado por tropicais humidades?
Isto sem ressentimento, juro-lhe, sem qualquer classe (classe, logo eu, ora!), sem qualquer casta que não seja Susana. Lembra-se ao menos desta, ainda? Doces vidas...

Time out é no desporto, na reinação.

Reduzir o PREC a coisas de sacholas, como se vê na agora na televisão, sofismá-lo em coisas do tipo "agora, ó camarada patrão, mandamos todos, pá, a tua sachola agora é nossa e eu não desfaço barba nem patilhas!", é como retirar o Nobel a Egas Moniz.

É querer escrever Avanca com cedilha, antes do tempo. Fora dele.

Canção desnaturada

... ópera, operar, malandro, antigo, palco, pó de talco, purpurina, cais, levanta-te, pernas bambas, olhos de água, belo, bonito, mais ou menos, permitido, tempo, inteira, as noites, febre, cinquenta graus, chorar, cuidar de mim, botequins, leite do peito, engatinhaste a saltitar, cacos, vidro, perdido, para sempre...

Se fosse permitido eu revertia o tempo.
Mas saberia sempre qual era o meu tempo, sem concessões de tonto modernaço.

É uma adenda.

Eu sei que devo ter visto mal.

Felipe Gonzalez é um homem moderno.
Fico sempre perplexo perante homens demasiado modernos com demasiados cabelos brancos. Eu, que já tenho algumas cãs que me bondam, tenho absoluta certeza de que os meus filhos teriam vergonha de mim se eu fosse tão moderno como eles. A modernidade deve ser vista de cima, quando se pode ter estatuto para a ver daí. A modernidade sem crítica é uma modernidade sem critério, sem moderação, sem o benefício da integração nos pensamentos (milhões deles) que lhe vêm de trás. Torna-se a modernidade uma filha sem pais, uma dupla filha da puta.
Talvez eu não o tenha, a esse estatuto, não tenho sequer idade para isso (como tiveram a simpatia de me dizer, um dia, um despeitado qualquer, eu sou - talvez - o chefe de serviço de medicina interna mais novo do país...), mas desgosta-me ver, a quem o tem, desperdiçá-lo a falar para os jovens.

Falar para os jovens é falar à bebé. Uma paneleirice, sobretudo quando já se têm cãs. Um tipo com alguma idade deve moderar os seus entusiasmos perante "biberonada": é tudo leites adaptados.

A vida é simples, mas simplificá-la demais complica-a. Torna-a fácil, em lugar de simples. Uma mulher fácil e uma mulher simples podem conviver na mesma mulher, mas, em não convivendo, cuido que qualquer senhora preferirá ser, simplesmente, simples.
Da vida não sei dizer, mas cuido que não será diferente.

Ontem, fiquei um bocadinho perplexo, perante um homem que deve ter mais trinta anos do que eu, que se assume como um aceitador tácito da globalização, porque ela existe tal como existe. O interlocutor de Gonzalez era Jorge Sampaio, um homem que, apesar de tudo, não me pareceu tão cheio dessas modernas certezas. Mas pareceu-me cheio de outras.

Não consigo, se calhar apenas porque ainda não consigo, ser um alegre aceitador e interpretador de factos. Parece-me a mim que ainda gosto de participar deles, de os criar, de os modificar. De não gostar deles apenas porque existem, porque mos puseram ali, à frente.

26.11.05

Integração de lacunas

A partir de agora, a ingressão no sacerdócio católico deverá depender de uma declaração prestada pelo candidato, por escrito e sob compromisso de honra, em que ateste a sua heterossexualidade.
Em atenção aos candidatos virgens, será meramente facultativa - mas devidamente poderada - a apresentação de declarações abonatórias.

Conforme muitos suspeitam, a culpa disto nem sequer é do Cavaco Silva.

A arrogância mascarada de uma tirada de humor confrangedoramente patetinha. Aqui.

24.11.05

O clássico mais lido de sempre na Grã-Bretanha

Por mail, uma admiradora de Jane Austen (e particularmente de Pride and Prejudice) mostrou conhecer, à vírgula, a declaração de amor de Mr. Darcy a Elizabeth Bennett:
In vain have I struggled. It will not do. My feelings will not be repressed. You must allow me to tell you how ardently I admire and love you.

Lamenta não se lembrar, com semelhante rigor, a resposta de Elizabeth. Não admira, que é bastante mais longa e começa assim:
In such cases as this, it is, I believe, the established mode to express a sense of obligation for the sentiments avowed, however unequally they may be returned. It is natural that obligation should be felt, and if I could feel gratitude, I would now thank you. But I cannot - I have never desired your good opinion, and you have certainly bestowed it most unwillingly. I am sorry to have occasioned pain to any one. It has been most unconsciously done, however, and I hope will be of short duration. The feelings which, you tell me, have long prevented the acknowledgment of your regard, can have little difficulty in overcoming it after this explanation.

O discurso de Elizabeth é longo e acutilante. Humilhada, mas orgulhosa, conclui desta forma arrasadora: From the very beginning, from the first moment I may almost say, of my acquaintance with you, your manners, impressing me with the fullest belief of your arrogance, your conceit, and your selfish disdain of the feelings of others, were such as to form that ground-work of disapprobation, on which succeeding events have built so immoveable a dislike; and I had not known you a month before I felt that you were the last man in the world whom I could ever be prevailed on to marry.

Quando se chega a este capítulo, já há muito se adivinha que Mr. Darcy, embora nunca o declarando, se deixou encantar por Elizabeth. E que Elizabeth, ainda que se empenhe em mostrar indiferença, senão desprezo, pela arrogância altiva de Darcy, há-de soçobrar. Por muitas vezes que se leia o livro, o que nos prende à leitura é a vontade de saber se será na página seguinte que os dois, finalmente, se entenderão. Procuramos, claro, o brilho dos amores impossíveis.

Presidenciais

Fazendo eu parte de um blog que deliberou dar oficialmente apoio ao Manuel Alegre, apoio esse que, por parte dos meus colegas é mais que oficial, pessoal e fervoroso, venho aqui também escrever sobre o assunto “presidenciais”. Em termos dificilmente publicáveis no blog da campanha do M. Alegre, mas ainda assim nos meus termos. E vou dizer o que acho de cada um dos candidatos, e do que têm feito.

a) Cavaco – Vai gerindo com, mais que parcimónia, prudência as suas intervenções. E é criticado por isso (neste blog é mais gozado, mas isso tem que ver com o carácter lúdico que é comum a todos os seus escritores).

No entanto, e pensando em termos estritamente políticos, faz bem.

Cavaco enfrenta um de dois cenários. Ou ganha na primeira volta ou tem que debater – a sério - na campanha da segunda volta. Para ele, não se põe sequer a questão de não passar à segunda volta.

Encarando o primeiro destes cenários, Cavaco é colocado ante uma campanha em que há vários outros candidatos. Sabe que todos dirão mal dele, mas sabe também que todos dirão mal uns dos outros, até porque, ou estão a marcar terreno na esquerda eleitoral (Jerónimo e Louçã), ou estão a disputar entre si a passagem à segunda volta (Alegre e Soares). Cavaco não só não tem qualquer necessidade de entrar “na guerra” como, pelo seu comedimento eleitoral, faz passar para o primeiro plano noticioso não o que dele os outros dizem, mas o que entre eles é dito. E ele lá vai cumprindo o seu calendário, numa campanha verdadeiramente à parte.

É certo que isso pode provocar o seu apagamento nesta campanha, mas é incerto que isso o prejudique. Pode na verdade impedi-lo de ganhar na primeira volta, mas que consequências teria para ele entrar a fundo em controvérsia com outros candidatos? Provavelmente, e porque não é fácil “disparar” contra quatro, com o mesmo impacto mediático, teria que “eleger” um adversário principal. O que este, obviamente, agradeceria. E o que daria a este inegável vantagem numa segunda volta.

Assim, acho que Cavaco não quer repetir o erro de Freitas em 1986. Que apostou tudo na primeira volta, chegando, “a bout de souffle” e sem mais nada para dar, à segunda que, inapelavelmente, perdeu.

E por isso, Cavaco só fará verdadeiramente campanha na segunda volta. Se precisar de a fazer. Contra um adversário que ele já sabe quem é. E com quem entrará, seguramente, em forte polémica.

b) Soares – É o mais “político” dos candidatos. No sentido de que é aquele que tem maior intuição sobre aquilo de que necessita para ganhar o seu primeiro grande objectivo: passar à segunda volta.

