blog caliente.

31.10.06

Agora vou às laranjas...

A verdade é esta: o hedonismo da pita que toma todas as precauções e mesmo assim engravida - e quando engravida quer abortar - não está nas precauções. É que não percebi se ela queria abortar para continuar a sua actividade preferida sem restrições - mesmo que com precauções - ou se era por razões de saúde. Era? Ou era porque foi violada? Ou era porque corria risco de vida? Ou era porque o feto era deficiente, logo desmerecedor de nascer? O que era mesmo, besugo?

É simples, Alonso.
1 - Era só que ela não queria ter filhos; tanto que até tomou precauções para não engravidar e tudo.
2 - E era, também, que ela queria continuar a dar umas berlaitadas quando lhe apetecesse e com quem lhe apetecesse, porque lhe sabia bem, dando-as com as mesmas precauções universais (embora recusadas, na sua maioria, pelos senhores abades) com que dera a berlaitada que, já se viu, resultou naquela fatalidade de ser fecundada, apesar de não querer sê-lo.

"Tu nunca mais berlaites sem ser para gerar um "sêre" - soa assim, muitas vezes; a sério, soa "sêre", em vez de soar "ser", quando algumas pessoas dizem este substantivo -, rapariga, porque berlaitar, mesmo com precauções, não é prudente, até porque berlaitar não faz parte das precauções aplicáveis à berlaitada!".
Excelente ladaínha.

Repara, se me permites usar palavras que uso diariamente - até pela minha fraca formação nas coisas do léxico, "e derivado" à deficiente educação que me concederam (e por ser uma besta, evidentemente), até me parece vantajoso colocar a questão nestes termos (tu desculpa):
1 - A ela, fraca criatura prenha de terminações nervosas mal dispersas, dá-lhe prazer aquilo do coito e suas variações.
2 - Ela, apesar de gostar de variações, também gosta do trivial.
3 - Ora, é durante o trivial que as coisas acontecem para o torto da fecundação, mesmo com precauções universais (esquece, se conseguires, mesmo que por um momento, a precaução universal da abstinência).
3 - É do trivial que ela não pode gostar, é o trivial que tem de evitar, por conseguinte? É que se é, vais ter de redefenir tu o que vem a ser isso do hedonismo, que para mim é mais amplo do que transparece da tua camuflada definição, quase "funcional", da coisa em si.
4 - Ou tem de se abster mesmo de tudo, como aquela sopeira que tomava banho no jaccuzzi do patrão, que também se abstinha de tudo menos da especialidade gastronómica de Santa Maria da Feira?

Que é pecado, tudo isto, sem dúvida que é. Eu isso nem discuto. Disseram os senhores abades que sim, não dizem outra coisa há séculos. É isso, é a gula, é a preguiça, é o etecétara.
Tudo preceitos cumpridos à risca pelos senhores abades todos deste mundo.
Até se diz, dum magricelas que seja um pisco a comer, que come como um abade. A coisa santa presta-se aos aforismos mais eloquentes sobre frugalidades.

Eu sei que isto é trivial. Tudo o que eu disse. Eu sei, Alonso.
Como a lolita e tu, tenho a certeza disto, sei que muitas vezes argumentamos e contra-argumentamos sobre seja o que for, apenas para tentarmos marcar pequenos pontos em pequenas discussões de "mal vestidos", os nossos corpos nus apenas enroupados nos andrajos das palavras, ainda por cima arremessadas como se fossem contra alguém.

Cuido que "O Caderno" é para os três. E para toda a gente.

("O Caderno", só o li e ouvi depois de ter escrito. E acrescentei o que está em "negrito" apenas depois de ler e ouvir "O Caderno". Mas mantive a ordem dos escritos conforme saiu, e foi assim que saiu, porque há coisas que merecem ficar na ordem por que saem, independentemente de tudo, e sobretudo se nos parece que saem bem assim).

Olha que chatice, isto da Nicarágua

Ante scriptum - vocezes os dois ganham-me largo na prolixidade dos escritos, como se ainda não bastasse serem dois e eu um, e parecer que nasceram já a escrever, porque escrevem bem.
("Mal pensado, mas bem escrito", já dizia o meu avô àcerca daqueles panfletos do reviralho!)

Bem, eu cá nem sei por onde começar, e às tantas nem começo. Vou direito ao miolo, para dizer isto, que eu gostava que ficasse claro. Eu quero lá saber da Nicarágua, da Zita Seabra ou dos demais que, por uma razão ou por outra, os meus amigos insistem em dar como exemplos - que pretendem negativos, claro - de posições que, à partida consideram próprias de primatas, deseducados, condicionados pela religião e o que mais que depreciativamente quiserem dizer.

A verdade é esta: o hedonismo da pita que toma todas as precauções e mesmo assim engravida - e quando engravida quer abortar - não está nas precauções. É que não percebi se ela queria abortar para continuar a sua actividade preferida sem restrições - mesmo que com precauções - ou se era por razões de saúde. Era? Ou era porque foi violada? Ou era porque corria risco de vida? Ou era porque o feto era deficiente, logo desmerecedor de nascer? O que era mesmo, besugo?

Eu cá, posso estar enganado, e amanhã quem ler o blog vai obviamente achar que estou, mas eu parece-me que esta conversa do aborto e da leizinha que agora vai dar mais uns pozinhos de oportunidade para que o mesmo seja feito legalmente ... não resolve nada.

Porquê? Porque a raíz estrutural de quem defende o sim vai muito para além do que a actual lei prevê, e vai mesmo muito para além do que a lei "projectada" vai passar a permitir.

Essa raiz estrutural acha indigno que uma mulher seja penalmente condenada porque fez um aborto. Seja prque for. Seja quando for.

E é por isso que essa discussão da embriologia e de "quando é que um embrião é um feto , de quando é que um feto é um bebé" ... é uma maçada.

E eu nisso até concordo. Radicalmente, aliás. É-me absolutamente indiferente tal discussão. Só que por razões diametralmente opostas às dos meus "compañeros" de blog.

Post Scriptum - Há outra razão - profunda, aliás - que causa que pessoas aparentemente tão próximas tenham opinião tão diferente sobre esta matéria. É a que se prende com a forma como se olha o fenómeno do aborto. Vocemecês olham o aborto como uma coisa feita pela Mãe. Eu olho o aborto como uma coisa feita ao filho que ela não quer ter. Dirão que eu desvalorizo a pessoa-mãe, os seus interesses, necessidades, bem estar. Mas uma coisa reconheçam: eu não a mato por entender que o feto deve ser protegido ... da morte.

Convicções

Neste momento, na Alemanha, o João Moutinho está a ver o debate e a pensar assim:

"Eu devia mas era estar a dar o calmante ao Carlos Martins, a ver se ele amanhã não acorda, a repetir ao Ricardo que quando se sai da baliza é para tirar dali a bola, ou para a agarrar, e não para ver se não nos aleijamos muito na saída, a explicar ao Romagnolli que qualquer dia, se ele continua assim, lhe vou às ventas, devia estar a tremer de medo do jogo de amanhã contra os boches e, o mais curioso, é que não estou a fazer nada disso, não sinto nada disso, sinto-me calmo na mesma. Vou antes pôr na SportTV. Ó Bueno, tu que estás aí a despentear-te ao espelho: carrega aí no botão do aparelho, que está em cima do lavatório. Foi o Paulo Bento que o levou para aí, esteve aí a ver o telejornal na RTP Internacional, pensou que era um secador. Não é essa merda, isso é o gel de banho, procura o comando da porcaria da televisão! Carrega no botão, pá, alguém te mandou cair ao chão? Mas que falta? Levanta-te, maluco do caraças!

O futuro faz-se hoje

Isto se o virmos, claro, na perspectiva progressista do Alonso, aquela que integra o desejo que um dia as coisas mudem. O futuro com que o Alonso sonha faz-se agora na Nicarágua, país onde se defende a Vida (com maiúscula, como é tique dos defensores da vida embrionária contra ventos e marés) ao mesmo tempo que se eterniza a desnutrição e a fome. E, já agora note-se, com comedida pressão - rectius, forte convicção - da Igreja.

30.10.06

É como as cerejas, mas a compota nem por isso...

Do debate desta noite, que começou a entediar-me logo que Zita Seabra abriu a boca (aliás, acho que foi antes disso), só assisti à primeira parte.

Para quem não viu, foi mais ou menos isto:

1 - Dum lado estavam os sins, do outro os nãos, excepto - pelos vistos - o bastonário da Ordem dos Médicos (que estava noutro sítio qualquer e não pôs lá os pés) e a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que se sentou do lado do não e, conforme explicou depois, só estava daquele lado porque a sentaram ali.

2 - O Dr. Gentil Martins, a dada altura, interveio para - fundamentalmente - mostrar o seu diploma de curso. E lembrar Hipócrates, o que é sempre bom quando dá jeito e sempre mau quando não dá: duvido que se possa puxar assim de Hipócrates constantemente, neste mundo pouco exemplar (eu ia dizer "neste mundo pouco exemplar da saúde", mas depois achei melhor que ficasse só assim).

3 - Antes disso, Zita Seabra disse que era contra o aborto, um médico que estava ao lado dela disse que também, depois Edite Estrela afirmou "que sim, também" e o médico que estava ao lado dela admitiu "também que sim".

4 - Falou, também, uma outra senhora que estava muito emocionada e que disse que era contra o aborto e que ia votar "não"; e, em contraponto, uma outra jovem que também disse que era contra o aborto mas que ia votar "sim".

