blog caliente.

26.2.06

"Bah! O que é isso, o Sporting?"

Entendido, besugo.
Mas tens aí uma gralha no texto. Vê, no título acima, a frase correcta.

(o frigorífico não digo, mas o portátil deve voar bem...)

Aviso já

E amanhã?
Amanhã temos dois holandeses a mostrar serviço. Quando dois holandeses querem mostrar serviço é melhor que se chamem Riijkard, Van Basten ou Gullit. Ou Cruijjf. Lê-se "Craif".
Vou ter "hooligans" em casa. Para os deixar ver a bola sossegados hão-de ter de comportar-se muito bem. Quem me danificar o frigorífico, a mobília, ou soltar um simples "bah, isso do Sporting!...", está feito. E empata ou perde.
Ouviste, lolita?

vinhos adamados




Estive a ver e a escutar umas porcarias que aqui tinha e posso dizer-vos duas coisas:
1 - Este tipo não vale a ponta dum corno.
2 - Não sei como é que ainda aqui tinha algumas das porcarias que aqui tinha. Se não estivesse este frio de neve, estava a metê-las num contentor do lixo, em lugar de estar aqui a escrever. Sossegai, há-de vir Março e, mesmo, Agosto.

motivo de internamento: tem de ser

" - E quando for no fim posso deixá-lo aqui, que eu já não consigo olhar para aqueles olhos?", pode, pode, pode e deve, vá descansar, vá repousar o corpo, deixe-o cá, pode e deve, tem de ser mesmo, descanse um bocadinho dele e dos olhos dele a morrer e deixe-o descansar a ele de saber que vai morrer e de lhe ver isso, a si, nos olhos, nos seus olhos, cada vez mais cansados dos olhos dele, todos os dias.

" - Este doente não tem critérios para internamento num hospital de agudos, fica caro ao erário público, sem qualquer vantagem para o desfecho final!" , vai-te foder, vai levar no cu, havias de ser encabado pelo público todo, havias de passar horas fechado num quarto pequeno, com seis daqueles tipos com disfunções erécteis, esses que agora já funcionam outra vez, a comprimidos, esses que agora parece que têm o tempo todo do mundo para foder, dá nos anúncios!, havias de os ter em fila, por detrás de ti, cheios da paciência dos contentes, a meter-ta mole, à vez, até te vires, TU!

E a palhinha no copo? É, são muito parecidos.


Vai para casa, sai daí, tu assim não me deixas estar bem, vai para casa!, vai, desaparece, eu não gosto de te ver aí, pira-te, mulher!, desanda, levanta-te e vai para casa, de autocarro, de trólei, tira as chaves do bolso e vai de Citroen, mas sai daí, vai adormecer os teus filhos, os teus netos, ainda por cima olha-se para ti e não se percebe bem que idade tens, se és mãe, avó, ex-tenente ou filha... filha tens de ser, vai para os teus pais, onde estão eles?, vai para casa deles, pais tens de ter, cabra, não te percebo, não se percebe, não quero nada, sai daí, ladra, só se percebe que essas sandálias não são tuas, ladra, sua ladra, tu hás-de ser ladra e ter doenças, sai daí, andor!

Caminhos longos

O problema não são os putos que mataram o sem-abrigo. O problema são os putos, se pensarmos que mataram o sem-abrigo, claro. Mas o problema são os sem-abrigo.

Uma pessoa não ter ninguém - ou pensar que não tem - há-de ser um desespero tão grande que pode dar vontade de chorar a imbecis como eu, que têm.

Temos?

25.2.06

O problema de cair um bocadinho

Não gosto de José Mourinho. Isto há muito tempo. Ainda ele era tradutor do Bobby Robson, não tinha cãs e era muito magrinho, parecia um "arancu".
Coisas que não se explicam. São assim. Ou, se se explicam, não vêm agora ao caso.

Isto que vou dizer a seguir acontece-me frequentemente. E não é só com Mourinho, nem com treinadores de futebol, nem com patinadoras (as patinadoras, aliás, podem ser perigosas, houve uma que mandou dar com um taco de baseball nos joelhos de outra, uma Tonya qualquer, acho que Harding, mas eu não vou ao Google por detalhes). É com toda a gente.

" - Está bem. Mas diz lá, inenarrável estupor, o que te acontece?".

Acontece-me isto: palpita-me que, se o Chelsea perder em Barcelona (e eu acho bem que sim, que o Barcelona é mesmo uma grande equipa e o Chelsea mantém lá tipos como o Cole, o Duff e o Wright-Phillips - este é uma espécie de Douala, mas em pior -, portanto, enfim, que pode o peneirento do Mourinho fazer acerca disto? Muita coisa, mas agora não interessa), vão todos cair em cima do homem com sanha assassina. E eu não gosto disso. Ainda gosto menos disso que do Mourinho (e ele desperta-me a simpatia dum sarampo), mesmo quando faz anúncios e mostra que não sabe perder.
Isso não me importa nada, eu também não sei perder, nota-se é menos, porque ninguém me liga.
Ganhar sei. Ainda agora ganhei 3-0 e não falei nisso.

Coisas que eu sei

Como se avalia um médico?
Como se compara um médico com outro?

Isto por causa dos exames de saída de especialidade.

Há critérios objectivos. Se formos por aí, por esses critérios, avaliam-se coisas que também dão para a gestão de empresas, para a publicidade, para o jornalismo (tudo coisas que há e vai haver sempre, havemos de gostar sempre de purpurina pífia, mas que não são assim muito importantes, excepto por, de facto, também serem importantes, do ponto de vista da cosmética da vida). São os critérios objectivos, costumam vir "na lei" e, por muito que nos custe, "os médicos candidatos a especialistas" conhecem-nos tão bem como nós - e, quase, melhor, porque "é mais com eles". Têm de ser certeiros e objectivos na prova final, dissecar e esgrimir, estrebuchar mansamente, até ao "touché" catárctico do fim. Vem-se toda a gente.

Faz-se, ali, de conta. Complica-se. Simplifica-se. Tudo ao mesmo tempo. Como se o júri estivesse ali a dirimir-se, em lugar de ser escala de valores. Finge-se, ali, que a oratória é importante e que a escrevinhação assertiva é fundamental. Não é. Mas quase parece.

Um médico avalia-se como se avalia outra pessoa qualquer. De surpresa, num rompante, num brilho esquisito que lhe enfeita os olhos, de repente. Sabemos todos o mesmo, está tudo ali, nos manuais e na nossa cabeça.
O conhecimento entra sempre, na cabeça, da mesma maneira, ou de maneiras parecidas. Como se mistura com o que já lá está, que puré sai dessa alquimia estranha que fascina pela química pura da miscigenação, é que não se sabe e não se avalia muito bem. E comparar pessoas, homens e mulheres, é exercício de medidores: a medida já lá está, os medidores só medem.

Talvez, no júri, devesse - sempre - haver alguém que nos quisesse bem e que nos quisesse mal. Podia ser só uma pessoa, que nos amasse e nos odiasse, ao mesmo tempo. Como na vida a sério.

Quando se fazem exames de saída é como se estivéssemos a entrar outra vez. Avaliamos quem achamos que podia ser nosso filho, ao mesmo tempo que medimos quem podia ser, mal comparado, nosso pai.

O quociente está nos olhos. E os olhos perdem, muitas vezes. À conta dos critérios objectivos, que é aquilo que também serve para medir os párias.

Eu, um dia, falo disto melhor, hoje foi muito mal, eu sei. Eu isto sei.

21.2.06

Viva o Benfica

Não consigo. Os tipos tinham o Chalana, o Diamantino, o Stromberg e o Manniche (o polícia dinamarquês), o Carlos Manuel, o Rui Águas, o Mozer e o Ricardo Gomes, o Humberto, o Shéu, o Nené, o Zé Luís, o Vítor Baptista, o Toni e o Simões. E o Coluna e o Eusébio. E o Cavém, que só me lembro dele por ter treinado o Régua quando eu tinha a idade do filho dele, também cá jogou. E o Vítor Martins. E o Zé Henrique e o Bento.

E eu cresci assim, sportinguista de cabeça e coração. Mas sempre, na alma, com um bocadinho de lembrança daquelas jogatanas em que o meu clube não entrava (que não chegava lá, muitas vezes não chegou, por motivos variados que agora não me apetece discutir), mas entravam os lampiões; e eu não conseguia estar contra, nunca. Nem sequer naquela ignomínia da mão do Vata, foi a mão de deus, iam-me dando cabo do Renault 9 que tinha na altura, nos Aliados, resolvi sair para a confusão, ir a uma festa alheia, não tinha emenda, nessa altura, agora também não, sou quase como aquelas bolas novas para o Mundial, sem costuras, nunca consegui estar contra, não sou de estar contra, não posso. Só na brincadeira.
E com o Porto é igual. Não consigo. Pronto.

Eu sei que isto é estúpido e perfeitamente anti-global, mas pronto. Eu sou ambas as coisas, às tantas: estúpido e anti-globalista, em versão rupestre. Paciência.

Gozem-me lá com essa coisa estúpida do Natal, que não passamos do Natal, que a gente já passa do Natal há mais de 10 anos! Gozem, que eu não me importo, lampiões é cá, lá e pelo caminho! Andrades, é igual.

Hoje fui benfiquista. E estou contente.
Para o campeonato é diferente: tenho pena que não possam perder os dois, pronto. Todas as semanas. Quando é com "os de fora" ( a união europeia há-de ter uma selecção, algum dia?), torço a favor. Cá dentro, não. Tenham paciência, entendam-me. Eu não sou muito esperto, já deram fé. Desculpem lá isto. Podem sempre ir depurar-se de mim no Abrupto ou num dos artigos do Francisco José Viegas. Ou ler livros bons.

Já sosseguei a cabeça e o coração, a alma é que não. Para quem não sabe, a alma fica pelo corpo todo.

20.2.06

SS (Serviço de Sossego)

É um gosto poder responder a mais uma questão lancinante lançada por Luís Delgado. Uma vez mais, trata-se aqui de uma pergunta dirigida "à inteligência". Vi-me à nora, mesmo por isso.

"Se nem tudo andar bem, lá mais para a Primavera, os 0,7 por cento podem ser 0,5, e de décima em décima o nosso PIB vai-se esfumando.
A pergunta é óbvia: quando é que isto tem fim?"


Conseguimos imaginar a expressão de Luís Delgado, formulando-a: há-de ser a do costume, mas não faz diferença nenhuma, os grandes homens antecipam-se na expressão mumificada que os aguarda nas Selectas.

Bom, a resposta é esta, Dr. Luís:
"Em correndo mal, isto tem fim daqui a (mais ou menos) sete décimos. Ou décimas, como você prefere."

Fica a gente bem, não é?, sossegando estes espíritos inquietos de tanta seiva que vai lá dentro, sempre a correr, a fervilhar.

Se eu fosse, ao menos, cientista... em lugar de viver no campo

Se eu fosse um vírus habituado a andar a voar em hospedeiro alado, nada me faria mudar de vida a não ser uma de duas coisas:

1 - Escassez de "transporte".
2- Necessidade.

Se eu estivesse de férias num hospedeiro qualquer, mais rastejante que o meu transportador habitual, e esse hospedeiro desatasse a agredir-me, assustado de mim, para me exterminar, eu, se fosse vírus, faria tudo para me disfarçar, saltar disfarçado para outro rastejante, reproduzindo-me o mais disfarçado que pudesse e ensinando os meus descendentes a sobreviver sem voar alto.

Venha chuva, que as partículas suspensas caem com a água. Venha o ar livre, que tudo purifica. E as aves que voem no céu, como sempre.

Imagine-se: o Simão Sabrosa em "pale pink gown"

Acredite-se ou não, sonhei com o novo equipamento alternativo dos três grandes. Não consegui descortinar, no torpor onírico, se tinha sido eu a escolhê-lo ou se apenas me foi dado a ver, em ante-estreia, as novas indumentárias. O certo é que gostei das escolhas e acordei sorridente.
A ser profético o meu sonho, o equipamento alternativo do Porto passará a azul claro, o do Sporting a verde claro e o do Benfica a... cor-de-rosa.

Isto não é provocação. Nem pensar nisso. É um sonho.

19.2.06

Pequena carta às pessoas de quem gosto, mesmo que não gostem de mim

Um homem italiano matou parte da família e matou-se, a seguir. Acusou-se, em bilhete final, de falta de cuidado e puniu-se, a ele e aos seres que cuidou não poderem sobreviver à sua culpa, em conformidade com o tamanho do seu pecado, visto por si.

Era maluco.

