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28.2.04

Os extremos tocam-se? Defina extremos e explique tocar.

Pensar a vida como um círculo, com potencial ideativo para uns bons 360 graus, é cómodo. Fazem-se excelentes fritadas de carapaus com esta teoria. Qualquer joaquim consegue fazer isso, esbraseado. Mas, como o barnabé nos diz, a vida não é assim. E, da vida, se o barnabé não sabe, parece fartamente que sim.
É de 180 graus que se trata aqui. Não é de 360.
Os extremos não se tocam, em parte nenhuma. Há sempre quem diga o contrário, evidentemente, é confortável pensar nos desalinhados como se todos fossem iguais, como se tivessem pontos de contacto diferentes do simples desalinho. Não têm. Um louco que se imola pelos outros não deixa de ser um louco. Mas é um louco diferente do que se imola só por si, em frente dos outros. Ou do que imola outros em vez de si.
Na minha casa eu sei que a ponta direita da parede esquerda da sala de estar, vista por quem entra, é, de facto, aquela ponta que está mais afastada da ponta esquerda da parede esquerda do compartimento. Abstraindo de hipotenusas, evidentemente.
Eu admito: prefiro paredes e pontas esquerdas desde que me tentaram ensinar a virtude de estar à direita do pai. Os senhores bem vêem: almocei sempre bem à esquerda do meu pai, note-se; e mesmo à direita. Mas é na ponta esquerda da minha parede esquerda, vista por quem entra, que tenho a minha música. E na ponta direita da minha parede esquerda, sempre vista do mesmo sítio, que tenho um cesto vindimo pintado de vermelho velho, com lenha dentro.
Está bem, eu almocei sempre, à esquerda ou à direita do meu pai. E nem sempre preciso de música e, encolhidamente, lá vou à lenha. Mas soube sempre onde estava, de cada vez, em cada precisão.
Nada disto tem a ver com paredes, nem sequer com almoços. Nem sequer com precisões. Isto tem a ver com a justificação do injustificável.
A vida não é circular mas, vista por quem sai (ou por quem apenas vai ficando), empresta-se a perspectivas circulares sobre... linhas. Trajectórias. Com mais ou menos curvas, mas com princípio e fim. Isto não é o carrocel mágico.
Quadratura de círculos? Caramba. Não sei, mas as coisas são o que são, desde que não as "enfeitemos" só porque nos dá jeito ter lenha e música ao mesmo tempo.

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