blog caliente.

31.3.04

Cartão Postal

As más notícias, antes de mais. O Jorge Sampaio não me convidou para o jantar oficial. O Pedro Abrunhosa deu ontem aqui um concerto. O CD "Guilhermina", do Tito Paris, está esgotado. Chateia-me a diferença horária de duas horas; recebo telefonemas às sete da manhã e trabalho quando aí já se está a jantar. A Praia ameaça, a curto prazo, transformar-se num Rio de Janeiro em tamanho pequeno, tantas são já as favelas a tomar conta das colinas. Ha muito pó no ar. Os japoneses caçam por aqui baleias à fartazana, onde querem e quando querem.

As boas notícias. Passei ontem na Cidade Velha, bastante mais bonita do que a nova, vigiada de perto pelo Forte de São Filipe, altaneiro e ventoso, primorosamente recuperado há pouco tempo (pela cooperação espanhola, que se antecipou, ao que parece, à hesitação da portuguesa). Pensem no contraste entre o azul turquesa e o amarelo barrento, cor de terra, um azul turquesa a recortar a cor de terra ao longo da costa, a perder de vista. Aqui é tudo muito doce, muito indolente. As mulheres andam devagar e os homens sorriem muito.

Desta vez, ainda não parti os óculos. E na próxima semana estarei de férias. Aí.

30.3.04

Bandidos

Está tudo para África, até a Lolita, e eu para aqui sozinho. Escrevam, ao menos, sacanas!

O concurso do Malato

O Malato tem peculiaridades engraçadas. Começando pela pêra estilizada. Aquilo demora a desfazer, ou a fazer. Ser vagamente parecido com o Fernando Pereira, em mais gordo e (pouco) mais esperto, não devia passar por exercícios de gillette, mas passa. "Deixa ver, mais uma rapadela deste lado... agora deste... que horas são? Estou bem? Não? Puta! Vou cantar também, nesse caso, com voz de capado!".

O Malato é o forçado protagonista do concurso que apresenta. O apresentador de concursos que, mais assumidamente, cuida ser, ele próprio, o concurso que apresenta. Nem Carlos Cruz era assim tão presumido, embora valesse, em concursos, cento e dezassete Malatos.
O apresentador de concursos que mais apetece espancar é o Malato. Já escrevi ao Mel Gibson a tentar persuadi-lo doutras paixões. Parece que é ele, o Malato, que está ali a concorrer. Exercita-se no confronto com os concorrentes mais brilhantes (ainda hoje, com o puto que anda a estudar cinema, tentou "trilhá-lo"... e conseguiu). Ah! Eu defino: concorrentes mais brilhantes não são os que sabem mais coisas, são aqueles em que os olhos brilham mais, e este de hoje era desses. Um Jorge, puto, estudante de cinema. Aqui há uns dias houve outro, um que sorria só com a boca, de olhos espertos e gélidos, um Janes, ou assim. Que se percebeu que teve vontade de espancar o Malato, logo ali. E podia fazê-lo, a balofice rebola bastante, em sendo pontapeada convenientemente.

O Malato é o tipo de gajo que apetece, desinteressadamente, espancar. Os olhos dele, às vezes, brilham, lampejam. Mas a gente sabe que isso se pode fazer sem centelha genuína, sem vir de dentro, pode fazer-se porque os olhos são órgãos parcialmente voluntários. Sim, que os olhos são uma espécie de bombeiros da alma, sem remuneração. Eu despedia os olhos do Malato da corporação a que pertencem: a da arte bovina de fazer de conta que se é inteligentemente plácido. Ele não é nada disto, nada de gados opulentos, ele é apenas um frango gordo a querer capoeira maior para melhor se refastelar na sua redundância de garnizé gorducho. No limite, é um boi-galinha, um mú-mú-cócórócó.

Quem nasceu para Malato não chega a Jorge Gabriel. Não é racional, isto. É uma opinião serena e assumidamente inútil. A minha. Se fosse racional eu estava quase sempre caladinho. E não estou.

29.3.04

Pesar

Por já ser tarde, li isto sem a merecida atenção. Um texto bonito, profundamente sentido, sobre uma perda. Palavras misturadas de saudade e revolta, mas sem raiva cega. Belas palavras, até por isso, pela ausência de cegueira.

Por ainda ser cedo (e não vir a propósito, que as perdas devem, sempre, revoltar-nos), limito-me a baixar os olhos, entristecido e solidário.

Como médico do SNS, juro-lhe que me esforço para que as coisas não sejam assim. Não lhe serve de nada, eu sei. Desculpe. É cedo e... tão tarde.
Os meus sentimentos. Aceite-os, por favor.

Pontos finais

Eu já sabia. E até já lhe tinha dito. À Lolita. Que há gente que só consegue rir-se das suas próprias piadas. Sobretudo se as suas laboriosas graçolas forem feitas à custa da "desconstrução forçada" dos outros.

Mesmo sem razão nenhuma, que toda a gente aqui percebeu que a Lolita tem razão nessa questão de lana caprina da terminologia forense, você quer pontuar a discussão de vez absoluta, vilacondense. Afinfa-lhe ponto final. Mas você domina pouco satisfatoriamente o verbo, a pontuação e a arte de saltar. É um salta-pocinhas. Num momento, você salta da brincadeira para a seriedade, sem aviso. E, ainda por cima, é você (o salta-pocinhas) que define (enfado, quem és tu?) o momento de saltar! Já tínhamos percebido isso, aqui, numa conversa com o LR, do defunto e redefinido Mata-mouros. Rapidamente nos foi dito (a mim, no caso) que "aquilo era um blogue sério com momentos raros de acolhimento a inoportunos, e não brinquem connosco que a gente é séria!". Mas ele foi elegante, sabe? Fez uma pirueta e saiu, foi à vida dele e eu fiquei na minha, não chegou a chamar-me "pata ao léu", nem eu tive motivos para lhe chamar snob, assim de caras. Chama-se a isto (e a outras coisas) respeito, honestidade intelectual. Ou nem se chama nada, foi assim.

Agora, você tem uma vida muito sua. E isso é bom. Mas, aparentemente, está sempre de saltos altos, calçados em pés chatos de copista. Não é o que você é, desculpe lá? Um excelente copista, com iluminuras made in google? Muito "li isto e isto e acho bem, li isto e isto e acho mal"?

Eu já sabia disso e avisei-a. À Lolita. Ela entendeu que não, que era só impressão minha. Faz ela bem em não ligar aos meus avisos, sabe? As mulheres não se querem avisadas, querem-se mulheres. Em qualquer idade.

Você ponha os pontos finais que quiser, vilacondense. A Lolita nem sequer cá pode vir agora dizer-lhe nada, está para fora. Nem sequer pode vir deixar-lhe um grande travessão... depois de mudar de linha! Ao menos, você punha um ponto final decente: se não nos queria ler, não lia. Não nos vinha era com "medos de ir aos comentários" - aqui não gostamos disso, é logo no sítio de cada um, para só ler quem quiser, já lhe dissemos, você esqueceu-se, homem! E não nos falava de megafones, que nós gostamos de falar com naturalidades vocais. Nem isto aqui é a revista da imprensa aos berros, amigo vilacondense. É menos que isso, visto por si, é mais que isso visto por nós. Olhe, é o que é.

E, se conseguir, não seja chocarreiro, reserve os azeites para batatas cozidas e boas postas de bacalhau: não deixe de perguntar a idade a uma senhora para, depois, usar isso como mote para aforismos parolos. Há gatas (o aforismo foi seu) que não querem, simplesmente, as suas festas.

A Lolita não me encomendou nada disto, garanto-lhe. Provavelmente até me vai ralhar, você sabe como é, "apanhas-me fora e fazes logo desgraça!".
Como lhe disse está para fora, e já o mandou pastar abundantemente, logo que percebeu (sozinha) que você vem sempre em bicos de pés, de cima para baixo, em equilíbrios difíceis. Acredite se quiser e tire as conclusões que conseguir tirar. Se a tanto se sentir obrigado. Mas experimente chamar "querida" e "incorrigível" à Bomba Inteligente(*), sim? É o que me parece mais indicado para si, visto daqui de baixo, donde você me parece ter do respeito uma noção quase feudal. Num instante você se descalçava, não era? Pois era. Fazendo, às tantas, a senhora erguer, ainda mais, as já de si empinadas narinas. Se calhar com adicional e justificada veemência!

(*) Pobre senhora, ela que me desculpe, mas com tantos copistas à perna, em ânsias de "liga-me lá, olha eu aqui!", ainda explode definitivamente, decompondo-se em miríades de pipis... e de tédio.

Arados

O sacana do tempo, segundo a segundo, parece que não faz mossa. Contudo, o sacana, acumula-se. A pilha de segundos que os meus filhos já têm!
O sacana do tempo sulca-nos a cara e o corpo, como um arado impiedoso em terra arável. Afável. Sacana do tempo, que se mete só com os fracos.
Dos fracos não reza a História, excepto dos tantos que a gente vê a História rezar. Reza de todos, a História. E, por todos.

