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8.2.06

Uma nota sobre civilizações

De tudo o que diz o Alonso, depreende-se, pese embora o desagrado que manifesta em relação à postura europeia do "conforto de sofá" (com a qual eu concordo, por muita culpa que tenham os EUA e Israel no potenciamento esta crispação) que não tem qualquer dúvida quanto ao atraso civilizacional dos muçulmanos. Embora correndo o risco de colagem ao discurso bloquista, devo dizer que me parece que, nesta matéria, se impõe alguma cautela. Falta-nos saber (e se calhar nunca saberemos) o que significa, ao certo, evolução civilizacional, o que requer distanciamento, descomprometimento, relativização, desconstrução de conceitos e, por fim, alguma humildade. Se é verdade que há um núcleo de direitos que é (ou deve ser) unanimemente inviolável (como o direito à vida ou à integridade física - direitos iminentemente biológicos), já não tenho tanta certeza quanto a outros direitos, provavelmente disponíveis pelo seu titular, e que, em tese, se aceitam funcionalizados a um dado fim, socialmente regulado. Admito, enfim, que para um muçulmano seja não só aceitável como moralmente correcta a prática da poligamia, da mesma forma que não tenho qualquer dúvida de que o uso obrigatório da burqa é uma violência inominável.

Falta-nos isto. A percepção de que as conquistas ocidentais sobre as (algumas) liberdades individuais são seguramente boas para nós mas eventualmente desapropriadas para outros. Na verdade, estamos tão seguros de que temos razão que a nossa razão se torna pequena: só existe à escala da nossa vivência. Imprestável - e, pior, desprezável - pelos muçulmanos.

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