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24.2.04

Cinzento rosado

Sempre que ouço o Tema d'Amore, uma das faixas da banda sonora do filme Cinema Paraíso supremamente escrita pelo omnipresente Enio Morricone, vem-me ao pensamento uma espécie de romantismo recreativo que me lembra retalhos de bons momentos, uns que retiro do passado, outros que construo no futuro. Há emoções cuja intensidade aumenta quando, mais tarde, são recordadas, fixando-se, nessa indolente divagação, imagens que, quando aconteceram, não duraram mais do que meros instantes. A música ajuda. A música torna-nos doces, reconciliados com a vida e indiferentes a tudo o que nos pareça criticável, nas nossas fatalmente subjectivas opiniões. Nem sempre afasta a tristeza, mas torna-a mais bonita. Nem sempre nos dá soluções, mas torna-nos optimistas. Eu acredito que o mundo tem uma componente profunda de beleza de que nos esquecemos quando nos deixamos cair na mágoa que nos causam as imposições alheias ou na raiva das pressões que nos ferem a nossa mais íntima liberdade. A maior parte da beleza da existência é, repare-se, fruto da criação humana, seja pública ou anónima, artística ou apenas emocionada. A beleza criada é como uma dádiva: sublime, porque nada se exige em troca. Como a música.

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