Falar do tempo é falar dos tempos. Tenho 43 anos, continuo a medir um metro e oitenta e dois, somei dez quilos aos oitenta que tinha há 10 anos, já não nado a ponta dum corno, parti um pé e fiquei com medo de fazer rotações rápidas, aliás a rapidez nunca foi o meu forte, nunca mais joguei futebol, ganhei medo aos karts, saem-me mal os falsetes à conta dos cigarros e da falta de treino, a culpa é do Beto Mendonça, que de cada vez que combinamos uma "jam-session" é amputado de um familiar, obrigando a luto competente, e nunca mais me entendem no sítio onde trabalho, ninguém sabe que eu, sim, eu, já soube cantar, contam-me as horas como se eu fosse contável, como o tempo, não entendem que o tempo nos conta a todos e que o que conta é o que se deixa feito, não o tempo em que o que se deixa feito se faz, que o tempo é só o tempo, só importa se nós deixarmos que o tempo seja mais do que aquilo que é, inevitável nos seu langanhoso correr e, por isso mesmo, desprezível sob o ponto de vista de atitude, porque não há atitude nenhuma que se justifique com o tempo, só no tempo.

Isto vai confuso. Mas é que eu estive a ver e a ouvir, na RTP, o Paulo de Carvalho a cantar "E depois do adeus", com um piano (era um sintetizador, pronto) e a minha vida por fundo, e há fundos que nos comovem mais que outros. E ele cantou melhor do que nunca, o sacana do Paulo de Carvalho. O sacana do tempo também esteve ali, a escutar, e parou um bocadinho. Eu notei. E o Zé Pedro e o João, os meus rapazes, pararam também, a ver o tempo parado, dando-me uma secreta esperança de que o tempo pode, mesmo, parar para eles e correr só para mim. Caramba! Mesmo dizer adeus tem de ter a lógica do tempo, não me lixem, não quero excepções que não pedi!

28.3.04

A virtude

Como as coisas são: esta noite, num jantar animado, discutiram-se as virtudes de Cavaco Silva (discussão breve, que a "virtude" não suscita debate), a excelência do Sporting (tese minha), a beleza de Sesimbra (tese universal) e o talento de Jack Nicholson (tese "vou lá ter").
Keanu Reaves foi lembrado, sem necessidade. Havendo um tempo para tudo, mais vale estar fora de tempo que fora de tudo.
O golo do Sporting, candidato "a não ser ultrapassado pelo Benfica", fez-me bem. A virtude dum golo merecido é acontecer. Acontecer-me.

Resposta simples ao Vilacondense

Dupont: você é pastoso e notoriamente mal (in)formado.

Trate lá da sua vidinha, vá.

27.3.04

O trabalho liberta

Tenho de reconhecer, ó Dupont, que você é persistente. Vamos lá outra vez, a ver se desta vez chega lá. Saberá o amável Dupont que proferir significa decretar? E que, por sua vez, emitir significa enunciar, exprimir? Nenhuma das expressões é, como julgo que sabe - até porque você sabe de tanta coisa -, exclusiva do foro jurídico ou judicial e ambas são apropriadas para expressar o destino de um despacho que, se não fosse proferido ou emitido, seria inútil, sobretudo para os... jornalistas, como bem você lembra. Ou, por outras palavras, seria um despacho repleto de desprovimento. Ou ainda, se quiser uma terceira via, tudo seria como se fosse negado provimento ao... despacho. Olhe, gostei da sua expressão, que quer? Se me garantir que posso usá-la mais vezes, eu prometo ter em atenção a sua comentáriomania e lá irei (não é vergonha, asseguro-lhe, é mais falta de assunto para comentar), quem sabe, deixar-lhe um voto positivo. Que tal "Arbeit macht frei"?

Pronto, agora a sério: ó Dupont, você tente ser menos redutor. Posso dizer-lhe, por exemplo, que o verbo emitir é transitivo e pode até exprimir o lançamento de águas residuais e que o verbo proferir, igualmente transitivo, também se ajusta à afirmação de tonterias. O que não é o caso, porque você esforça-se e isso, só por si, é meritório. Digo eu. Com o tempo e com esse empenho, tornar-se-á mais jurista do que jornalista...

26.3.04

O Benfica

O Benfica acabou por "fazer o jogo todo", para o bem e para o mal. O Inter, que tem uma equipa inferior ao Benfica, eliminou-o.
Faltou ao Benfica, à equipa do Benfica, um bocadinho de sorte, uma pitada de classe (que só a experiência de vencer fornece), um pingo de inteligência. Leva tempo, conseguir consistência. Mais tempo do que demora perdê-la.
Do que tenho visto ao Benfica, retiro o temor de não sermos (o Sporting) capazes de manter o segundo lugar na Liga. Os lampiões perderam com o Inter, mas estão a jogar melhor que nós.

Repara, Lolita, que mais chá que isto é impossível! Excepto, de facto, se se tratar do MST em atitude sossegada. Consta que ele dorme, enfim...será nessas alturas.

Não te deixarei morrer, David Crocket

Devolverei a Maria Filomena quando o besugo me devolver o Miguel. E recomendo-lhe, de novo, que leia uma das crónicas que lá está, cujo título não me lembro agora. Se já leu, ele sabe do que estou a falar. Se não leu, que leia: começa na página 37, se não me engano. O MST está longe de ser um expoente, mas escreve bem, quando está sossegado. Às tantas, também bebe chá.

A cura

- Tenho saído com uma psiquiatra, sabes? Boa miúda, gosto dela.
- Sim?
- Pois. Esperta, topa-me as fraquezas...
- Por exemplo?
- Assim: há uns dias, disse-me que o facto de eu atirar as meias para o chão significa que eu odeio a minha mãe.
- Assim?
- É como te conto. A miúda abre-me os olhos. Se eu separar as ervilhas do puré, ela imediatamente me chama obsessivo-depressivo. É espantoso: parece que o mundo mudou. Agora sim, conheço-me bem.
- Fico contente por isso. E no resto, tudo bem?
- Sim. Por conselho dela, começei a tomar uns anti-depressivos. Acho que não torno a tentar matá-la.
- ...

(Inspirado no episódio de hoje da Murphy Brown)

Eça e Camilo

Falar de Saramago sem falar destes dois é como esquecer o vinagrete no bacalhau da ceia de Natal.
São expoentes. Que palavrão, senhores! Expoentes! Parece que estamos a falar de potências! Que os homens e mulheres de letras me perdoem esta reminiscência matemática, a ciência mais exacta e acessível do mundo, porque "está lá tudo, é só aquilo, e é aquilo que é".
Eça disse, de Camilo, que era o homem que mais palavras conhecia do dicionário. De Eça, vociferou Camilo que tinha vocabulário limitado. Entre outras coisas.
Porém, usando menos palavras, Eça brincou melhor com elas. Um parágrafo de Eça é uma torrente fresca de verbo saltitante. Uma simples frase de Camilo tem mais peso que um dicionário de sinónimos.
No entanto, ambos foram grandiosos. Gosta-se mais de um ou de outro com a mesma legitimidade com que se preferem calças "Lee" às de "terilene".

Maria Filomena Mónica, que não conheço senão de saber quem é (e, por isso mesmo, nada nos devemos de suspeito), escreveu uma excelente biografia de Eça. Já tem mais de um ano. Recomendo e empresto, logo que a Lolita ma devolva.

Ainda Saramago

Vou comprar o seu novo livro e tentar lê-lo com atenção, se me der prazer.
A ideia duma eleição com 80% de votos "brancos" faz-me lembrar o final de um qualquer espectáculo, em que quatro quintos do público, duma forma severamente acintosa, se conservasse sentadinho nas cadeiras, em silêncio, perante as acrobacias de artistas em ânsias de apoteose. É um bom mote. Sonho ver Paulo Portas a passar por isto. Assumiria, sem dúvida, uma pose cheia de altivez acabrunhada, que lhe iria a matar com o tailleur carmim que o meu sonho lhe destinaria. Lembrei-me de Paulo Portas por lhe reconhecer dotes inegáveis de artista, de animal de palco. Ia a dizer de diva, mas não cheguei a dizer, note-se.

Da entrevista de Saramago à RTP, que vi descuidadamente, retirei duas frases que o nosso mais laureado escritor lançou ao vento:
1 - "Nós não vivemos numa democracia, uma democracia não é isto".
2 - "Não há uma finalidade expressa nos actos terroristas, o que legitima (adicionalmente, diria eu), nos visados, retaliações com a mesma falta de fundamento".

Foi mais ou menos isto. Eu agora não posso, mas no sábado vou pensar nisto, "a ver se cola". Se "se me cola". Ou se não.
Mas quando Saramago fala, eu escuto sempre. Posso, depois, dar-lhe voto branco, nulo, antagónico. Mas escuto-o. Fui ensinado a respeitar o mérito, mesmo quando não sou eu a atribuí-lo (os imbecis dos suecos nem sequer me telefonam!). E, a bem da verdade, ainda é capaz de ser mais meritório um prémio Nobel que uma vertiginosa permanência no "top technorati". Ou que uma condecoração junina. Ou, mesmo, que ser ministro.

Desprovimentos

Ó Dupont, concentre-se. No processo penal, o juiz de instrução não "dá provimento à acusação", antes emite despacho de pronúncia ou de não pronúncia. No caso da Ponte de Entre-os-Rios, o juiz despronunciou os arguidos, ou, se quiser, não confirmou a acusação. Olhe que você, às vezes, parece mesmo um jornalista...

Errata: o link, bolas, o caraças do link! Quase me ia esquecendo...

25.3.04

La folie

A temperamental Lolita, num único texto, acende vários fogaréus:
1 - Que Saramago, um laureado na Suécia(!), possui um umbigo do tamanho do cólon transverso dum ruminante, em versão circular.
2 - Que se limita a acariciar longamente esse grande umbigo, deitadinho nas areias cinzentas de Lanzarote, enquanto o sol lhe mordisca a cútis anciã, com dentadinhas plácidas.
3 - Que mais não produz que isto, beliscando, de passagem o fecundamente inenarrável intelecto dos seus concidadãos!