Para atingir esse objectivo, Soares tem necessidade de forçar a bipolarização da campanha. E foi por isso que se lançou em sucessivos e violentos ataques ao Cavaco. Não lhe correu, no entanto, bem. O Cavaco não só não contra-ataca como – e muito bem – salientou hoje o Manuel Alegre na entrevista publicada no Público – “nem sequer se defende”. Soares fica assim a falar sozinho, e começa, no que já parece manobra de recurso, a atacar o próprio Manuel Alegre (por via da, fisicamente, interessante Joana Amaral Dias). O que duvido que surta outro efeito se não o de reforçar a ideia de que o Manuel Alegre começa a deter vantagem à esquerda.

É prematuro vaticinar derrota ao Mário Soares, conhecida que é a sua capacidade política. Mas que a vida não lhe tem corrido bem é uma evidência.

c) Alegre – Passada uma fase de indefinição, quase apagamento do palco mediático, por força da primeira vaga de assalto que a este (ao palco) fez o Soares, começa a ressurgir. Tem um discurso bastante bem construído e, a meu ver, lançou no momento certo (no início do abrandamento da campanha do Soares) um “facto político” (que é, como se sabe, aquilo que aguça o lápis aos jornalistas) ao falar/recordar as peripécias do processo interno do PS que levou ao apoio oficial deste partido ao Soares.

Recuperado o palco, e com as sondagens sempre a favorecê-lo, opta por um discurso que é sereno, que não dá demasiada importância a nenhum dos outros candidatos (nem sequer ao Cavaco) e que, pela diferença, o faz marcar pontos face ao Soares. De tudo é bom exemplo a excelente entrevista hoje publicada no “Público”. Vale a pena lê-la.

É, para meu desgosto, um discurso fortemente marcado pelos temas caros à esquerda (defendendo, por exemplo, a solução legislativa do aborto), mas ainda assim demarca-se da histeria anti-cavaquista (ao dizer que a democracia não está em risco se ele for eleito, juntando no entanto que a sua natureza “crispada”, a par de uma hipotética tendência do mesmo para apoiar soluções ultra-liberais poderá vir a resultar, na actual conjuntura, no agravamento futuro de fracturas sociais).

Mas compreende-se que o seu discurso seja essencialmente virado para o eleitorado “de esquerda”. Afinal, Alegre não está ainda a fazer campanha para ganhar as eleições, mas apenas para forçar Cavaco a uma segunda volta contra ele. Aí sim, terá que recentrar o discurso. O que não significa retirar uma vírgula que seja ao que já disse e dirá até à primeira volta. Significa apenas que os “leit motivs” do seu discurso terão que ser dirigidos a todo o eleitorado, e não a metade dele.

O Cavaco que se cuide, se houver segunda volta e o Manuel Alegre fôr nela o seu adversário.

d) Jerónimo – Gozando do capital de simpatia que a recente campanha autárquica lhe granjeou e não temendo a comparação com Francisco Louçã, candidatou-se procurando, por um lado, não o desbaratar e, por outro, dar ao “seu” eleitorado um quadrado onde colocar a cruz. Faz a sua campanha, com os temas habituais num líder do PCP e com um objectivo não confesso. Ter mais votos que o Louçã. Acredito que terá, porque é menos afectado do que o seu adversário directo pela bipolarização à esquerda.

e) Louçã – Já me enganei muitas vezes ( deve ser por isso, entre outras coisas, que não aprecio particularmente o Cavaco), por isso posso estar mais uma vez enganado, mas acho que a vida não vai correr bem ao Louçã nestas eleições. O eleitorado BE é muito volátil e não se me afigura que o mesmo possa votar maciça e ordeiramente no candidato “oficial” que lhe foi indicado, mesmo sendo ele o inevitável Francisco Louçã. Por um lado, porque este heterogéneo eleitorado, essencialmente urbano, é composto por realidades tão diferentes como filhos-família “com vontade de ser diferentes” de votantes do PSD e do CDS e também soixante-huitards serôdios que se zangaram com o PS e/ou se desiludiram com o PC e se acham pós-modernos. E esta malta é bem capaz de votar no Cavaco, no Alegre ou no Soares, por razões que só eles sabem, do alto da sua suprema “coerência” de raciocínio, explicar.

23.11.05

Orgulho e preconceito



Uma série produzida pela BBC, por muito que isto pareça generalizador, é sempre muito boa. E, aliás, basta ler um romance da Jane Austen para se perceber como são profundamente adaptáveis a séries de televisão de sucesso. O que se aprecia, ao segundo, nestas séries são as subtilezas dos sorrisos, dos olhares, das entrelinhas dos diálogos. E a delicadeza das envolventes: tudo é delicado, suave, contido, tanto que nos convencemos de que a Inglaterra era, naquela época, composta apenas de bosques e campos verdejantes e por pessoas que falavam correntemente um inglês irreprensível, quer manifestando gratidão ao responder "Indeed, you're most kind" ou declarando um amor ardente ao sussurar "I ardently admire you".
Vêem-se estas séries britânicas, primorosas, com o mesmo prazer e com o mesmo abandono com que se saboreia um café perfumado num dia calmo. E, claro, inevitavelmente torcemos para que Mr. Darcy, the handsome, severe and cold gentleman, conquiste finalmente Elizabeth Bennett, teimosa e íntegra herdeira de apenas três mil libras e que, no início do século dezanove, não aceitava casar a não ser por amor.

Tudo junto

A Teresa vai fazer uma TC amanhã, para ver se está pior. E deve estar. É um exame que não lhe vai doer e que lhe pedi para ter a certeza de que ela está pior daquilo que eu penso que está pior, e não doutra coisa qualquer. É importante, perante as nossas impotências, termos a certeza delas. Não há nada pior do que esta hipótese assassina de "poder haver outra coisa qualquer por detrás disto, que eu não estou a ver agora, merda!", essa possibilidade quase mágica de se poder fazer alguma coisa diferente, mesmo que isso nos confronte com o erro e nos obrigue a morrer, também, um bocadinho mais, por nos questionarmos na nossa (in)certeza: é o menos que se pode fazer com quem nos morre, percebermos-lhes a morte e levarmos aquela merda infame de nos morrerem a sério, embora pressintamos que não vai acontecer o mesmo connosco, quando formos nós, não sabemos bem porquê, é como se se nos acabasse a magia toda, é verdade.

O Ezequiel, não lhe bastando o que já tem, arranjou agora uma dor no ombro, que me parece ser "mais do mesmo". Vamos a ver se lhe tirei a dor, de hoje para amanhã, na certeza de que me morrerá em menos de um ano. Isso garanto. Quase. É um caso menos "florido", menos dado a dúvidas. Ele é que as tem, que não percebe quão ligados andam os seus problemas, os de agora, ao que teve primeiro, nos intestinos. A TC ao ombro não adiantou: diz o colega que sim, que pode ser tudo aquilo que eu lhe coloquei como hipóteses, na requisição. Muito obrigado, vale a pena esta defesa "em linha", nunca se falha. Foda-se o fiscal de linha! Não fico feliz, excepto se lhe tirar a dor. Vai-se num ano, o Ezequiel. Menos, talvez. Talvez um ano, sim. Já vi que tem aquela força absurda dos rústicos: se não souber que se vai lixar em breve, aguenta-se. Se souber, fina-se encolhido, deixa de aparecer e, por fim, vem no jornal da terra, com a cara de quando era novo.

O Teixeira dura menos. Não tem estrutura para se adiar. Entra com a mulher e faz os tratamentos já com ar de enterro. Não sei. Não sei. Alguém lhe disse, ou eu me escondi mal no meu sorriso de imbecil e ele leu-me na fundura da fachada. E a mulher sabe no peito o que ele tem, que o ama: vê-se bem que o ama, que está sempre ali, fechada e junta.

A Sandra, a tonta, diz que já não vem amanhã. Se estiver enjoada, não vem e "quero que se lixem todos!". Está bem, levou hoje dose boa, vai aguentar-se, acredito que arrebita, mas vai dar o trabalho e a canseira do costume: já quando foi da primeira vez fez tropelias e eu disse, hoje, que lhe mando a guarda a casa, se me faltar. Olha-me com cara de desafio, rabina de merda, como se perguntasse: fazias-me isso, tu? E eu fazia, sei lá, acho que fazia. Ela tem 28 anos e um filho, fazia? Não fazia nada.

E o Correia? O Correia não sei. Já o vi por-se de pé meia dúzia de vezes, nos últimos dois anos e meio, mas, desta vez, parece-me caído de mais para ainda vermos, juntos, o Sporting fazer coisa de jeito. Acho que se vai, se não for da doença vai da cura. Que imbecilidade de frase, não é assim, mas quase que parece. Às tantas é, que é o que costuma acontecer com as coisas que parecem muito.