5 - Pelo meio, ficaram fartos aplausos de ambos os lados da plateia, embora não ficasse claro - da parte de nenhuma das metades da assistência - porque é que, do que se disse, aplaudiam uma coisa e não a outra. Cuido que a isto se chama "aplaudir como na bola". E acho bem, se for na bola.

6 - Uma pessoa que vá votar "sim", por exemplo, fica um bocadinho desgostosa por ver a Fernanda Lapa do lado do sim, porque ela é como a irmã, nenhuma delas tem culpa, mas ambas possuem aquele aspecto desmobilizador seja do que for que, realmente, constrange.

7 - Por outro lado, qualquer ser humano que vá votar "não", há-de sentir um desconforto miudinho de cada vez que escuta a voz estrídula de Zita Seabra a ziguezaguear pelos conceitos como se fizesse esqui, sempre a descer de si, e ao ver alguns trissómicos na assistência (que foram lá fazer? quem os levou?, nenhum falou, eram cartazes vivos de que causa triste?).

8 - Da primeira parte do debate, retiro isto:

a) - Toda a gente está contra o aborto, o detesta, o abomina.

b) - Se era isso que era para discutir, o consenso parece ser maior do que nas eleições do Luís Filipe Vieira e do Vale e Azevedo, no Benfica: nem sequer valia a pena debater.

c) - Mais do que estar contra o aborto, a questão resumiu-se, ali (embora tenha havido quem se atrevesse a querer debater o que se quer, de facto, referendar), a ver quem estava mais contra ele.

d) - Continua por se perceber que raio têm os médicos que estar ali, obrigados a meterem os pés pelas mãos quando lhes perguntam sobre conflitos entre a ética e a lei. Como se esta fosse a primeira vez que esse conflito se lhes deparou, mais a Hipócrates, há 2500 anos, quando os médicos eram ainda servos, e como se a ética fosse uma coisa fora do tempo. Eu nunca estaria ali. Mas também não me convidaram (ou foi a minha mãe que me sonegou correspondência).

e) - Há uma ligeira (para usar esta palavra, que ainda não utilizei hoje) contradição entre a posição de Zita Seabra (que, neste momento, estou a ouvir ao longe e está completamente desvairada com uma coisa qualquer), que se fartou de falar da "pílula do dia seguinte" como exemplo de uma alternativa ao aborto - a palavra alternativa é, aqui, de facto, um bocadinho alternativa, sobretudo na boca da ziguezagueante deputada - e a posição da maior parte dos outros apoiantes do "não", que parece que consideram que a vida começa logo após a fecundação, leia-se "concepção. Ela, em coisas do aborto, se for logo a seguir, mesmo logo a seguir à queca, vá lá, 24-48 horas, já não se chateia tanto. É adepta da teoria da nidificação, ou então nem isso.

f) - Seja o que for que saia deste debate (e, mesmo, do referendo), parece que vamos continuar a ter uma originalidade legal interessantíssima: parece que tudo se prepara para que uma coisa venha na lei descrita como crime, mas ao qual não corresponderá penalização legal. Claro que não me atrevo sequer a introduzir o tema da penalização moral, social, etc: é mesmo só na lei. Há-de haver outro referendo sobre esta matéria logo que este acabe, mas poupava-se tempo se se tratasse disto com maior presteza.

g) - Os que pensam "sim" têm de se libertar, para se tornarem mais desenvoltos nos debates, definitivamente, do anátema de terem de estar permanentemente a provar as suas boas intenções. Os "nãos" ainda conseguem penalizar, com as suas lágrimas no canto do olho, quem não se emociona com a Floribella e com a Manuela Moura Guedes a cantar.

h) - Os que pensam "não", beneficiariam em expurgar das suas fileiras as equivalentes fenotípicas da Fernanda Lapa, que são aquelas senhoras igualmente infelizes do ponto de vista morfo-funcional que levantam a peida da assembleia, resolutas, para expressarem o que lhes vai na alma sobre a virtude e a forte emoção de serem mães, como se falassem duma cátedra quase virginal, a esse respeito, com as outras mulheres: as pecadoras. Também não ajuda muito ao debate, embora arranque fortes aplausos de quem se sente parte exclusiva daquela sentida santidade.

Não tenho pachorra para ver mais.

Nota: Não vi mais, mas fui escutando ao longe. Enganei-me, afinal. Acabaram por colocar uma senhora de 30 anos que tem fenótipo trissómico a falar, para dizer que sofre mas é feliz, o que não aconteceria - cuido que nenhuma das coisas - se não estivesse viva e, sobretudo, como se ela própria tivesse tido de fazer alguma escolha. São cartazes, cada um tem os seus. A seguir, deram a palavra aos jovens. Estavam exaltados (mais elas) e acrescentaram ao debate o colorido de "bora Portugal" que se exige a um grupo de "cheerleaders", embora não se tenha percebido se traziam cuecas, porque a RTP é o que é e não filma bem.

Falha do sistema revela "parte do problema em si"

Ela não queria ter filhos mas, duma forma perfeitamente hedonista, gostava dos prazeres da berlaitada. E ia praticando.
De maneira que se penetrou dum DIU, mamou diariamente a pílula e fez o namorado munir-se sempre de impermeáveis cautelas. E, no fim, como quem temesse ainda, ia irrigar-se logo, quase religiosamente, no bidé.
Teve azar. Engravidou. Pode suceder, embora seja raro.
Quando teve a certeza disso, seis semanas depois, quis interromper a gravidez.

Foi a quem manda, ao Sistema de Costumes e ouviu "que não podia".

"Mas eu tive todos os cuidados! Não podem acusar-me dessa incúria, eu fui prudente, eu fui zelosa, porque me punem assim?"
"Porque és uma hedonista, como as outras todas. Andas aí na pouca vergonhice pelo prazer que isso te dá!", responderam o padre, a catequista de serviço e um tipo a quem ela rejeitara os hedonismos.

Pois. Um dos principais problemas é a queca em si. Já me palpitava. Vou anotar.

morangos e castanhas é tudo fruta

Trocar, num texto que pretende apenas assinalar a coincidência entre a contagem do tempo embriológico e a contagem do tempo obstétrico (sendo que o tempo obstétrico é um tempo todo feito de finalidades e o embriológico deve ser, tão só, um tempo factual), trocar, num texto assim, dizia eu, semanas por meses, é abusivo. Pode ser feito, eu estou longe de levar isso a mal, mas nada mais se consegue do que desvirtuar o sentido do texto, já de si fraquinho, em que se procede à mudança. E era "semanas" que lá estava.

Se alguém, ao proceder assim, pretende sugerir que a maneira como se conta o tempo duma gestação é, neste e noutros contextos, despida de qualquer relevância, eu digo que sim, que pode ser que seja, excepto no contexto do que eu disse.
Mas não se prova isso com a adulteração do texto. Da mesma forma divertida eu posso fazer com que num texto em que se lia "sete meses" passe a ler-se "cinquenta e oito milésimos de um século". E sete meses já parece mais um tempo pequenino.

Mas, repito para quem treslê ou lê apenas levemente - como, aliás, o texto seguramente merecia, mas sendo assim, enfim, não se lhe ligava - não era isso que se pretendia.
Não se tratava ali de "até quando é que se conta o tempo". Isso é outra conversa, que me parece, já agora, que se fala nisso, mero discurso de compromisso. Provavelmente necessário, mas de compromisso.

Não: tratava-se - mal explicado, certamente - da coincidência entre formas de contagem, que foi do que eu quis falar. E o que no texto havia de insinuante sobre o que parece ser um paralelismo cúmplice entre uma ciência "fora da clínica e das finalidades dela" (a embriologia) e uma outra "completamente dentro dela e das finalidades dela", a clínica obstétrica, muito entregue às suas objecções de consciência - até porque, mais do que contar semanas para ver quantas é que já passaram, as conta para ver quantas ainda faltam para o parto - o que no mal parido texto havia de meramente especulativo, valha a verdade, fica, assim, perfeitamente intacto. Nem uma folha buliu, como diria Eça, com a "aragem" da mudança de sistema de contagem. E se o texto era, já, fraquinho, caramba: assim descamba. Mas o culpado disto, e apenas disto, não fui eu.

E o mais irónico, o mais engraçado, é que, a acusar alguém, naquele texto de coincidências, eu acusaria, talvez, a obstetrícia. Eu pensava que se notava. Até nisto escrevi mal, pelos vistos: o trocador (pouco) atento achou que culpo a embriologia. Não a culpo: intimo-a a que se demarque da outra, para não ter de a culpar também.

Se, pelo contrário, apenas se pretendeu, com a troca de "semanas por meses", sugerir que um feto de sete meses é viável, e muito mais grandinho e impressionante e completo, em tudo e para tudo, do que um de sete semanas - coisa que o autor do fraco texto jura, pelas alminhas que já lá tem, que já sabia -, isso só é importante - no contexto da questão - se o autor da troca estiver conjecturando, ainda indeciso, se está mais convicto dum "a partir daqui, não" do que dum "não absoluto". Quando não, se é "não e basta!", devia ser-lhe igual ao litro a história da embriologia e escachar mas é o estúpido texto, com o autor dele à volta, como devia ser.

Logo se verá no que ficamos, esperando - das convicções - saber quais são; que são em grande quantidade já sabemos.

Nota: é impossível não reparar que o Alonso estereotipou os títulos dos seus escritos, começando-os agora a todos por um "Re". Como ele fez isso, reservo-me o direito de, em qualquer ocasião, adoptar o "Do" para iniciar os meus títulos. Ficam ainda muitas notas musicais para a lolita, pelo que me parece tudo isto muito justo.

Re: Pequenos pormenores

Uma mulher estava grávida de sete meses e disse, muito alto, que não queria ter aquele filho que se lhe formava dentro da barriga. Muitas pessoas lhe berraram "mas tens de o ter, pois nós queremos que o tenhas".

