A identificação dos bárbaros
Um homem simples pode ter inquietações sobre as coisas de Madrid e do Mundo. A simplicidade pode não o dispensar de tentar rotular os medos. Na sua puerilidade, pode querer saber se quem matou foi Manuel, Joaquim, ou ambos. Como se as coisas de Madrid e do Mundo se atenuassem na simples identificação dos bárbaros, na imputação de culpas, na aplicação de punições exemplares. A Manuel, a Joaquim, ou a ambos. Como se daí lhe chegasse uma tranquilidade duradoura de "nunca mais". Ou uma satisfação de "bem te entendo". Como se entender bastasse.Um homem simples pode, por outro lado, limitar-se a acreditar que a sementeira precede sempre a colheita, que a colheita se quer boa, que pode haver geadas que estraguem a colheita, mas que a qualidade desta dependerá, sempre, antes de tudo, da sementeira. Um homem simples nem sempre é rural, nem sempre entende de sementeiras e colheitas, mas até os homens complicados sentem o fascínio de falar do que não sabem.
Um homem simples sabe, geralmente, que não sabe.
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