blog caliente.

11.3.04

Cheguei.

Podia começar este poste com uma frase parecida com a da Karen Blixen, do tipo "I had a farm in Africa". Eu, porém, nada possuo de África, nem sequer parentes colonizadores ou histórias familiares da descolonização que não sejam as mesmas que generalizadamente se conhece da História recente. Mas estive lá e, embora seja pela segunda vez, sabe-me como se fosse a primeira. Em Cabo Verde, esse país periférico em relação a qualquer parte do mundo, incluindo ao próprio continente africano. A viagem seria suportável se, não fosse o efeito devastador da macrocefalia lusitana, pudesse ter partido do Porto directamente para o destino e, também, se os aviões com hélices ensurdecedoras nunca tivessem sido inventados. E, embora circunstancialmente, se não tivesse tido por companheira de parte da viagem a estrela mais brilhante do Jéteséte português, que inadvertidamente me deu um biqueiro na perna com um sapato pontiagudíssimo que, decerto, comprou no Faubourg Saint-Honoré ou na Rodeo Drive e que, no final da viagem, ofereceu aos passageiros mais próximos um pequeno momento de descontracção (tão oportuna, para quem sofre de aerofobia), ao encetar um hilariante diálogo com outro passageiro, também uma estrela cintilante, em que ambos animadamente discutiram o tamanho de Portugal e o efeito, na anónima massa de populares, de uma peixeirada encenada pela primeira das ditas estrelas num programa de televisão.

A seguir cheguei a Cabo Verde, esse país também discutível no tamanho, onde ninguém usa sapatos pontiagudos e saltos altos. Ainda bem.

View blog authority