Não se matou porque vivemos tempos de vigilância e espionagem de nós.
Nem porque nos sentimos cada vez mais vulneráveis - debaixo do vidrinho frágil da nossa evolução desajustada ao nosso lugar - às ameaças que não dominamos e que sempre existiram, iguais ou parecidas, alheias aos nossos anseios de imortalidade, saúde como direito (e não como condição de quem é saudável), dinheiro e sucesso.
Não foi porque sentiu que andamos, à custa não sei de que ideia nova, que não está escrita em livro nenhum, muito menos por ninguém de juízo, a fazer de conta que somos, todos os dias, os juízes e os polícias de serviço dos outros, numa escalada justiceira que irá encontrar-se, qual recta traçada com "efeito" esquisito de quem a iniciou, com a outra recta, a das "regras do mercado".
Também não foi porque deu fé que, neste caso, era ele o bandido, conforme daria fé se fosse outro qualquer.
Nem foi por ter percebido que, da próxima, o culpado será outro, acreditando -nesse caso - que essoutro faria o mesmo, ou que alguém lhe faria o mesmo, a essoutro, por ter falhado.
Nem por pressentir, coitado, que esta cadeia da culpa, esta cultura da penitência como antítese do prémo, lhe era mais penosa que a própria pandemia que parece estar eminente.
Nem sequer por ter ideia de ser, evidentemente, num mundo de "procuradores gerais", mais culpado que o próprio culpado. Sim, que o culpado é o vírus (não este, o que há-de vir depois deste, que há-de minar-nos o corpo, depois de nos consumir a alma). O vírus e o nosso medo de morrermos da forma mais ignóbil que há: às asas dum pássaro pequeno e doente.

Não. Claro que não se matou por nada disto.
Matou-se por ser maluco.
Não brinquem comigo, sim?

Vai correr tudo bem, sobretudo se mantivermos expectativas razoáveis à nossa dimensão; e a perfeita noção de que a nossa vulnerabilidade e a nossa força são variáveis equivalentes numa equação antiga que, porque somos tontos, cuidamos ser nova. Não é nada nova. É a mesma equação do costume, com as mesmas variáveis dependentes (de nós), agora com uma incógnita estranha, porque não foi introduzida por nós, mas estranha só por isso. Como estranhas são as outras todas, as incógnitas mais antigas e as que hão-de vir, mas não nos parece tanto que são estranhas porque nos parece que já as entendemos. E não sei se as entendemos: penso que não, que apenas "já passaram". Como esta vai passar, entendamo-la ou não.

Vai correr tudo bem. Eu sei. Confiem em mim, que também sou maluco.

Opinando sobre o livro mais fustigado pelo lobby do Bica do Sapato desde a publicação do primeiro versinho do Paulo Coelho

Li o Bilhete de Identidade da Maria Filomena Mónica em simultâneo com as críticas que do mesmo foram sendo publicadas. Sabe-se que em cada crítico há um criador frustrado e que, quanto mais dura e inatacável se mostra a crítica, maior é a probabilidade de estarmos perante uma imensa e sofredora frustração, pela impossibilidade de aceder à sublime criação artística. Tanto, que pode suceder tomar-se a nuvem por Juno, exigir excelência no que é intrinsecamente ligeiro, atacar o despretencioso.
Eu li, sobre o Bilhete de Identidade, críticas com tal consistência e fervor que redobrei a atenção no pormenor, no subliminar, nas mensagens involuntárias da autora, incapaz de dominar a escrita ao ponto de não dizer mais do que o que conscientemente quisesse.

Para ser honesta, acho que me desiludi por volta do quarto ou quinto capítulo do livro, no momento em que se inicia, a fundo, o discurso do "eu", em risco permanente de cair na crónica colorida da burguesa contestatária, mas bem relacionada com meninos da linha. Aliás, a parte mais bem conseguida de toda a biografia é a inicial, a do "enquadramento parental", em que MFM descreve a mãe, o pai e a avó com desassombramento e procura da verdade histórica e com a riqueza "dramática" suficiente para nos apercebermos das respectivas virtudes, a par de desvendadas fragilidades. É como se, até aí, fosse a MFM investigadora a escrever, ao passo que, daí em diante, é notória a MFM pessoa. Aliás, demasiado acrítica.

O estilo é ligeiro. Talvez maçudo, mastigado. Mas também é inquestionavelmente despretencioso e discreto. Como se se pretendesse que a forma sirva a substância: interessa é o quê, não o como. Voluntariamente ou não, o certo é que é fácil embrenharmo-nos na leitura.
O que parece errado, ou confuso, é o perfil com que MFM se nos apresenta. Fica-se com a sensação de que tudo lhe aconteceu por acaso. Os primeiros trinta anos da sua vida, tal como ela nos conta, aparentam ser uma sucessão de acasos, de acidentes ou de acontecimentos provocados ou manietados por terceiros a que se limitou a aderir ou a rejeitar. Até as paixões, que parecem mornas, acabam por tédio ou prolongam-se no tédio.

Pressinto que isto se deve à falta de habilidade da MFM em auto-retratar-se, muito mais do que a uma possível emotividade frustre. Escreve num tom demasiado "jornalístico", até quando fala dos amores. Por outro lado, teria de ser mais, para ser auto-biográfico: seria preciso que nos fosse dado a ver, o que os namorados, os filhos, os amigos, pensam e sentem. Com excepção da mãe e, talvez, do emérito VPV, todos os outros interlocutores de MFM desempenham supporting roles. O que faz com que o livro esteja longe de ser uma auto-biografia, para ser apenas, e de forma muito menos ambiciosa, uma descrição, subjectiva e redutora, de uma vida.
É, se calhar, isto que faz com que se acabe a leitura com uma sensação de vazio. É, conclui-se, um relato banal sobre uma vida em que se está sempre quase, sem nunca se chegar a ser. A vida de uma "intrusa", como a própria MFM se designa. In illo tempore.

Cromos

E o Calderoni? Excelente paladino da liberdade de expressão, hem?
Dele pode pensar-se o seguinte, sem dificuldade: se em vez de ser ministro em Itália fosse vendedor de tapetes em Tripoli, andaria por lá aos guinchos, a vindimar embaixadas.

Bonitezas

Não conhecia José Peixoto.
A Memória Inventada conhecia. Ainda bem.

18.2.06

Quase



Há alguma seiva bruta, ainda, em Trás-os-Montes, que também azula, que revigora, às vezes.
Ou que acabrunha, de tão brutal. Mesmo com luar.
É conforme nos dá para pressentirmos o mar que está por detrás dos montes, escondido onde deve estar, um conforto distante, ou para cismarmos que não o há, uma vez que não o vemos.

"...interessa é reconhecer a boniteza", disse ela uma vez. E foi nadar, calma.

E se eu brincasse um bocadinho e me sentisse bem?

Já não comprava um brinquedo há muito tempo. Hoje comprei.
É pequeno, parece bom, é portátil. Não é nada de especial. Das pessoas que conheço, acho que só os meus doentes e eu (talvez mais dezoito pessoas...) é que não tínhamos, ainda, um destes. Pareceu-me caro, apesar de tudo.
Enfim. Pequenas coisas.
Já me fiz entender: tenho, desde esta tarde, um PC portátil. E pareceu-me que era outra vez o meu Pai, a dar-me uma bola de "cautchu", a primeira (e última) bicicleta, como há muitos anos.

E foi. No fundo foi ele.
Há coisas que nunca se pagam, nem são para pagar: são só para agradecer, mesmo fora de tempo.

16.2.06

Cartoonofobia



Recebido por mail

hard rock

Um embrião que deambulava, escutando Wagner, nos arredores de Chelas perguntou a outro, que apascentava um rebanho de ovelhas em Lamas de Olo - atento à TSF -, pelo telemóvel:
- Ó embrião, chateia-te isto?
- Então não, embrião? Isto chateia sempre.

15.2.06

o homem fez-se para guerrear - disse ele, bebendo ginja

Não é fácil eu entediar-me. É-me mais fácil, tenho quase a certeza, entediar.
Permitam-me que diga só mais isto, apesar de tudo: este assunto das "caricaturas" descambou.
O problema são as ilações. Não há muitas a tirar, sobretudo novas.
1 - Os discursos oficiais são os previsíveis. Não se quer, dum discurso oficial, que seja fracturante. Sobretudo, não se quer que fracture outros discursos oficiais de parcerias assumidas. Ou, se afinal é isso que se quer, "fracturas expostas", não se percebem afirmações prévias triviais, compostinhas, quase "de gesso e fato", do género "eu voto Cavaco Silva porque me parece sério, e há o défice, e não gosto dos outros, e sei lá que mais me parece agora". Contextualizar a vida é importante todos os dias e mudar de contexto muitas vezes (eu hoje gosto de real-politik, admito-a, mas amanhã já vou pensar melhor porque o Zink é amigo do Manel Serrão - isto por exemplo, e bem fraco, o que não admira, o exemplo é meu ) é, no mínimo, estranho. Como discurso pretensamente oficial é, mesmo, inaceitável.
2 - Os discursos oficiosos (e os de catacumba, e os panfletários) também não espantam ninguém. Admitem mais espasmos, é tudo. Fica aqui mais este, pequenino.
3 - A liberdade continua a existir, ao menos como conceito, onde existia dantes (e não sei dizer ao certo onde, juro; só sei dizer onde me parece que a há mais e que se me afigura que, inclusive na Arábia Saudita, no Qatar, no Irão, na Síria e na Turquia, há pouca, há notavelmente pouca) e a escassear onde já escasseava: escasseia onde queremos e deixamos, em todo o lado, tantas vezes no mesmo sítio onde nos parece abundar quando estamos entusiasmados com esse sítio, por outros motivos que têm pouco que ver com a liberdade; e isto é assim há tanto tempo, com variações pequenas, que, às tantas, é porque tem de ser assim, não sei.
Sei que não é inteligente discuti-la, à liberdade, como se fosse só nossa, nem conforme nos dá jeito para a nossa simples discussão. Nem sequer é bondoso, isto, porque a liberdade não é um argumento, uma arma de arremesso durante a discussão dela. É uma causa maior que isso tudo e, acima de tudo, nunca se arremessa à cara de ninguém o que nos pode fazer falta.

14.2.06

Versões simplificadas (3)

A meritocracia é melhor que a aristocracia tradicional, medieva, aquela de tu no campo a lavrar e eu aqui, na caça do faisão, traz-me o chá e desanda.
Isto deve ser verdade porque, ao menos assim, 97% de nós todos, no sossego privado da "nossa casa das fezes e urinas - também temos chuveiro!", temos mais hipóteses de invejar e detestar tipos e tipas que devem ser, deveras, melhores que nós.

Ironia do caraças, não é muito mais difícil dar-lhes um tiro despeitado na cabeça (ou na nossa, se tendermos para a neurastenia, ou para uma deriva abissal do "self") do que era dantes, repondo os equilíbrios necessários.
Não, não tanto os nossos equilíbrios privados, de indivíduos invejosos e sedentos de azeitinho pelo lombo, que seremos sempre assim, desajustados na nossa mistura de "pequenos quereres que parecem grandes" (isto, mais antidepressivo, menos queca com corista conhecida; mais BMW M5, menos Fiat Panda); mas os equilíbrios da azenha inteira.
A azenha global, sim. Que desdenhamos porque, no fundo, nos topa bem a todos, que ela tem muitos olhos e os nossos também estão lá, no meio dos outros todos, a olhar para tudo e até para nós, tantas vezes com medida diferente da do espelho parcial que temos em casa. E que, embora raramente, às vezes se purga toda com pequenos enemas avulsos, sem que percebamos bem porquê, na altura, até nos chegar o cheiro e dizermos, ufanos, "ah! cá está, então foi isto!".
A pergunta seguinte é sempre "quem foi?" e costumamos ter o indicador preparadinho.

Ou seja, simplificando: a margem de erro parece menor, de facto. E até será menor, mesmo, mas isso não muda nada de substantivo.
Eu fico sempre contente quando vejo uma criança a começar a andar. Parece-me sempre um milagre. Um milagre de coordenação, músculos, feixes nervosos, fenómenos circulatórios, digestões, ossos, vontades, afectos e (tenho muita pena de desiludir os atentos leitores desta versátil rubrica) acasos simples. Explico-me melhor? Seja: a maior parte dos tipos que conheço e que não andam, mereciam andar.

Notas sobre a distância

O que mais estranho são as extrapolações, as análises sistémicas, as explicações das culpas colectivas. Já se fala nas cruzadas e nas explicações cruzadas de Amin Maloouf. Aliás, já tardava.

