Coisas que eu sei
Como se avalia um médico?Como se compara um médico com outro?
Isto por causa dos exames de saída de especialidade.
Há critérios objectivos. Se formos por aí, por esses critérios, avaliam-se coisas que também dão para a gestão de empresas, para a publicidade, para o jornalismo (tudo coisas que há e vai haver sempre, havemos de gostar sempre de purpurina pífia, mas que não são assim muito importantes, excepto por, de facto, também serem importantes, do ponto de vista da cosmética da vida). São os critérios objectivos, costumam vir "na lei" e, por muito que nos custe, "os médicos candidatos a especialistas" conhecem-nos tão bem como nós - e, quase, melhor, porque "é mais com eles". Têm de ser certeiros e objectivos na prova final, dissecar e esgrimir, estrebuchar mansamente, até ao "touché" catárctico do fim. Vem-se toda a gente.
Faz-se, ali, de conta. Complica-se. Simplifica-se. Tudo ao mesmo tempo. Como se o júri estivesse ali a dirimir-se, em lugar de ser escala de valores. Finge-se, ali, que a oratória é importante e que a escrevinhação assertiva é fundamental. Não é. Mas quase parece.
Um médico avalia-se como se avalia outra pessoa qualquer. De surpresa, num rompante, num brilho esquisito que lhe enfeita os olhos, de repente. Sabemos todos o mesmo, está tudo ali, nos manuais e na nossa cabeça.
O conhecimento entra sempre, na cabeça, da mesma maneira, ou de maneiras parecidas. Como se mistura com o que já lá está, que puré sai dessa alquimia estranha que fascina pela química pura da miscigenação, é que não se sabe e não se avalia muito bem. E comparar pessoas, homens e mulheres, é exercício de medidores: a medida já lá está, os medidores só medem.
Talvez, no júri, devesse - sempre - haver alguém que nos quisesse bem e que nos quisesse mal. Podia ser só uma pessoa, que nos amasse e nos odiasse, ao mesmo tempo. Como na vida a sério.
Quando se fazem exames de saída é como se estivéssemos a entrar outra vez. Avaliamos quem achamos que podia ser nosso filho, ao mesmo tempo que medimos quem podia ser, mal comparado, nosso pai.
O quociente está nos olhos. E os olhos perdem, muitas vezes. À conta dos critérios objectivos, que é aquilo que também serve para medir os párias.
Eu, um dia, falo disto melhor, hoje foi muito mal, eu sei. Eu isto sei.
<< Home