Outra mulher, que estava grávida de oito meses, disse muito alto que queria muito ter aquele filho que se lhe formava dentro da barriga. Ninguém lhe berrou nada.

Ó besugo, isto de mudar as semanas para meses também tem que ver com os fascistas da embriologia. Ou não?

Re: as trevas

Alonso: defendes, portanto, que "o lado que faz mais "barulho" é o que tem mais convicção". Concordarás, no entanto, que esse "barulho cheio de convicção" de que falas é um dos instrumentos clássicos da propaganda política. É assim como quem diz "quem faz mais barulho tem mais convicção, logo tem mais razão", a ver quantas alminhas se deixam enebriar pela verve abundantemente convicta.

Concordo. Mas também concordarás que é difícil manter a capacidade de fazer barulho se não houver convicção. E quanto às alminhas enebriadas, presumo que te referes ao facto de que a mobilização traz, ela própria, mais mobilização. Vale para qualquer lado de qualquer contenda e, como verdade, concordarás que é "La Palissiana".

Também concordas que a direita, com o tempo, adoptou os tiques da esquerda tradicional. Está cada vez mais colectivista e cada vez mais se move de forma organizada e disciplinadora - o que é apenas um sintoma de que se sente a perder terreno. Mas não te desiludas, Alonso: isto são apenas conjunturas decorrentes da orfandade da direita portuguesa e da falta de rumo de quem ainda navega à vista. Um dia desses (ou um ano desses), há-de renascer (o que é bom).
Aqui não concordo com nada de nada. Aliás, parece-me que te contradizes com o que antes tinhas escrito. Mas é-me indiferente se na verdade te contradizes ou não. A verdade é que a direita não adoptou tiques nenhuns da esquerda tradicional, não é nem organizada nem é disciplinada, muito menos disciplinadora. E, volto a dizê-lo, por um lado é redutor discutir isto sob o prismna da direita e da esquerda; por outro lado, a verdade é que de modo nenhum me parece que os defensores do "Não" tenham perdido terreno. O que não significa que eu não ache, também, que o "Sim" vai ganhar. Mas isso é porque eu acho que a sociedade de hoje é maioritariamente hedonista e que o aborto é apenas mais um hedonismo. Como de aqui a uns anos há-de ser a eutanásia. Assim como hoje se diz "coitadas das crianças que vão nascer sem condições", enquanto se quer, na esmagadora maioria dos casos, safar as pitas que não tiveram coragem de exigir ao namoradinho que usasse preservativo, um dia destes começamos a ouvir a treta "dos velhotes que têm o direito a morrer com dignidade", para safar a boa vida dos respectivos filhos. De desresponsabilização em desresponsabilização havemos de lá chegar: a uma sociedade em que as pessoas são como ilhas. Sem atilhos, é verdade. Mas sozinhas.

Não preciso de te dizer, Alonso, que a tua convicção - respeitável - não é maior nem menor do que a dos que defendem a despenalização do aborto. Assim como não preciso de te lembrar que a propaganda mais "barulhenta" é usada, geralmente, por quem mais teme perder um sufrágio - o que não corresponde, necessariamente, a maior convicção.
A minha convicção é respeitável, a tua também. Basta que exista. Sobre isso de que quem faz mais barulho é quem mais teme perder, tenho dúvidas. Mas aceito que temo perder. O que não faz de mim um heroi trágico, nem sequer um heroi. Só é verdade que não perderei calado. E, no limite, porque falei e porque pode ter havido quem me ouviu, nem sequer perco, porque alguma coisa hei-de ter ganho.

O tema é muito forte e isto é importante? Inteiramente de acordo. Não explico porquê porque já expliquei isso aqui vezes sem conta. E acredito, no mínimo com a mesma convicção do que tu, que a lei actual permite que sucedam indignidades intoleráveis. E que deve, como vai, ser alterada - aqui tens a minha convicção.
Pois, eu acredito que a lei que se pretende venha a ser aprovada vai permitir que sucedam indignidades intoleráveis. Lá está. E acompanho a tua convicção, ela vai ser aprovada.

Fazer amor é melhor, porque se sua menos. É isso?

Parece-me denotar deformado espírito científico andar a discutir, sobre o aborto, aquilo das semanas "até quando pode ser".
A embriologia tende, assim, a ser uma espécie de cúmplice da procriação (em lugar de ser uma avaliação científica do que se passa após o encontro singelo e antigo como o mundo - excepto naquele período curtíssimo em que Eva e Adão foram criados por punheta santa, essa criação que envolvia costeletas e frutinha - dum "cabeçudinho" com um óvulo receptivo).
Pasma-me que a embriologia entre pelos rumos determinantes da obstetrícia. Ou seja, quando envereda pela escala das semanas, a embriologia já se começa a parecer com uma parteira. Quando permite que a usem como métrica (semanal) da legitimação - ou não - dum direito de quem - mesmo que seja a maior meretriz que connosco partilha a atmosfera mais rasteira, e é só essa que respiramos, nunca se esqueçam deste detalhe, verdadeiro como punhos, da atmosfera que nos compete - não quer parir, a embriologia parece que já começa a gritar alto "puxa, filha!".
E ao berrar assim, a embriologia torna-se magistrada ridícula desta discussão pidesca, que começa sempre por humilhar a mulher que não quer parir, perguntando-lhe - mesmo que não seja preciso perguntar-lhe, que isso pode saber-se, mas saber sem perguntar é melhor? - "então, e quando foi a foda?". A obstetrícia já o faz, mas santamente, à mulher que quer.
Só falta que, à mulher que não quer ter um filho, se aplique o tratamento reservado pelas parteiras mais sacanas - e mais maltratadas pela vida - às parturientes que preferem parir sofrendo, ou a quem, sobre essa questão do sofrimento, não lhes foi oferecida alternativa: "Quando estavas a dá-la não ganiste tu tanto!".
Isto só quem não sabe nada de embriologia como ciência amoral, que deve sê-lo, como toda a ciência pura, de foder - e isto já é com quase toda a gente - ou de parir - e, disto, só sabem as mulheres, pelo menos para já -: ganem muito, sempre, ganimos sempre muito, quer quando estamos a fazer, quer quando estamos a pagar - voluntária ou obrigadamente - por termos feito.
Pode ser é mais alto ou mais baixinho, mas ganimos sempre. Nem que seja só um bocadinho.

Pequenos pormenores

Uma mulher estava grávida de sete semanas e disse, muito alto, que não queria ter aquele filho que se lhe formava dentro da barriga. Muitas pessoas lhe berraram "mas tens de o ter, pois nós queremos que o tenhas".

Outra mulher, que estava grávida de oito semanas, disse muito alto que queria muito ter aquele filho que se lhe formava dentro da barriga. Ninguém lhe berrou nada.

Frutos silvestres

Um recoveiro levava, tranquilo, uma encomenda para um senhor que vivia no Seixal, quando dele se acercou, ofegante, um campino.
- Vai para o Seixal?
- Vou, sim.
- Então, boa viagem.
- Muito obrigado.

E lá seguiram. O recoveiro para o Seixal e o campino, ofegante, para a Amora.

29.10.06

As trevas

Alonso: defendes, portanto, que "o lado que faz mais "barulho" é o que tem mais convicção". Concordarás, no entanto, que esse "barulho cheio de convicção" de que falas é um dos instrumentos clássicos da propaganda política. É assim como quem diz "quem faz mais barulho tem mais convicção, logo tem mais razão", a ver quantas alminhas se deixam enebriar pela verve abundantemente convicta.

Também concordas que a direita, com o tempo, adoptou os tiques da esquerda tradicional. Está cada vez mais colectivista e cada vez mais se move de forma organizada e disciplinadora - o que é apenas um sintoma de que se sente a perder terreno. Mas não te desiludas, Alonso: isto são apenas conjunturas decorrentes da orfandade da direita portuguesa e da falta de rumo de quem ainda navega à vista. Um dia desses (ou um ano desses), há-de renascer (o que é bom).

Não preciso de te dizer, Alonso, que a tua convicção - respeitável - não é maior nem menor do que a dos que defendem a despenalização do aborto. Assim como não preciso de te lembrar que a propaganda mais "barulhenta" é usada, geralmente, por quem mais teme perder um sufrágio - o que não corresponde, necessariamente, a maior convicção.

O tema é muito forte e isto é importante? Inteiramente de acordo. Não explico porquê porque já expliquei isso aqui vezes sem conta. E acredito, no mínimo com a mesma convicção do que tu, que a lei actual permite que sucedam indignidades intoleráveis. E que deve, como vai, ser alterada - aqui tens a minha convicção.

Re: a tradição já não é o que era

lolita, eu raramente vou ver outros blogs, e desta vez também não fui ver o "blog do não". COnsidero a tua visão da blogosfera - de que aliás és membro ilustre - suficiente para me ir mantendo a par do que por aí se passa.

No que respeita ao que escreves, creio não mentir quando digo duas coisas: que já em 1998 se pensou que a defesa do "não" era exclusivamente de direita e de centro-direita. E que já em 1998 constituiu uma surpresa para os defensores do "sim", que partiam desse pressuposto, a capacidade de organização e de mobilização dos defensores do "não".

Eu acho que falta perceber uma coisa: este tema é muito, muito forte. E, como em tudo, o lado que faz mais "barulho" é o que tem mais convicção.

Eu falo por mim. Como sabes, não sou nada dado - há muito - a organizações e mobilizações. Mas considero isto tão importante, e defendo o que defendo com tanta convicção, que não me repugna integrar uma organização (não política, que para essas "já dei") se sentir que isso vale alguma coisa. E não é preciso mobilizarem-me. Eu sinto-me mobilizado.