E a questão sempre foi tão simples: nenhum de nós, ocidentais, mergulhado na profunda adoração do nosso bem viver farto e abundante, tão farto e abundante que nos sobra tempo para tagarelar pela liberdade que nos deram de bandeja, tão instalada que há muito que ninguém se esforça para dela se apropriar; nenhum de nós, ocidentais, para quem o padrão do Bem e do Mal é o nosso ponto de observação, conseguiu (ou conseguirá) entender as razões da indignação de quem idolatra os símbolos que o jornaleco espezinhou.

Estranhamos, claro. Estranhamos porque somos bem educados e bem nascidos e quem não é bem nascido, no mundo ocidental, é um parolo ou um excluído a quem se deixa intacta a liberdade de expressão, mas para falar sozinho, enquanto dedicamos toda a nossa atenção aos bem nascidos porque são mediáticos, ainda que nem o berço nem o mediatismo lhe tenha vindo à posse por mérito de pensamento.
E idolatramos, pois. Mas idolatramos cromos de colecção, como a Madonna e o Mourinho, a quem prestamos mole e inerte reverência pela riqueza, pelo talento para tudo e para nada em particular, pelo neon que exalam dos poros, por saltarem bem no vazio. Sem que nos importemos que os satirizem, porque a nossa adoração tem uma boa parte de invejazinha, de ressabiamento, de atracção-ódio porque eles são e nós, que também não somos divinos, queríamos ser também.

Esta oligofrenia colectiva, hermética, alimentada por ruídos de fundo que procuramos para nos proteger e para nos impedir de pensar muito com o risco de pensar bem, só podia, claro, impedir-nos de olhar para fora da janela para perceber, para além da violência, as causas da ignomínia em que nos colocamos de cada vez que, de fácil e confortável mão no peito, falamos na liberdade de expressão como a sorte que nos bafejou e censuramos putativos colaborateurs dos protestos islâmicos, enquanto continuamos longe de perceber que aquela fúria tem tanto de genuína como de cega e que, quanto mais infinitamente livres nos proclamamos, mais ferimos de morte as nossas causas perdidas.

vai mudar o tempo, mas pouco

Acredito profundamente na liberdade de expressão. Consiste na possibilidade de dizermos o que quisermos, isto mais ou menos.
"Não há aqui mais ou menos! É valor absoluto!" - disse ele, aos bordos, na viela da razão.
Calei-me. Mas marquei-o. Se, um dia, ele chamar puta (ou descendente) à minha mãe, à minha irmã, a alguém que eu goste (pode ser, mesmo, ao guarda-redes de futsal do Sporting, que se chama João Benedito) e se, por um acaso obtuso de parolo, eu não concordar (ou, concordando embora, que às vezes calha assim, me arreliar deveras!), fodo-lhe a tromba, ficando certo de me ter cumprido, também, na minha expressiva liberdade.

Depois vem a polícia, os amigos do cabrão, a tia e os primos. Posso levar no coiro. Mas pronto, a liberdade de expressão é isto, às vezes corre mal a uns, outras a outros, porque não é, de facto, absoluta, a não ser em papelada; e é nessas alturas que gostamos mais de ver chegar polícias, mesmo severos, do que de vermos desaguar parentela enraivecida (do outro) no nosso livre mar - leia-se lombo.

E parece que vai chover, mas pouco. Vi as nuvens, bufadas do oeste, a chegarem-se aqui, caladinhas e pequenas, mas cinzentas.

des femmes

Karl, engenheiro químico, chega a casa e diz a Manuela que vai para o Iraque (ou para outro sítio desses) trabalhar. Ela inicia uma meditação intensa.
"Claro, já se sabe, vais ter de fazer um seguro de vida..."
"Pois, vou tratar disso amanhã".
"Mas se os tipos sabem para onde vais não te fazem o seguro... ou fazem-to mas vai ficar caro como tudo... E se tu voltas, já pensaste?, vamos ter de pagar essa merda..."
"Pois, eu sei. Mas talvez não volte, para começar. Sossega. E já pensei numa coisa..."
"...".
"Vou propor aos tipos da seguradora que me arranjem uns autocolantes com o nome da companhia e mais um slogan qualquer. Sei lá, imagina: se me fizerem refém eu apareço sentado no chão e exibo no peito uns dizeres (em inglês, claro), do tipo: Seguradora Recklinghausen, Olá Viúva! Que te parece?"
"Vou telefonar já à Hanna. O Franz já está para lá mas pode ser que os tipos consigam mandar os autocolantes por e-mail..."

Ah! E isso das cruzadas não contem comigo.

1 - Claro que um campeonato euro-árabe, nunca na vida! Ó senhor ministro! Que péssima ideia!
Para já, que me lembre, levámos 3 de Marrocos, no México, há vinte anos. O senhor não tem memória? O guarda-redes deles era o Zaki, devia ser uma abreviatura de Zakyussuf, pois...
2 - Um tipo cobrir-se de fezes, pronto, é como o outro. "Olha que vais levar na tromba!", "ok, passa aí a vasilha depressa!". Agora de fezes frescas? São as mais quentes, caramba! Eu vou ver esse filme se me garantirem que a lagoa do início aparece recorrentemente e há lá muito sabão.

13.2.06

O monopólio aqui tão perto

Dei por mim estranhamente agradada a ver os olhinhos-de-raposa do António Vitorino, bastante mais interessado em dissertar sobre a OPA do que nos cartoons ou nos desastres de Freitas do Amaral. Nos tempos que correm, observar a verve realisto-pragmática de um cínico acerca do inconfessado encaixe financeiro que o negócio traz à GPCB traz-nos de volta a rotina, segura de tão cinzenta.

A verdadeira estória do Pai Natal e, com isto, vou para dentro.

Desde 1999-2000, em futebol de cá, limitando-nos apenas ao campeonato, temos isto:
2 títulos para o Sporting
2 para o Porto
1 para o Boavista
1 para o Benfica.
Mas continuamos a ter de escutar aquilo do Natal, sobre o Sporting. Não me parece especialmente inteligente, esta coisinha tosca, mas admito que ainda não passaram os anos suficientes para a asserção perder a graça. A graçola.

Eu já admito quase tudo.
Renas antigas? Não. Só pataratas.

Se eu merecer pena, quero uma de pavão

Acredito que o que sobe cai, que a Madona ainda é uma lasca, que (talvez! isto é condicional até eu suspirar de vez, logo antes de morto!) as pessoas todas, mesmo as que não sabem explicar-se, podem dizer o que querem, nem que seja numa cruzinha tosca num quadrado, botem lá a cruz, mas caramba, eu não digo mais nada, digo, não digo, digo...?

Digo.

Não consigo acreditar em Deus nenhum, só no meu, nos meus, quando preciso dele, deles, d'Ele, d'Eles.

Bom, era só isto. Era pouco mais que isto, aliás, era só mesmo isto. Que me estava aqui atrancado na epiglote. Excelente tubo oro-traqueal que me passou agora pelos cornos da laringe e me fez admitir que não sou um crente orientado. Creio sem GPS.
Ah! E lamento, também não me custa admitir isto, lamentar-me; e deixar (calado) que me lamentem. Mas, lá está, para evitar isso escrevia numa ardósia com um lápis de cera, em lugar de escrever aqui.
Não me parece adequado. E mesmo que parecesse.

da pontaria

Vinha uma ave a voar alto quando se ouviu um tiro.

"Isto é comigo?", perguntou a ave, assoando-se, ranhosa.
"É!", respondeu Hermenegildo, "é contigo, sua puta constipada!".
"Ah! Pronto. Era só para saber...", pipilou a ave, subindo mais, sem grande esforço adicional, embora já doente e a pingar muco do bico.
"Tu vais acabar por cair, puta doente!", berrou Hermenegildo, de baixo, já às patadas.
"Mas não onde tu queres."


Disse a ave, subindo ainda, duas linhas abaixo do texto mas ainda nele.

ga

Tenho pena do Blair, que teve de pôr a cabeça no cepo "pelos outros, os que se portam bem!", como se não soubesse que aquilo é muitas vezes, vezes demais, assim. E sabe. É assim em todo o lado e acontece quando calha, Blair, olha para essa culpa imensa com os óculos deles, os do metropolitano! É assim, nem sequer é estranho. É assim. Se fosse estranho, eu tinha posto ali em baixo, não era? Naquilo do Altino, que é meu amigo, acho eu que é.

É assim. É pena, não é pena nenhuma, não sei. Sei lá eu de penas!

Uma vez, fui herói aos meus olhos. Só uma vez. E já me passou. Se a lolita me pedir eu conto, mas espero que não me peça, que de heróis estamos todos (mesmo eu) fartos. E eu não conto, pensando bem, de qualquer maneira. Nem que ela me peça.

De OPAs é que não estamos fartos. Quem quer ver tomates, agora, é nas OPAs.
É assim. Diz-se e é.
Porque se diz e porque é, cada tomate sua haste, cada haste seu hemi-gamo.

Ga.

Hábitos estranhos, manias, defeitos, morenices e c.p.p.*

1 - Endireitar quadros.
2 - Usar, sempre que posso, cuecas azuis.
3 - Ser do Sporting.
4 - Não ser dinamarquês.
5 - Saber muito bem distinguir um tesão perfeito duma emergência mictória matinal.

Obrigado, Altino, por me deixares dizer isto desta maneira, sem ofender ninguém, logo de um a cinco.

* conhecer (a) própria pila

La folie

Hoje li Pessoa pela primeira vez.
"Olha, este a brincar".
Não.
A sério.
Fiquei igual mas, de facto, li. Pela primeira vez.
Se não tivesse lido não dizia.
Ou dizia?
Era igual, mas assim li. Já está.
Já está mais esta.
"Então foi tarde".
Não, foi de tarde.

12.2.06

E se eu for surdo?

E amanhã? Como vai ser amanhã? Vou chegar e vais estar como, tu? Não escutei sinos de morte, por isso deves estar lá, ainda, como sempre tens estado desde que te conheci, que já me chegaste nesse embrulho tosco - que não custa menos, nem sequer é mais feio, mas foi feito noutra loja.
Não acredito que estejas à minha espera mas eu vou chegar à espera de ti.

Instrumentalizando a pequenina arrogância

Quando Nabucodonosor governava a Babilónia, o mundo era mais cru e as vidas sacrificadas em nome da conquista e do domínio valiam apenas o suficiente para se alcançar poderes ilimitados, embora, como a história o veio a demonstrar, irremediavelmente finitos.
Ao longo dos tempos, as vidas humanas sempre estiveram ao serviço do domínio, instrumentalizadas por um território ou por uma fé; ou por ambos. De forma tal que todos nos conformamos com mortes heróicas, perpretadas em guerras que cremos existirem para atingir a paz. Mortes que glorificamos, que pressupomos inevitáveis e com que branqueamos a culpa de ficarmos vivos e de escaparmos à destruição que, para nosso sossego, louvamos que não seja nossa.
Mas a destruição dissemina-se e atormenta-nos, ainda que não se veja a olho nu, mesmo que não seja à nossa porta. O nosso sentimento de pertença implica, pela precisa força de se sentir pertença, que se condenem os que, sendo nossos, quebram os laços pela arrogância, pela brutalidade, pela iniquidade. E que se declare publicamente essa condenação sem equívoco, sem dúvidas, sem atenuações e, sobretudo, sem demagogia. Em nome da nossa sobrevivência, instintiva e ontologicamente pré-existente às doutrinas humanistas, desnecessárias para ensinar alguém a observar o sofrimento alheio. Quando sabemos de homens a destruir outros homens há um aperto que nos angustia, que nos dói, como se o nosso admirável e exclusivo código genético nos alertasse para o potencial destrutivo do ódio contra os nossos semelhantes. As religiões e as Jihad não são nem o pretexto nem o fundamento da destruição; são os homens, que se esquecem de si à escala da via láctea.

da gripe

Talvez seja útil ir lendo isto. E mesmo isto.
A informação vai sendo actualizada, é objectiva e surge despida de sensacionalismo.
Nestas e noutras coisas, quando é a serio, prefiro assim.

Que luxo

O Lucho Gonzalez enerva-me.
1 - Hoje deu, sem querer, um biqueiro no nariz dum gajo do Belenenses e, vê-se em câmara lenta, demora (em câmara lenta) apenas dois segundos a pedir desculpa. Por uma coisa em que a culpa é dividida, ele levantou o pé, mas o outro baixou a cabeça.
2 - A bola vem doida e ele põe-na longe, calmamente, à esquerda. Não nos pés dum tipo que a jogue logo, mas no sítio onde quer que ela seja jogada. E o outro tipo do Porto estava a correr para lá, isto é bonito.

