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12.2.06

Instrumentalizando a pequenina arrogância

Quando Nabucodonosor governava a Babilónia, o mundo era mais cru e as vidas sacrificadas em nome da conquista e do domínio valiam apenas o suficiente para se alcançar poderes ilimitados, embora, como a história o veio a demonstrar, irremediavelmente finitos.
Ao longo dos tempos, as vidas humanas sempre estiveram ao serviço do domínio, instrumentalizadas por um território ou por uma fé; ou por ambos. De forma tal que todos nos conformamos com mortes heróicas, perpretadas em guerras que cremos existirem para atingir a paz. Mortes que glorificamos, que pressupomos inevitáveis e com que branqueamos a culpa de ficarmos vivos e de escaparmos à destruição que, para nosso sossego, louvamos que não seja nossa.
Mas a destruição dissemina-se e atormenta-nos, ainda que não se veja a olho nu, mesmo que não seja à nossa porta. O nosso sentimento de pertença implica, pela precisa força de se sentir pertença, que se condenem os que, sendo nossos, quebram os laços pela arrogância, pela brutalidade, pela iniquidade. E que se declare publicamente essa condenação sem equívoco, sem dúvidas, sem atenuações e, sobretudo, sem demagogia. Em nome da nossa sobrevivência, instintiva e ontologicamente pré-existente às doutrinas humanistas, desnecessárias para ensinar alguém a observar o sofrimento alheio. Quando sabemos de homens a destruir outros homens há um aperto que nos angustia, que nos dói, como se o nosso admirável e exclusivo código genético nos alertasse para o potencial destrutivo do ódio contra os nossos semelhantes. As religiões e as Jihad não são nem o pretexto nem o fundamento da destruição; são os homens, que se esquecem de si à escala da via láctea.

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