A Clara não está pior da falta de ar, mas insiste que não quer tirar a mama. Não que se pudesse (ou que adiantasse) tirar-lha agora. Mas insiste em que nada se faça, a termos de lhe tirar alguma coisa, senão tirar-lhe a falta de ar, e ela diz que está melhor dela, embora eu ache que não está, mas acha ela, quem manda aqui, merda?, é ela, pois. E eu? Eu, nada.

O Cândido vai morrer lentamente e "fivelinhas", pele e osso. Pressente-se-lhe a lentidão em tudo, há muito tempo, até na morte que há-de vir, devagar e consumptiva, degradante, cheia de escaras espalhadas: a negação do corpo traduzida em chagas.

Quando calha haver vários assim, ao mesmo tempo, vamo-nos abaixo do pescoço. E pensamos que somos nós que estamos mal, que o sofrimento é nosso. Depois, alguém nos abre os olhos e nos diz uma coisa simples, que pouca gente se lembra de dizer: "tu és bom médico", "olha que tu deves ter feito o que devias fazer, que eu sei que sim", e não é que se sofra menos, não é que a dor funda se vá embora, mas parece que se sofre diferente, percebe-se outra vez quem são os "artistas" destes filmes de merda a que assistimos e sentimos alguma vergonha por termos andado enganados a pensar que éramos nós. Para o bem e para o mal, não somos. Ao menos isso ainda não somos.

21.11.05

Dos rumos

"... e fizeram bem a curva, alinhados, cordeiros de Deus, aquela curva fechada e cega, uma vez chegados àquele cruzamento largo que cuidaram ser o fim do caminho, porque lhes tinham dito que era o fim do caminho e, portanto, era, mas tinham-nos tapado, aos outros, e eles sabiam que sim, que talvez estivessem lá, mas tinham-nos escondido, com medos de sangue e de cansaços, e já não percebiam de caminhos, nem queriam saber de mais nada que não fosse parar e voltar para trás, e por isso o cruzamento era, para todos os efeitos, um beco sem saída, e eles recuaram, curvaram-se e curvaram os passos pequeninos. Curva fechada, olhos fechados, fincados no chão, não fossem reconhecer, ao longe, o lugar de onde tinham vindo, dobrando a suspeita do logro, duas vezes pouca coisa.
Fizeram-na ordeiramente, à curva fechada do retorno, da retoma, derrapando pouco, que era, afinal, vendo bem e porque lhes disseram que o era, uma rotunda, em lugar de se agarrarem à estrada com a força das pernas e dos braços, de pegarem na catana e continuarem a desbravar o mato e a abrir outros caminhos, os que estavam escondidos por detrás dos tapumes com anúncios a telemóveis e a créditos pessoais, outros caminhos quaiquer que não soassem, no fragor cobarde dos passinhos tímidos, a debandada organizada. Às arrecuas, sempre, como sempre, em frente, aceitaram que lhes tirassem coisas, porque estavam formatados para se sentirem culpados, mesmo, de estarem vivos, quanto mais das poucas coisas que tinham, porque pensavam que lhas tinham dado e que não as mereciam, porque foi assim que lhes foram ensinando.
E quando o décimo terceiro e o décimo quarto mês lhes foram sonegados, entenderam perfeitamente, que estava muito bem, porque lhes tinham dito, certeiramente, que só trabalhavam doze meses. E quando lhes meteram pelos olhos dentro que só trabalhavam onze meses, afinal, que um era de férias, calaram-se, que sim, e só quiseram onze meses de salário. E quando lhes propuseram que trabalhassem por sete contos, para que as fábricas da Toyota e da Volkswagen, e outras assim grandes, não se instalassem na China ou no Paquistão, onde povos evoluídos de países que vão para a frente trabalham por esse justo salário, disseram que sim, também. Que queriam muito ir para a frente, também. E viveram com sete contos vezes onze, os setenta e sete contos de pré-história a que tinham direito, a fabricarem coisas que não podiam comprar, nem possuir, como dantes, mas felizes porque alguém as teria por eles, como dantes, dando-lhes sete contos, como dantes. E foram indo, sempre em frente, para trás, andando sempre, muito competitivos na desgraça, muito modernos, como sempre."

20.11.05

Uma eterna folha A4

Esta noite não vai dormir as horas todas e amanhã há-de acordar mais cansado do que devia. Mas, na verdade, não se pode nem se deve interromper um ímpeto inspirado de uma dedicatória caudalosa de amor de um pequenino, a mais forte e mais incondicional recompensa dada a quem ama sem limites. Conseguiu, até, a proeza de fazer doce poesia com o tamanho uniformizado do papel. Precisaria de mil folhas, escreveu ele, para descrever. O quê? Isso está escrito na folha e nos nossos olhos.

Já agora

Se amanhã nos vier aí uma réstea de sol azul e amarelo por entre as cargas de água, havemos de escutar Brahms nos píncaros da altura, de zanzar pelo quintal a conversar de tudo, de jogar à bola um bocadinho, e quem a mandar à água vai lá buscá-la. Como no ano passado. Fui vestido. Canalhada. Bois!

Depois, havemos de ver o Sporting a ganhar em Penafiel, já com de noite.
E, se não for assim, será só mais uma merda duma véspera de segunda-feira, em lugar de ser um domingo, mas não há-de morrer ninguém só por causa disso. Pois não? Só por causa disso não.

Vinte de Novembro. Não pode correr nada mal, pois não? Também não, não pode.
Digo eu, mas eu sou responsável pela perda de linques deste blogue. O arguto e imprescindível ao mundo Pacheco Pereira, entre outros que o fizeram à sorrelfa, deslincaram-nos. Pelo menos não nos vejo lá. A sério que não nos vejo lá, palavra de honra.

Vinte de Novembro

A lolita faz anos. E eu gostava que ela tivesse, nas próximas horas, todos os abraços que merece, em lugar de ter só este, dado de longe.
Digo-te isto, lolita: que este abraço seja o pior de todos os que vais ter, embora saibas que é apertadinho. Nem eu sei dar doutros, ainda mais a ti.

Abri a janela e os paralelos brilham tanto que parece que já passou muito tempo por esta estrada debaixo dos meus olhos, mas não passou, é da luz dos candeeiros e da chuva miudinha.

Parabéns. Pronto. Não sou bom nestas merdas.

O nó

O aperto começou-me no meio do peito e estranhei, que antes estava bem.
Desapertei a gravata e fui abrir a janela, notando que suava. "É do calor", pensei, embora Novembro seja o tempo dos primeiros frios.
Estava enjoado e, se não me contivesse, vomitava. "Que é que eu tenho?", que me aperta o peito como se fosse uma prensa, lembrei-me da prensa das uvas que o meu avô tinha lá em casa, no armazém, e pensei que estava nela, ele a apertar cada vez mais , para sair o sumo, e eu cada vez mais enjoado, o cheiro do "mascoto" a nausear-me o raciocínio.
"Aperta cada vez mais, eu vou morrer, tu queres ver que vou morrer?!", e de quê, que é esta merda, eu estava tão bem, dei um beijo aos filhos de manhã, como de costume, e agora estou assim, não quero aqui ninguém, eu estou bem, estou bem, não, não quero nada, quero que me digam o que tenho, quero que me digam que estou bem, mas não estou, aperta-me já no queixo, agora, "Aperta-me no queixo!", merda, "ó Luciana! venha cá!", ela veio "que tem, senhor doutor?", "não tenho nada, a verdade é que não tenho nada se você, que é a única pessoa que está aqui, me safar disto, ajude-me, Luciana!", e ela, competente, sabedora das regras que impõem a família como valor absoluto do absolutamente correcto, lá foi, ligeira, saindo dali, devagarinho e ligeira, naquela rapidez lerda e costumeira da circunstância, deixando-me o sossego suado, cada vez mais suado e frio, de que "vou ligar à sua esposa, senhor doutor", e eu a pensar, já de certeza feita, "estou fodido, que o aperto é uma merda qualquer do coração e demora muito a marcar as teclas todas do meu 112 privativo, que nunca há-de chegar".

Não sei se morri ou não, eu sei lá se faço parte dos que, em se antecipando, têm a sorte inteira e calma dos que se antecipam bem, ainda a tempo de quase tudo?

Um trombo na corrente é uma jangada em que já não viaja ninguém

Deitado na maca, sei muito bem o quero dizer mas não me sai. Um tipo de bata pergunta-me como me chamo e eu sei muito bem que me chamo José Luís, mas balbucio, só, "pneu".

