Versões Simplificadas (1)
Solicito permissão aos meus companheiros lolita e alonso para iniciar, hoje mesmo, uma nova secção no blogame mucho, que ficará a meu cargo e que, até por isso mesmo, se chamará "Versões Simplificadas".Abordarei seja o que for que me dê na gana, mesmo assuntos em que tenha pensado pela primeira vez e, até, coisas em que nunca tenha pensado; sim, admito, aventurar-me-ei, sem pejo, por temas em que nunca tenha pensado de todo, nem imediatamente antes de escrever sobre eles, nem sequer durante.
Chamo a este exercício "Versões Simplificadas" por dois motivos: para eu próprio entender o que escrevo e porque tive medo duma jura de morte dalgum magrebino caso apelidasse o projecto (gosto desta palavra) de "Versículos Simplificados". O outro falou de versículos e, tungas, apanhou um cagaço tão grande que se converteu, que é o que acontece à comida no seu trajecto pelo intestino. Isto é a gente a conversar, não se irritem.
Posto isto, que sei ser mais caricaturável do que Otelo Saraiva de Carvalho (como foi feito, aliás, nos idos de 79-80, já não me recordo por quem) a passear-se com um livrinho intitulado "Marx Simpificado", começo já, para não perdermos aqui muito tempo. Ah! Como em todas a versões simplificadas, darei muitos exemplos desgarrados. Por dois motivos: porque sim e porque não sei agregá-los numa linha de pensamento coerente. Isto é bom de ver e não me embaraça, porque embraçado já eu estou desta ciência de mim, há largo tempo.
Bom. Então vá. Hoje o tema é "Como se mede a superioridade das civilizações". Parte-se do princípio que já bonda discutir o que é uma civilização, se há várias, e que já se assumiu que todas têm defeitos e virtudes (mesmo que, em alguns casos, as virtudes não se vislumbrem a olho nu, nem mesmo à lupa).
Então, como se mede? Mede-se na escala "pequenos saltinhos, como as pulgas" .
Por exemplo (lá está, isto é para simplificar), ainda há estados que admitem a pena de morte nos EUA, mas a maior parte dos países da União Europeia (excepto a China e mais meia dúzia, que simplificando, também são da União Europeia, e de que maneira) já não admite o homicídio como forma de punição oficial.
Deixemos, por agora, de lado a União Europeia (com a China dentro, evidentemente) e centremo-nos nos EUA, essa raça de facínoras. Aqui há uns tempos havia lá pena de morte por todo o lado, em todos os estados e, pasme-se, havia muitos sítios em que se matava um homem por roubar um cavalo. Um tipo olhava para um equídeo, pensava "olha, dava-me jeito para dar umas curvas pelo Nevada" e, se o gamava, era perseguido, punham-lhe uma corda à roda do pescoço e içavam-no duma árvore, a ver no que dava. E dava no que dava: mais um para o cangalheiro, "este já está", a menos que aparecesse o Lone Ranger. Isto por roubar um cavalo. Hoje, a pena de morte só existe em estados onde nascem pessoas como Bush (o Schwarzenneger é austríaco, cuidado com os austríacos, sobretudo quando emigram, e neste momento nem sei como estão as coisas pela Califórnia, nesse aspecto, mas o Sean Penn vai lá a cada passo e não lhe acontece nada) e outros tipos que agora não me lembro. E já não se condena ninguém à morte por causa de gamar cavalos, em estado nenhum (pelo menos até ontem).
No Irão, na Arábia Saudita e noutros países que também são civilizados (eu disse que não se discutia aqui o que é civilização, lembram-se?), geralmente países muçulmanos (embora tenhamos o caso da China, que faz parte de tudo, hoje em dia), faz-se o que se fazia há duzentos anos, há trezentos anos e, mesmo, há grosas de lustros: cortam-se mãos por roubar (quando não lhes dá para cortar a cabeça dum ladrão: se for maneta, por exemplo, sei lá, isto é uma coisa simples, não se ponham com snobeiras), matam-se mulheres e homens com calhaus pela cabeça abaixo, à conta de adultério e doutras "impurezas" e faz-se grande assuada de cada vez que nos insultam o Profeta, incendiando-se merdas que demoraram a construir, atacando noruegueses (o melhor povo da Europa, mesmo com aquela espinha cravada na garganta de o Viking ter eliminado o Sporting da UEFA, em 1999-2000) ou, se calhar ser o caso, croatas e letões. Aos molhos.
Simplificando ainda mais: dois saltinhos de pulga para os EUA; zero saltinhos de pulga para os outros. Portanto, para já, como acabo de demonstrar, há aqui mais posse de bola, mais superioridade global, materializada em golos, mais evolução técnico-táctica. Mas o jogo ainda não acabou. Eu sei. Eu só estou aqui para simplificar, sim? Os senhores complicam, que são juristas e tudo, eu depois venho e digo assim coisinhas. Certo?
Era só isto, que eu até já fumego da cabeça, bolas: ainda por cima estes dois golinhos podem ser contestados pelos muçulmanos, que podem achá-los desapropriados, evidentemente por "off-side", e ainda protestam o jogo por escandaleira.
<< Home