Não se desse o caso de Saramago ser um laureado (um laureado chatíssimo... mas, apesar de tudo, laureado) e a gente pensaria que a Lolita, enigmaticamente, nos comunicava que Pacheco Pereira se trasladara para a hispanidade insular. Não fosse isso e aquela questão do feitio intratável, obviamente...
Esperem lá: às tantas, a Lolita refere-se a Lobo Antunes, essa personificação fagueira e literária da nossa bonomia humilde, valorosa e "desvirgulada"! É isso! Topei-te, Lolita! Trocaste os nomes, menina! Malandreca! Mas vai dar no mesmo: insistes em fazer o que fazias em menina pequenina, essa mania de desmanchar brinquedos, só para brincar melhor!...
Por esse caminho, advirto-te, ainda acabas por criticar o Homem a Dias, desatas a zurzir na Bomba Inteligente, vituperas os Blasfemos, vem-nos aí o caos, a miséria, o exílio, a morte! A proibição solene da folia!

Eu sou um Nobel

Soube hoje, através do Pessoal e Transmissível, que Saramago lançará amanhã um novo livro. Chama-se Ensaio sobre a Lucidez e, conforme descaradamente refere Saramago, será polémico. Imagine-se, num país democrático, um Partido De Direita (PDD), um Partido De Esquerda (PDE) e um Partido Do Meio (PDM). O PDD está no poder e decreta estado de excepção na sequência de um resultado eleitoral em que oitenta por cento dos eleitores vota em.... branco. Imagine-se, ainda, um Ministro da Defesa que nunca foi à tropa. Finalmente, imagine-se um escritor de feitio intratável e umbigo universal, que se auto-proclama acusador público da podridão dos sistemas democráticos sem que, porém, se lhe conheça outra actividade produtiva que não seja a do exercício do mais puro e atávico narcisismo, que cultiva, confortavelmente instalado em Lanzarote, escrevendo sobre a altiva compaixão que lhe inspiram os seus néscios concidadãos enquanto Pilar, a eleita, lhe serve... um chá, talvez.

Errata: quando escrevi isto, hoje ainda era ontem; quando postei, amanhã já era hoje. Leia-se, portanto, em conformidade...

24.3.04

Dias felizes II

A depressão, meu Deus, a depressão colectiva como somatório de pequenas depressões egoistas!
Tens absoluta razão, Lolita. Um almoço ao sol, uma brisa primaveril como tempero, caras bonitas e sorrisos rasgados de quem gosta de si e dos outros.
Eu nunca te desminto quando tens razão.
Peço desculpa aos leitores habituais deste excelente espaço de escrita "caliente" mas... esteve-se bem, não esteve, Lolita? Pois esteve.

OK, podem voltar aos lavores, acabou o interlúdio.

Dias felizes

Ouvi, no final do jogo, um comentador a falar de um "passo de gigante" do Porto a caminho das meias-finais. As vitórias do Porto sabem-me, nos dias que correm, a forças positivas a puxar-me para sorrisos rasgados e gargalhadas profundas. Toda a gente afirma, no entanto, que o país está deprimido. Desculpem-me a falta de respeito pelo abstracto país, mas eu não estou deprimida e conheço mais pessoas que não o estão. É preciso muito pouco para se atingir um inviolável bem-estar, que, embora fugidio, perdura suavemente nas memórias: um almoço ao sol, uma brisinha primaveril e uma tarde cheia de luz pela frente. O besugo que me desminta, se eu não estiver a dizer a verdade.

Sem sombra de pecado

Passei duas horas a tentar explicar aos meus rapazes por que raio estava a festejar os golos do Porto.
São muito putos, não sei se entenderam. Ou, melhor ainda, se me fiz entender.
Não se trata de nenhum atavismo nacionalista exacerbado. Que também os tenho, às vezes. Nem sequer duma compensação mal amanhada para a falta de sucesso do meu Sporting.
Nada disso.
Vê-se ali luta, capacidade de sofrimento, talento, entreajuda, altivez, humildade, soberba, preconceito, rigidez, vivacidade, confiança, tenacidade. Vêem-se mais coisas. Todas elas um bocado exageradas, admito, que aquilo é só um jogo. Mas a gente vê as coisas da vida com as lentes que tem à mão no momento de decidir vê-las. E há alguns valores que se podem ensinar durante um jogo de futebol, por muito que nos custe que não seja durante um jogo da "nossa equipa".

23.3.04

Esguichos de besugo

Mal pareceria se a morte de Ahmed Yassin nos passasse sem uma referência. A Lolita já abordou o caso, de forma séria.

Eu não gostava nada do homem. E já aqui tenho confessado suficientes "desamores" para que a ninguém cause estranheza que me limite, a este respeito, a imaginar o que diriam João da Ega, esse nervoso de "fino olho à Balzac", e Craft, o monolítico coleccionador de bricabraque, ambos criados pelo torrencial Eça de Queiroz, se lhes colocassem a consternadíssima questão:

- E que impressão te faz a ti, João? O homicídio do líder do Hamas?
- Faz-me a impressão de haver um cabrão a menos à face da Terra.

Craft, sempre sensato, franziria o britânico sobrolho. E, perante o seu pensativo silêncio, um qualquer Dâmasozinho pressuroso lhe declararia:
- A gente nunca sabe, ó Craft, se aquilo que vemos acontecer à nossa volta é bom ou mau...há muito que analisar, que reflectir...
- Ordinariamente, é mau - responderia Craft, afastando-se.

22.3.04

Futurologia

Acerca da morte do líder do palestiniano Hamas, não sei se me perturba mais o fanatismo que cega os islâmicos fundamentalistas ou a frieza que ensurdece o estado israelita ao executar o sheik e de, imediatamente a seguir, confessar descaradamente a execução. Na verdade, ambos me perturbam igualmente; mas uma execução cirúrgica, promovida por um estado organizado e com uma aparência civilizada é, não só perturbadora, como arrepiante. Como se fosse um retalho retirado de um futuro próximo do nosso mundo ocidental, organizado e aparentemente civilizado.

Há fome em Portugal

Hoje estou com vontade de escrever aqui. Este blogue pacifica-me. Contudo, não tenho tema; não sou suficientemente organizada para ser pioneira a discutir os assuntos das notícias mais frescas do dia. Sei, por exemplo, que o Público fala hoje sobre a fome em Portugal. Li, noutros blogues, o que se falou sobre o assunto e, ao mesmo tempo que não me admirou a instrumentalização político-ideológica do tema que trespassa a blogosfera politizada que entretanto li, confesso aqui uma coisa. Sinto um bom bocado de cansaço relativamente à falta de tolerância ao erro. Eu prefiro não errar e prefiro que ninguém erre. Não quero é que isso - o erro dos outros - me sirva de mote para nada. O Aviz fala nisto há muito tempo e eu acho que o entendi mal durante algum tempo. É que isto é como uma fatalidade, porque não depende da nossa vontade: os erros dos outros existem e hão-de continuar a existir sem qualquer limitação imposta pelos frémitos decompositores, dissecantes ou críticos que possamos ter a respeito. Por mais que nos irritem. Por mais que nos desviem das linhas de conduta que pré-definimos para os outros. E a verdade, ainda mais fatal, é que só são erros porque somos nós que os qualificamos assim. Verdade essa que não chega a ser quase nada como legitimação e que, assim que tomada a consciência dos vãos efeitos da intolerância, nos envergonha.

Conforme se percebe, por esta altura já não estou a falar da fome em Portugal nem dos blogues que discutiram as suas causas. Isso sim, discute-se. Mas resolva-se, por favor.

Humilhações

Podia dizer isto só por me dar jeito, mas é verdade: ontem, só vi a segunda parte do jogo do Sporting. Tinha amigos em casa, calhou em cima da hora do jantar, os amigos são mais importantes, de modo que não vi a primeira parte.
Mas vi o resumo, ouvi comentários, vi a segunda parte até ao quarto golo, depois não aguentei mais e não havia motivo para sofrer o resto. Mais importante que isso, já sou sportinguista há muitos anos. E aprendi que, de vez em quando, nos acontecem coisas destas, desoladoras, tristes. E que depois passa.

Hoje ouvi falar, muitas vezes, em humilhações. Li a palavra em vários sitios. Não concordo. E vou tentar explicar porquê.

Este ano, o Sporting não tem deslumbrado. Lá ia indo, cedo se tendo percebido (desde os turcos e da eliminação da Taça de Portugal) que ia ser uma época sem glória. Isso nunca me arrefeceu sportinguismos, a glória é um calor que se busca mas que raramente nos aquece, temos quase sempre de ir buscar temperaturas amenas dentro de nós. É assim.
Por outro lado, já na primeira volta, em Alvalade, eu tinha ficado com excelente impressão do Rio Ave. Embora equipados de lilás, iam ganhando o jogo e jogaram tanto como nós. Ficou-me isso na ideia.
Ontem, os meus receios cumpriram-se, embora com excessiva expressão. Um jogo de futebol é feito de sortes, também. Já ganhámos muitos assim, com sorte, é seguro que derrotas assim também as há. O jogo correu bem aos vilacondenses, que fizeram por isso, diga-se.
Perdemos por 4-0, fiquei triste, mas não humilhado. O Rio Ave jogou melhor, ainda por cima saiu-lhes tudo bem. Ganhou merecidamente, mas não acredito que quisesse, sequer, que alguém extraísse humilhações alheias da sua vitória inquestionável.
Não, o Rio Ave não humilhou o Sporting. Apenas nos venceu, sem mácula. E se o Rio Ave, que nos venceu muito bem, nos não humilhou, muito menos o fará quem nos atribui humilhações em parangonas panfletárias de verbo vendável. Se o Rio Ave, que nos remeteu a uma tristeza quase muda, continuar a respeitar-nos... o resto será pequena história. Aliás, a bem da verdade, o Rio Ave já nos tem fornecido dissabores variados, ao longo dos anos.

