Ainda Saramago
Vou comprar o seu novo livro e tentar lê-lo com atenção, se me der prazer.A ideia duma eleição com 80% de votos "brancos" faz-me lembrar o final de um qualquer espectáculo, em que quatro quintos do público, duma forma severamente acintosa, se conservasse sentadinho nas cadeiras, em silêncio, perante as acrobacias de artistas em ânsias de apoteose. É um bom mote. Sonho ver Paulo Portas a passar por isto. Assumiria, sem dúvida, uma pose cheia de altivez acabrunhada, que lhe iria a matar com o tailleur carmim que o meu sonho lhe destinaria. Lembrei-me de Paulo Portas por lhe reconhecer dotes inegáveis de artista, de animal de palco. Ia a dizer de diva, mas não cheguei a dizer, note-se.
Da entrevista de Saramago à RTP, que vi descuidadamente, retirei duas frases que o nosso mais laureado escritor lançou ao vento:
1 - "Nós não vivemos numa democracia, uma democracia não é isto".
2 - "Não há uma finalidade expressa nos actos terroristas, o que legitima (adicionalmente, diria eu), nos visados, retaliações com a mesma falta de fundamento".
Foi mais ou menos isto. Eu agora não posso, mas no sábado vou pensar nisto, "a ver se cola". Se "se me cola". Ou se não.
Mas quando Saramago fala, eu escuto sempre. Posso, depois, dar-lhe voto branco, nulo, antagónico. Mas escuto-o. Fui ensinado a respeitar o mérito, mesmo quando não sou eu a atribuí-lo (os imbecis dos suecos nem sequer me telefonam!). E, a bem da verdade, ainda é capaz de ser mais meritório um prémio Nobel que uma vertiginosa permanência no "top technorati". Ou que uma condecoração junina. Ou, mesmo, que ser ministro.
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