O tipo de bata, que conseguiu olhar-me dentro dois segundos, depois olhou para fora, diz a uma tipa de pijama azul, loira e de olhos azuis como o pijama, que devo ter um enfarte do território da cerebral média esquerda, o que deve ser verdade: tentei esmurrá-lo com a mão direita, pontapeá-lo com o pé direito, e só senti a impotência e a vómica das vertigens. Nenhum dos membros se mexeu. A minha impotência funcional impediu-me um processo no cível, que eu sei muito bem que tenho uma puta duma trombose e que não há vara criminal para os deficitários do encéfalo.
Se conseguisse, dizia-lhe que a cerebral posterior deve estar lixada, também, porque sinto muitas tonturas. Mas não consigo. Só consigo dizer "pneu" e coisas assim, de borracha. Talvez seja um sinal para apagar a vida que tive e começar outra, mas vai ser difícil, não sou canhoto senão de pensamento. E foi desse lado que se me entupiram os vasos, devo estar prestes a cantar uma coisa qualquer da Madalena Iglésias, sei quem ele é, a irmã do Julio, não me liguem, devo estar a ficar pior, já nem o lobo límbico me salva de mim e do meu museu dos coxos, putas das artérias e da nau catrineta, eu era o segundo marinheiro, o que dava "a baínha do meu punhal".

19.11.05

Su. Sim, su.

Gosto de saber que José Mourinho tem sucesso. Ele tira o islandês e mete o Cole, tira o argentino que devia estar no Sporting, o Crespo (parece nome de locutor antigo) e mete o Drogba (que parece o Varela, com mais vinte centímetros e mais vinte quilos e mais rapidez, o que é estranho...), tira o Makelele e mete o Essien. Gosto dele porque aproveita o que tem. Gostava mais dele se dissesse que o seu sucesso reside nisso: sabe (e isto é um elogio) aproveitar o que tem, que é muito bom. Assim era lindo. Escusava Portugal de achar que está ali um tipo melhor que o velho Ferguson, que o velho Cajuda. Todos percebíamos que ele era bom, mas pagava-se-lhe menos em publicidade (aliás, banco que ele publicite, o magricela de Setúbal, são mais vinte contos que meto debaixo do colchão!).

Já não gosto, mas isso não é da responsabilidade de Mourinho (sim, que se uma tipa que nos entra no Fiat Uno e nos diz "agora vou dar uso às papilas gustativas", enquanto se agacha em cima do travão de mão, junta acção às palavras que profere, a culpa não é nossa, é dela, é conforme ela "profere", ó mãe tu não leias isto, vai ler os "Early Morning Blogs", que tem lá poemas e tudo, ó lolita, tu não me expulses, eu não estou em mim, que não sou, sequer, dado à autofagia... alguém que me cale, valha-me Deus!), quando ele deixa no ar a hipótese de o Chelsea ser uma espécie de União de Leiria. Não gosto. Se o Chelsea fosse o União de Leiria, a Joana Amaral Dias fazia novelas mexicanas, e o Cavaco Silva fazia de Joaquim de Almeida a levar na tromba do Sean Penn. Ora, isto não se passa, sobretudo porque o Sean Penn não vai à tromba a ninguém sem ser em filme ou à Madona, que também ... enfim, cala-te boca.

Eu sei. Sou recorrente, estúpido e essas coisas todas.
Ó Mãe. Não é isso, é que é sábado e os Village People só foram a Lisboa, eu tenho culpa de estar triste?

Que se pode dizer mais?

Não foi muito, não senhor. Completa e plenamente de acordo.

Olha eu, de acordo com uma coisa que se escreveu no Vilacondense, é para aí a sexta vez em mais de dois anos! E eu vou sempre ler os "gémeos aditivados", agora já são quatro (ou são só três?), sei do que falo, embora não saiba de quem falo...

Isto do anonimato na blogosfera é uma coisa que me perturba, não sei. Se não se vê o rosto de quem profere as coisas é "proferível" deixar crescer as barbas. Eu penso que é isso que faz Pacheco Pereira, que, aliás, ou vem aí a lei da blogo-vigilância, ou vai ficar parecido com o irmão do Pinto da Costa, aquele que gostava de dar as aulas em "diaporama" enquanto deixava crescer a penugem fácio-cervical...
De dar aulas, não. De as vender.
Isto sem ofensa, eu sei que há uma mesa de Morgani que espera por mim, tenham lá calma, eu não ando aqui para ofender ninguém.

A limpeza

Tem sido difícil, quer aos aparelhos partidários, quer à comunicação social disfarçar o incómodo que lhes causa a candidatura de Manuel Alegre. Quando Salgado Zenha meteu pés ao caminho e apresentou-se sozinho a votos ainda a nação não estava profusamente armadilhada com o caciquismo de aparelho que, até hoje, controla e manipula as intenções de voto, de forma tão devastadora que só aquela franja de eleitores que oscila entre "pode ser um pastel de nata" e "não me apetece nada que estou com azia" constitui a incógnita dos sufrágios, já que tudo o resto é mera contagem de espingardas. Na época, ainda as eleições eram imprevisíveis, ou podiam ser mesmo que não o fossem.

Há, de facto, o eleitor caninamente fiel, que aguarda ordeiramente instruções do seu partido sobre qual deve ser o sentido de voto, que depois executa, em estrito cumprimento do dever. Quer fazendo campanha - quero dizer, promovendo o debate político-ideológico com gritos como "Sócras!!", "Soares é fixe" ou "Cavaco Silva é um homem sério" - quer exercendo o dever cívico da obediência cega ao partido, que nunca lhe deu nada mas também nunca lhe tirou (porque isso só os da oposição do seu partido fizeram), ao sufragar na escolha heterodeterminada.

Era a estes eleitores que Joana Amaral Dias, alarmada com os riscos que corre o seu mandante, se dirigia naquela crónica que escreveu no Diário de Notícias. Afinal, estava tudo preparado para que a eleição do PR fosse mais uma ponderação da força relativa dos partidos do regime, ainda que contasse, como costuma acontecer, com uns outsiders sedentos de notoriedade, cuja expressividade eleitoral não cabe no cérebro de uma galinha (que é, como se sabe, pouco maior do que um T-1 na Porcalhota).

O que sucedeu, porém, foi que a candidatura de Manuel Alegre veio colocar à transparência os tumores da partidocracia infiltrada. Só não vê quem não quer, de tão óbvio. Teria Cavaco Silva tantas intenções de voto como rezam as sondagens se não contasse com o fervor do PSD? Descia para menos de metade, digo eu. Soares, sozinho, sem o PS a ampará-lo, seria mais do que provavelmente posto de parte, por obsolescência. Não interessa se isso seria o correcto, o certo é que seria assim.

É provável que Manuel Alegre não venha a ser o próximo presidente da República, mas eu gostaria, pelo menos, que o apoio - crescente - que vem reunindo seja sintoma, ainda que embrionário, da massa crítica que nos falta. Nas bases. Nas massas. No Pobão, que a Rititi diz odiar. O elixir da civilização, que nunca tivémos e no que, pobres de nós, somos parecidos com os americanos.
Ninguém precisaria, então, do Vasco Pulido Valente ou do Pacheco Pereira. Bastar-nos-íamos com o Luís Delgado, para os momentos de descontracção.

Isto hoje vai sem links. As minhas desculpas.

Mais uma coisa que a minha Mãe não pode ler

Mário Soares, entusiasmado, usou a expressão que (a seguir a vivó Benfica!) mais me faria desligar-lhe o voto, se lho tivesse ligado ainda: quer, agora, "que Portugal vá pá frente". Disse-o na Covilhã, que é uma terra quase vazia, mas vale na mesma.
Ninguém explica a esta gente que Portugal está muito bem onde está? Não? Então está bem, andai lá com a vossa vida, provoca-me o efeito duma brisa, isso.

Jerónimo de Sousa, pelo seu lado, teme que, com Cavaco, Sócrates tenda para governar à direita. Isto é comovente e daria um livro, daria mesmo um filme, se Cunhal fosse vivo: exactamente, o excelente "Ainda mais, camarada?".

É claro que Portugal atravessa dificuldades. E, reparem, está quietinho no seu sítio. Imaginem-no agora a ir para a frente, a fazer-se ao "grande mar da economia", a pagar salários iguais aos da República Checa ou da Eslovénia, já nem falo da China, esse grande povo que cozinha fritos para fora. Atravessaria Adamastores mesmo no Báltico, mesmo no Mar Morto, que é aquela merda líquida e cheia de sal que a Terra ainda suporta porque ninguém se lembrou de transformar aquilo num imenso SPA para gordas e fanados.