Parabéns ao Rio Ave, que os merece. E viva o Sporting, evidentemente. Sempre.

19.3.04

Blogues que se findam.

Estes cantinhos onde as pessoas escrevem também são, aparentemente, demasiado efémeros. Muito dirigidos, muito rápidos, desagregam-se facilmente. Parecem fervuras de "agora põe no mínimo". Se calhar "evoluem". Às tantas, "morrem-se", apenas.
Eu nunca hei-de acabar com este blogue. Ou despedir-me dele. A gente sai, desaparece, sem adeus. Porque não nos despedimos de nós, parece-me.
Mas é estranho ler, quase todos os dias, cartas de despedida escritas por pessoas que, no fundo, nunca se despedem de nós senão por interposta parte de si. Umas abandonam-nos "para melhor", prometendo recomeçar-se melhoradas, acrescentadas. Outras, deixam-nos por desencantados cansaços.

A gente, às tantas, pergunta-se se um blogue tem mesmo de ser mais do que uma versão nossa de nós.

18.3.04

Notas soltas

Presume-se que estas notas prescindem, por comodidade, de clave definidora.

1 - Recebemos um mail dum amigo meu (e do Paco), um dos piores feitios a norte da cidade do Cabo. Não o transcrevo porque não possuo autorização expressa para tal aleivosia.
É meu colega. Benfiquista, vaidoso (obviamente, não por este vermelhusco motivo), profissional competentíssimo, anancástico até ao desespero, admirável e odioso pelos mesmos motivos, dependendo de quem o aprecia. Costumo dizer que é um pavão legitimado pela plumagem: um daqueles seres execráveis em que se pressente categoria, carisma, bondade, desmedido orgulho. A gente inveja-os, detesta-os, às vezes apetece bater-lhes exaustivamente, mas gosta-se deles. Uma desgraça para qualquer auto-estima, encontrar e tentar ser amigo dum tipo assim.
Acredito que vai escrever aqui, de vez em quando. Não lhe digo o nome, porque ele há-de adoptar um pseudónimo hispânico qualquer, como nosotros. Mas faço-lhe esta apresentação introdutória como um acto de justiça: ele é um sacana vaidoso e apreciável. Foi o único colega que me veio ver a casa, no ano 2000, quando parti um pé. E cantou-me os reis, em altura de difícil digestão da minha vida. E trata-me mal, diz mal de mim sempre que pode, o que lhe pago com prazer vingativo e amigável.
Mais não digo, os vaidosos legitimados já têm que chegue, dado por Deus.

2 - A Lolita, outra admirável vaidosona, distribuiu tarefas com a sua habitual parcimónia. Concordo. Entre ser kamikaze condenado a explodir de fita na cabeça (não, não sou o Vítor Baía) e ser um ruminante de pastagens suaves, por muito que me sofra, antes a fita. Bum. Por muito que me chore, a fita. Paciência.
Confesso que pensava ser o Direito "ciência" mais acessível que a Medicina. Enganava-me: a Lolita descobriu, sem esforço, que os corticosteroides são a panaceia mais barata do mundo inteiro. São os corticosteroides e a bonomia, o gostar dos outros. E eu ainda me esforço, hoje em dia, no entendimento duma "não sei o quê precatória" que me enviaram, pomposa e ameaçadora.

3 - Durão Barroso estava a ser apertado por quatro jornalistas quando deixei a sala e vim para aqui. Eu não gosto dele. Mas eu, também, gosto de pouca gente ao mesmo tempo. Eu acabo por gostar de quase toda a gente, mas em tempos diferentes. Não tenho capacidade de gostar de toda a gente que gosto, igualmente, ao mesmo tempo. Isso é bom e mau, porque também não os detesto todos ao mesmo tempo. Mas, em havendo tempo, há um tempo para tudo.
Por falar nisso, hoje é, pelos vistos, tempo de apertar o primeiro ministro, na nossa pequenez. Afirmo, sem sombra de dúvida, que me repugna a retirada das tropas espanholas do Iraque, agora. Zapatero, rapaz, tem tino. E espero que a nossa GNR lá continue, pelo tempo previsto.
Nunca degluti a invasão do Iraque, não me deixo conduzir por americanos (ou gaboneses!) de olhos pequeninos e vis. Mas repugna-me, causa-me azia, qualquer agachar-se sob ameaça. Um homem tem medo, mas aprende a viver com ele, sobretudo se a alternativa for uma inglória declaração de menoridade.
Não me façam discursos de "olhem que somos pequeninos, não merecemos atentados!". Merecemos, pois! Tanto como os outros!
Eu não quero nenhum atentado terrorista no Mundo inteiro, senhores! Mas não quero estar isento deles por favor, por cedência, por retirada soez. Pretendo que eles acabem, por princípio bondoso! Que se constituam excepção de loucos a exterminar (não merece respeito nenhum, quem mata indiscriminadamente). Mas que não me condicionem nas minhas decisões e na minha vida mais do que o inevitável: viverei com mais angústia, mas irei vivendo.
Que a retirada seja digna, por motivos nobres, de fundo. Nunca por ser, agora, politicamente correcto. Que nem acho que seja.

Para já era só isto.

Notei, outrossim, as prosas diletantes do Alonso e do Paco. Hão-de pagá-las, em tempo competente.

Distribuição de competências

Estive a pensar nos talentos, especialidades, ódios, paixões e outras taras dos membros deste blogue e tenho a propor-lhes:

Que o besugo se encarregue dos temas de defesa difícil, dada a sua costela kamikaze bem acentuada. Ele aguenta. Que discuta as questões jurídico-sociais e a ciência do Direito, que ele sabe ser acessível... e que fique também com o tema "Portas", uma vez que é da sua vontade e porque sempre pode ter, nas ocasiões em que escreva sobre ele, a glória da unanimidade dos leitores fiéis da sua inesgotável inspiração ou, pelo menos, o suave prazer de saber antecipadamente que o máximo que o Alonso consegue, como argumentação em defesa do fulano, é... tirar-lhe o baton.

Que o Paco encarne as forças da oposição, seja esta política, futebolística ou qualquer outra. Que, contudo, explique aqui as virtudes do Mourinho, que eu sei que ele tem e o Paco também sabe, até para que alguém seja original a este propósito. No restante, que seja o mais possível do contra, mesmo quando não lhe apeteça. Que assuma o papel do Louçã no Parlamento, o do MST no Público ou o do Saramago em qualquer lado do mundo. Com as adaptações necessárias, se ele assim quiser...

Que o Alonso se encarregue do pelouro dos assuntos mundanos (tenciono apresentar-lhe a tia, para que ele receba formação) e de outros fait-divers, temas para os quais ele sempre mostrou competência e apetência. Que não deixe, porém, de defender o imperialismo capitalista e de explicar como funcionam bem as democracias participadas, usando como exemplo esse notável defensor das liberdades individuais chamado António Oliveira. Que exorte o mundo ao anti-comunismo e que explique a profunda, embora inalcancável às massas críticas (manipuladas, claro!), racionalidade da desmantelação do eixo do mal como estratégia segura para se alcançar a pax americana.

Eu fico com o que sobrar disto: o Festival RTP da Canção, o mar a bater no molhe, o molhe a bater noutra coisa qualquer, costura, boas maneiras, compra e venda de casas e lotes de terreno com viabilidade de construção, take-away e assuntos afins. Medicina, quem sabe, essa ciência também acessível: como tratar uma psoríase com um tópico corticóide, por exemplo...
Ou melhor: eu depois vejo.

Parece-lhes bem?

17.3.04

Sras. e Srs.

Pedimos desculpa por este interregno lúdico, o blog sério segue dentro de momentos.

Para o provar, ais algumas cenas dos próximos capítulos:

"... sim, porque os administradores hospitalares, que não sabem distinguir um bisturi dum catéter ... blá, blá, blá ... e se eu quiser praticar medicina grátis porque é que nme impõem as taxas moderadoras ... blá, blá, blá ... ó Mãe o Alonso e o Paco estão sempre a meter-se comigo ... blá, blá, blá ... as encostas do Douro, cheias de trabalhadores que se confundem no verde da paisagem ... blá, blá, blá ... e o cheiro das peúgas deles é algo que só um médico sabe ... "
Posted by besugo, 25:62 APM

"... e o molhe lá estava, com o mar a bater-lhe ... blá, blá, blá ... o glaciar lembrou-me o Marão, mas mais alto ... blá, blá, blá ... "Dai li, Dai li, dai, li, dailidailidailidÔ, papagaio voa" ... a música por vezes substitui a palavra ... blá, blá, blá ... os senhores emproados dos recursos humanos são fanáticos da proactividade ... blá, blá, blá ... voltaste Alonso, fizeste bem que o besugo já não sabia o que havia de escrever para dar a ideia de que somos muito intelectuais ... blá, blá, blá ... li isto (sublinhado) e isto (sublinhado) que me lembram como o mar bate no molhe ..."
Posted by lolita, 33:76 PAM

Como vêem, caros leitores, amanhã é um novo dia e as vossas referências de leitura voltarão, depois da insanidade que hoje se tentou instalar.