Bom resto de Domingo.

Semanada

A diferença entre um jogo emocionante e outro jogo emocionante, às vezes, é que nem todos os jogos emocionantes acabam empatados. Como o BeiraBeira - Sporting terminou.
A diferença entre o Sporting (mesmo cheio de canalha) e o Porto, o BeiraBeira e o Benfica, é que o Sporting (mesmo cheio de canalha) é melhor que os outros todos. Mesmo que não lhes ganhe por factores circunstanciais. A nabice é circunstancial, se não for perene.

O Sporting está para o BeiraBeira, para o Porto e para o Benfica, como o Bayern de Munique está para o Sporting: ou seja, há jogos emocionantes onde calhar havê-los.
Há-de calhar assim um, na terça-feira.

28.10.06

Sobretudo (above all, ou assim)

O jogo foi um bom jogo, dentro do género "que é isto?", embora eu não conheça nenhuma equipa que seja candidata a ganhar um campeonato qulquer que marque três golos fora contra o Beira-Mar e, mesmo assim, empate com o Beira-Mar.

O futebol é apenas um desporto sem grande interesse filatélico (aquilo de juntar selos, sim), sobretudo se comparado com o bridge, a esgrima e o automobilismo, ainda mais sobretudo com o automobilismo, que é um desporto fantástico, até porque se pratica na posição de sentado ou de "quase deitado", ainda muito mais, mas mesmo muito mais, sobretudo se for naqueles carros que andam mesmo muito, os carros é que andam mesmo muito, o que ainda reforça mais a minha opinião sobre a parvoíce que é a bola, que andam os saloios atrás dela, devagarinho, comparado com os carros e, às vezes, e isto é que chateia, nem isso.

Além disso há, evidentemente, a sorte e o azar e, já agora, apetecia-me dizer mais coisas sobre isto, mas é preciso pensarmos que dizer palavrões e escrever palavras feias é pernicioso (há palavras bonitas, como caraças e Virgem Maria, mas agora não me apetece, também) e, portanto, fica muito bem assim, ganhar e perder é tudo desporto, mesmo que seja o deporto estúpido da bola à biqueirada, eu não gosto muito de perder, mas não fui eu que perdi, já se sabe, eu sei, foram eles, aliás empataram - que é perder por poucos - e uma santíssima noite para toda a gente, para mim também se puder ser, e era só, e em Munique, a jogarmos assim, vamos levar uma coça do caralho, raios fodam esta merda, e é melhor ficarmos por aqui, como eu já disse atrás - e agora repito -, e era só, mesmo, agora é que é mesmo. Sobretudo só.

A tradição já não é o que era

É espantosa, a capacidade de organização dos movimentos defensores do "não" ao aborto, indesmentivelmente (quase) composto por pessoas de direita ou de centro-direita. As jornadas de luta e as mobilizações costumavam ser típicas dos partidos e grupos cívicos de esquerda, tradicionalmente organizados e disciplinados nos panfletos políticos e de causas. Contrariando essa tradição, o blogue do não fervilha de opiniões e de convicções, de estatísticas e de defesas antecipatórias de possíveis ataques. Mas, gastos e mais do que descritos que estão os argumentos clássicos pró-vida, o que abundam lá são os meta-debates, a cultura da investigação de falácias de quem é favorável ao "sim" e, sobretudo, a demagogia, de que vi dois exemplos, assim de repente, aqui (argumento perigosamente economicista, para quem previligia a defesa da vida...) e aqui (comparar estatísticas oficiais com cifras negras é algo de notável; saber-se-á, ao certo, quantos abortos clandestinos se faziam, por exemplo, em Espanha, antes da despenalização?...).

Para já, não têm contraditório institucional. Parceiro de negociações. O que lhes seria vantajoso, para não parecer que estão a pregar aos peixes.

27.10.06

Quina de espadas

Chico César (goleiro do Vitória da Baía*, certo?) deveria, talvez, regressar ao Nordeste, onde nasceu: ficar-lhe-ia mais à mão e desfrutaria de tudo o que ele afirma gostar, sobretudo do asseio; aliás, aquilo do asseio na Alemanha é como a beleza na Inglaterra: há lá algumas pessoas que sim, de facto, deve haver, não digo que não...

Não. Agora me lembro. Ele é mas é músico.

* Ora aí está um clube em que o guarda-redes suplente do Porto podia abrilhantar o banco, hem? Não? Por que não?

A meio caminho dos antípodas

Chico César, hoje, no Pessoal e Transmissível (citado de memória): gostava de viver na Alemanha. Os alemães são arrumadinhos, rigorosos, asseados. Faz-me lembrar o Nordeste, onde eu nasci.

Tens razão, pá!

Concorrente desenvolta, parecendo jovem, arquitecta, "muito nervosa". Antes do jogo começar, explicou que andava contente e por que andava: percebeu-se que era "porque sim".

Depois, como pediu fácil, perguntaram-lhe se "alcateia" era um nome comum, próprio ou colectivo. Nome, já se sabe, é substantivo: importava o resto.

"Que era comum". Ninguém a demoveu dali, e esteve-se nisso de a demover tempos infindos, tão contente que ela andava e sabendo muito bem por quê: percebeu-se sempre que era "porque sim".

Era colectivo. Perdeu o concurso.
Saiu dali com o mesmo ar com que tinha entrado: "está bem, é colectivo, mas não deixa de ser comum, ora!, uma alcateia, para mim, na minha opinião, não é uma coisa do outro mundo!".

Não disse nada disto, que se escutasse; mas dirá, a quem a escutar. E há-de haver quem, escutando-a, a inscreva de novo, noutra merda qualquer de contentamentos.

Ainda sobre os Grandes de Portugal

Não se percebe porque é que Durão Barroso tem lugar no quadro de honra e Santana Lopes não tem. Foram colegas de curso, são amigos de longa data e ambos se engalfinharam no partido e fora dele, aprendendo a fundo o nobre metier do exercício de funções de primeiro ministro. Isto sem contar com o facto de que a era santanista foi um fartote de riso para todos nós. Do Barroso rimo-nos menos, é certo, mas isso deve atribuir-se ao tipo de humor que o caracteriza, que não agrada a todo o tipo de públicos (mais dentro do género Mr. Bean).

Não ir a jogo

Ela falava, malignamente, às facadas curtas; ele só escutava.

"- Já cá está outra vez, o meu pai. Pois é! Vem na mesma! Ou pior! Já cá está! Deu-lhe alta e já cá está!
- ...

- Pois é, já cá está outra vez! Igual ou pior. Ou pior! Deu-lhe alta! É no que dá!...
- ...


- Deu-lhe alta! É claro! Já cá está. Outra vez!"
-...


Por ter assistido e me parecer que mo pedia com os olhos, aconselhei o meu amigo a que nunca mais lhe desse alta, ao velho doente. Que lha não desse, mesmo, nunca mais. Que o deixasse viver no hospital até morrer.
Mas ele, sabendo-se encurralado, como sabemos estar sempre, sobretudo se soubermos ver gradeamentos, só sorriu. Com a mesma expressão estranha e naquele silêncio acabrunhado que mantivera durante todo o monólogo crispado e gordo da mulher de olhos malignos, acusadores e gordos, sumidos na gordura inteira da sua cara gorda, sorriu apenas. Eu percebi-o bem:

"- Pois é, morreu! Já lá está! Claro, estava no hospital e morreu! Lá está! Já lá está! É no que dá!..."

26.10.06

De cativas a (des)temperadas

Toda a gente tem um bocadinho de responsabilidade no curso da história. E este pode muito bem ser um bocadinho da estória das blogueadoras exiladas.
Obrigada, Luis Carmelo.

Agora sei

Há cada vez menos viço no olho esquerdo de António Lobo Antunes.
Não o via há muito tempo. Não sabia.

Preces

Não tenho escrito nada sobre os temas da saúde.
Vou continuar assim.
Sobre doentes e doenças, sei algumas coisas. Sobre os temas da saúde, lamento muito: não sei nada.
Sem que eu desse fé, os temas da saúde já não são contas do meu rosário e eu rezo sempre da mesma maneira: mudaram-me a missa, não a fé.
Rezo mais só, mas sempre as mesmas orações.
Como os burros, exactamente. Rezas zurradas mais para dentro.

25.10.06

Corajosos, mas só dentro do bunker

Um fenómeno interessante e, ultimamente, frequente é o da acusação de plágio. Desta vez é com o Miguel Sousa Tavares, de quem se diz - não se sabe quem - que plagiou prosa alheia no Equador.
O tema suscita-me dois ou três comentários.

Antes de mais, o do anonimato. Como sempre sucede, o anomimato foi apenas o meio escolhido para acusar de forma impune. Do que se lê, trata-se de gente torpe e obsessiva, que quis manchar o MST saindo ilesa porque não identificada. Pode até ser alguém que ele conhece, ou que dele depende. Ou a quem ele faz sombra, sem saber.
Mas não é o anonimato, note-se bem, que gera este tipo de inveja envenenada, mas antes a falta de qualidade moral de quem o tem, ao anonimato, ao dispor da própria aleivosia. Assim como sucede a quem tem uma arma ao dispor e dispara sem critério. Ou um qualquer energúmeno que se aproveita de fraquezas alheias. Permanecer anónimo é um direito, com os correlativos deveres do exercício do direito de se manter anónimo.

Impressiona, por outro lado, a infinita dedicação destes acusadores sem cara a uma causa de que o único sucesso que retiram é o da desacreditação alheia. Apropriam-se da moral, da justiça e do bom nome dos outros, que tentam fazer seus, arvorados em paladinos da reposição da verdade.