Há gente que gosta da sua História mas que, quando lhe falta o pilim para jantar fora, nem que seja numa churrasqueira, a partir do dia dezassete dum mês qualquer, começa a querer reescrever os Lusíadas à sua maneira.
E há sempre gente de bem (é consigo, Dr. Mário Soares) que anda à babugem. A ver se lhe apanha, a essa gente, o discurso e o voto. Nunca apanha. O senhor devia saber mais do que isso. É um discurso que provém da fome mais parva que há, sabe? Quem quer essa hipotética "ida pá frente de Portugal", o que quer, é mais salsichas. É gente que tem aquela imensa fome de consumir, aquela coisa sem jeito, tipo gripe das galinhas, que se fomenta por cá para justificar que se explore gente na China, e por aí, nesses países grandes e amarelos em que a economia cresce muito, imaginando que Portugal cresce muito e vai pá frente se for igual e, ainda por cima, sem ficar amarelo. Fica-se sempre um bocadinho amarelo. Não sabiam?

Levem Portugal para onde quiserem, mas se for para a frente permitam-me que coloque os pés no fundo enquanto os senhores remam. Que não remam, cansa muito. Gostavam era de me convencer a remar a mim, não era(?), pois era, os senhores ao leme, cada ferrinho sete mãos, e um lá em cima, na cestinha das vistas... pois. Mas não, eu vou agora noutro barco.

Léu: defesa central. Já há o Nem, que é do Braga.

Os meus amigos cavaquistas adoptaram um refrão quadrado. Quem sabe de música, sabe que um refrão quadrado, em havendo melodia simplezinha, só precisa de subir, no fim, para ganhar o festival. É uma qualidade intrínseca à falta de qualidade, é uma característica de produto. Um produto é a compactação fecal da arte. Quem é dado a produtos nem com lactulose fará arte, fará sempre, com dificuldade, produtos.
Isto digo eu, que não sei de arte e, aliás, a odeio. Por isso mesmo, por não saber, acertaram.

Adoptaram, parece, este refrão:

"Gosto dele porque diz que é sério
E sério me parece, ele
Sobretudo porque diz que sim, que sim, que sim
Ai Deus , ai u-é."

Parece o refrão duma cantiga de amigo adoentado, ou um arremedo vicentino made in Samicas de Caganeira, lactuloses em excesso, eu sei lá que mais: o cu nem é meu, convenhamos. E, em vindo a ser o meu, não fui ao menos eu que o pus ao léu.

Mais uma vela acesa

Cumpriu dezasseis anos, o meu filho mais velho. Teve, hoje, a festa da família que cá tem no Douro, avós, tios, primos e alguns amigos.
Vieram os meus Pais, também.

O meu Pai, que não me lê (não tem computador e eu não costumo falar-lhe destas lides simples de me verter aqui, nem ele me leria, às tantas, de qualquer maneira), numa discussão pacífica - até certa altura - sobre a política e os valores, afirmou que vai votar em Manuel Alegre. Eu nem sabia. E disse-lhe do que tenho pensado a esse respeito, para espanto e irritação de alguns Soaristas primários, que também os tenho na família e entre os amigos. Até Cavaquistas, o que me gera sempre desconfortos momentâneos de besugo, logo tratados com o "Alka Seltzer" do costume: "está bem, dá-vos para aí, isso não me tira o sono porque tenho outras coisas que mo tiram, quando calha, essa já não".
Cindir em dois o aniversário do meu filho mais velho, como se ele fosse pretexto para confronto de "quase iguais", não aceito. E, sem qualquer qualidade apreciável que me recomende para moderador, antes pelo contrário, calmei as hostes. Amigos são hostes comuns; a deixar de ser assim, então, quero outro mundo.

Mas o meu Pai, antes de se ir embora, pediu-me que "olha, já que escreves lá nisso que dizes, bota lá que o teu pai vai votar no Manuel Alegre, que até se lembra dele de Coimbra".

O meu pai não se licenciou. Mas andou lá, em Coimbra, na Escola Agrícola. E ouviu José Afonso, com encantamento. Comprou-lhe os discos todos, há meia dúzia de anos. E lembra-se, ainda, de ter ouvido Manuel Alegre dizer coisas. Até coisas que, depois, outros cantaram. É relativamente antigo, o meu bonito pai. Parece que gostou de o ouvir, eu nem sabia disso.

E, a bem da verdade, quando ouviu dizer aqui, em conversa rasa de circunstância, que Manuel Alegre "não passava de um homem de aparelho", como se estivéssemos a falar, por exemplo, de António José Seguro ou de José Sócrates, teve um "frenicoque". E, da completa e alta brancura dos seus setenta anos, pediu-me que dissesse, aqui, conforme disse lá dentro, na sala, que Manuel Alegre tem garantido mais um voto. E eu vim aqui deixá-lo, ao voto dele, sem outra pretensão que não seja cumprir pedido paterno, numa altura da vida em que um pedido paterno se reassume como ordem, como quando eu tinha dezasseis anos, a idade do meu filho mais velho, que é por onde esta babel de letras de hoje começou. E onde acaba já, que eu decidi não vos maçar muito mais, em conseguindo.

18.11.05

Sobre obras primas

Claro que estás de parabéns, besugo. A tua obra prima (uma delas) continua ternurenta, portanto igual naquilo que interessa que permaneça, mas diferente naquilo que lhe impuseram as dores do crescimento. Notei hoje que já tem voz de quase-homem e que, ainda que (também) não perceba nada de Finanças, está cada vez mais a perceber de si. É-lhe inato, o pensamento; os livros só o despertam.

Parabéns, pois. Aos dois. Um beijo grande, ganapito.

É pena que não seja mais Aguaviva



Havia este disco em minha casa, um 33 rotações que tinha precisamente esta capa. Procurei incansavelmente, por aí, a ver se encontrava a música, mas em vão. Debalde. Resta-me resignar-me: hoje, o mundo é muito mais madonnável do que andaluz, coño. Seja.

Amar a pátria também é admirar, contemplativamente, a pátria alheia.

Fica, aqui, só o poema, do poeta andaluz de outrora: Rafael Alberti.

Qué cantan los poetas andaluces de ahora
qué miran los poetas andaluces de ahora
qué sientes los poetas andaluces de ahora

Cantan con voz de hombre, pero, dónde los hombres
con ojos de hombre miran, pero, dónde los hombres
con pecho de hombre sienten, pero, dónde los hombres

Cantan, y cuando cantan parece que están solos
miran, y cuando miran parece que están solos
sienten, y cuando sienten parece que están solos

Es que ya Andalucia se ha quedado sin nadie
es que acaso en los montes andaluces no hay nadie
qué en los mares y campos andaluces no hay nadie

No habrá ya quien respnds a la voz del poeta
quien mira al corazón sin muros del poeta
tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta

Cantad alto, Oiréis que oyen otros oldos
mirad alto, veréis que miran otros ojos
latid alto, Sabréis que palpita otra sangre

No es más hondo el poet en su oscuro subsuelo encerrado
su canto ascienda a más profundo
cuando, abierta en el aire, ya es de todos los hombres

Uma história pequena de amor grande

Ele tinha medo de andar de avião, ela dizia-lhe sempre que era uma tolice. Um dia, voaram juntos, que ela convenceu-o. E calhou, que as coisas ao calhar podem sempre calhar, despenhar-se o avião em que voavam.
Ambos sentiram o medo que antecede a morte, quando ela dá tempo para tanto, e no caso deles deu. Mas ele não foi capaz de a deixar morrer com ele sem lhe dizer que tinham feito bem em voar juntos. Nunca se saberá se ela o ouviu, mas ele disse-lhe.

17.11.05

Eu lamento...

... mas este não é um blogue sério.
Podia ser mais, até admito, mas eu, pelo menos, não consigo franzir o sobrolho enquanto escrevo, como faz o JPP. Na essência, porém, todos os umbigos são iguais e eu, de dia, escrevo bastante, mas não é aqui.
São os prazos, como diz o Alonso. Os malditos prazos.

Uma coisa bonita e uma coisa feia

A coisa bonita fez a lolita. Escreveu-a. Quero lá saber se concordam, eu não faço perguntas a quem sabe menos do que eu. Ou a quem acho que sabe menos. Escolha minha, decisão minha, verdade absoluta. No que a este particular diz respeito, sim, eu é que sei.
Bom jogo, excelente jogo.

A feia faço eu. Estou com gripe, com o corpo dorido. Nada de grave. Vejo os doentes com máscara. Amanhã. Haverá menos desmaios de fascínio, eu sei, mas eu resisto a um dia de anonimato técnico. A gripe (ou o resfriado comum, que me parece ser mais o caso) dá má disposição.
De passagem pela televisão ouvi Pires de Lima a explicar que, quem desconta na vida activa inteira, 11% para "o fundo das reformas", "tecnicamente, não paga os vinte anos que andou a estudar, nem os vinte anos que ainda vai viver".
Eu gosto de Pires de Lima. Falta-lhe arcanho para ser um pugilista de mero peso-médio, mas cara já tem. E até parece bom tipo. Mas chateiam-me estas reduções técnicas quando se fala de coisas sérias e "finitas", que envolvem valores mais valiosos do que a técnica, passe a valia da técnica "itself". Envolvem os nossos velhos, os nossos "cansados da vida".