Desidratam-me, bolas!

Este blogue, às vezes espanta-me. Isso é bom, o espanto é excelente mola para o progresso, seja lá o que for essa excelente coisa de que as pessoas gostam tanto. A melhor frase é mesmo aquela que começa por "...em pleno século XXI...", que continua, geralmente, com uma barbaridade de microcéfalo que pretende mostrar a incongruência entre a progressão do tempo, contadinho, e a persistência de atavismos. Fico doido, com isso. Eu sou um bocadinho antigo, bolas! E aquilo é uma frase típica dos "média de dez da vida".
Dizer que o Portas é um mau ministro nunca me passaria pela cabeça. Não é como ministro da Defesa (até podia ser secretário de estado da flatulência!) que me desagrada. É mesmo como pessoa. É ele mesmo. É visceral. Quero lá saber se ele é ou não um bom ministro da Defesa! Eu gostaria que ele não existisse. Que estivesse num campo de refugiados, a fazer a faxina... e a "fazer" refugiados. Ou num rancho da Califórnia onde fosse imensamente feliz, mas que não me aparecesse à frente em telejornais ou em revistas. As minhas vísceras são o que são, ele aparece e eu tenho arrancos, se permanece... vomito. Botem-lhe cabeleira: vomito. Pintem-no de azul lélé, vomito. Abonequem-no de baton, pespeguem-lhe saltos altos, vomito! Mostrem-mo a passar revista a tropas em parada, eu rio-me imenso com o ar efeminado dele... e depois vomito. O Portas desidrata-me, se não me acautelo! Tirem-mo da frente ou encham-me de soro! Na TV mudo de canal, mas aqui? Aqui em casa?
A partir de agora, caros confrades, por uma questão de birra (legítima! eu andei aqui sozinho mais de uma semana!) só eu posso falar do Portas. Em alturas de purga ou vomitório. Caso não possa ir ao Gerês, evidentemente, que é outro asseio. Sim? Prometem?
Bom. Obrigadinho. Por esta vez passa.

Não seja por isso ...

O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro
O Portas é um mau ministro

P.S. - e era isto um blogue sério, cheio de molhes e marões, lutadoras de décadas e glaciares altíssimos ...

P.C.P. - ... e médicos com a mania da perseguição ...

B.E. - ... e drag queens sempre no topo ...

P.R.P (B.R.) - ... a burguesia esquerdista no seu esplendor. Com baton e tudo.




Ó Alonso, tu não te desgraçes!

Tu sabes muito bem que os administradores dos blogues possuem poderes paranormais. Para além de medirem o espaço em quilómetros e o tempo em décadas, também podem colocar os chamados postes "sempre-no-topo"!

Agora, se conseguires escrever "O Portas é um mau ministro" umas cinquenta vezes eu prometo reconsiderar e até, quem sabe, tirar-lhe a maquilhagem...

16.3.04

lolita és uma mafiosa

Publiquei a foto da ministra da defesa (sem baton, que é como eu gosto) muito depois da que tu puseste, mas é esta que aparece no topo da página ... nem tentes explicar-te, eu sei como as lolitas deste mundo detestam mulheres bonitas quando elas lhes aparecem pela frente ... nem que seja do ecran!

Quanto ao Portas: Já percebi que não arranjas nem sombra de argumento para a respectiva remodelação.

Aguardo por isso que um dia arranjes tal coisa. Ou que caia o Governo.

A pedido do Alonso, a remodelação do Portas

loira por loira, prefiro esta

O desafio

Intróito que não tem nada a ver com nada: Devo confessar que não vi as imagens do glaciar com sessenta quilómetros de ... altura. Mas gostava de ter visto.

Outro intróito que não tem nada a ver com nada: eu posso andar balhelhas, mas não me lembro de ter cascado no besugo nas minhas últimas intervenções. Cá para mim o home está mais balhelhas do que eu.

Agora o desafio. Queixando-me eu da falta de assunto, convidou-me a lolita a escrever aqui umas palavritas sobre a remodelação. Com uma menção especial ao Ministro da Defesa.

Ora, que posso eu dizer? Quanto à remodelação, apenas posso comentar que a Ministra da Justiça já devia ter ido há muito. Não por não ter feito nada, mas porque quiz fazer tanto que criou uma confusão no meio jurídico. Mudou recentemente: A tributação do património; As leis laborais; o processo executivo; o procedimento administrativo; o procedimento tributário; o processo civil. Prevêem-se mais revisões em todos os diplomas supra, a mais algumas no Penal e no processo penal ... irra, que com leis assim atamancadas dá ideia que é propósito do Governo instaurar o caos!

Das outras pastas nada sei. O governo em geral causa-me a mais profunda indiferença.

O caso Portas: alguém dê uma ideia da razão porque ele deve ser remodelado, por favor. Dizer mal do rapaz só porque não se gosta dele ou do estilo dele não vale. Quero uma razão intrinsecamente ligada ao seu desempenho como Ministro da Defesa. Se essa razão fôr dada, prometo que estudarei o assunto.

A paz do gelo

Um glaciar com cinco quilómetros de largura, sessenta de altura e trinta quilómetros de extensão é algo de verdadeiramente grandioso. Há pouco, vi no final do telejornal o colosso de gelo a desmoronar, após dezasseis anos da mais absoluta e silenciosa imobilidade. Grandiosamente.


Perito moreno, Patagónia

Salut, c'est encore moi!

O Sporting venceu, bem, o Alverca. E percebi, com alegria, que o Alonso e o Paco se resolveram a emprestar, de novo, a sua verrinosa e sacaníssima verve a este ermo. E é tudo a zurzir o besugo, pobres guelras!
Apetecia-me dizer que o Santana nem para a direita que temos chega, quanto mais para qualquer esquerda! Mas não digo. Não se provam intuições, além do mais...
E se aquilo a que chamei desktop é um Tablet PC, percebe-se mal o que faz nas maõzitas frágeis do senhor: se não derreter, ainda se pica na foice ...Ó Paco, concorda lá comigo que se passava bem sem os risquinhos amarelos do senhor!

Por hoje fica aqui uma referência importante: ganhámos mais um jogo, apesar de o espanhol abonecado (leia-se Toñito) ter jogado. É obra!

15.3.04

Olá cá estou eu...

Não, não sou o Brise contínuo, mas dada a prolongada ausência posso dar este toque publicitário ao post.
E vou começar já a distribuir fruta.
Como de costume o besugo dá-se mal com os neologismos.
Depois do brainstorming e do downsizing, deu-lhe em meter-se com o desktop do Pacheco Pereira. Ora aquilo não é um desktop...é um Tablet PC.
Mas pronto, as novas tecnologias são assim mesmo. Hoje estamos up-to-date e amanhã precisamos de um update...
Pior ainda, dá-lhe para ser tão politicamente incorrecto como a Câmara de Lisboa e a história do McDonald's ao criticar os tecnocratas com defeitos vários. Por certo não se referia ao Secretário-Geral do PS que é bem escorreito no falar e na imagem. Quanto ao sentir, estamos falados, depois do episódio do Paulo Pedroso que dava quase um guião para uma novela da TVI.
O TóZé Martinho que se lembre disto e temos o sopeiral todo a chorar baba e ranho com mais uma saga.
Não sendo isto bastante, reduz a esquerda ao tão falado albergue espanhol a que um dia compararam o PSD.
Tudo lá cabe, desde a suposta esquerda caviar chique, que de caviar só conhece o nome (como eu, aliás, que os ovos mais pequenos que gosto são os da codorna), passando pelos chéchés do PC que nem tiveram, ainda, o discernimento de seguir o exemplo dos camaradas espanhóis e passar a chamar-se Esquerda Unida ou Cunhal Para Sempre, a ver se ainda havia incautos que gramassem a pastilha.
E acabando nos socialistas do PS que depois de se andarem a fazer todos de desinteressados (como o Jorge Coelho ou o José Sócrates que sempre estarão disponíveis, mas sempre solidários com o chefe da altura), agora que Al-Qaeda deu uma ajudinha aqui ao lado, sempre podem rezar para que os ventos islãmicos soprem para estas bandas em vésperas de eleições.
Acho que para essa esquerda até o Santana Lopes chega!
À Lolita, os desejos da rápida recuperação da lesão tibio-társica resultante do biqueiro da tia...E que cá te espero para praticarmos o crioulo que, felizmente ainda não terá palavras como brainstorming.
Ao Alonso, que finalmente o consegui destronar como campeão do absentismo blogosférico mas continuamos a luta contra a esquerda bem pensante que nos assola os dias.
Até à vista que espero seja breve, se assim a disposição deixar.

Anything goes

Times have changed,
And we've ofter rewound the clock
Since the Puritans got a shock
When they landed on Plymouth Rock
If today any shock they might try to stem
'Stead of landing of Plymouth Rock
Plymouth Rock would land on them.