Tenho pena que este tipo não jogue no Sporting. Podia lá ficar o Quaresma, andor, mas este queria-o.

Lokomotiv de Leipzig

O gajo tinha a voz muito fininha e andava de chinelas, alapadote na cadeira de rodas, a pregar o ódio como se fosse uma soprano ou um tenor capado. Perguntavam-lhe, ternos, "tu hamas? e ele que sim, que hamava".
Um dia, caiu-lhe em cima um míssil. Que caraças! Foi demais.
Mas também, para que queria ele as chinelas?

Vá, podemos começar por aqui?
Essa "fátua" vem ou não? Eu não sei desenhar, pá! Não exijam demais de mim!

Ai a vida...

Estão sempre com aquele ar de quem toda a gente lhes deve e ninguém lhes paga, não é?
Pois é, pois é.
Da maneira que as coisas estão eu deixo um conselho aos "crenslims":
Fazei lá o que tendes feito, andai lá, a gente sabe que de mais não sois capazes, mas sabemos todos que, disso, de vos armardes em combustível-comburente, sois. Porém, à cautela, metei setenta preservativos na paneleirinha, na mariconera: elas podem ser setenta, ok, se o Gajo garante, tudo bem; mas não me parece que esteja em condições de garantir mais nada...

Abghakhani!!!!

- Yussuf, estás aí?
- Não.
- Vá, fala, Yussuf. Eu sei que estás.
- Claro que estou! Mas estou revoltado.
- Por quê?
- O besugo anda a dizer que nós, muçulmanos indignados, não somos capazes senão de fazer chavascal e de atacar cobardemente, à traição, matando gente avulsa!
- E isso chateia-te por quê?
- Porque não é verdade! Parece, mas não é.
- Não leves a mal. O besugo enerva-se, por vezes, sem razão. Mas vocês tendem a fazer muito basqueiro em casa, isso de queimar bandeiras e de fazer reféns loiros, mas, de peito aberto, tens de admitir: só sois capazes de morrer em missão explosiva, de facto...
- Eu odeio-te, cadela!
- E então, que vais fazer sobre isso? O costume?
- Sim. Babadé.

11.2.06

Olha os tipos!

Polo tanto, unha empresa de Grecia, Portugal, Lituania ou Polonia, con condicións laborais e salarios inferiores aos nosos podería instalarse en Galiza co persoal do seu país nunha competencia tremenda e esmagadora para os nosos dereitos. A trampa é que calquera gran empresa das nosas pode rexistrar unha filial con domicilio social nalgún destes países e logo instalarse aquí.

Por acaso choca-me esta coisa de os galegos começarem as frases desta maneira destemperada, é logo "trampa"(*) e tal, lá porque descobriram, agora, mais esta pólvora. E isso de nos meterem no mesmo saquitel da Lituânia também me asfixia de perplexidade revoltada. Só não faço babadé porque não uso saiote.
Tenham lá calma, coño! A mim também me chateia que andeis aqui pelos nossos Centros de Saúde a fazer de conta que estais enfastiados por cá estardes a trabalhar (os que trabalhais) e não digo "merda", lá por causa disso. Ai o caralho!
(*) Eu sei o que quer dizer "trampa", sim? Não se ponham com expressões tipo aquele lingrinhas do Eixo do Mal que parece que está sempre a convalescer de farta caganeira, um que também é Júdice, que eu sei muito bem que "trampa" não é trampa. OK?
Por outro lado, há mais coisas que me arreliam no texto todo. Mas não deve ser importante. Não tem desenhos de monhés, não é importante.

Aquilo é mas é sobre a China, no fundo, "trampa"! Já percebi porque é que o Barroso tem aqueles olhos que parecem seteiras horizontais e por que é que elas estão cada vez mais fechadas (isto do progressivo encerramento é porque engorda como um bácoro, mas pronto, não é um bácoro, isto é só uma espécie de "cartoon", sem piada, ok, sem piada, ok, sem piada...).

Vão lá ler, se decidirem fazer uma pausa na discussão sobre a liberdade de expressão no mundo árabe e suas implicações no jornalismo ocidental.
Aliás, quem ganhar essa discussão tem direito de optar entre o Prémio Cimitarra e um pedacinho das vestes da Virgem. Ou uma viagem à Madeira, com direito a estadia num hotel qualquer; e a ver meia parte dum jogo do Marêtmo.

também

Os judeus melhoraram bastante desde o êxodo. Antes dele eram, praticamente, árabes. Depois disso, tirando aqueles que continuam a limitar-se a deixar crescer as suíças (eu não tenho nada contra isso, mesmo as suecas, aqui entre nós, devemos deixá-las crescer, mas um tipo deixa crescer patilhas, em sendo azeiteiro, não é?, agora suíças?) e a cabecear paredes com cara de azia, são fixes. Correram mundo, chatearam, lixaram-nos, queimaram-nos (a eles e a nós, a gente é que não sabia), ficaram diferentes. Gosto deles.

Dos árabes, sinceramente, também gosto. Imagino-os a descer pela península ibérica abaixo, de chinelas e de espadas apaneleiradas, assim curvas, saiotes em desvario, a fugirem lestos, depois a atravessarem (a nado ou em pirogas) o estreito de Gibraltar, a chegarem ao Norte de África e ao Médio Oriente, ao deserto dali, a quererem ir mais para baixo aos "babadés" e os tipos da Africa Negra a dizerem "ó monhés, aí parou, andor pra cima, e é já!!" e eles a não poderem, que "para cima estão os Franj! os Franj!" e a ficarem ali, ali no deserto, e logo ali havia de haver "pitrol". E agora estão feitos, que quando faltar água ainda hão-de trocar 5000 barris de "pitrol" por uma ânfora de agádoizó, que chatice, isto há-de ser tudo da merda das chinelas.
Qualquer dia, se pudessem, invadiam-nos, mas são uns aganados, tomaram eles que não os invadissem mais a eles!, eles é mais atentados e controles-remotos, e desgraça em nome da religião. São assim, pronto. Há quem goste. Eu também gosto, eu até gosto muito.

Os árabes chateiam-me, mas gosto. Também.

10.2.06

Medeiros Ferreira decide o derby com um golo de meia distância

Caricatural é a actual situação política internacional dominada pelas violentas reacções islâmicas à publicação de caricaturas boçais de Maomé num jornal ridiculo da Dinamarca.O Estado Português não tinha nada que se pronunciar sobre o assunto, e caso fosse um problema europeu então, sim, ñuma declaraçâo comum se associaria sabe-se lá a quê.Como a reacção do Governo era mais do que facultativa este errou infantilmente nas palavras.As outras crianças caem-lhe agora em cima.Quando a cólera atiçada passar é possível que alguns tenham crescido.Do outro lado brinca-se menos do que na nossa rua.

Onde se assina, esta manif?

Isto da inter-next, pá!

Em vinte e sete minutos recebi e-mails de várias partes do globo, alguns deles mandando-me para várias partes (mentira, mandaram-me só para uma, mas eu não vou), outros pedindo-me traduções porque não percebem a minha língua (às vezes, e isto é triste, nem eu a percebo; e isso desgosta-me, palavra, degusta-me, quase me digere).

Aqui vai, com a ajuda do Vasco, o meu amigo de Riachos (ele é andante):

¡El dios existe! ¡Todo la prueba
de tal manera usted, sol del altivo,
como humilde usted, raminho
donde canta rouxinol!

E, ainda, directement pour la Côte d'Ivoire (que vai lerpar com o Egipto):

Dieu existe! Tout l'essai
d'une telle manière vous, le soleil d'altivo,
comme humble vous, raminho
où elle chante le rouxinol!

E, particularmente para Gianluca Vialli, que me lê sempre:

Il dio esiste! Tutto la prova
in tale maniera voi, sole di altivo,
come humble voi, raminho
dove canta il rouxinol!

Sem esquecer, claro, os mais recentes líderes da União Europeia, aqueles que já possuem cerca de sete casas comerciais abertas só na Avenida dos Banhos, na Póvoa (o Peliteiro que me desminta! - the Peliteiro that contradicts me! ) enfim, desculpem, peguem lá um euro e umas peúgas de nylon e vão para dentro:

上帝存在! 一切测试用这
样方式你, altivo 太阳,
象谦 逊你, raminho
它唱rouxinol 的地方!

Ainda dizem que há problemas de comunicação! Cantigas, o que há é más vontades!

Pensieri profondi

If somebody to make parvos drawings on the Virgin Maria we must close rows and retaliate with air-to-ground missiles because of the smell of the inkes.

Esta foi directa do italiano, quem sabe, sabe!, leiam e eduquem-se, que é como quem diz, they read and they are educated.

Ok, lolita, ok, alonso, eu já parei.

Voilà, Douala!

Eu não sei dizer isto em árabe (por acaso sei dizer em inglês e francês, mesmo em espanhol, mas não digo, porque não vale a pena e porque defendo a minha língua - preciso dela con sus papillas) mas há-de haver quem saiba e, desconfio, isto há-de dizer-se (ou coisa parecida, com a mesma profundidade filosófica) no mundo árabe (sim, que ele há dois mundos, ou há mesmo mais, não sabiam?, isto dos mundos não é quando um homem quiser mas é como um homem quiser, pois é, pois é...) com o mesmo som de fraga a desabar num mar aguado e salino: "Chapuuuum!". E sai vaga.

- Que é isto, caramba?! - perguntarão alguns leitores, já de chinela arreliada.
"Isto", calma, é isto, vai já: uma quadra de Eça que prova tudo. Tudo. Tanto prova tudo, que Eça a colocou na pena de Zagalinho, bravo e talentoso biógrafo oficioso (saiu-me aqui um rimar oleoso... olha, lá está, outro, eu nem descanso!) do pujante e majestático Conde de Abranhos, ex-futuro ministro da Marinha daquele mundo (lá está, outro mundo!, viram?):

Deus existe! Tudo o prova
Tanto tu, altivo Sol,
Como tu, raminho humilde
Onde canta o rouxinol!

Numa tentativa humilde de partilhar este modesto (porém certeiro e abrangente) pensamento com a Commonwealth - Cum'on, Wealth! - vou, seguidamente, traduzir o poema com a ajuda do Google, que é um amigo meu de Penafiel, Vasco Google.

God exists! Everything the test
In such a way you, altivo Sun,
As humble you, raminho
Where it sings rouxinol!



Pronto.

O pormenorzinho que nos trai

A polémica sobre o pasquim dinamarquês serviu, também, para distinguir os adeptos da globalização (que escrevem cartoon) dos neo-nacionalistas modernos (que escrevem cartune).

9.2.06

Versões Simplificadas (2)

Como ninguém me mandou calar eu continuo.

Sobre o comunicado do ministro dos negócios estrangeiros já está quase tudo dito. Que sim, que não, que não mas sim, que sim mas não, etc.

O importante do comunicado (que se pode ler no "link" que a lolita colocou, ao fundo, em letra pequenina) é aquilo do Abraão:

O que se passou recentemente nesta matéria em alguns países europeus é lamentável porque incita a uma inaceitável “guerra de religiões” – ainda por cima sabendo-se que as três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e hebraica) descendem todas do mesmo profeta, Abraão.

Ora, isto é comovente. Eu agora vou explicar a frase e a seguir vamos todos ao bosque colher morangos e trufas. Eu vou com a Samira (a lolita pode ir com o Yussuf e o alonso fica a ver filmes do Spielberg, vai noutro dia). Sim?
A frase quer dizer isto: "ó pá! somos todos filhos do mesmo pai, caraças, o mesmo que andou aí a dizer como é que tudo ia acontecer para sempre, pá, o homem era Profeta (e dos bons, chegou a dar aulas na Catól... na Caparica! isso, na Caparica!), depois meteram-se os intelectuais ao barulho e misturaram tudo, pá, vai daí passou a haver três religiões monoteístas, pá, isto há buédatempo, o Sá Pinto ainda nem jogava!, mas só há um Deus, pá, que é o nosso, claro, vá lá, o dos Judeus, exactamente, pá, isto por alto, a gente sabe isto, mas a gente não se importa que os outros tontos achem que é o deles, pá, o que não se pode é dizer isto em desenhos senão os gajos ficam arreliados e já se sabe que os tipos não são dados a fazer abaixo-assinados, é logo à chinelada ou à pedrada (se lhes derem armas também curtem bués usar aquilo, pá), por isso tenham calma, pá, não se chateiem, a única diferença, basicamente, é isto do mau feitio dos tipos e a Virgem Maria, a gente controla, vá lá, publiquem textos do Bono!".