A sensação de que se podem punir, e de que efectivamente se punem os prevaricadores é indispensável para quem distingue o justo do injusto. Não é quando um adolescente criado no Bairro do Cerco do Porto é preso por assalto à mão armada que sentimos que se faz justiça. Mas já o é quando assistimos a uma brigada de trânsito a interceptar um pintas de Audi GT que faz da VCI uma corrida de obstáculos (como eu tive o grato prazer de assistir). Ou quando a brigada de criminalidade informática da PJ puder localizar o(s) autor(es) desta torpeza e lhes tirar a máscara. Assim espero venha a suceder.

Não li o Equador, mas li as crónicas do "Não te deixarei morrer, David Crocket", que, como se sabe, o besugo nunca mais me devolveu. E, como me lembro bem da crónica que lá está sobre o ilustre Francisco Sousa Tavares, escrita como só um filho chamado Miguel Sousa Tavares podia escrever, estou imune às manchas com que o queiram sujar.

Há uma outra perspectiva interessante sobre este lamentável assunto, descrita de forma certíssima aqui.

Donde se conclui ...

... que eu hoje não devia ter escrito nada. Sei lá porquê, o "prólogo" pareceu-me do besugo, e afinal é da lolita.

Enfim, serei gozado, vilipendiado, escarnecido e indecentemente humilhado por este erro, e ainda dele se tirarão ilacções, não só sobre o erro em si como sobre o resto que deixei escrito.

Mas ... está escrito, escrito fica, sem "edites" nem "delites". O que escrevi que era para o besugo e devia ser para o besugo, está muito bem. O que escrevi que era para o besugo e que devia ser para a lolita, se calhar não está como estaria se eu me tivesse apercebido que era à lolita que me dirigia. Eu nunca falo, ou escrevo, às mulheres como falo, ou escrevo aos homens. Pelo menos, acho que não. Mas fica na mesma.

Além de que estou cansado ... cansado ... cansado. Xiça e outras asneiras que o besugo aqui escreve mas que eu faço fé de não escrever à espera do dia em que o Sporting seja campeão e eu possa ler o blog ao pé dos meus filhos. Sim, que eu sou um bocado púdico nestas coisas. Manias de conservador. Ou o catano.

Querem mais ... então vamos lá, bora lá outra vez ... com "menos ais" ... mas tem que ser um dia destes.

Hoje não.

Acefalias

Não é assim, besugo. Não há igualdade nas acefalias. Já passei por muitas, muitas discussões sobre o tema. Em 1998, antes disso e depois disso. E - pensando concretamente em 1998 - bem me lembro da diferença de atitude de quem defendia o Sim e de quem defendia o Não.

Mas a verdade é que eu não falei de acefalias no debate do aborto. Vai lá ler que tu misturaste tudo.

O que, a propósito do debate do aborto disse, e o que agora mantenho, é que os defensores do Sim costumavam assumir, nas discussões sobre o tema, uma posição agressiva, quase (ou mesmo) insultuosa ante os seus adversários. E isso, aparentemente, mudou. Ainda bem.

Quanto aos meus círculos sociais, dispenso-me de dar explicações. Mas uma coisa te garanto. Eles (esses círculos) não mudaram desde 1998. Ou melhor, não mudaram porque são os mesmos. Mas mudaram porque eu sinto que mudaram as discussões que neles tenho sobre esta matéria. E nota que eu não me dou só com pessoas que politicamente pensam como eu (o que tu, aliás, estás em posição privilegiada para saber). Se queres aliás ver como o tom hoje é diferente vai a um tasco que ambos conhecemos bem, bebe um copo enquanto lês, e lê.

Nota que eu acho que vai ganhar o Sim. Mas espero, sinceramente espero, que um dia as coisas mudem, no sentido que eu defendo, com enorme, como sabes, convicção.

Assim como espero que as coisas nos USA mudem. Que acabe a pena de morte. E que o Supremo Tribunal Americano um dia revogue a jurisprudência vinculativa que criou a partir do caso Roe vs. Wade. Será, a meu ver, um salto civilizacional.

E disse. Quanto ao mais, não percebi pevide, (nem quanto à cabeça no cepo, nem quanto ao que se vai passar e que tem que ver com a lolita). Como sou uma espécie de "terceiro homem" deste blog (enfim, o segundo, que a lolita é senhora, lol), há coisas que me escapam. Mas subscrevo inteirmante o que escreveste (aliás, já subscrevi, que o meu nome está lá) sobre a quem se devem dar os créditos quando nos referimos à génese, à força motriz e à matriz essencial deste blog - a lolita.

Olá, juventude!

O Alonso diz aí, entre outras coisas, que tem esperança na gente mais nova - não sei a quem se refere, os cinco filhos dele ainda não votam, nem os meus dois, nem o da lolita, nem os dois do stkaneko - sobre aquilo da IVG. E que votassem.

Atenção a isto, que é pequeno: o aborto é o resultado da IVG, isso é, mas uma coisa é o acto, outra o resultado. Não se vai referendar o resultado, julgo eu, pelo que a semântica do referendo está correcta: o resultado da IVG pode ser lamentável do ponto de vista visceral e da razão, da moral e da micose intelectual, mesmo das profundezas da tristeza. Mas o que se referenda é a IVG. Não o produto dela.

Referenda-se um direito, talvez se referende um direito contra outro, mas um, o que se referenda, é mais grandioso na vida inteira do mundo inteiro do que o outro, porque o outro é um direito, não são dois.
E o mundo, este mundo onde tudo isto se passa como se fosse fora dele, é grande demais para a semântica; cuido mesmo que este mundo já existia antes dos pecados.

A gente mais nova que eu conheço não me dá nem me retira esperanças nenhumas. Eu não sei de gente nova fora da sua circunstância, nem de mim fora da minha. Não sei, até, de gente "mais nova", só assim, se não é - apenas - esperançosamente mais estúpida.

Não sei se o facto de "gente mais nova" dizer, não sei aonde, que é pelo "não à IVG" , legitima qualquer esperança que se veja, ou que seja mais digna que a falta dela. Nem mesmo a esperança do Alonso, que é legítima, apenas, na abstracção da sua própria esperança.
O Alonso saberá, mais do que eu, o que lhe legitima a esperança e, mais do que a sua esperança, o que lhe legitima o que quer que seja que ele quiser legitimar. Nisso, somos todos mais ou menos iguais. Na quantidade de esperanças e no nosso direito à legitimação delas. Já a qualidade de ambas nos impõe a variável "sabedoria": não vem com a idade? Pois não, mas é só se não puder vir.

Eu, que vi esta noite uma jovem estudante do terceiro ano de medicina, que entrou na faculdade com 18,7 valores, falhar uma pergunta em que se indagava "qual dos três foi o grego conquistador da Pérsia", estando Alexandre nitidamente destacado nas hipóteses de resposta, cismando ela em Ciro, e nele teimando do alto dos seus 18,7 valores de entrada num curso que lhe servirá de trampolim para a neurocirurgia - ela já sabe onde quer servir para pouco ganhando bem, esperta miúda, oxalá não hesite tanto perante um encéfalo ao dispor -, não me sinto assim esperançoso: são nabos falantes, repolhudos de viço e de toleima ignorante, resplandecentes disso tudo, mas nunca me ofuscando.

E não passarão nunca disso, Alonso, sem o tempero das carnes que se doem sempre, na moleza. Sem uma salga competente de invernia. Tu sabes bem disso, para que teimas comigo?

Acresce que, perante alguém mais novo, se impõe sempre que ensinemos. Sempre. Aprendizagem, alonso? Isso é com quem sabe mais que nós. É a nossa vez. Como dizia o MEC, aqui há uns anos, "eles, agora, somos nós". Ele não ensinou grande coisa porque falou sempre como se se guardasse. Problema dele.
Aprende-se com quem sabe mais que nós, independentemente da idade, sim, mas não é disso que estamos a falar aqui, da idade pura e dura: a ir por aí, não tenhas ilusões: a maior parte da gente nova está recessa, seca, já estéril, na sua ânsia de encosto fácil na almofadinha da fogaça fácil do pum-pum seco da pólvora fatelas. Há excepções? Há duzentos milhões delas? Não as vejo, mas se as há, ainda que sejam assim tantas, não lhes vejo a cauda de cometa.

Bolas, isto está fracamante escrito, mas há provérbios acerca das palavras que me arrefecem sempre o rosto, refrescando-o. Como a ti.

Pequeno prólogo

Antes do que aqui me traz:
Cheguei e li a revista de imprensa do Alonso.
E concluí, assim de repente, que a esquerdofilia se lhe agudizou notoriamente.

Concluí, também, que o Alonso preza o princípio da reciprocidade na qualificação das opiniões e refere, até, o caso dos defensores do "sim" sobre o aborto, que classificam os defensores do "não" como "estúpidos, atrasados, beatos, etc.", ultraje essa a que retorquiu com firmeza, qualificando alguma esquerda como "acefalamente anti-americana".

Tendo presente aquele princípio basilar do direito natural, não resisto a perguntar-lhe se a "gente muito mais nova" do que ele e que frequenta os mesmos "círculos sociais" que ele frequenta é mais acefalamente anti-IVG do que a esquerda acefalamente anti-americana ou se estão, digamos, no mesmo patamar de acefalia.

Aguardo esclarecimentos ou explicações do fenómeno da acefalia, na perspectiva de um cidadão inquieto com o destino dos impostos que paga.