In olden days a glimpse of stocking
Was looked on as something shocking
But now God knows
Anything Goes

Good authors to
Who once knew better words
Now only use four letter words
Writing prose
Anyhting Goes

If driving fast cars you like
If low bars you like
If old hymns you like
If bare limbs you like
If Mae West you like
Or me undressed you like
Why nobody will oppose

When every night
The set thats smart
Is intruding on nudist parties
In studios
Anything Goes

When Mrs. Ned McClean god Bless her
Can get Russian Reds to yes her
Than I suppose
Anything Goes

When Rockafeller still can Hoard
Enough money to let Max Gordon
Produce his shows
Anything Goes

The world has gone mad today
And good's bad today
And black's white today
And days night today
And that gent today
You gave a cent today
Once owned several Chateaus

When folks
Who still can ride in Jitney's
Find out Vanderbilts and Whitney's
Lack Baby Clo'es
Anything Goes

When Sam Goldwyn
Can with great conviction
Instruct Anna Sten in diction
Than Anna shows
Anything Goes

When you hear that
Lady Mendl standing up
Now turns a handspring landing up-
on her toes
Anything Goes

Just think of those shocks you've got
And those knocks you've got
And those blues you've got
From those news you've got
And those pains you've got
(If any brains you've got)
From those little radios

So Mrs. R.
With all her trimmin's
Can broacast a bed from Simmon's
Cause Franklin knows
Anything Goes

(Cole Porter)

A visão de um terrorista islâmico ...

... hoje deve ser esta: "Vitória!"

Não estou a atribuir ao PSOE qualquer culpa nesse eufórico sentimento dos assassinos. A culpa é, inteirinha, do PP.

Mas é preocupante.

Recomendo vivamente que ninguém ande de comboio em vésperas de eleições. O crime nem sempre compensa, mas se desta vez compensou, não há razões para que eles não pensem em repetir a façanha.

Viva Espanha!

Em reacção aos atentados em Madrid, os espanhóis choraram os seus mortos, profundamente emocionados mas, ao mesmo tempo, profundamente contidos. Recusaram-se a falar aos repórteres e guardaram orgulhosamente para si a sua dor, com um notável respeito por eles mesmos. E a essa dor profunda, os espanhóis transformaram-na, logo de imediato, em energia combativa. Deram conta do embuste e, em apenas três dias, perceberam que alguém os queria manipular. Os espanhóis mostraram, hoje nas eleições, que são verdadeiramente soberanos. Subestimaram-nos. Para bem dos espanhóis, que hão-de, porém, saber contestar sempre que se justificar, como agora aconteceu, espero que o PSOE, coligado ou não coligado, saiba distanciar-se da América Bush. Mas tudo isto, repare-se, a reacção dos espanhóis, a sonegação da informação pelo PP e as afirmações saloias do Bush sobre os atentados, tudo isto, é obra dos autores dos atentados. Se é verdade que a Al-Quaeda está envolvida nisto, tudo isto provou a perturbadora ideia de que o terrorismo pode manipular e alterar o sentido de voto num país como Espanha. Apenas a três dias das eleições.

Chulé

Há qualquer coisa de tenebroso nos tracinhos amarelos e circulares, com trajectos certeiros, que Pacheco Pereira fez, ontem, no seu pequeno e modernaço desktop da SIC.
Via-se ali, com pesar, um haitiano derrotado a ser humilhado por outro haitiano, o vencedor, que enquanto comia uma sandocha colocava a pata vencedora sobre a face humilhada do vencido.
Pacheco Pereira, contudo, não se choca com a imagem do pé na cara, nem com a atitude alimentícia do algoz. Pacheco Pereira nunca se choca. Limita-se a explicar-nos que aquilo é que é pobreza. Pacheco Pereira parece remeter-nos a um chulé diferente, mas é consabido que não há chulés, há só chulé.

Pranchitas de surfitos

Perguntado por uma senhora que agora não me lembro, Marques Mendes disse, sobre Morais Sarmento, que “é meu amigo e um óptimo ministro”.
O “e”, nesta oração, não é cumulativo. Até Marques Mendes perceberia o sindetismo da oração, se lho explicassem. Há “es” que exprimem total dependência sintáctica.

14.3.04

Engraçado e fatal como o destino

Aparentemente, falta apenas saber para quem Cavaco perderá as próximas eleições presidenciais.
E dizer, claramente, à senhora Avilez, que é péssima fora do espectro profissional da limpeza de loiça latrinária.

Qualquer candidato que a esquerda apresente, por Guterres que seja, ganha aquilo. Duvidam? Perfeitamente. Duvidar de mim é a antecâmara do martírio. Vaselinem-se.

O mundo está fartinho de tecnocratas com defeitos na vista, na fala, no sentir. Porque é que Portugal não estaria? Logo o Aníbal, que é logo na fala e no sentir que nos enjoa! E a vista? Está visto que não seduz. É uma cruzeta encimada de crâneo.

Receita: fusão da esquerda de aparelho (o PS e o PC) com a esquerda cocktail, educada, recuperável. Dêem-lhes cachaços até admitirem que são, de facto, de esquerda. Mas oiçam-nos. Oiçam-se. Agitem. Agitem-se. E não fiquem estúpidos. Não pensem que viram a luz, trabalhem. Desaparelhem-se. E agitem sempre. Pensem português em vez de pensar Portugal. Sim, que pensar Portugal costuma levar-nos a Ceutas, a Tângeres. A menoridades de franzininhos. Pensar Portugal é para senhores feios de gravata, com mulheres feias só de pensar neles. Pensar português é mais simples e mais belo. É questão de bom gosto.

Estive a ver um filme. "Deus é brasileiro". Isto justifica tudo. Dissiparam-se-me as últimas dúvidas. Visto daqui é limpinho. Alternar António Fagundes com qualquer Aníbal, é um acto de "Avileza". Para que fizeram isso ao senhor, logo hoje!? Logo hoje que o PSOE ganhou em Espanha, causando frémitos explicativos previsíveis na blogosfera liberal "caixadóclesforçaportugale"? Estou a lê-los daqui: "Não ter sido a ETA, merda, deu 7 votos aos filhos da mãe!".

Parvitos. Cus sentados à espera de quê?
Eles são tão... bisonhos.

A liberdade está a passar por aqui

Saúdo, vivamente, o regresso do Alonso. Já começava a pensar que, achando também que Portugal é um país pequeno, tinha resolvido emigrar para a Groenelândia, onde até há espaço a mais, e onde se dedicaria a escrever a biografia do António Oliveira, esse democrata exemplar que, afinal, nunca teve de combater nem pela liberdade nem por coisa nenhuma. Não, na guerra colonial ele não combateu. Combateram-no...

E por falar em combatentes: quanto à senhora cabo-verdiana, a verdade é vendi o peixe que me venderam a mim (não desfazendo no besugo) e nem parei para pensar nisso. As tais "décadas" de combate na Guiné são mais ou menos como os "meses" que tu demorarás a percorrer a A1, quando te meteres à estrada com o teu novo e veloz furgão Space...

Mesmo que não te passe o nevoeiro, vai escrevendo. Fala, por exemplo, da remodelação do governo Barroso. Deve o Paulo Portas sair? Não? Porquê?

Benvindo!

13.3.04

Paixões

"A Paixão de Cristo". Não vi e não vou ver. Li aqui há dias, num forum internacional de fans de um determinado jogo de computadores, que o dito é obscenamente violento. Discutiam (sobretudo os americanos) o possível anti-semitismo do filme - o que é ridículo, mas eles lá sabem - mas todos os que já tinham visto acordavam num ponto: o filme é muito violento. E, para isso, já me basta "Madrid e o mundo", como diz, muito bem, o besugo.

"Paixão por Cabo Verde". Li e hei-de ver um dia. Em todo o caso é interessante como a paixão enleva, a ponto de a lolita dizer de uma determinada senhora que ela terá estado "décadas" a lutar de G3 na mão ao lado do Amílcar Cabral. Quereria dizer "há décadas" ou será que o Amílcar começou a lutar ainda antes de ter nascido e continuou cadáver, ainda para além da independência e tudo? Cá para mim foi uma metáfora romântica ... estilo dizer (atenção: segue-se boca política provocatória) que o "Che" era um combatente da liberdade.

"A Paixão de Madrid". Sobre isto subscrevo, sublinho e admiro o texto do besugo. Nada mais.

"A falta de paixão em geral". Andamos (salvo, talvez, a lolita) todos amorfos. Tristes. Arrastando os pés. Nevoeiro, como diria o Fernando Pessoa.


And now, for something completely different ...

Um toque pessoal: Não fui a Cabo Verde nem ao Marão, não tenho contemplado molhes nem sou médico com angústias profissionais. Por outro lado, tanto se me dá que ganhe o Porto como o Benfica ou o Sporting e - já o disse - por mim terraplanava o futebol profissional sem sombra de remorso.

Faltam-me assim temas pessoais para partilhar com a blogosfera. Ou são demasiado pessoais (tipo dói-me um dente) ou absolutamente irrelevantes (tipo comprei uma Renault Espace que não anda nada mas tem uma excelente aparelhagem).

Em todo o caso ficam a saber que ando por cá e que gosto de vos ler, nem que seja para vos dar uma bicadinha de vez em quando.

Não sei se notaram mas isto foi um pedido de desculpas pela minha prolongada ausência.

Sonhos

Na Cidade da Praia, numa escada irregular que ia dar a uma rua de terra batida, parti, mais uma vez, os óculos. Desta vez sem que a queda tenha sido provocada por atrapalhação embaraçada, como já me aconteceu. E aquele sol é demasiado luminoso, pelo que tratei de saber onde podia comprar outros. Levaram-me ao Plateau, a baixa da cidade de arquitectura colonialista, onde existe a única óptica de toda a ilha de Santiago. Ao lado, havia uma pequena loja de artesanato, onde parei, a ver na montra umas curiosas miniaturas de motas feitas de latas de sardinha. Há muito poucas motas em Cabo Verde. E aquelas miniaturas eram tão minuciosamente perfeitas que imediatamente se percebe que, quem as faz, constrói sonhos.