A coisa feia é esta, portanto: eu espero que Pires de Lima, já que os seus estudos de vinte anos estão pagos (e bem pagos) pelos meus pais, não nos sobrecarregue com mais de cinco ou seis anos de vida, depois de se reformar. Não sou eu que lhe digo isto, são os meus filhos. Os filhos dele poderão dizer isto aos meus, depois, que eu acho que Pires de Lima é mais novo do que eu. O meu filho mais velho faz amanhã dezasseis anos.
E assim sucessivamente, até que seja fornecido aos economistas e aos seus adoradores prostrados, em vida, por indecente e má figura, por verdadeira decência técnica, o papel que há-de competir-lhes por todo o resto da eternidade: um lugar no limbo das coisas precárias e acessórias.

Retiro o que disse sobre Pires de Lima e sobre os economistas. Estou com gripe. E é um tipo que até me é simpático, aliás, estou a falar a sério, emprestava-lhe o carro, gosto do queixo voluntarioso do tipo, punha-o a trabalhar para mim (se tivesse uma empresa, em lugar de emprestar o meu queixo espetado e com "pocinha" a uma empresa falida), se ele quisesse, mas duvido que quisesse, eu, trabalhar para ele.

Agora uma coisa média, nem bonita nem feia: desconfiem, sobretudo, dos tipos sem queixo. Um tipo com o queixo metido para dentro, a menos que aquilo traduza uma malformação, é um tipo infinitamente pior que outro que tenha o queixo para fora. É como se Deus o tivesse encolhido para caber melhor no purgatório.

Dezasseis anos. Ninguem dá os parabéns a um besugo que já fez obras primas, embora há muito tempo?

Momento do dia

O João Melo, na Primeira Companhia, a chuchar um pedaço de abacaxi com a fúria que se costuma usar para roer as unhas.

Fim de tarde na Lego Racers



Há muito tempo, há mais de dois anos, de certeza, que não o jogávamos, o que, para quem existe há menos de uma década, são, ainda me lembro, uma eternidade. Tivémos, até, de reinstalá-lo no computador (em spanish, por exigência dele, o que não me pareceu mal pensado), a torcer para que o computador não fosse caprichoso, como da última vez, ao abrir uma caixinha que dizia que "o windows não consegue abrir o ficheiro", finalizando com um seco "finish".
Desta vez correu bem e ele sorriu, satisfeito, assim que nos surgiu no ecran a página do menu principal. Escolhemos os pilotos: eu, a Joana D'Arc, que corre com uma espécie de carroça automovente, ele o Turbo Racer, poderoso piloto detentor de um carro aerodinâmico com vistosos aillerons. E iniciamos a corrida. A pista, um circuito misto de terra batida e de piso em traves de madeira, é sinuosa e difícil. Acelero o mais que posso; apanho uma peça verde de Lego, que permite atingir velocidade mash 3. São seis os pilotos e o sacanita vai à frente mas, com o meu poderoso turbo, em dois segundos tomo-lhe o comando. Por pouco tempo: ele apanha uma peça vermelha e ataca-me com uma bomba. O meu carro vai pelos ares, ó miséria. Já nem sei para que tecla me vire. Estamos na última volta, estou em último lugar e ele ameaça dobrar-me. Retomo a corrida - consegui, finalmente, correr na direcção certa, raios partam as teclas e o frenezim. Apanho a pedra amarela e lanço óleo na pista. É golpe baixo, claro, mas resulta em cheio. Ele espatifa-se contra um muro e, pronto, perdemos ambos.
Como só há uma cadeira e ambos tivémos preguiça de ir buscar outra, ele jogou sentado ao meu colo.
Amanhã há mais, que ele hoje já dorme a sono solto.

16.11.05

Ser besugo

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Da reticência

Era domingo e a urgência estava calma. Uma urgência calma é uma coisa que enerva os puristas dos honorários e da gestão de recursos humanos, desses do jaez dos que questionam, mesmo, a existência de guarda-redes num jogo sem remates perigosos à baliza: cada um sabe do desporto (e da bola) o que quer saber.

Em dez minutos, o que demora um intervalo da SIC ou da TVI, entrou um homem que tinha convulsões e se descobriu que as tinha por má condução aurículo-ventricular, necessitando de provisória pilha; uma mulher que tinha um naco de bife algures pouco abaixo da epiglote; um miúdo que só gritava "Xutos!", com uma overdose de cavalo; uma pneumonia grave; e uma síndrome de abstinência alcoólica. Tudo isto com pessoas à volta: por exemplo, uma pneumonia grave com uma pessoa à volta é assaz diferente duma pneumonia grave resumida a radiografia e resenha do caso clínico, numa revista.

O miúdo com a overdose de cavalo bateu no relações públicas. Meia dúzia de murros e pontapés. Veio a GNR e concordou, perante o sucedido, que era uma chatice. Nós também concordámos. É, de facto. Uma chatice é como definimos este tipo de miséria. Admito ter dado um pontapé no focinho do miúdo, quando se virou para mim. Fi-lo com o instinto misericordioso de quem educa, com a certeza de que os apetites de bata são tão legítimos como os apetites de farda, de camisa, de fato de três peças. São necessidades básicas da condição humana.

Um tipo levar na tromba só porque está a fazer o que deve fazer é uma chatice inerente à obrigação. Paga-se em pontos naturais, querem mais o quê? Beijinhos? Subsídios de risco? Miseráveis!

Não. O que se quer é respeito. Essa coisa pouco solene de dizer "tens toda a minha solidariedade, podia ser comigo, que merda é esta?".

Eu nem sou relações públicas. Ide à merda imediatamente, mais as vossas frases de freirinha cavaquista, vós que tendeis a dizer, entre bidés, que "calha a todos". Isto ainda está muito longe de ser ao calhas, não percebeis? Mas parece-vos. Não me admira, andais a ler esoterismos mais do que devíeis e a escanchar-vos sobremaneira.

E um esotérico não passa duma botija insignificante que usamos quando, de pés frios, nos falta o verão. Um simulacro de calor que enoja por não ser preciso.

Querem os senhores jantar uma sopa com Manuel Alegre? Quer ele jantar connosco?

Não se sabe, lolita. Tens razão.

Custa muito sentirmo-nos mal, custa muito não sabermos o que temos, sendo que nos sentimos diferentemente do que costumamos. Custa muito, mais ainda, pensarmos que estamos muito doentes, porque nos sentimos assim, e não sabermos se estamos, realmente doentes. Custa mais, suponho eu, ainda mais, termos medo de ter uma coisa grave e termos mesmo uma coisa dessas, mesmo grave.

Defini, há vários anos, ainda nos Açores, as minhas liberdades: que nunca saberia tudo; que nunca me cercearia na minha liberdade de tirar a dor; que nunca desleixaria o meu saber do "estado da arte"; que nunca teria nojo de quem me procurasse; que nunca faria medicina privada, porque acredito nas vantagens de me terem por inteiro, pouco eu seja.

Já falhei. Já me enganei. Já me enganei sem desculpa, até. Duvidavam? Parvos.

Não se sabe, lolita. A verdade é essa. E a verdade, a ser resolvida com taxas moderadoras, é sempre uma verdade pequenina. Acredita no que eu te digo: nunca queiras ter lucro na saúde, nunca alinhes pelo diapasão mediático de confundir excelentes alunos com tendência para a investigação (Sobrinho Simões e as elites gostam destes, percebe-se, são precisos, aliás, mas não é a mesma coisa, valha-me Deus) com clínicos que gostam de tocar nas pessoas e de as tratar, de lhes resolver os problemas.
Isto custa, cheira muitas vezes mal.
Valoriza tu, também, estas pessoas, nos centros de saúde. Escolhe-os bem, motiva-os, enobrece-os, dá-lhes 3000 euros por mês (não é muito, mas se quiseres dá-lhes só 2000, vê lá isso bem, são capazes é de preferir "a privada", não sei...), para poderem pagar a casa fora do sítio em que nasceram e onde têm a família e os amigos, fornece-lhes formação séria, em vez de os tratares mal, que tu nem tratas, eu sei, e verás como se consegue criar uma verdadeira "rede de referência" que dispensa agravamento de taxas e consegue atenuação de penas.

Eu já tive, um dia, medo de estar a morrer; estava quase sozinho e tive medo. Não é só o Alonso que se abre, aqui. Olhem eu, aqui também, aberto todo, frango no churrasco tosco da minha vida. Foi há quatro anos e, felizmente para mim, não estava a morrer. Pelo menos não parece, ao menos agora. Mas, na altura, fui à Urgência, frouxo e suadote. Mal, às tantas. Mas fui. E vim de lá melhor, no conforto dos calmos. É preciso calma, sempre calma, note-se. É duro, eu sei.