Portugal apoiará candidatura de Ramos Horta a secretário-geral da ONU*

Com manif ou sem manif?


No Público.

Isto é, também*, liberdade de imprensa

Ora muito bem. Isto tudo não passou, portanto, de uma maneira engenhosa de dar fama internacional ao Jillands-Posten.

*Ora aí está.

do fim da tarde

"Ele vai-se agora, vai-se breve, e ela está a chorar, que é que eu faço?, que lhe faço a ele, a ela, aos dois, aos três?, já não sei, só sei que ele se vai e sei porquê, merda, grande coisa, grande coisa, sei porquê, boa!, ela está a chorar e ele a olhar para mim, espera, não é só a olhar, está a olhar para mim com ódio, caralho, está a olhar para mim com ódio!, que te fiz, que não te fiz?, não me faças isso, não olhes assim para mim, põe o caralho da máscara, foda-se, põe essa merda, tira as mãos, respira, acalma-te, pensa que não é contigo, está quieto, cala esse olhar de justo, pelo amor de Deus, sossega, ela que páre de chorar, tirem-ma daqui!, tirem-ma daqui, já!, que está a chorar tão calma, calma demais, pesa-me a merda da bata, pesa-me a merda da bata na calma dela, ó Mãe, que faço agora?, ela não espera que eu faça mais nada, eu não sei que mais hei-de fazer, está tudo bem mas é o caralho, desculpa, Mãe!, eu sei, está tudo bem, desculpa, não está nada!, está tudo mal, ele está a olhar para mim com aqueles olhos, a bata pesa-me, eu sopeso-me na bata, tenho de tirar esta merda da bata que me escalda, pesa-me, sopesa-me, que é que eu digo mais, que é que eu faço mais, Mãe, que me sugeres?, pareço eu quando for eu, merda, e se fosse eu, Mãe, e se fosse eu?, sou eu, sou eu!, a olhar para mim com aqueles olhos, sou eu, é ele e eu, sou eu e ele, somos nós, ela que não chore, tirem-na daqui, tirem-ma daqui, tirem-me daqui, caramba!, melhor!, ele que saia, ele que saia, tirem-mo daqui que ele está a olhar para mim como se eu fosse ele, e sou, eu não consigo, ainda não consigo, eu ainda não consigo, eu não sei mais, não sei, não sei, olhem que eu não sei, desculpem, não sei, não sai, não sai ninguém, isto demora, ó Mãe...", pensou ele enquanto pôde.

8.2.06

da tarde

"De que me serve estares a olhar para mim com cara de preocupado?, sim, tu, avantesma de bata, com essas ventas de boi triste por debaixo da barba por desfazer, enquanto vais falando com a minha mulher, que está a chorar, eu bem a vejo, és tu, sacana, que estás a fazê-la chorar, eu sei, pensas que estou cego, bandalho?, não sou eu, que eu estou aqui quieto, só não sei muito bem o que se está a passar, que é que eu tenho que estou a respirar pior?, custa-me meter o ar dentro, larguem-me, tirem-me essa merda já!, imediatamente!, quero que se lixe a máscara e o oxigénio, tirem-me isso!, ai se eu pudesse falar, que caralho, não me toques, não me toques!, tu não me toques, pá!, que queres mais de mim, que é que eu tenho, que é que eu tenho?, que é que eu tenho e tu não sabes, ou, se sabes, merda para ti!, que não sabes grande merda!, que é que eu não tenho?, que eu não estou nada bem e a minha mulher está a chorar e, ó senhores todos, oiçam, oiçam-me todos, todos!, por favor, por favor, aquele de bata, ali com ela, filho da puta, a fazer cara de quem não pode e quem não pode sou eu, entendem?, entendem?, por favor, entendem?, não entendem nada, valha-me Deus, ó Mãe, deixai-me em paz, desandai-me todos daqui, já, caralho, já!, não sabeis nada, não tendes nada para me dar, ela que não chore, ela que não chore, por favor, ela que não chore, ó Mãe, ela que não chore mais, por favor, ao menos ela que não chore, senão fodei-vos, ela que não chore...!", pensou ele enquanto conseguiu.

penteiam-nos os crânios ermos...

Não, lolita, lamentavelmente fui destacado para o pelotão de recuperação do carrilhão do convento e só me deram um escadote, um paninho de flanela, um diapasão e um tubinho de cola. Foi aí, aliás, que retomei o vício das aulas de trabalhos manuais: era só tirar a tampinha do tubo de "Peligon" que aquilo não fazia "pum-pum" mas viam-se coisas do camandro! Foi uma tropa, digamos, relativamente psicadélica, desse ponto de vista... Mas podia ser pior, houve tipos que foram incumbidos da desratização e ainda hoje não são os mesmos, à conta da fumigação.

Ó besugo

E tu quando fizeste a tropa, em Mafra, tinhas uma daquelas coisas onde se põem uns tubinhos cheios de pólvora e que, quando se carrega no gatilho, fazem pum-pum?

Pois, bem visto...

Tem ar de saloia, sim senhora.
Eu sei porque vi uma assim quando fiz a tropa, em Mafra. Era da Malveira da Serra, se bem me lembro...

Coisas que julgamos que só acontecem a nós (ou: afinal não estamos sós)

Pertinentemente questionadas aqui.

Nota: Há excepções. Eu nunca tinha reparado que há o auricular left e o auricular right. Tomava-os por promíscuos.

Posta profundamente snob e intolerante

Palavra de honra que não os percebo. Há a Meg Ryan, a Sharon Stone, a Julia Roberts, a Angelina, até a Nicole Kidman, que é esbranquiçada, mas até essa eu percebo.

Com franqueza: esta miúda balzaquiana tem é ar de saloia.

Versões Simplificadas (1)

Solicito permissão aos meus companheiros lolita e alonso para iniciar, hoje mesmo, uma nova secção no blogame mucho, que ficará a meu cargo e que, até por isso mesmo, se chamará "Versões Simplificadas".

Abordarei seja o que for que me dê na gana, mesmo assuntos em que tenha pensado pela primeira vez e, até, coisas em que nunca tenha pensado; sim, admito, aventurar-me-ei, sem pejo, por temas em que nunca tenha pensado de todo, nem imediatamente antes de escrever sobre eles, nem sequer durante.
Chamo a este exercício "Versões Simplificadas" por dois motivos: para eu próprio entender o que escrevo e porque tive medo duma jura de morte dalgum magrebino caso apelidasse o projecto (gosto desta palavra) de "Versículos Simplificados". O outro falou de versículos e, tungas, apanhou um cagaço tão grande que se converteu, que é o que acontece à comida no seu trajecto pelo intestino. Isto é a gente a conversar, não se irritem.

Posto isto, que sei ser mais caricaturável do que Otelo Saraiva de Carvalho (como foi feito, aliás, nos idos de 79-80, já não me recordo por quem) a passear-se com um livrinho intitulado "Marx Simpificado", começo já, para não perdermos aqui muito tempo. Ah! Como em todas a versões simplificadas, darei muitos exemplos desgarrados. Por dois motivos: porque sim e porque não sei agregá-los numa linha de pensamento coerente. Isto é bom de ver e não me embaraça, porque embraçado já eu estou desta ciência de mim, há largo tempo.

Bom. Então vá. Hoje o tema é "Como se mede a superioridade das civilizações". Parte-se do princípio que já bonda discutir o que é uma civilização, se há várias, e que já se assumiu que todas têm defeitos e virtudes (mesmo que, em alguns casos, as virtudes não se vislumbrem a olho nu, nem mesmo à lupa).

Então, como se mede? Mede-se na escala "pequenos saltinhos, como as pulgas" .
Por exemplo (lá está, isto é para simplificar), ainda há estados que admitem a pena de morte nos EUA, mas a maior parte dos países da União Europeia (excepto a China e mais meia dúzia, que simplificando, também são da União Europeia, e de que maneira) já não admite o homicídio como forma de punição oficial.
Deixemos, por agora, de lado a União Europeia (com a China dentro, evidentemente) e centremo-nos nos EUA, essa raça de facínoras. Aqui há uns tempos havia lá pena de morte por todo o lado, em todos os estados e, pasme-se, havia muitos sítios em que se matava um homem por roubar um cavalo. Um tipo olhava para um equídeo, pensava "olha, dava-me jeito para dar umas curvas pelo Nevada" e, se o gamava, era perseguido, punham-lhe uma corda à roda do pescoço e içavam-no duma árvore, a ver no que dava. E dava no que dava: mais um para o cangalheiro, "este já está", a menos que aparecesse o Lone Ranger. Isto por roubar um cavalo. Hoje, a pena de morte só existe em estados onde nascem pessoas como Bush (o Schwarzenneger é austríaco, cuidado com os austríacos, sobretudo quando emigram, e neste momento nem sei como estão as coisas pela Califórnia, nesse aspecto, mas o Sean Penn vai lá a cada passo e não lhe acontece nada) e outros tipos que agora não me lembro. E já não se condena ninguém à morte por causa de gamar cavalos, em estado nenhum (pelo menos até ontem).

No Irão, na Arábia Saudita e noutros países que também são civilizados (eu disse que não se discutia aqui o que é civilização, lembram-se?), geralmente países muçulmanos (embora tenhamos o caso da China, que faz parte de tudo, hoje em dia), faz-se o que se fazia há duzentos anos, há trezentos anos e, mesmo, há grosas de lustros: cortam-se mãos por roubar (quando não lhes dá para cortar a cabeça dum ladrão: se for maneta, por exemplo, sei lá, isto é uma coisa simples, não se ponham com snobeiras), matam-se mulheres e homens com calhaus pela cabeça abaixo, à conta de adultério e doutras "impurezas" e faz-se grande assuada de cada vez que nos insultam o Profeta, incendiando-se merdas que demoraram a construir, atacando noruegueses (o melhor povo da Europa, mesmo com aquela espinha cravada na garganta de o Viking ter eliminado o Sporting da UEFA, em 1999-2000) ou, se calhar ser o caso, croatas e letões. Aos molhos.

Simplificando ainda mais: dois saltinhos de pulga para os EUA; zero saltinhos de pulga para os outros. Portanto, para já, como acabo de demonstrar, há aqui mais posse de bola, mais superioridade global, materializada em golos, mais evolução técnico-táctica. Mas o jogo ainda não acabou. Eu sei. Eu só estou aqui para simplificar, sim? Os senhores complicam, que são juristas e tudo, eu depois venho e digo assim coisinhas. Certo?

Era só isto, que eu até já fumego da cabeça, bolas: ainda por cima estes dois golinhos podem ser contestados pelos muçulmanos, que podem achá-los desapropriados, evidentemente por "off-side", e ainda protestam o jogo por escandaleira.

Uma nota sobre civilizações

De tudo o que diz o Alonso, depreende-se, pese embora o desagrado que manifesta em relação à postura europeia do "conforto de sofá" (com a qual eu concordo, por muita culpa que tenham os EUA e Israel no potenciamento esta crispação) que não tem qualquer dúvida quanto ao atraso civilizacional dos muçulmanos. Embora correndo o risco de colagem ao discurso bloquista, devo dizer que me parece que, nesta matéria, se impõe alguma cautela. Falta-nos saber (e se calhar nunca saberemos) o que significa, ao certo, evolução civilizacional, o que requer distanciamento, descomprometimento, relativização, desconstrução de conceitos e, por fim, alguma humildade. Se é verdade que há um núcleo de direitos que é (ou deve ser) unanimemente inviolável (como o direito à vida ou à integridade física - direitos iminentemente biológicos), já não tenho tanta certeza quanto a outros direitos, provavelmente disponíveis pelo seu titular, e que, em tese, se aceitam funcionalizados a um dado fim, socialmente regulado. Admito, enfim, que para um muçulmano seja não só aceitável como moralmente correcta a prática da poligamia, da mesma forma que não tenho qualquer dúvida de que o uso obrigatório da burqa é uma violência inominável.

Falta-nos isto. A percepção de que as conquistas ocidentais sobre as (algumas) liberdades individuais são seguramente boas para nós mas eventualmente desapropriadas para outros. Na verdade, estamos tão seguros de que temos razão que a nossa razão se torna pequena: só existe à escala da nossa vivência. Imprestável - e, pior, desprezável - pelos muçulmanos.

7.2.06

"Can you handle the truth?"

Besugo, antes de mais devolvo o abraço. Acho que me entendeste bem. Li e reli o que escrevi, tanto fora como dentro dos parêntesis, ainda antes de publicar, para ver se eu próprio me entendia.