Apresentaram-me, pouco depois, a presidente da Associação das Mulheres Cabo-Verdianas, à qual a tal loja pertence. Uma mulher alta, pujante, de olhar firme e seguro e sorriso rasgado, africano. Mais tarde explicaram-me que, durante décadas, tinha lutado ao lado do Amílcar Cabral, de G3 na mão, pelas matas da Guiné. Não quer ter nada a ver com a política activa, apesar dos repetidos convites. Sonha, ainda.

Lá comprei os óculos. Uns ray-ban caros demais, apesar de tudo os mais baratos das várias marcas internacionais que vendiam na única óptica de toda a ilha de Santiago, onde ainda há gente a construir sonhos e que vive bem sem os poder comprar.

A identificação dos bárbaros

Um homem simples pode ter inquietações sobre as coisas de Madrid e do Mundo. A simplicidade pode não o dispensar de tentar rotular os medos. Na sua puerilidade, pode querer saber se quem matou foi Manuel, Joaquim, ou ambos. Como se as coisas de Madrid e do Mundo se atenuassem na simples identificação dos bárbaros, na imputação de culpas, na aplicação de punições exemplares. A Manuel, a Joaquim, ou a ambos. Como se daí lhe chegasse uma tranquilidade duradoura de "nunca mais". Ou uma satisfação de "bem te entendo". Como se entender bastasse.

Um homem simples pode, por outro lado, limitar-se a acreditar que a sementeira precede sempre a colheita, que a colheita se quer boa, que pode haver geadas que estraguem a colheita, mas que a qualidade desta dependerá, sempre, antes de tudo, da sementeira. Um homem simples nem sempre é rural, nem sempre entende de sementeiras e colheitas, mas até os homens complicados sentem o fascínio de falar do que não sabem.
Um homem simples sabe, geralmente, que não sabe.

12.3.04

Ao correr da pena

O Futebol Clube do Porto jogará, nos quartos de final, com o Olympique de Lyon. Mourinho, esse odiado treinador, já vaticinou um jogo difícil, reconhecendo a enorme capacidade organizativa dos franceses. Se o Porto ganhar, o que eu espero, poderá jogar com o Deportivo de Coruña, o clube do único espanhol que considero meu amigo, embora conheça muitos. Acrescento duas coisas, uma delas, se calhar, evitável, mas aqui vai: o que disse nada tem a ver com os atentados em Madrid. Sobre isso, nada digo, porque nada me ocorre a não ser... arrepios. A outra coisa é que os amigos são assim, poucos. E eu tenho poucos amigos, embora conheça muita gente. Sem banalizações, como deve ser, para que tudo seja mais real e, sobretudo, mais memorável.

Há dias em que sabe bem falar de futebol, para espantar outros escritos.

Supremas simplicidades

Um homem que não tem tempo de esmiuçar o pensamento dos outros, vertido em gotas de sabedoria conhecedora e informada pelas páginas do mundo, tem, muitas vezes, uma visão simples das coisas. Uma ciência limitada, fácil, mas que é só sua. Mesmo que partilhada é só sua, porque embora já exista e toda a gente dela saiba, esse homem dela não tem conhecimento como coisa exterior, cuidando ter ela de si brotado apenas porque, de facto, assim foi. Isto acontece muito aos homens simples.

Um homem simples pode, perante as coisas de Madrid e do Mundo, sentir-se profundamente triste, genuinamente revoltado, imensamente intranquilo, solidariamente magoado, raivosamente impotente, afastadamente alheado.

Um homem simples pode, por ser simples, guardar para si as suas análises das coisas de Madrid e do Mundo. Sobretudo se nelas pressente emotividades e conflitos que o desnudariam todo, caso as expusesse na sua germinal simplicidade.

Um homem simples pode, ao invés, num assomo apaixonado de simples, derramar-se em espasmos angustiados de afirmação, numa tentativa de negar o medo na sua própria explicação, como se regressasse a uma infância de quartos escuros e de papões, por causa das coisas de Madrid e do Mundo.

Um homem simples pode cogitar, tristemente, na sua simplicidade, que as coisas de Madrid e do Mundo são apenas mais um trágico episódio colectivo dos nossos trajectos humanos, cada vez mais individualistas e tribais. Como se nos juntássemos, apenas, na desgraça e na dor de não o termos feito antes.

Um homem simples pode, contudo, limitar-se a pensar que é cada vez mais comum matar sem ter, sequer, ciência da cara de quem se matou. Suprema abstracção da morte. Suprema abjecção do acto de matar. E calar-se, nada dizer, num singelo silêncio de simples.

11.3.04

Cheguei.

Podia começar este poste com uma frase parecida com a da Karen Blixen, do tipo "I had a farm in Africa". Eu, porém, nada possuo de África, nem sequer parentes colonizadores ou histórias familiares da descolonização que não sejam as mesmas que generalizadamente se conhece da História recente. Mas estive lá e, embora seja pela segunda vez, sabe-me como se fosse a primeira. Em Cabo Verde, esse país periférico em relação a qualquer parte do mundo, incluindo ao próprio continente africano. A viagem seria suportável se, não fosse o efeito devastador da macrocefalia lusitana, pudesse ter partido do Porto directamente para o destino e, também, se os aviões com hélices ensurdecedoras nunca tivessem sido inventados. E, embora circunstancialmente, se não tivesse tido por companheira de parte da viagem a estrela mais brilhante do Jéteséte português, que inadvertidamente me deu um biqueiro na perna com um sapato pontiagudíssimo que, decerto, comprou no Faubourg Saint-Honoré ou na Rodeo Drive e que, no final da viagem, ofereceu aos passageiros mais próximos um pequeno momento de descontracção (tão oportuna, para quem sofre de aerofobia), ao encetar um hilariante diálogo com outro passageiro, também uma estrela cintilante, em que ambos animadamente discutiram o tamanho de Portugal e o efeito, na anónima massa de populares, de uma peixeirada encenada pela primeira das ditas estrelas num programa de televisão.

A seguir cheguei a Cabo Verde, esse país também discutível no tamanho, onde ninguém usa sapatos pontiagudos e saltos altos. Ainda bem.

9.3.04

Camadas de besugo

Declaro este blogue em crise. Deixaram-me aqui sozinho, eu reparei, escusam de esboçar sorrisinhos. Eu sei, sou o faxineiro disto!
Palpita-me, no entanto, que a solidão será recompensada com magníficos relatos de sabor africano. Chegou-me esta informação, reflectida pela ionosfera, aquela parte da atmosfera que compreende a mesosfera e a termosfera!
É no que dá ajudar os putos a estudar: saem-nos esguichos de besugo às camadas...

8.3.04

Esperar ainda

Enquanto espero, sentado sobre a minha angústia, fui ler isto. E isto.
Coisas bonitas ajudam esperas mal sentadas. E ajudam a ficar.

Esperar

Já estiveram alguma vez à espera? Duma notícia, de alguém? Paciente e empenhadamente? Um bocado ansiosos?
Então fiquem aqui comigo, um bocadinho.

7.3.04

Sondagens

Perguntei-lhe o que tinha e ele disse-me que tinha sede, mirei-lhe a língua e estava seca, de papel. A idade não sabia, disse 24. A filha, que tinha sapatos altos, disse 81. Hesitei. Tenho a certeza que ambos me mentiram.
Aquela língua é que estava, sem dúvida, muito seca. Não é bom sinal secar-se-nos assim a língua, a língua quer-se húmida. Para humedecer as palavras. "Isto é da diarreia" - disseram os saltos altos da fillha, conclusivos. Algaliei-o. Meti-lhe uma sonda. Sondei-o.

A filha de saltos cada vez mais altos perguntou-me, em voz baixa, se era grave.
Eu disse-lhe que sim. O que é ainda mais grave que a simples audição da pergunta.

Se "o pai da filha do pai" morrer, de saltos altos, esta póst(um)a poderia ser de João César Monteiro. Se ele e eu tivéssemos, juntos, o talento duma língua seca. Muito grave, isto. Muito improvável.

Eu, às tantas, estou também seco. E em lista de espera para um purgatório.

Teias de aranha

A humildade não se ostenta, porque se lhe contrapõe. Quem apregoa bondade e simpatia pelo sofrimento alheio, do alto de uma existência confortável construída com base num estatuto social facilitador desse conforto, faz pura e pequena caridadezinha. Daí, parte-se para o discurso intrinsecamente feminino, o discurso da igualdade, da aproximação, da recusa da discriminação, sem sequer se perceber que quanto mais se complica e se estimula esse discurso mais se acentua a discriminação e mais ela permanece. A questão do aborto nada tem a ver com feminismo. Proíbam-se as feministas de reivindicarem a defesa (ou a condenação) dos direitos das mulheres que praticam o aborto. Proíbam-se, também, as mulheres de boas famílias de mostrarem compaixão pelas mulheres que, distantes de si, praticam o aborto. E também os homens, bolas, os homens que pensem assim. É de respeito que se trata, não de decisões de condenação ou de absolvição. De respeito pela consciência dos outros. Das outras, neste caso, mas por mera imposição biológica.

6.3.04

Quem sofre mais? Quem parte ou quem fica?