As taxas moderadoras são uma forma vil de disfarçar o futuro liberalóide da saúde paga por todos: cada um que pague a sua.
Não há almoços grátis, dizem os liberais. Não há ciências certas; nem melhor motivo para gemer do que ter medo, digo eu. Eu não quero isso das taxas nem dos medos que se pagam. Nem sei por que me maço. A lolita já disse tudo, ou quase tudo, por mim.

Mas acrescento: é preciso melhorar, dignificar, valorizar, os cuidados primários de saúde. O sítio onde se vai primeiro, a nossa casa de precisão, que referencia, com destreza e prontidão, com uma percentagem de erro de 20% a favor do doente, se for o caso, para a urgência.
É preciso acabar com o medo de falhar. É necessário humanizar a falha. É preciso aprender a pedir, solicitar, indagar responsabilidades, sem ser aos gritos, sem ser de microfone, câmara e aquela raiva surda por não sermos muito belos, por termos todos, ou quase todos, aquele aspecto bastamente diferente dos nórdicos.

É preciso criar condições e calmarias para acreditar. Nós nunca acreditaremos sem emoção, porque acreditamos conforme duvidamos. Ó Manuel Alegre: o senhor tempere isto com o seu falar, que não vejo mais ninguém que cace, por aí. Não vejo aí ninguém capaz de assumir ter falhado um tiro sem o desculpar, ao tiro pífio, apenas, com o clima que estava ali à mão da consciência. Eu gosto de si porque o imagino assim, incompleto ainda, também.

Venha cá cear, quer você vir cá? Diga, a sério. Há-de haver uma sopa no pote, pelo menos. E não se fará campanha por si, que você conquistou o direito de não carecer dela, ao menos aqui.

Por falar em calmas e em acreditar: fui ao endereço que o Alonso indicou. Não tenho fé, mas tenho-a. Espero que te sirva, Alonso, esta deficiência assumida "de a ter e não a ter". Um tipo como tu, de mim, pode esperar tudo menos o desdém totó dos que não sabem nada.
Eu, longe, muito longe de saber de tudo, sei de algumas coisas.
Sei do respeito. Sei da amizade. Sei do amor e, deste, só o que sei: o que dei e o que me deram. Sei dos outros e de mim o que consigo. Sei da candura e da raiva. Sei da misericórdia, um bocadinho, pouco. Sei, como tu, quase de tudo, faltando-nos (a ambos) tempo e cabeça para mais e mais completos saberes. Saber, ao menos, disto, define um crente. Não é?

O culto nacional da doença

A medida parece honesta, a intenção é meritória. Só me questiono como se põe em prática. Se é certo que a sintomatologia associada a uma diarreia é do domínio do senso comum, já não será assim, fácil, para o comum mortal, traçar a (quiçá, ténue) linha de fronteira entre uma simples diarreia e uma epopeica desinteria. O que dizer, por outro lado, de uma forte dor de cabeça? Radicará a cefaleia em causas tão prosaicas como a excessiva desbunda da noite anterior ou poderá ser sintoma de um aneurisma incógnito?

O problema é justamente este. O frágil (e doente) mortal, na pele de utente, não sabe aferir o grau de gravidade e de risco do mal que o aflige. Não sabe e nem quer saber, aliás. Acrescente-se a circunstância, bem mais determinante e motivadora, do prazer mórbido que se retira da ida à urgência. Aquilo é um vai e vém de feridos e estropiados. Os pouco doentes entretêm-se, enquanto aguardam atendimento, a espreitar os muito doentes - os politraumatizados, os moribundos e, até, os definitivamente mortos. E a carpi-los, sempre enquanto esperam. E há o sangue, há muito ensanguentamento. É uma espécie sinistra de terapia, enfim, por observação. E com a faculdade de, querendo, descarregar eventuais humilhações e ressabiamentos numa catártica reclamação, que se quer verbal e em voz audível para a plateia.

Atentas as visíveis vantagens, o utente não se coibirá de se plantar horas infindas numa urgência hospitalar com o fito de solicitar cuidados médicos para uma unha encravada, só porque corre o risco de pagar mais. Até porque confia lhe chegará, como deseja, o dia glorioso em que regressará ao lar triunfante, sabendo-se portador de doença ou trauma idóneo que suscitou verdadeiro e próprio tratamento de emergência. Enquanto esse dia não chega, insistirá sempre.

15.11.05

A mudez

As insuficiências de Cavaco Silva, que são muitas, não residem no seu parco passado político - que se resume aos propalados dez anos de experiência governativa, em que se limitou a gerir um orçamento desafogado com pulso de ferro e postura de autocrata. Nem, tampouco, na ausência de passado anti-fascista ou de intervenção política (área em que qualquer outro dos candidatos está a anos luz de Cavaco Silva), já que, mais tarde ou mais cedo, as novas gerações produzirão candidatos, derrotados ou ganhadores, cuja memória do Estado Novo será semelhante à que hoje temos do Marquês de Pombal. Na verdade, nenhuma destas referência curriculares legitima mais um cidadão do que outro para ser presidente da República.

O que legitima um candidato que aspire e possa ser presidente da República é, antes de mais, a sua capacidade de percepção e de intervenção social. Essa capacidade, por seu lado, não pode ser presumida através de um percurso académico brilhante ou de uma (eventual) tenacidade que antes o caracterizou, quando em funções executivas. Ela tem de ser presente, actual; tem de ser coexistente e intrínseca ao sujeito. Tem de ser visível. Ora, em Cavaco Silva, ou só se vêm números ou só se vêem chavões. Ou "vontade de ajudar", ele não se cansa de dizer que quer ajudar.

Cavaco Silva não possui um discurso político, muito menos possui um discurso social. É um traço do seu carácter, a imunidade à dimensão humana, que nunca cultivou fora do culto da família feliz e protectora; e ninguém pode ir contra a sua natureza. O mundo, para Cavaco Silva, são finanças. Não lhe interessam a arte ou os livros, a menos que lhes consiga alcançar vantagem macroeconómica. E a maneira como gagueja "não sou dono dos votos dos portugueses" está longe de ser uma manifestação de arrogância; antes é a mais profunda e transparente prova da sua obtusa candura de acreditar, com pia convicção, que o país e os portugueses precisam dele.

Ora, um presidente assim desonra-nos, porque nos estreita o futuro. Um presidente da República cujas características relevantes - e únicas - se reconduzem à sua indesmentível honestidade e à sua provável boa fé de nada nos serve. Na sua pior vertente, a da beatífica determinação (a tal tenacidade que, afinal, não passa de convicção do tipo autista), tornar-nos-á mais infelizes. Há portugueses que lhe admiram o modo de vida austero e probo, como o que imaginamos a um chefe de repartição. E há, também, os portugueses informados e pensadores, que fazem parte da tal oligarquia que tudo faz mexer, que o apoiam e lhe auspiciam a vitória em Janeiro. A probabilidade da vitória aumentar-lhe-á a mudez. Isso é certo.

Breves ...

... porque é tarde, estou cansado, acabei agora um prazo e vim aqui apenas para desanuviar.

1 - Será tempo, besugo, de fazeres aqui campanha pelo Alegre. Explicando que o dito pode recolher votos à direita e ao centro, não só à esquerda. Porque, seja pela sua personalidade, seja pelo tempo que leva de actividade política, pela coerência que se lhe reconhece, pela carga humanista - ainda que socialista, enfim - com que "olha" a sociedade, pode criar empatias com um eleitorado, mesmo que este nunca nele tenha votado. Já aqui me foi imputado tacticismo em eu ter dado - "a posteriori", mas pronto - o meu acordo ao apoio oficial deste blog a esse candidato. Confessando o meu anti-Soarismo, que aliás nunca escondi, acho que seria redutor definir a minha posição por aí. E acho que é redutor da tua parte definires-te, nestas eleições, como anti-cavaquista. Eu cá nem tenho nada a ver com isso, mas acho isto ...

2 - Se calhar porque não sou de alardear convicções íntimas, se calhar porque venho a este blog com pouco espírito para escritos que não tenham qualquer coisa de inerentemente irónico, ou mesmo sarcástico, nunca escrevi até hoje, aqui, nada sobre o Congresso Internacional da Nova Evangelização, iniciativa de 5 cardeais da Europa, entre os quais o nosso (além dos de Paris, Bruxelas, Viena e Budapeste). Realiza-se em sessões anuais, e este ano calhou ser em Lisboa. Participei em vários dos seus trabalhos de preparação, ao nível da paróquia lisboeta em que agora resido, e devo dizer que foi interessante fazê-lo. Não posso no entanto deixar de relatar aqui que estive na procissão que acompanhou a "visita" de N. Sra. de Fátima a esta terra, e que, como experiência, foi pouco menos que impressionante.

