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13.11.05

De política era isto

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Amanhã voltarei a estar ali. Descansei dois dias e amanhã lá vou.
Nos últimos tempos tenho verificado que é lá que me sinto melhor. Tem piada, o que nos fazem a falta de sol, as tardes curtas: passa-nos a vontade imensa de sair dali, que nos assola no Verão, porque agora já não há sol nem luz de jeito cá fora. Vamos ficando, mesmo quando já não está lá mais ninguém.

O chão quadriculado faz-me chamar àquilo o "meu pequeno Bessa". Não é, sequer, meu.
Há alguns anos, Maria de Belém visitou o "meu pequeno Bessa que não é, sequer, meu" e fez-me duas ou três perguntas. Sabia do que falava, perguntou-me bem. Quando nos visitam, importa mais o que nos perguntam que aquilo que respondemos: nós sabemos as respostas, gostamos é que nos perguntem as coisas certas. As coisas que nos importam. Que importam, talvez assim soe a maior verdade.

Desde então, mais nenhum ministro, mais nenhum sub-secretário, fosse do que fosse, quis saber de lá ir (*). Desde 1999, já lá se discutiram e trataram mais de 5000 doentes. Alguns, muitos dos dessa altura, para aí metade deles, é verdade, ainda lá se tratam.
Mas "o meu pequeno Bessa" parece que já não existe, que não se curaram lá a Manuela e o Eugénio e que não nos morreram lá o Martinho e a Mafalda. "Oncologia, nas berças, vai haver, há um projecto!", dizem. Nunca dizem que já há, há mais de dez anos, muito mais que um projecto. Isto fode, magoa.

Eu gostava que as pessoas do IPO do Porto, os amigos e amigas, os colegas que me ajudam, desde 1999, a tentar fazer alguma coisa de jeito da minha vida e daquilo em que acredito, e da vida dos trasmontanos que se me entregam nas toscas mãos e à teimosa cabeça, pudessem, um dia, gritar em uníssono, para que se ouvisse bem (ó vão e torpe orgulho de miserável besugo, por que te não calas hoje como nos outros dias?), aquilo que me dizem sempre, apenas ao ouvido: que "o meu pequeno Bessa", não sendo meu, existe. E que lhe sei tão de de cor o tamanho dos quadrados, um preto, um branco, um preto, um branco, que, não sendo meu, me custa muito que os outros o não enxerguem, pelo menos, na sua singeleza.

(*) - Foi lá um deputado da nação, por acaso do PSD. Falou-me de auto-estradas e de IPs da comunicação, com gestos largos enfeitando-lhe o corpo pequenito. Estava de colete, por debaixo do fatinho, e fez-me rir, por dentro: não gastava três metros de tecido, nem mesmo num fato gongórico de três peças. Tornou-se-me insuportável quando me perguntou que "device" estava ali, na frente dele. Perdi-lhe o respeito à medida que lhe explicava que aquilo era um simples "negatoscópio", uma coisa quase rústica e antiga para ver radiografias. E aliviou-me vê-lo sair dali, da minha frente, da minha vida, mesmo que soubesse, já na altura, que este tipo de gente se retira, pode mesmo nunca mais voltar, mas nunca se vai embora de vez.

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