Antes de mais, arrumo com o assunto "Quebradas", que não tem nada que ver com aquilo de que quis falar. Não conheço a história, mas não me parece diferente de muitas outras histórias de crimes que por aí se praticam. Tem o detalhe pictórico de levarem a "roupinha de ber a Deus", mas isso pouco importa, a não ser como auxiliar de construção da tua narrativa. É assim a modos como eu caracterizar como família pós-moderna a do Pai e da Avó que terão morto a menina do Porto. Não interessa para nada. Porque há famílias em que o casamento nunca existiu ou se perdeu, em que os meninos são educados pelos avós, e tudo corre (na medida do possível) bem. Como também é verdade que eu e tu já fomos a muitos baptizados sem ter ficado com vontade de linchar ninguém (excepto, talvez, o Padre, pela homilia demasiado longa ...). Adiante, por isso.

Volto ao tema, para dizer o seguinte: quando se lida com esta coisa complexa que é (são) o(s) mundo(s) para lá do aconchego da civilização judaico-greco-romana a que pertencemos, não é fácil saber como lidar com esse(s) outro(s) mundo(s).

Numa perspectiva de mera aplicação dos nossos quadros lógicos, e baseado na história da nossa própria civilização, acharemos quanto muito que essa malta está uns séculos atrasada em princípios que hoje são para nós tão básicos como a secularização do Estado, o primado do direito sobre o livre arbítrio, aquela ideia de que há uma coisa chamada direitos do Homem, a liberdade política e de expressão, etc. Coisas velhas de duzentos anos, que já vinham escritas na Declaração da Independência dos USA, pelo menos esboçadas no "Code Civil" francês, nos nossos textos constitucionais oitocentistas e em muitos escritos de muitos pensadores-políticos e políticos-pensadores (quando essa gente existia), sobretudo europeus e norte americanos.

Estando eles duzentos anos atrasados - pelo menos - teremos (teremos?) que ter ainda mais paciência com outras coisas mais comezinhas como a igualdade dos sexos, ou princípios de discriminação positiva daqueles que carecem de tratamento preferencial.

Assim, e nesta cândida, algo sobranceira até, perspectiva, tudo estará em mostrar ao(s) mundo(s) que rodeia(m) o nosso como é bom o nosso viver. Como somos todos respeitadores uns dos outros. Como temos liberdade de expressão. Como somos democráticos. Como vivemos em paz.

(O problema é que esses outros mundos vêem, sobretudo, como somos ... ricos. Mesmo os mais pobres de nós, somos incomparavelmente mais ricos do que eles.)

E eles - se forem razoáveis - seguirão os nossos conselhos sobre como se devem organizar em sociedade. E farão em 20 anos o que nós e os nossos antepassados fizémos em 200.

Bem ... isto era o que ditaria a lógica. Mas a experiência recolhida, nesta matéria, no séc. XX e já neste XXI é assim um bocadinho ... amarga.

E a verdade é esta. Mais de 50 anos passados sobre o fim dos impérios europeus (30 no caso português), o quadro é desolador. Em África, no Próximo, no Médio e no Extremo Oriente.

Como o que se passa nesses continentes desafia uma lógica que julgávamos inatacável, funcionaram durante muito tempo os complexos de culpa (sobretudo) dos europeus. Ora a miséria reinante se devia ao nosso passado colonial, ora à avidez dos empresários que sobreviveram (com lucro) ao fim dos impérios, ora à corrupção de que também éramos (como corruptores) culpados, ora à guerra fria (até 1990), ora à globalização (depois disso), ora à América (Clinton ou Bush, pouco importa).

Mais recentemente, despertou a questão "muçulmana". Aqui, centramos a atribuição de culpas em duas entidades: Israel e os EUA.

O que eu quis escrever tem, vaga e confusamente, a ver com tudo isto. Irrita-me o conforto de sofá com que olhamos para tudo isto, sossegando-nos sempre pensando que não tem nada a ver connosco e apaziguando a nossa consciência com as culpas de alguém. E até achando-nos solidários com "aquela pobre gente". Gostando de os ver a queimar bandeiras americanas e israelitas, pese embora o incómodo de acharmos que eles não deviam recorrer a bombistas suicidas. E o Bin Laden até dava para fazer umas "T-shirts" giras (como as do Che, pois então), não fôra ter-se excedido um bocado com aquela coisa das torres. Mas, coitado, ele é um revoltado contra a dinastia saudita, como se sabe produto do imperialismo americano e dos seus interesses petrolíferos.

Conforto de sofá até ao dia ... em que formos mesmo incomodados. E vermos agora umas bandeiritas dinamarquesas na fogueira não é sequer um incómodo. Quanto muito não encaixa nas nossas ideias feitas de que - como se sabe - as bandeiras "a queimar" por esses pobres diabos são as dos americanos. O que achamos (sempre) merecido e muito bem feito.

Então e quando chegar um incómodo a sério, de duas uma. Ou tem razão aquele coronel de Guantanamo (fase pré Al Qaeda) interpretado pelo Jack Nicholson num filme com o Tom Cruise, sobre a inconsciência dos que estão "do lado de cá" de que, para haver lado de cá, tem que haver "vedação", "fronteira" e quem a guarde. (a frase em título é adaptada de uma deixa desse filme, magistralmente dita pelo cabotino do Nicholson, para tentar justificar uma coisa tipo "Quebradas" que tinha ordenado na base).

Ou tem razão o H.G. Wells no livro "A Máquina do Tempo". Acabaremos, por falta de força anímica para defender com convicção aquilo que conquistámos ... como gado. (besugo: recomendo-te que o leias, se não leste já. É um livrinho pequeno, mais um conto que propriamente um romance, mas é interessante).

Agora já me entendeste? Eu não escrevi o que escrevi por "tolerância". Disso, tenho pouco. Mas em vez de demonstrar a minha intolerância para fenómenos de destruição de embaixadas e bandeiras dinamarquesas, (nada de novo, salvo o país), demonstro-a para com a pacatez generalizada que tudo isto vai colhendo cá pelos nossos burgos. Como se ainda fossemos culpados pelo que se ensina nas escolas corânicas do Paquistão. PQP os gajos, se é que me faço entender.

PS - Faço em qualquer caso notar que não tenho particular simpatia pela ofensa de credos alheios, e que a acho de mau gosto. A verdade, porém, é que na civilização a que pertenço, já não espero grande coisa nesse campo (do respeito). E que, mesmo quando me chateio, nem por isso queimo embaixadas ou lincho pessoas.

PPS - O PS anterior é dirigido à equiparação "lolitiana" dos cartoons do Maomé com uma tira do Calvin e Hobbes. Note-se: eu até acredito que o dinamarquês acha que é a mesma coisa. O problema é que não é. E é uma pena que isso se discuta pelas razões erradas, ou seja, porque o Islão, como religião, está refém de uns tantos assassinos tresloucados e dos não menos assassinos e não menos tresloucados professores das suas "Madrassas".

Por acaso estava fora de jogo, pareceu-me

Pronto, admito que não é dispepsia que tu tens. É apenas "um bocado de indigestão". O que vai dar no mesmo, mas eu sou tolerante.
De facto, lolita, eu não sou intolerante. Gosto da tolerância, tu sabes. Chateiam-me é os excessos de tolerância, sobretudo para com os intolerantes. É diferente. Já me expliquei, só a tua azia te cega (e o Baía no banco, que chatice...).

Não tenho nada uma visão "nós-contra-eles" do mundo. Nem, mesmo, uma visão "eles-contra-nós". A bem dizer, não consigo ter uma visão bipolarizada do mundo: é muito redondo. Está complicado, não está? Eu tento, apenas, orientar-me: não se apedrejam mulheres, não se mutilam pessoas, não se incendeiam embaixadas por causa de caricaturas, não se lincha gente no intervalo de cerimónias, nem no fim delas, não se vende a mãe, não se deixa de condenar o condenável porque o compreendemos. Essas puerilidades.

Já que insistes em falar "deles", eles não se limitam a fazer mais barulho que nós. Quem são "eles", aliás? Os mabecos? Os que os atiçam? Seja como for, como muito bem sabes, e eu não disse o contrário, há, em nós e neles, um imenso potencial para sermos merdosos: basta estar a maré vaza e os despejos terem sido muitos, nesse dia de especial chafurdice, que nos tornamos perfeitamente intestinais. Agora, eles, além de berrar, encontram (ou dizem-lhes que sim) especial motivação na berraria. E matam, iluminados por essa visão do inferno que cuidam ser a redenção. Cá como lá? Mais lá. Porque são pobres? Admito. Discutimos os regimes, pode ser.

E, já agora: não é por "não haver ninguém que detenha o exclusivo do mal" que eu me esqueço da mulher apedrejada e do linchamento de Quebradas. E doutras coisas. "Ó minha senhora, desculpe lá estar a levar com essas pedras na cara enquanto está enterrada quase até ao pescoço, mas não podemos dizer nada sobre isso, porque, como sabe - párem lá de atirar pedras só um bocadinho, vá, que eu estou a falar com a senhora! - o mal não é exclusivo de ninguém".

Eu nunca disse, nem pensei, que o mal é exclusivo de quem quer que seja. Disse, até, ali para baixo, que "há em nós muita maldade" e que isso me envergonha. Para que fique mais claro, afirmo, ainda, isto: o mal não é exclusivo de ninguém, de nenhuma pessoa individual ou colectiva, admito; mas não é a falta de exclusividade do mal que me impede de o repudiar. A ele, ao mal, e aos malvados, os ocasionais e os recorrentes.

Dispéptica está a tia

Não é um empatezito que me dá azia. Cinco-ponto-cinco acima do nível do mar. Dos peixes, dos moluscos e até das piranhas. Mais alguma coisinha, besugo?

Quanto à tua intolerância face à tolerância. Insistes em defender um mundo monocromático, maniqueísta, feito à imagem de um filme de cowboys. Mas a vida real é bem diferente dos filmes. E, repara, não se trata sequer, de ser pior: é muito mais rica, mais... encorpada. Bem mais difícil de perceber, pois.

A tua visão nós-contra-eles do mundo há-de ser semelhante a muitos ocidentais e a outros tantos árabes (ou talvez mais, concedo; eles são muitos). Não se sabe, ao certo, onde está a gente boa e a gente má. Eu, pelo menos, não sei. Como tu próprio dizes: há os tipos de Quebradas, há as prisões da CIA algures na Europa, há a prisão de Al-Graib, há o bloqueio a Cuba. Tudo deste lado do mundo. E do outro lado também.

Enfim, afinal, a diferença visível, no que toca a actos de violência, é a de que eles fazem mais barulho do que nós. Matam e ostentam o troféu. Coisa de gente ignorante, vista daqui, do civilizado Ocidente, que não mata por fé, mas por petróleo (ou por nada).

É esta, a tolerância: a apreensão de que ninguém detém o exclusivo do mal. Um pequenino esforço para ver o mundo a cores.

Ó besugo: compra uma caixinha de guaches.

6.2.06

Entendam-se

É redundante, falar em relativização ou contextualização da liberdade. Se a liberdade de cada um é, por definição, igual à de todos os demais, então não é infinita. É absoluta apenas porque é inviolável; na sua prática, é essencialmente relativa.

No caso dos "malditos desenhos", mantenho isto: a questão nem sequer se eleva à prática de um acto, voluntário e reflectido, de livre expressão. Na sua génese, há-de ter suscitado ao director do jornal dinamarquês preocupação semelhante à publicação do Calvin & Hobbes (o senhor há-de andar, aliás, completamente pasmado com as proporções que isto tomou). Mera rotina editorial.

Desculpa?

Não sei se te percebo bem, Alonso.

Por um lado, parece-me que concordas que há limites para a relativização, até para vermos se a tolerância, um excelente valor "cá dentro", não se torna numa paneleirice pegada de gajos e gajas extremamente compreensivos com os que estão "lá fora", sem jeito nenhum.

Quero crer, também, que o nosso tecto mais alto e mais aconchegante é a dignidade humana, tal como a entendemos "cá dentro". Desde que verificamos - para que serve a razão? - que a dignidade humana, "lá fora", é tratada com as receitas antigas e sempre perpetuadas - por fé? por paixão? hum...duvido largamente- pelos transportadores da verdade debaixo do turbante, as mezinhas da lapidação, da praga rogada, da amputação (mesmo da consciência), carecem de sentido todas as comparações com o que se passa "cá dentro", porque o que se passa "lá fora" é uma ignomínia e uma ignomínia merece um fundo ponto final, não um "talvez" seguido de "reticências e vamos lá a ver".