Estou aqui a pensar onde é que eu ouvi isto. As separações, mesmo as separações temporárias, provocam aquela neura inconsciente de que são para sempre. A vida muda imperceptivelmente todos os dias, mas as separações roubam-nos os bocadinhos da vida daqueles de quem dependemos para termos bocadinhos felizes de vida, impondo-nos dolorosas e bruscas mudanças às quais nos custa habituar. Por isso, se se parte só, é fundamental que se esteja só quando se parte, porque a solidão da partida nos distancia das pessoas que nos fazem falta. Mesmo antes de se partir.

5.3.04

Nada

- Tu vais votar sim ou não?
- Não. Mas penso sim.
- Devias ter direito a votar duas vezes, tu...
- Mas eu sou só um, estás parvo?
- É que eu contei as tuas consciências...
- Não sejas parvo. Só tenho uma, que me dita esta atitude. Tu não entendes.
- Pois não. E contei mal. É que nem tens uma, sequer.
- Uma quê?
- Nada.

Estados de alma

Admito, sem custo, ser dado a eles, permeabilizando-me mais do que seria sensato. Uma permeabilidade vulnerável, de argila frágil de frescura, mal cozida pelo tempo.
Sob os vergonhosos escombros deste pecado, se calhar a destempo, se calhar ternarizando um quaternário, afirmo o seguinte: prefiro, então, a BLOGOALMA à blogosfera. Eu já suspeitava que não eram a mesma coisa.

Amanhã passa-me

Já aqui me enchi de dizer o mal que penso da TVI. Leia-se, por TVI, "sensacionalismo", que é rio que transborda o leito da TVI (há outras emissoras) e desagua nas nossas consciências, tantas vezes mar plácido de bovinas e cúmplices tranquilidades, desinteressadas e interesseiras. Acabei de inventar um passivo e baralhado (mas ávido) ruminante com guelras, evidentemente. Por mim chamava-lhe "povo português", mas a taxonomia já está toda inventada. Os senhores já sabem que me dá para aqui, às vezes, também me desculpam mais esta.
Hoje, a TVI passou duas notícias que eu vi e gostei de ver. Para variar. Não que eu tenha ideia que as notícias devam ser feitas para eu gostar. Nada disso. Eu entendo, até, que as notícias não devem ser "feitas". Devem ser "dadas", que eu não gosto de ser manipulado fora de contextos estritamente necessários ou saborosos. Contudo, já que se insiste na apresentação da notícia "embrulhada" no papel que mais parece brilhar na altura, admito que prefiro este tipo de "embrulho", simples e bonito, sem purpurinas.
Pela positiva, sem grandes esgares nem grande empolgamento, a TVI veio dizer bem do Hospital de D. Estefânia, "A Estefânia". É um acto de justiça. Já muitas crianças lá morreram, já muitas crianças lá sobreviveram, mas a reportagem é ilustrativa da utilidade, da bondade, da indispensabilidade dum Sistema Nacional de Saúde que é considerado o 11º (acho eu) melhor do Mundo pela OMS. Eu não espero consensos, nem sequer discussão, que isto é indiscutível para mim. Já dei para o peditório, individual ou colectivo, do "a mim trataram-me mal, por isso merda", esse ferrete malévolo com que "os que se queixam sempre" contagiam quem tende a "emprenhar só pelos ouvidos", fechando o coração ao empenho dos outros. Como se cada nódoa obrigasse a deitar fora toalhas antigas, bonitas.
A TVI, numa bonita reportagem, mostrou "A Estefânia" que todos gostamos de saber que existe. Mostrou o que se passa (eu acredito nisto com o meu coração todo) em todos os Hospitais Públicos Portugueses... em muitas ocasiões. Muitas mesmo. Quase sempre. Corrigir este quase pode ser difícil, pode custar dinheiro, mas façam assim: não mo dêem a mim, juro que não o quero. Dêem-no, de boa fé, aos Hospitais Públicos. E, depois, pagando-me o mesmo, vigiem a maneira como eu o faço gastar, controlem o meu empenhamento, mas façam-no com a bonomia de quem confia em mim, porque é suposto eu saber o que faço. Se fizerem assim, eu sorrio-vos também, de alma aberta, por me deixarem viver a minha vida a tentar ser útil. A servir quem precisa de mim. A fazer que a minha vida tenha algum sentido, no fim de contas.

A outra notícia mostrou as vantagens do sistema de vídeo-conferência no colmatar de dificuldades das pessoas que têm... inferioridades. Num País em que a interioridade geográfica acarreta uma inferioridade de cidadania intolerável, sinto-me orgulhoso (o orgulho é um sentimento passageiro e simples, não é grande pecado, passa-me amanhã) por motivos muito meus, muito dos meus doentes. A minha vídeo-conferência semanal, muito dos tempos pré-SA (cuja saudade me vai matando aos poucos), lá vai sobrevivendo.
A TVI enerva-me muitas vezes. Hoje emocionou-me muito. Como já disse, infelizmente, amanhã passa-me.

3.3.04

Análises comparativas

Andei por aí a ler algumas coisas. Detive-me, em alguns blogues, na já redundante discussão sobre Israel e a Palestina. Não será, sequer, preciso lembrar que se trata da discussão de uma questão política, provavelmente sem solução próxima ou longínqua, que se passa a milhares de quilómetros de distância e que, por isso mesmo, a mega-abundância da argumentação será, no mínimo, estranha, para não dizer obsessiva. Curiosamente, pressente-se que este tema é tão válido como qualquer outro seria para alimentar quer a retórica premeditadamente inspirada (às vezes esforçadamente inspirada), quer as acentuadíssimas clivagens ideológicas da blogosfera, quer o entediante show-off das vaidadezinhas dos cronistas. O tema, portanto, tanto podia ser este como o absurdo ressurgimento dos Kolkhozes e dos Kovkhozes na ex-URSS.

Mas tudo isto é evidente, para qualquer leitor medianamente atento. Atentei, porém, numa outra coisa que me pareceu relevante e que me levou a rebuscar a memória. Quando, nos tempos de faculdade, dei aulas de inglês a crianças entre os sete e os dez anos, lembro-me de, à medida que os ia conhecendo, àqueles meninos agrupados em turmas de vinte e tais, dar comigo a teorizar como seriam eles quando adultos. Lembro-me de ter a sensação nítida de que a estrutura do carácter de cada um daqueles meninos estava já em plena formação e de que eles eram o reflexo embrionário de si mesmos com mais vinte, ou trinta ou quarenta anos. Apercebi-me dos fiáveis, dos sensatos, dos melancólicos, dos eternamente inocentes; e dos vaidosos, dos insidiosos, dos invejosos, dos eterna e boçalmente presunçosos. Lembro-me, também, de concluir que como foi fundamental para aquelas minhas reflexões - por pouca importância que tenham - poder apreciá-los em grupo. Observá-los em colectivo permitiu-me, por um lado, observar como interagiam entre si; por outro, perceber como se tornam mais nítidas as boas pessoas, se colocadas na presença de más pessoas. E vice versa. Caramba, como estas coisas são assim, tão intuitivamente visíveis.

P.S.: Kolkhozes e Kovkhozes escreve-se mesmo assim?

O cacique

O Sr. Ferreira Torres, independentemente da sua filiação (ou simpatia) partidária, da sua vertente de autarca com anos de autarquia e do seu eventual envolvimento no chamado fenómeno futebolístico, é um cidadão.
Não penso que devesse ser preso pelo que andou a fazer no campo que tem o seu nome, lá no Marco. Não fez nada que os Ultras (essa espécie de novas mentalidades torcedoras que agora há, tipos que vão aos jogos para andar a dançar uns com os outros, de costas para o campo, e que lá vão urrando enquanto fazem horas para destruir e pilhar mais algumas coisinhas cá fora, quando a função acabar) não façam ou anseiem fazer.
Não foi mais prepotente que outros caciques. Não foi mais arrogante ou malcriado que outros autarcas e dirigentes que todos conhecemos. Foi ele mesmo, o Sr. Ferreira Torres, igual a si próprio. Ele, em apenas mais um episódio da sua vigência como "Ele". Ou não sabiam que ele é assim, há muitos anos? Pois é. E lá o vamos tolerando, como toleramos outros de espécie semelhante, mais palavrão, menos burrice. Lá o vamos deixando andar, com os outros todos.
O problema é que, por ser assim, um canastrão malcriado e prepotente (há muitos anos que o é, acreditem!), lá teve direito a 3 ou 4 directos em horário informativo mais ou menos nobre, com direito a interrogatório pelos VIPs da "pivotagem" televisiva. Pobre Paulo Camacho, sobretudo este, que até se esganiçou!

Não há meio de aprenderem. Este é, exactamente, o tipo de notícia que deveria esgotar-se nisto, mais ou menos assim:
"Boa noite. O senhor da imagem, que é fulano de tal, fez esta figura caricata, que agora mostramos, em tal parte. Não bateu em ninguém mas, confessou emocionado, apetecia-lhe. Não levou, ele próprio, no focinho, é verdade, mas apetecia largamente prodigalizar-lhe bofetadas sonoras. Acabou tudo numa sensaborona salmoura de dichotes e regateirices, pelo que passamos às notícias".

2.3.04

A omnipresença dos contentinhos

- Que cara é essa?
- Ando assim, um bocado triste, sabes? Preocupado.
- Mas por quê? Caramba, reage! Diz-me, preocupado por quê? Somos amigos!
- Bem, pois somos...
- Diz, homem, desembucha!
- Bem, são várias coisas. Para começar...
- Tu sabes que eu agora ando bem, não sabes? Tu não te esqueças do que ias dizer, mas ando com umas negociatas fabulosas! Já te conto, vais ficar entusiasmado!

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