Da justiça doce

Nós os três, abaixo assinados, alonso, stkaneko (esse, o que já nem sabemos) e besugo, sabemos que este blogue, o blogame mucho, é o blogue que a lolita imaginou e fez. Fê-lo connosco, mas imaginou-o ela. É, portanto, nosso.

Ler isto, aqui, se bem o lemos, sabe-nos bem.
Mentir não se deve, brincar pode-se sempre, mas não é altura duma coisa nem doutra. Aguardamos sem nenhuma ansiedade pelo que é de justiça. Sem mais comentários.

Ela nem sabe, não deu fé.

Dará em breve, nós também daremos, daremos todos fé do que vier, com o respeito devido a "de quem vem".

Daremos fé com ela, que há um tempo para tudo e ela não merece senão o bem da fé inteira que ainda tem. E que ninguém lha tire.

alonso, stkaneko, besugo

Do gume

Sou dado a recomeços, reciclo-me naquilo em que acredito e desiludo-me na reciclagem, quase sempre. Mas gosto de turras.

Entre compras e prendas (não digo presentes, da mesma forma que não digo encarnado, da mesma maneira que chamo Corgo ao rio Corgo, e nunca Côrgo, entre outras inutilidades), acabei por juntar cinco das séries do E.R.
Isto interessa a pouca gente, mas interessa-me a mim. Tenho ali um espelho. E eu consigo distinguir entre um espelho bom e um espelho mau, sendo que um espelho bom nem sequer é, sempre - e quase nunca é -, o que me responde às vontades afagando-me o escroto.

Hoje era sobre quebrar regras. E era também, já depois delas quebradas, sobre colocarmos a cabeça num cepo, como quem vai dormir de lado, suplicando baixinho que o carrasco, em lugar de nos cortar a vida pelo pescoço, nos tocasse no ombro de mansinho, nos retirasse a venda dos olhos, nos ajudasse a reerguer a dignidade (que ela não se perde, nunca, só por colocarmos a cabeça ao jeito de quem pode fazer-nos isso de nos fazer ajoelhar) e, depois, nos mandasse em paz, sem necessitar de decisões judiciais: como se quem matasse, quem fosse o instrumento da morte - e, mil raios, é o instrumento da morte que nos mata - é que pudesse perdoar.

Quem fosse morrer perdoaria também, seria a paz dos justos sem necessidade da justiça.

Eu sei que não há isto.

24.10.06

Várias coisas ...

Enquanto a lolita e o besugo digerem a azia que o empate lhes provocou (mais ao besugo que à lolita, como é patente), aproveito a deixa para falar de algumas coisas. Conforme segue:

1 - De referendos - Estou expectante quanto ao que isto vai dar. Encaro, com naturalidade, que desta vez a vitória calhe ao "sim" e que, portanto, passe a ser pago com o dinheiro dos meus impostos um acto que me causa repulsa (o aborto, sem outra justificação que não seja o "porque sim", até às dez semanas. Mas enfim, já é com esse dinheiro que se faz tanta coisa com que eu não concordo, que passa a ser mais uma. è como se fosse viver para os EUA, num Estado que pratique a pena de morte (outro acto que me causa repulsa). Lá pagaria, como cordeirinho que sou num rebanho, também os meus impostos, de entre eles uns tostões para a electricidade da cadeira fatal.

De qualquer modo, estou espectante quanto ao debate. Dizem os jornais que os defensores do "Sim" não vão, desta vez, diabolizar os defensores do "Não", nem insultá-los como foi seu costume na campanha do outro referendo. A ver vamos. Por mim, tenho dúvidas, porque na verdade acho que os defensores do "sim" consideram pouco menos do que "estúpidos, atrasados, beatos, etc." os seus adversários. E quem, no seu íntimo, considera isso, facilmente deixa de argumentar e passa à peixeirada.

Por outro lado, noto uma coisa curiosa, nos pequenos círculos sociais em que me situo. Que em todos eles, mesmo nos mais inesperados, já não estou sozinho a defender o não (não é, no entanto, esse o caso aqui no blog, mas isso é outra conversa). E refiro-me, até, a círculos de gente muito mais nova do que eu. Isso, devo dizê-lo, alegra-me. Não sei a que se deve essa mudança, mas a verdade é que a sinto.

A ver vamos, portanto.

2 - Do Rivoli - a última vez que aqui escrevi, foi sobre esse assuntop. Acabou, como esperado, por falta absoluta de convicção de quem se barricou lá dentro. Eu acho que eles, no fundo, até agradeceram quando os polícias por ali entraram. Sempre era uma forma "digna" de acabarem com o seu protesto. No mais, só é pena é que o Estado ainda não esteja convencido de que a sua intervenção na cultura é - na sua essência - o que impede que se gere uma dinâmica cultural feita de gente com valor. A "subsidiodependência" igualiza todos. E, nestas coisas, já se sabe. O nivelamento é sempre feito por baixo. "No pain, no gain" - assim devia ser e é em muitas profissões e actividades. Mas na cultura, há muitos anos que assim não é.

3 - Do orçamento - ainda não li o texto legal, mas já percebi que o Estado continua a não entender o que é que precisa de fazer para criar dinamismo económico no País. Continua essencialmente preocupado em aumentar a receita, numa voracidade de que só os bancos - vá lá saber-se porquê ( ...) - escapam. Adivinham-se dificuldades para as pequenas e máedias empresas e empresários. Cumprir com o que está proposto é economicamente quase inviável. Não cumprir assume, neste momento, riscos tais que o melhor mesmo é tentar um empregozito e não ter veleidades de se ser patrão.

4 - Iraque - Li no outro dia que o Bush admitiu uma comparação entre o Iraque e o Vietnam. Admitindo que o não fez por lapso, essa "admissão" assume uma enorme importância. Estarão os USA a preparar-se para sair? É difícil de conceber tal coisa, até pelos perigos enormes que daí adviriam (apesar de que muita esquerda, tão acefalamente anti-americana, é isso que reclama). Mas que alguma coisa se está a passar está. E eu não sei o que é. E isso, como diria o Pinheiro de Azevedo, "chateia-me".

5 - E mais nada ... que se faz tarde.

23.10.06

Esguichos de besugo

O Sporting não ganhou e eu estou fodido. Perfeitamente.
Tudo para o caralho, pronto!
Era o que eu devia ter dito logo e já estava.

Narizinho oligofrénico

Na SportTV, aquele antigo jogador do Real Madrid (e acho que do Porto) chamado Carlos Secretário atingiu paroxismos que Paula, a antiga aficionada do 4-3-3, lhe não conheceu.
Quanto mais o Porto se encolhia, mais ele bradava, fino, que "a superioridade do Porto está patente".
Carlos Secretário, um Finezas de secretaria, um homem com nariz de caloira, um toquinho praxado, bradou um dia, ao sair do Mar do Norte, onde tomara banho, olhando para dentro do seu maiô de lycra, que "olha, que grande! que grandeza imensa que isto está!".
Todos os banhistas que ali andavam, meio encolhidos, sorriram, excepto um que estava mais perto do ex-tosco do que os outros. Esse riu, riu, riu muito, a bandeiras despregadas.

Eu nunca percebi esta expressão "rir a bandeiras despregadas". Sei que incendiar bandeiras não me faz rir e já vi incendiar algumas. Mas sem pregos, ao menos essas que já vi a arder.

É pra ti, Bítaro!

O passarão tinha de fazer das dele, uma chapadinha na bola para a frente, direitinha para os cascos do cigano.
Acontece. Acontece-lhe muitas vezes. Paciência. Defende penalties. E faz o resto bem. Sai mal. Que fique sempre, alguém que lhe diga.

O cigano, que tem a expressão facial duma sanita entupida, correu logo para aquele senhor que está no banco do Porto a ver a bola, numa solidariedade de imbecis. "É pra ti, Bítaro!". "É pra mim, pois é, Lelo!?". "É, Bítaro! Viste ele, aos papéis?". "Bi, caralho!". "Bamos os dois?".

Ides. Ides os dois. Ide, desinfectai-me a loja!

Suplências medíocres, de bítaros e lelos, que Scolari manterá, o teimoso bom, o bom teimoso, o único sacana que perdoo por o ser, porque é sacana de sacanagem mesmo, não é sacana de putice rasca, é sacana-sacana, nem que isto continue a doer muito a quem nem da leiteira que teve e tem - e se calhar há-de continuar a ter, constantemente -, consegue ter ideia.

22.10.06

Danada da trave! E da peste do goleiro!





Créditos

Eu espero, a ver a equipa inicial, mas...

Já vi algumas equipas acabarem jogos só com dez jogadores, ou mesmo nove.
Estranho sempre é o Sporting começar muitas vezes os seus jogos só com dez, ou mesmo nove tipos.
Há-de ser para treinarem em situação de inferioridade numérica. Às tantas faz parte do tal plano de formação.
É. Deve ser isso.

Anderson não joga clássico

Pronto. Lá vamos ter de gramar o macumbeiro do costume.
Eu não tenho sorte nenhuma. Eu, parece que as adivinho.

21.10.06

Antes da bola, já que se falou ontem de Toñitos.

O direito de reserva é como o dever de reserva. Temos o direito e o dever, por exemplo, de não mostrar o cu a eito. O cu ou a cabeça. O direito e o dever: ambos.
A reserva, aqui, não é como nos vinhos: toda a gente sabe que um vinho que ostente "Reserva" no rótulo não deixa de ser a merda que calhar ser, apenas por ter lá isso da "Reserva" apenso. Não. Isso é apenas para o mercado. Para os imbecis. Pega-se numa merda qualquer, põe-se-lhe um rótulo a dizer "Reserva", ou mesmo "Super-Reserva", e espera-se que aquela merda passe a vender-se melhor por ter lá a escrevinhice. Mas não passa disso. Claro, há sempre quem compre as reservas dos outros, há sempre quem aceite dos outros, com risinhos, a miséria dos outros rotulada; exposta. Há sempre gente disposta a ajudar, cacarejando ou rindo, a vender um produto fatelas.