Não aprecio, como sabes, muitas coisas que se passam "cá dentro". Da mesma forma que não possuo um aparelho de ar condicionado para quando está calor demais, "cá dentro", por causa do calor que está "lá fora".
A questão é mesmo essa: nem é preciso invocar o IP4 (estava péssimo, melhorou-se), não vale a pena falar de futebol (até porque o Porto empatou e a lolita deve estar dispéptica), nem de excessos de fé e de paixão, que tanto há "cá dentro" como "lá fora". É como o calor de verão: sente-se "cá dentro" mas sabe-se lindamente quando vem "de fora".
E olha que "lá fora" pode ser praticamente "cá dentro", como em Quebradas. Não sei quantos daqueles Quebradenses de que falei ontem têm ar condicionado no domicílio, quantos passam fome, quantos são benfiquistas, quantos foram lavar as mãos depois do serviço e quantos só acedem à legítima habitação por quelhos esconsos de terra batida. Mas sei isto: são criminosos.
Sei que, o que fizeram, não se faz. Sei que todos os dias se cometem crimes que não podemos calar, quando eles vêm à conversa, da mesma forma que sei que não podemos passar o nosso tempo a denunciá-los e a lutar contra eles, porque temos filhos para criar e porque já levamos todos, de Quaresma, a nossa penosa dose diária.
Sei, sei mesmo, que por nenhum motivo se podem apedrejar pessoas, nem ostentar violentamente estandartes de fé como se fossem baluartes de civilização, porque - como bem sabes - foi sob estandartes de fés (há fés estranhas, temos mesmo, de novo pujantes, os novos e os velhos crentes no deus-dinheiro, a vender bandeirinhas baratuchas, mão-de-obra de leste...) que se cometeram as maiores atrocidades, por todo o lado, contra as civilizações. A barbárie não é uma civillização: é outra coisa.

Creio, por fim, que caricaturar um Deus, mesmo um Deus Grandioso e Severo, não deve ser punido pelos homens. Ele saberá punir-nos, quando chegar o tempo, sem precisar da canzoada que late por ele, se Ele cuidar ser isso, esse supremo castigo, necessário e merecido. Que se condenem os homens pelos crimes dos homens, mesmo que cometidos em nome de Deus: isso poupar-Lhe-á trabalho.

P.S. - Creio, ainda, que saí dos limites do teu escrito. Acontece-me. Se te percebi mal, desculpa. Se te entendi bem, desanca-me.

Um abraço.

O cerco

Lá fora, o mundo é diferente. E, às vezes, esquecemo-nos disso.

(pausa para pegar no controle remoto e subir um grau o ar condicionado)

Cá dentro, cultiva-se o relativismo. Paixões e fé, só a propósito do futebol.

(pausa para reparar que a alcatifa, na zona junto à janela, me parece ligeiramente queimada da exposição ao sol)

Lá fora há poucas estradas alcatroadas.

(considerando que a Nissan Navara do Carlos Sousa não se comparava com os carros das equipas oficiais, ele teve um excelente resultado)

Cá dentro, andamos a discutir se o Cavaco desenhou mal o IP4

(Qualquer dia tenho que mudar os pneus do carro)

Lá fora há fome. Frio. E medo.

(Lá pelas onze horas sou capaz de ir tomar outro café. Talvez comer um queque)

Cá dentro, também há pobres. Por acaso, alguns deles vêm de lá de fora. Parece que se juntam nos subúrbios das cidades, mas na verdade não sei muito disso ... nunca vou para essas zonas.

(Por acaso, o jornal de hoje nem relata nenhum crime suburbano. Se calhar a PSP nessas zonas já anda melhor armada)

Lá fora desprezam-nos.

(Aquele Primeiro Ministro do Irão parece uma personagem de um filme do Stallone. Ou do Steven Seagal. Não que eu veja filmes desses, claro, que eu prefiro o cinema francês e os seus retratos da complexidade do espírito humano)

Cá dentro, desprezamo-los.

(a propósito de filmes franceses, uma amiga emprestou-me um filme em DVD, chamado "Dinner de Cons". Muito divertido. E não tinha argelinos.)


Em conclusão:

a) Está a altura de eu voltar a ler um livro do H.G. Wells (não, não é o da "Guerra dos Mundos", é o outro, o "A Máquina do Tempo").

b) Enquanto é tempo ...

Calminha, então!


Uma coisa que me arrelia é que se faça isto.
Não, não é porque podia ser eu a estar ali sentadinho, à mercê de cães raivosos. Que podia ser eu. Mas não é por isso.
É que se faça isto, que me enerva. É que se faça isto de cara tapada. Confissão dum medo maior, descomunal, o medo imenso dos cães raivosos, o medinho vergonhoso de poderem levar no focinho os pontapés que mereciam.

Um dia, não sei se se lembram, correram mundo imagens dum operador de câmara (não sei se era australiano, mas acho, até, que era nórdico) a defender, à murraça e ao pontapé, um desgraçado qualquer na Indonésia. Os cães sanhudos, aquela corja de canitos imbeles, só amarelos do seu ódio, queriam matar o infeliz, que era um deles, tanto quanto se via. E o homem da câmara, que era grande e estava ali sozinho (houve outro, que filmou, apenas, senão não se via) e se chateou com aquilo de ser só operador de câmara, ainda deu ali, a eito, umas biqueiradas valentes, afinfou, mesmo, com a câmara na cornadura de alguns "quebradenses locais", ou seja, operou-a bem. E cada porradão que dava saía dali um "mabeco quebradense" da área de penalty, de costas, em voo.
Esta gente mal alimentada da cabeça (pobres diabos, que não é só da cabeça!) pode mal com um porradão nas ilhargas. Mesmo aquele tipo dos idos de Timor-Leste, que tinha cabelo de panasca, aqueloutro Guterres que parecia um cantor pimba, lembram-se do "pintas"?, era um herói de merda, que devia levar umas lambadas no focinho todos os dias, pela alvorada, como purga da sua simples e nojenta existência.

Não se trata aqui de ter coragem. O homem sentado, ali em cima, não pode ter coragem. Pode ter dignidade, mas já não pode ter mais nada.
Trata-se aqui de lidar com o nosso medo aos filhos da puta. O filho da puta, qualquer que ele seja, em nos sentindo medo, caga-nos grosso em cima. É preciso dar-lhe a comer a merda que caga, às colheradas nas beiças, na primeira oportunidade. Não sei quando será, mas que não seja tarde demais.

Agora o petróleo. Pois. E o mercado. Pois.
Está bem, então.

Da superioridade e da candura



Olha-se para ele e percebe-se logo que pode ser capaz de muitas coisas, de quase todas as coisas, mas não de fazer mal.
Naquele dia de sol, deitou-se no pequeno trenó de plástico e deixou-se deslizar pela colina nevada abaixo, ao calhas. Deixou-se tombar, mesmo, todo para trás, enquanto deslizava, olhando o céu azul (ou de olhos fechados?) e abandonando-se ao rumo que lhe viesse debaixo do peso.

Desceu o pequeno declive, sempre com mais velocidade, até se derramar num riacho gelado, donde saiu molhado, frio, sorridente. Com aquele sorriso bonito de quem sabe rir-se de si (como dizia a lolita, que é suspeita de sangue do artista) e que faz sorrir os outros sem ser de mais nada senão da candura alta que ali está.
Bastava ver os miúdos para perceber isto sem muitas palavras. Mas os miúdos já se deitaram.

5.2.06

Mais cães

Aqui há uns anos, em Quebradas (fica para os lados de Aveiras-de-Cima, se bem me recordo) um grupo de pessoas que estavam num baptizado (ou num casamento) resolveu fazer um breve intervalo na cerimónia e, de fatinho, consumou outro cerimonial. O grupo, ainda com as palavras do senhor abade nos ouvidos, foi buscar, a casa, um débil mental que tinha feito não sei o quê a não sei quem e linchou-o, deixando-o dependurado duma árvore. O mesmo grupo, ainda com os urros do infeliz nas orelhas, regressou ao lugar donde tinha saído. Com mais poeira nos sapatinhos, com algum suor a mais a escorrer pelos sovacos criminosos e com a certeza de que os noivos (ou a criancinha?) iam ser muito felizes, para sempre, a menos que saissem dos eixos e fosse preciso canzoada.

Não sei se algum desses animais foi preso. Mas não deve ter sido. Devem andar aí, lampeiros.

Há mais corão, no sentido de grande coro, que bons coristas.
Há muita maldade dentro de nós. E esta frase é parola, eu admito, porque já se sabe que a há e quase é vergonhoso falar disso. Mas eu falo, porque não tenho vergonha de sentir vergonha.

Sub-cultura

Há quem precise de meter expressões como "follow-up" ou "next steps" no meio das frases para aparentar riqueza discursiva. Para esses, só há uma resposta possível: "ar iú tóking tu mi?"

O paiol

Sempre estranhei as pessoas que não têm suficiente sentido de humor para se rirem de si próprias porque se tomam, a si e àquilo em que acreditam, demasiado a sério. De certa forma, cultivam uma espécie de fundamentalismo intelectual que lhes serve para constituir tabus individuais "ex novo", de que os outros só tomam conhecimento depois de, inconscientemente, o quebrar. O efeito pernicioso é, naturalmente, o óbvio: o isolamento. Em geral, toda a gente se dispõe a discutir a bondade de uma opinião ou de uma ideia; mas ninguém, a não ser alguém munido de infinita paciência, se dispõe a tolerar, de forma serena, que lhe seja oprimida a liberdade de expressão apenas porque alguém "não consente".

Isto é aquilo a que nós, europeus, estamos habituados. Se um director de um jornal dinamarquês decide publicar "cartoons" sobre Maomé e o Islão, não tem consciência de que, com isso, vai suscitar um motim à escala civilizacional. Para nós, europeus, satirizar o Islão é tão brando e light-thinking como ironizar com o Vaticano, com Ratzinger ou com as testemunhas de Jeová. Os símbolos religiosos, no nosso pensamento laico, são, apenas, sociologicamente relevantes. A expressão herética é, há muito, um delito obsoleto, muito mais por efeito da fulanização desses símbolos do que por ganho de liberdade de expressão.

O reverso da moeda é a sobranceria com que olhamos para as nações espartilhadas por religiões fechadas e rígidas, instrumentalizadas a hegemonias necessárias à guerra santa. Extensos bocados do planeta onde nascem e se criam milhões de pessoas ensinadas a viver como um acto de fé, sem lugar para o individual, para a razão, para a dúvida. Não exercem qualquer direito à indignação, como justifica o Daniel Oliveira, mas apenas actos violentos de intolerância. Não exerce direitos quem não é livre.

O Islão não tolera as nossas francas liberdades ou, numa perspectiva mais pragmática, a bonomia ocidental à banalização do sagrado. Não descansará enquanto souber que nos amedronta com a violência da sua fé, alimentada, nessa violência, pelo desprezo "snob" que lhes votamos ao modo de vida, à profunda incultura, à ignorância. E o certo é que amedronta. Inquieta. Já vivemos apreensivos, atentos ao mundo árabe, a ver quando rebenta a bomba. Que rebentará, um dia.

Do medo



Quando, no outro dia, o meu filho mais velho se embrenhou nas diferenças de fundo entre o multiculturalismo e o etnocentrismo, acabámos a falar dos chineses e do seu modo de vida. Assentámos que a nossa referência ainda é a dignidade humana e que não pode haver tolerância acrescida para os intolerantes. Até porque eles, por autodefinição magnífica, a não querem nem cultivam.
Abordámos a mão de obra barata, as legiões de desempregados e a sua pressão indigna sobre a liberdade de quem, por acaso, tem trabalho; porque há sempre, nos cortelhos e à entrada deles, quem tenha, da lavagem que lhe atiram, desdenhosa, uma noção unicamente "alimentar". Falámos da livre concorrência e de como o belo substantivo "livre" se pode transformar, facilmente, num adjectivo de merda, bastando colocá-lo qualificando um esterco qualquer de manhoso, enfeitando-o, em lugar de o deixarmos sozinho e esbelto na sua altivez de valor absoluto.

Não falámos, porque não me lembrei, do apedrejamento de mulheres por adultério ou por outra coisa qualquer, como se faz em países muçulmanos. Nem nas execuções públicas, nos cortes de mãos na Arábia Saudita e noutros países islâmicos. Não falámos de nada disso. Nem vamos falar tão cedo.
Hoje, por causa das caricaturas, o rapaz perguntou-me: "Que vem a ser isto?". E eu não lhe respondi, disse-lhe que era mais uma chatice.

A ele não lhe disse. Nem ele é responsável pelo que eu digo, pobre rapaz que está apenas a crescer. Mas digo aqui.
"Meu filho, isto são os filhos da puta, outra vez".