3 - Não maçarei os meus colegas - e demais leitores - com pormenores, mas recomendo ainda assim a leitura da oração de consagração de Lisboa a Nossa Senhora, que podem encontrar nesta página web:
http://www.patriarcado-lisboa.pt/documentacao/2005_Consagracao_Nossa_Senhora_ICNE.htm

4 - Uma recomendação, caso na verdade decidam ler esse texto até a fim: mesmo não sendo crentes, façam por um momento de conta que acreditam ou, pelo menos, tentem ler essa oração/dedicação entendendo que quem a escreveu - O patriarca de Lisboa - tem absoluta fé no que dela consta. Uma coisa vos digo: Como momento final da procissão, ouvir aquilo foi para mim o mais marcante. Mais ainda do que o meio milhão de participantes ou o facto de que toda essa gente passou as horas que o percurso durou ora cantando hinos a N. Sra., ora rezando. Foi, repito, este final que mais me tocou.

5 - Enfim, é em momentos como este - em que me apeteceu escrever estas coisas tão pouco comuns, ao menos em mim - que me alivia este blog não ter comentários. Se os meus colegas me chatearem a molécula por hoje aqui ter escrito sobre a minha fé, ao menos são eles, eu sei quem são, e sou capaz de lhes chatear a molécula a eles tanto (ou mais) do que eles a mim.

6 - Adiante ... vi que a lolita já levanta os olhos do molhe, e que eles vão até ao horizonte. É um progresso. Quanto ao besugo, e para além do que lá em cima deixei escrito, só tenho mais uma coisa a dizer: tu, de karts, és um teórico. Na prática, faltou-te escrever sobre aquela parte em que entras nas boxes a meio da corrida porque o kart "não anda" ... gostava de ler poesia tua sobre circunstâncias como essa: tipo "... a entrada das boxes é estreita e sinuosa como as curvas de uma ninfa, e faz-se com o quadril direito próximo da roda, enquanto a mão esquerda se levanta, numa saudação que é, ao mesmo tempo, uma despedida melancólica do frenesim que, atrás de nós, continua. e um aviso, a todos os que nos seguem, de que chegou a nossa vez de abandonar, ainda que com a sensação de ter cumprido um dever, a companhia dos outros, que obstinadamente continuarão a saga que ................"

7 - Antes de publicar fui ver se havia algum escrito acabado de chegar. Já vi que sim, e do que tratava. Tudo ponderado, publico o que escrevi, sem tirar nada.

Até à próxima!

Este é sempre ao lado, ou seja, "fórica"

É incrível como ele consegue associar à insipidez dos seus textos "de fundo" os exemplos mais hilariantes.

Hoje foi este, ainda por cima metafórico (deve ser o que lhe dizem bastas vezes, "olhe, ó Luís, metafórica como de costume, sim?"):

"Ou seja, e metaforicamente, o "pugilista" Soares, que aspira ao título de pesados, salta sozinho no ringue, sem conseguir que o detentor do cinturão aceite uma luta desigual".

E Jorge Sampaio? Fica-se?

Foi você que disse isto?

Uma pérola desencantada pelo Cibertúlia, que ilustra a verticalidade intelectual de Luís Delgado, esse nóvel especialista sobre os fenómenos de Fátima. Não parece confirmar-se, contudo, que o jovial articulista fizesse parte do rebanho que os três pastorinhos apascentavam. Faz doutro. (isto é uma brincadeira; aliás, este blog não tem uma linha editorial coerente, portanto não é nada uma brincadeira, ora!)

14.11.05

Valha-me Deus

Há, no mundo, coisas muito trágicas. Uma delas é haver um homem que, na simples tentativa (ainda por cima preparada, ensaiada) de explicar a quem o escuta e, potencialmente, o elegerá, "por que é que quer ser ele e por que é que acha que deve ser ele", acaba por deixar bem claro, duma forma confrangedora, por que é que não deve querer ser, nem (sobretudo) deve ser.

Perante tão pobre prestação de Cavaco Silva, diante duma jornalista que se limitou a não adoptar uma atitude reverente - o que bastou para evidenciar a aridez e os paradoxos que, ao mesmo tempo, balizam e preenchem os chavões do professor -, antes o confrontando com as óbvias dissonâncias entre a sua personalidade (e o seu trajecto) e a "consensualidade construtiva e, ao mesmo tempo, indicadora" que ele preferiria ser capaz de mostrar (embora não a tendo), perante tão demonstrativa manifestação de inapetência, eu sorrio, apenas. Ele foi ali, basicamente, dizer que é honesto e que sabe do mundo. Ele foi ali dizer dois dogmas! Ele falou e disse isto: " reparai que eu podia ser o Zézé Camarinha, tivésseis vós mais fé e eu menos vergonha!".

Votem nele. Levem-no ao colo, se quiserem. Digam dele as maravilhas que nem ele próprio acredita ser, ponham-no no altar da vossa teimosa e infundada idolatria. Elejam-no e vão buzinar, depois, nas carripanas, que acabaram de guindar Sancho Pança ao lombo do Rocinante, grande feito! Adoptai como hino da campanha o "Acreditai!", a sério, é importante.

O homem não serve. Pode servir para outras coisas, admito, hei-de ver se me lembro de alguma, também não pode ser tudo duma vez. Agora para isto que cismou agora, ou que cismaram por ele, francamente, não.

O ocaso irrepetível





A linha do horizonte vista hoje, na Foz, escassos segundos antes de anoitecer.

13.11.05

De política era isto

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Amanhã voltarei a estar ali. Descansei dois dias e amanhã lá vou.
Nos últimos tempos tenho verificado que é lá que me sinto melhor. Tem piada, o que nos fazem a falta de sol, as tardes curtas: passa-nos a vontade imensa de sair dali, que nos assola no Verão, porque agora já não há sol nem luz de jeito cá fora. Vamos ficando, mesmo quando já não está lá mais ninguém.

O chão quadriculado faz-me chamar àquilo o "meu pequeno Bessa". Não é, sequer, meu.
Há alguns anos, Maria de Belém visitou o "meu pequeno Bessa que não é, sequer, meu" e fez-me duas ou três perguntas. Sabia do que falava, perguntou-me bem. Quando nos visitam, importa mais o que nos perguntam que aquilo que respondemos: nós sabemos as respostas, gostamos é que nos perguntem as coisas certas. As coisas que nos importam. Que importam, talvez assim soe a maior verdade.

Desde então, mais nenhum ministro, mais nenhum sub-secretário, fosse do que fosse, quis saber de lá ir (*). Desde 1999, já lá se discutiram e trataram mais de 5000 doentes. Alguns, muitos dos dessa altura, para aí metade deles, é verdade, ainda lá se tratam.
Mas "o meu pequeno Bessa" parece que já não existe, que não se curaram lá a Manuela e o Eugénio e que não nos morreram lá o Martinho e a Mafalda. "Oncologia, nas berças, vai haver, há um projecto!", dizem. Nunca dizem que já há, há mais de dez anos, muito mais que um projecto. Isto fode, magoa.

Eu gostava que as pessoas do IPO do Porto, os amigos e amigas, os colegas que me ajudam, desde 1999, a tentar fazer alguma coisa de jeito da minha vida e daquilo em que acredito, e da vida dos trasmontanos que se me entregam nas toscas mãos e à teimosa cabeça, pudessem, um dia, gritar em uníssono, para que se ouvisse bem (ó vão e torpe orgulho de miserável besugo, por que te não calas hoje como nos outros dias?), aquilo que me dizem sempre, apenas ao ouvido: que "o meu pequeno Bessa", não sendo meu, existe. E que lhe sei tão de de cor o tamanho dos quadrados, um preto, um branco, um preto, um branco, que, não sendo meu, me custa muito que os outros o não enxerguem, pelo menos, na sua singeleza.

(*) - Foi lá um deputado da nação, por acaso do PSD. Falou-me de auto-estradas e de IPs da comunicação, com gestos largos enfeitando-lhe o corpo pequenito. Estava de colete, por debaixo do fatinho, e fez-me rir, por dentro: não gastava três metros de tecido, nem mesmo num fato gongórico de três peças. Tornou-se-me insuportável quando me perguntou que "device" estava ali, na frente dele. Perdi-lhe o respeito à medida que lhe explicava que aquilo era um simples "negatoscópio", uma coisa quase rústica e antiga para ver radiografias. E aliviou-me vê-lo sair dali, da minha frente, da minha vida, mesmo que soubesse, já na altura, que este tipo de gente se retira, pode mesmo nunca mais voltar, mas nunca se vai embora de vez.

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