Cada um reserva para si o que entende. Há quem não se reserve, não se preserve, não reserve os outros, os não preserve, há quem não consiga mais do que essa estranha e paneleira porcaria de putéfia de espalhar o chiqueiro doido da sua cabeça à sua volta.

Eu, no dia em que alguém em quem eu um dia tivesse confiado, não reservar de mim, não preservar de mim - merda que eu seja - o que eu quiser que seja preservado, reservado, parto-lhe os cornos.
Se um dia eu souber, de certezinha, que alguém fez isso a pessoa minha, amiga e boa, uma que eu preze, fodo os cornos a esse alguém, também. Procuro-o, digo-lhe ao que vou e depois vou-lhe.

Depois levem-me preso. Chamem a polícia.
Mas não serei nunca eu a ir dormir com o chefe da esquadra suburbana, como fez a puta da anedota.

Bom. Vamos antes à bola.

Pronto: para começar era só isto

Para já, espero que jogue aquele puto com cara de burro que o Porto lá tem, o Anderson.
Aquilo é um novilho que tem uma investida leal e franca, tanto lhe faz estar nos médios como junto às tábuas, por ele aquilo ia tudo a eito, metam-lhe à frente dezassete grupos de forcados e o gajo marra, deixa-o marrar, há-de marrar contra o Tonel e de ser rabejado pelo Caneira. Não sei, o Caneira, a ser forcado amador, vejo-o a rabejar.
Antes este Anderson que aquele palhaço do Jorginho, que parece um espécime taurino manso, cheio de crença natural: só investe contra o Sporting e vai sempre de esguelha, como quem procura os curros. É um boi que só se pega de cernelha. Que só aceita ferros em movimento honesto se forem cravados do alto dum sesgo.

Se por acaso o Anderson jogar e se, por alguma fatalidade que agora não consigo imaginar, prejudicar as minhas aspirações legítimas de desfrutar dum excelente fim de fim-de-semana, lembro aqui que o rapazelho foi registado tarde, que tem umas beiças que parecem duas alheiras e que aquilo é tudo nandrolona e muito paio.

A prova


É o gajo, mesmo! Eu pensava que tinha estacionado no Boavista como olheiro do Loureiro (olha, rimou) mas afinal não, foi para o Rijeca!
Olha ele, todo rijeco, a correr atrás daquela bola muito grande, às riscas, hem?
Caraças. Ainda o hei-de ver no Porto.
E ao Carlos Martins a evoluir na Letónia. Se não puder ser no Rijeca, que já está servido.

20.10.06

Olha ele!!!! O Toñito no Rijeka!

Estou enternecido.
A sério, quem gostar da bola pela bola, por amor de Deus, que leia isto.
Eu traduzo para facilitar.

Primeiro o texto original.

Pula - Rijeka: Tonito nosio Rijeku
Rijeka je napokon uspjela stići do nova tri boda u prvenstvu. Junak utakmice neupitano je Španjolac Tonito sa svoja dva pogotka, iako je skrivio jedanaesterac. Imala je Rijeka i svog tragičara - kapetana Rendulića, koji je pred kraj utakmice zaradio crveni karton…


E agora em coiso:

Salta, Rijeca: o Toñito é o nosso Rijeco.
(e depois desenvolve)
Eu, Rijeca não para cão, suspeito estático das novas bodas triplas e preservo-me. O Junak, esse rato do Utah, e o espanholeco Toñito foram fazer um pagode, embora eu escreva que não estive nessa esterqueira. E mal eu, o Rijeca, me apercebi do que isto tinha de trágico - caralhos me rendam lá e cá, que hoje estou orgulhoso do gajo do Utah, caralho, cravei-lhe logo um cartão vermelho.

Isto é confuso, mas o Toñito está metido na coisa, não admira.
Eu espero é ler qualquer coisa neste "site" sobre o Carlos Martins. Logo que seja possível.

Valha-me Deus

Portanto, segundo Alonso (e Nuno Melo, talvez) ficamos a saber que uma pessoa portadora de deficiência visual é uma pessoa com óculos.

Ai, Alonso, Alonso. Tu és um gajo antigo e pouco dado aos silogismos. Ora escuta:
1 - Agora há lentes de contacto (até as há às cores!).
2 - Há quem veja mal e não use óculos, nem lentes; anda para aí assim (não te chegues tanto ao écran do teu monitor, pá, pois...).
3 - Nem todas as deficiências visuais têm origem na aleivosa da genética: algumas pessoas que vêem mal não são portadoras de maleita que se "porte nos genes", calhou serem assim por acidente. Sim, eu sei onde é que "ser portador" envieza os raciocínios.

Ainda bem que não te deu para discorrer, por exemplo, sobre a profilaxia da gravidez indesejada.
Estou mesmo a ler-te:
"É preciso acabar com as gestações não desejadas, até porque isso pode levar as pessoas a pensarem no aborto. Por conseguinte, enfim, e isto é para ser cumprido, tirem antes!"

Agora a sério, repara e aprende lá, que eu não duro sempre: de um gajo que seja portador de deficiência auditiva pode dizer-se, com certeza, que é mouco. Não se pode dizer, com certeza, que usa um aparelhinho da Sonotone.
Pronto. Podes ir, rapaz. Depois arruma os carrinhos.

Um abraço.

Semânticas

No outro dia levei a minha filha ao estabelecimento de ensino (leia-se: escola) que frequenta. Lá fui recebido, à porta, por uma auxiliar de acção educativa (leia-se: contínua) portadora de deficiência visual (leia-se: com óculos) que me disse que, nesse dia, a escola estava fechada em virtude da realização de uma acção pública de protesto (leia-se: manifestação) do pessoal docente (leia-se: professores).

À saída, dei de caras com um cartaz que defendia a urgência da alteração da lei sobre a interrupção voluntária da gravidez (leia-se: aborto).

Eu escrevo muito depressa

Por isso é que nunca escreverei um livro chamado "Os cus dos outros apóstolos", por exemplo.
Aliás, mesmo que tivesse seis meses, cerca de vinte e seis quartas-feiras, nunca escreveria essa merda de livre vontade.

"Não, que as pessoas depois baralham-se..."

"Até porque, analisando o português, interromper significa suspender, é algo que supõe uma continuação, mas o aborto implica sempre um fim"

O Nuno Melo, independentemente do aspecto um bocadote alternativo que tem, é um castiço inenarrável. Aquilo parece um discurso de coelho da Duracel parido para dondocas, feito consultando - exaustiva e esotericamente - a gramática.

Tipo "se me acontecer um coitus interruptus por moleza deixai-vos estar em posição, que é já a seguir".

Está bem, está, ó Nuno. A gente já sabe que não foi uma nega voluntária: nunca são.


Desfazendo tontos, que é preciso desfazer os tontos duma vez: " Miguel viu a sua vida interrompida, após ter sido trucidado por um comboio. A família de Miguel está contente, apesar de tudo, porque leu a gramática de Nuno: interromper supõe uma continuação".

Isto já foi ontem, mas há-de tornar a acontecer

A "humildade orgulhosa" (como designou o besugo) do António Lobo Antunes, a mesma que o faz rejeitar o que escreve durante os primeiros três meses do acto criativo, não deixa, ainda assim, de ser um bom princípio comportamental. Se seguido mais generalizadamente, escusavam, por exemplo, as mães, as namoradas e os admiradores em geral dos deputados do CDS-PP de se envergonhar com estes tiros aos pardais.

Enfim. Mas, por outro lado, também é verdade que perdíamos a oportunidade de nos deliciarmos com estas pérolas da vida parlamentar.

19.10.06

Estudem o folhoso

Ainda bem que há tipos que estudam coisas de gestão e doutras inteligências fundamentais, para depois poderem doutrinar sobre espantosas descobertas, como esta assim:
«Se não melhorarmos os serviços oncológicos ao longo da Europa, mais pessoas morrerão porque não tiveram o melhor tratamento»

É este aqui, sobre isto, e o Lobo Antunes a doutrinar sobre a escrita:
"A propósito, o autor revelou que começou um livro quarta-feira e que ainda não aproveitou «uma única linha, uma única palavra», acrescentando que sabe que «vai ser assim nos próximos dois ou três meses». "

É só darem-lhe uns meses, portanto, vá lá, podem ser três, a contar desde uma quarta feira que ele escolha, que ele escreve qualquer coisa que ele aproveite.

A questão de saber se o que ele escreve (vá lá, em dezoito meses) aproveita aos outros situa-se, para ele, fora da literatura.
Eu até concordo, ele escreve o que entender, aliás eu quero que ele se foda na mesmíssima quantidade (e qualidade) que ele quereria que eu me fodesse se eu lhe desse hipóteses de ele me ler. Para isso ele teria de ter um blogue e eu faria linque para lá.

E, em sendo assim, ele leria, embora depois pudesse fazer de conta que não, provavelmente por causa dessa coisa que ele descobriu agora, que é "a humildade orgulhosa".
Mas ele não tem um blogue. Tem alguns blogues e meia dúzia de xarrocos que lhe batem umas pívias despudoradas, isso tem, mas não tem um blogue que seja dele. O resto, por besugo, é fraca pesca.
Também, um blogue actualizado de três em três meses, valha-nos Deus: até o chumo o batia em visitas e aprendizagens. E em tudo.