A mulher da fotografia não é. A mulher da fotografia (e muitos outros homens e mulheres, muçulmanos, judeus, budistas, católicos e protestantes, no mundo inteiro) não é filha da puta: aquela mulher é mais um festim macabro dos filhos da puta que só lhe deram um livro para ler, como se lá estivesse tudo dentro e, fora dele, não houvesse mais nada. E, coitada dela, às tantas nem apedrejada até à morte desconfiará que há. Basta ver a cara dela: sepultada ali, na ignomínia do medo, não parece capaz de descobertas.

E são sempre mais, os cães raivosos. Seja porque são mesmo mais ou porque fazem mais barulho enquanto dilaceram qualquer tentativa de ternura.

4.2.06

Sempre é menos definitivo do que assim...

Eu hoje vou adormecer assim

3.2.06

Tira fora que vem gente

"- Excelente! Então, meu caro Ega, tens outra coisa a fazer, antes de morrer amanhã talvez, é cear esta noite. Eu ia cear e, por motivos longos de explicar, há nesta casa um peru frio. E há-de haver uma garrafa de Borgonha... Anda, come, não te romantizes. Tu o que tens é fome. Todas as tuas ideias esta noite se ressentem da debilidade!".

Assim dizia Eça, na boca de Craft, nos Maias.

Há um potencial de mistura espantoso em cada ingrediente. Nas pessoas não sei, excepto nos livros: as pessoas, se as deixarmos, estão lá presas.

Preliminares


W.A. Mozart, Requiem, Lacrimosa

Quando escutamos um Requiem estamos de preto, como num pasmo escuro, diante da beleza duma despedida. Nós é que fazemos parte.
Bastava sermos nós a estarmos ali deitados, também pasmados e de preto, vestidos com o último e esmerado cuidado de quem vai ser coberto, em breve, de flores e terra húmida, para sermos figurantes cegos e surdos dessa espécie de doação da nossa última ternura, da última comoção que emprestaríamos à dor dos adiados, já sem direito a devolução.
Não me parece que escutássemos grande coisa, nem que fizéssemos parte da beleza. Só da despedida. Mas, só por nós, não se escutaria música.

Pontos de mira

- Você é imensamente rico.
- Pois sou.
- E faz doações porque pode.
- E porque devo.
- Você não devia era ser tão rico. Se você não fosse tão rico, às tantas nem eram precisas doações. A culpa não é sua, sabe?
- A vida é assim, meu amigo. Não há culpa, há apenas vítimas. Leu aquilo do Darwin?
- Eu não sou seu amigo. Sabe, não adianta nada ler sobre a selva. Você também vai morrer.
- Que importa? Também você. E vai morrer pobre. E eu vivi rico.
- Não está a perceber: você vai morrer agora. Estou desesperado. Olhe esta pistola durante uns segundos. Depois disparo.
- Não devia tê-lo deixado aproximar-se assim, está visto.
- Não. Não devíamos era tê-lo deixado afastar-se tanto.

Afinal não.

Foram os bancos do liceu, foi o resto. E, depois, não foi mais nada. Foi o tempo a separar-nos no espaço ou foi o espaço a afastar-nos no tempo?
Agora ele está doente e é como se voltássemos às dimensões antigas. A ter tempo e espaço comuns, outra vez. Os antigos e os de agora.
O nosso tempo e o nosso espaço, no fundo, são sempre muito grandes. Tão pouquinhos.

2.2.06

Eu hoje acho que vou adormecer assim, não é por nada...

Raios partam a Filosofia.
Eu fiz um filho para isto? Para discutir com ele a problemática do relativismo multiculturalista? Qualquer dia vem o outro: "ó pai, não concordo nada com a tábua rasa do Locke...". Bolas.

Eu quero é mimos, não entendem isto? E jogar com eles à bola e ver filmes e ir chafurdar no mar e na neve. E explicar-lhes essa coisa do sinalagma (mas sempre com protecção, que eu sou técnico de saúde, ainda por cima: tenho responsabilidade).

Bill Windows

Dantes, era dado assente que os homens mais poderosos do mundo tinham cara de poderosos. Era como se já nascessem, fosse em berço de ouro ou debaixo da ponte, predestinados para o domínio, que se impunha aos outros como a eles. Actualmente, o homem mais rico do mundo é um informático com ar de Professor Pardal, estranhamente convencido de que o mundo está no caminho certo para atingir a justiça social aparentemente porque já doou uns milhões de dólares aos países pobres e tenciona doar muitos mais. Um optimismo autista (sem deixar de ser optimismo).

Backstage

Pelo que percebi até aqui, isso do sinalagma é mas é uma grande rambóia!
Grandes malucos, estes juristas.

Ó Alonso: eu só não percebi quem é que levava a procuração - não é preciso uma procuração? - da Verónica, a que ficou em casa por ser tímida: era a Vera?
Palpita-me, mas a mim também já quase tudo me palpita: estou a transformar-me num perfeito pós-moderno, guio-me pelo feeling e só ainda não atinei com o euromilhões porque não jogo, palpita-me...

Estimado Alonso

Para além de verificar com agrado que te merecemos confiança suficiente para vires aqui confessar os teus - como direi? - sinalagmas poligâmicos desviantes, devo dizer que já adivinhava que o tema "matrimónio", que te é tão caro, havia de te fazer saltar da toca.

Mas eu percebo-te. O sinalagma tem, entre outras, a virtualidade de imprimir coercividade aos comportamentos, inibindo, digamos, "desvios de rumo". Substitui, por isso, com larga vantagem, a "vontade positiva de cumprir".

E tu nota bem: a "vontade positiva de cumprir" não precisa do sinalagma para coisa nenhuma.

O JPP também fala disto. Vai ler e percebes imediatamente porque é que nunca deverias ter feito a tímida da Vera passar por uma vergonha dessas.

Eu, a Vera e a Verónica

Também queremos casar. Os três. Somos maiores, sabemos o que queremos, não incomodaremos ninguém (salvo o besugo, que ficava invejoso). Seria um sinalagma "a trois".

Mas a estúpida da lei não deixa. Fomos à Conservatória (sem imprensa, que a Verónica é muito tímida) e a Sra. Conservadora explicou-nos amavelmente que - pessoalmente - não tinha nada contra as nossas decisões pessoais - mas que legalmente isto não era possível.



PS - lolita, estou certo que, neste caso, compreendes porque é que eu quero tanto sinalagma.

Olha, eu também não

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Loureiradas

Da boca de João Loureiro, ex(?)-vocalista dum conjunto e actual presidente do Boavista, saiu isto, a propósito de reivindicações dos jogadores Martelinho, Paulo Turra e Sanchez (este já nem joga, acho eu), que são credores do Boavista (ou seja, o Boavista deve-lhes dinheiro, não é? ainda é assim?):

"Não é com pressões mediáticas que me demovem", disse João Loureiro. O presidente do Boavista reconheceu que nem sempre pode pagar o que está acordado e considera "falta de respeito" não aceitar aquilo que o clube, no momento, lhes pode dar".

Tradução, para eu perceber:
"Ó meus amigos: é preciso mas é haver respeito! Contratou-se, paga-se, e desde já vos digo que isso é uma chatice, mas vai-se pagando. Mas paga-se quando eu quiser, muita atenção, que agora não me dá jeito! E não é cá com merdas para os jornais que vos safais! Quanto mais falardes pior! Ai o caraças! Isto já não é um mundo de profissionais e de contratos a sério, que é que vós pensais, meus passarinhos? Isto agora é um mundo de amadores "semi-profissionalizados" e o que é preciso é muito respeitinho! Ponde os olhos no nosso primeiro-sargento algarvio, sim? Respeitinho e fazei-me mas é a fineza de circulardes em silêncio! Isto é uma crise, ok? Auxiliai, mas é, gananciosos! Só porque o dinheiro é vosso, querei-lo? Bastardia!".

Bem me parecia que dito assim me ia soar mais claro. É como água de nascente.

1.2.06

Choupanadas

Rui Alves (presidente) reafirma que "o Sporting é concorrente directo do Nacional".
Reafirma o óbvio. Claro que são concorrentes directos. Não competem ambos na mesma Liga, na mesma divisão, no mesmo campeonato?
Não se sabe é se Rui Alves pensa que o Benfica é concorrente directo do Nacional (estão separados por um ponto), nem mesmo se acha que o Porto é concorrente directo do Nacional (os madeirenses têm menos cinco pontos que os dragões).
Mentira: do Porto sabe-se que Rui Alves só pode achar uma de duas coisas, que abaixo explico.

Recordemos: o Nacional da Madeira boicotou duas contratações do Sporting em dois anos consecutivos (Paulo Assunção e Adriano). Se, quando foi de Paulo Assunção, Rui Alves não disse grande coisa, agora disse uma enormidade sem nome. E, vejamos: ambos os jogadores acabaram por ir para o Porto; estão lá ambos, actualmente. Rui Alves poderia ter dito que "o Nacional faz os melhores negócios que pode, o Porto pagou mais, essas coisas todas e ainda outras, por isso calem-se". E eu calava-me.

Mas o que ele afirmou foi: "Adriano não vai para o Sporting, porque o Sporting é concorrente directo do Nacional". Donde se depreende que o Porto não é. Senão, Adriano não tinha ido para o Porto.
Ou seja, Rui Alves, que lidera um clube que está a cinco pontos do Porto, no terceiro lugar, um clube que, no ano passado, por acaso, até espetou quatro secos nos Dragões, esse mesmo Rui Alves não considera o Porto um concorrente directo. "Adriano, para o Porto, pode ir".

Só há aqui duas hipóteses: ou Rui Alves desconsidera o Porto, achando que o clube da Invicta não tem pedalada para ser concorrente directo do Nacional, ou se coloca numa posição de vassalagem desprestigiante (para os madeirenses) perante o FCP - que até vai à frente, eu sei; mas ainda não ganhou, excepto para os seus indefectíveis, o que me parece justo, e para... exactamente, para Rui Alves -, considerando-o tão inacessível que pode dar-se ao luxo de o reforçar.

Não passa disto.
E isto é, praticamente, infame. Até porque nos faz pensar naquilo que Rui Alves ainda será capaz de fazer, a mais, para provar a sua tese boçal. É que, agora, não lhe basta ir a Alvalade, neste fim-de-semana, provar que é concorrente directo do Sporting: depois do que disse, tem de provar mais coisas. E, se Deus é justo, não vai ser capaz de provar nenhuma.

Para que querem elas o sinalagma?

Se fóssemos assim tão conscientes das liberdades cívicas e dos direitos humanos, ninguém se preocupava em tomar posição sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, muito menos a reivindicá-lo.

Muito pelo contrário. Erradicar-se-ia, isso sim, o negócio jurídico.

Esguichos de besugo

O Altino, agora, está aqui. Não percebo por que se mudou: mude-se para onde se mudar, o Altino será, sempre, mais do mesmo. E muito bom, quase sempre. Quase sempre parecendo "à bout de souffle", respira largo.
Mas está aqui, agora, e eu já estou farto de lá ir ter pelo link do "fodido" (ele sabe que o conhecemos assim, até ele já o disse em tempos, o Altino é "o fodido"; que o Altino pode fazer trinta e sete blogues que há-de ser assim, para sempre, e ainda bem, mesmo que a ideia dele não seja essa, quando se muda: muda-se, mas não muda; nesse aspecto é como o João Tunes, outro andante que tal).

Já a história do V.P.V. me parece de decisão indiscutível: ao antigo mentor do MASP (excelentes crónicas escreveu ele, naquela altura; e mais tarde, relembrando esse tempo, reescrevendo-se na mesma crença que, agora, parece causar-lhe a azia costumeira das crenças ocasionais) sei muito bem onde o hei-de ler, quando quiser lê-lo. Ele é que não sabe (nem ele, nem a C.C. e S.) onde me há-de ler a mim. O prejuízo é meu, eu sei, que pago os jornais para o ler. Mas prefiro pensar que a infelicidade dele, não sabendo onde me ler a mim, ainda por cima de borla, é mais profunda. Donde se depreende que, por uma questão de decência e de antecedência (nós já cá estávamos), seremos recíprocos se acharmos que nos apetece, em lhe apetecendo - antes - a ele.

Finalmente, decidimos acabar com a campanha. Já acabou. Já lá está, no sítio, o mono auxiliador, o comendador encomendado da comenda encomendada, no posto em que o puseram, o sargento de costumes.
Fica, apenas, o "Alargar a Cidadania". Para o que der e vier e, sobretudo, pela música, que é bonita e resume quase tudo. Além do que acrescenta. E do que deixa ficar aceso enquanto não se apaga.

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