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3.3.04

Análises comparativas

Andei por aí a ler algumas coisas. Detive-me, em alguns blogues, na já redundante discussão sobre Israel e a Palestina. Não será, sequer, preciso lembrar que se trata da discussão de uma questão política, provavelmente sem solução próxima ou longínqua, que se passa a milhares de quilómetros de distância e que, por isso mesmo, a mega-abundância da argumentação será, no mínimo, estranha, para não dizer obsessiva. Curiosamente, pressente-se que este tema é tão válido como qualquer outro seria para alimentar quer a retórica premeditadamente inspirada (às vezes esforçadamente inspirada), quer as acentuadíssimas clivagens ideológicas da blogosfera, quer o entediante show-off das vaidadezinhas dos cronistas. O tema, portanto, tanto podia ser este como o absurdo ressurgimento dos Kolkhozes e dos Kovkhozes na ex-URSS.

Mas tudo isto é evidente, para qualquer leitor medianamente atento. Atentei, porém, numa outra coisa que me pareceu relevante e que me levou a rebuscar a memória. Quando, nos tempos de faculdade, dei aulas de inglês a crianças entre os sete e os dez anos, lembro-me de, à medida que os ia conhecendo, àqueles meninos agrupados em turmas de vinte e tais, dar comigo a teorizar como seriam eles quando adultos. Lembro-me de ter a sensação nítida de que a estrutura do carácter de cada um daqueles meninos estava já em plena formação e de que eles eram o reflexo embrionário de si mesmos com mais vinte, ou trinta ou quarenta anos. Apercebi-me dos fiáveis, dos sensatos, dos melancólicos, dos eternamente inocentes; e dos vaidosos, dos insidiosos, dos invejosos, dos eterna e boçalmente presunçosos. Lembro-me, também, de concluir que como foi fundamental para aquelas minhas reflexões - por pouca importância que tenham - poder apreciá-los em grupo. Observá-los em colectivo permitiu-me, por um lado, observar como interagiam entre si; por outro, perceber como se tornam mais nítidas as boas pessoas, se colocadas na presença de más pessoas. E vice versa. Caramba, como estas coisas são assim, tão intuitivamente visíveis.

P.S.: Kolkhozes e Kovkhozes escreve-se mesmo assim?

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