Prefiro-lhe as crónicas; e, isso mesmo, porque lhe detesto os romances - li uns sete -, que são bastante fracos e muito grossos de ranço.
Tanto tempo a pensar e a rejeitar frases deve dar uma dislipidemia do caraças.

Se ele fosse médico a sério - ora vamos imaginá-lo nisso, vá lá - teria dias de gáudio inenarrável, dias duma leitosa placidez atormentada. E proporcioná-los-ia, a dias desses, aos desgraçados que se lhe ajoelhassem aos lavadíssimos joanetes, consultando-o: "Caramba! Você aí a queixar-se disso que o apoquenta, hem, e eu aqui, já viu, que não se me aproveita nada de jeito? Venha daqui por três meses, sim?".

O acto criador é como os outros actos todos. O tempo só ajuda a criação - e o tempo não tem nada que ver com isso, o tempo é certo, lento é quem é lento e encontra na lentidão virtude - se o criador tiver ideia do que anda a fazer, do que quer fazer. Se não andar sempre à procura de se repetir, mesmo sempre à procura disso de se repetir, por outras palavras. Não é de não se repetir, perceberam bem: é de se repetir. O que nem espanta.
O criador, sobretudo, não deve querer disfarçar a vaidade que o atiça com o orgulho humilde que gostaria de ter e que não tem.

Eu já lhe vi os olhos. Estive ali a olhar para ele, há muitos anos. São azuis e pouco fundos, num fundo vermelhusco. Voláteis. Já vi olhos assim em gajos em coma, embora sem anemia.

Nas crónicas, vá lá. Não deve poder pensar tanto tempo, que aquilo deve rolar em euros por decímetro quadrado e, sendo assim, lá lhe saem - vertiginosas - umas vertigens de talento sério; sendo que pensar, isso tudo que vem de dentro da cabeça, é ruminar; no caso dele.

Aguarela

Aguarela bonita é a seguir







Não faz mal.










Foda-se. Não faz mal o caralho.

18.10.06

E o anel de rubi?

Não conheço nada do grupo de teatro "Plástico" que se encerrou no Rivoli. Nunca vi nada feito por eles, excepto uma espécie de poemeto-manifesto que terão feito publicar, que é, como poemeto, ainda mais fraquinho do que como manifesto.
A bem dizer, nem sabia que existiam. No entanto, o facto de eu não saber da sua existência não faz deles uma nulidade. Nem do ponto de vista da qualidade (sempre um bocadinho subjectiva), nem no que se refere à sua própria existência. Existem, provaram-me isso, eu é que não sabia.

Não gosto, por natureza, de grande salsifré. Sempre me chatearam gajos e gajas aos berros sem ser no futebol; mesmo no futebol, aliás, não raramente isso da berraria canalha me chateia. Já vi gajos e gajas, por exemplo, a berrarem em comícios de todo o espectro partidário português, em campanhas e depois delas, quando ganham, e isso irrita-me. É estúpido.
A questão de discutir se um grupo de pessoas pode ocupar um teatro municipal por não estar de acordo com uma coisa qualquer que envolve projectos de mudança desencadeados pelos representantes eleitos pelo dono do teatro (o dono é a cidade do Porto, que eu saiba) pode ser complicada, do ponto de vista político. Sobretudo quando os representantes eleitos pelo dono (o povo do Porto) são dum partido diferente do partido que o povo inteiro escolheu para o governar, bem ou mal, agora não interessa. Reparem que isto podia ser ao contrário do que é, tanto me faz.

Mas, se do ponto de vista da gestão política da imagem e dos actos este salsifré pode ser complicado, envolvendo direitos e deveres, dinheiros e vontades, egos e "játefodozinhos", maiorias e minorias, bom teatro ou mau teatro, teatro subsidiado ou teatro independente, o Luís Represas ou o Luís Filipe Vieira, já do ponto de vista do senso comum me parecem duas coisas:

1 - Trata-se ali duma forma de protesto não violenta, cujos contornos podem encerrar algo de pitoresco - e certamente encerrarão, acredito -, mas eu não conheço nenhuma forma de protesto que seja minimamente escutada (nem que seja para ser gozada, é sempre um risco que corre quem protesta, a humilhação, não sabiam?) se não envolver algum confronto. Vivemos um tempo em que se fala muito alto de cima para baixo. Os sossegadinhos costumam fazer mémé, bastante baixinho, quando se sentem um bocadinho fodidos e, geralmente, respondem-lhes assim: "nem mé nem meio mé, é para ali e já!". E eles vão. Estes do "Plástico", com ou sem razão, decidiram protestar e não fizeram mémé. Ocuparam aquilo. Isto é um facto. Não o discuto. Muito menos a sua bondade ou a falta dela.

2 - Quem quer cargos de poder, seja numa câmara, seja num governo, seja numa oficina de metalomecânica, tem de lidar com isto. E tem de saber isto claramente: o problema é mesmo com ele.
Bom. Se o "mandador" acredita mesmo que o protesto é ilegítimo, que prejudica a cidade - no caso é a cidade, penso eu, é a cidade que está em questão, não é? -, que aquilo não tem pés nem cabeça e, ainda por cima, contraria a lei (não sei se há alguma lei que proiba a ocupação de teatros sem haver espectáculo e/ou sem se pagar bilhete, deve haver, ou então aquilo há-de encaixar numa lei geral qualquer), tem duas alternativas:
a) Dialoga, vai lá, manda lá alguém, amansa as tropas, dá-lhes um bocado de protagonismo, aquilo demora meia dúzia de dias, e eles lá acabam por sair "não martirizados".
b) Não dialoga, assume isso, manda lá a polícia e tira-os de lá à força.

Agora, o que não pode é pôr-lhes o ar condicionado no máximo do frio, nem vedar-lhes o uso do quarto de banho, nem impedi-los de receberem comida, nem de comunicarem com o exterior. Se isto aconteceu, foi um erro e uma estupidez maldosa. Não pode ser. Eles não estão presos, não lhes foi judicialmente cerceado nenhum direito, não foram julgados. Estão lá.
Pode desligar-lhes a luz, isso acho que pode. Pode alegar que é uma despesa. Mas nem isso devia. O resto, decididamente, não. Até porque o ar condicionado no máximo gasta mais energia do que estando desligado e isso contraria o princípio de poupança que se pressupõe estar inerente ao corte de luz.

Rui Rio, a estarem as coisas passando-se como se tem lido, deve pensar que Pinto da Costa está por detrás disto.

Rivolices

Eu nem simpatizo nem antipatizo com o Rui Rio. Já no que respeita aos manifestantes, acho-lhes piada, a esses parazitazitas que gostam das masturbações intelectuais que são as peças teatrais deles.

É um caso bicudo, lidar com essa fauna. Nem se resolve dando-lhes um espaço onde possam mostrar aos amigos e familiares chegados o vanguardismo da sua arte dramática. Porque, mesmo um espaço dado dá prejuízo. E isso - o prejuízo - não lhes passa pela cabeça pagar.

Em todo o caso, já temos diversão garantida por mais uns dias. Aqueles tristes estão agora, finalmente, a fazer um teatro visto por milhões. Só por isto, valem a pena os incómodos - aliás não subsidiados - que transitoriamente causem ao Rui Rio e a quem mais fôr. Por outro lado, os desempenhos até têm sido convincentes. Momentos de glória. Mesmo se, como se sabe, "Sic Transit Gloria Mundi".

E viva o Teatro.

17.10.06

Rivoli-o

Por um lado, não tenho um pingo de simpatia por Rui Rio ou pela boçalidade (mascarada de temeridade) com que gere o município e os negócios do município (ou o que resta deles). Também me parece que a privatização do Rivoli há-de redundar numa programação cultural coadunada com as leis do mercado, o que equivale a dizer que as maiorias determinarão o cartaz e que, por isso, ninguém se admirará que uma boa percentagem dos proveitos da exploração advirão dos shows dançantes dos D'zrt, da Floribella, eventualmente do Tony Carreira e, inevitavelmente - claro - da inefável Dulce Pontes (!).

Por outro, espanta-me aquela comédia comico-trágica dos barricados no interior do edifício, feitos mártires pelo mesmo Rio quando, olímpico e firme, lhes cortou a luz (gostei do pormenor do WC) e lhes proporcionou uma refrescante temperatura ambiente, talvez para combaterem a apatia e o cansaço.

No meio desta comédia, eis que surge a ministra, auto-designada mediadora do conflito, como se houvesse conflito - como se houvesse caso.

O mais absurdo disto é que este protesto peregrino há-de, inevitavelmente, acabar em coisa nenhuma, porque nada isto se apropria a uma negociação de contrapartidas pelo simples facto de que os barricados nada têm para trocar - a não ser sairem voluntariamente (que sairão, ainda que não seja de livre vontade). Não é, de facto, útil ou eficaz.
Mas obtém-se um considerável impacto mediático, claro. Mais pela bizarria do que pela justiça da causa - sendo óbvio que tanta bizarria (incluindo o episódio do ar condicionado no frio) em nada ajudará a que se cumpra o que, sendo justo, me daria um grato prazer, a mim e a muitos portuenses - irritar o Rio ao menos atrasando-lhe os planos. E, já agora, ainda mais do que no caso do túnel de Ceuta.

O post abaixo deste ...

tem o alto patrocínio do pano do pó. Obrigado!

PS - Prometo que voltarei a escrever coisas sérias, desculpem os leitores habituados a vir aqui para enriquecerem a sua - já vasta - bagagem cultural.

PPS - Ó besugo, a "sétima" era a exposição de arte erótica num bairro em que, ao que parece, vivem muitas muçulmanas.

Experiência. Baixem o som sff

Coisas de semi-cota

Sem querer amaciar ninguém, muito menos tendo acabado de propor um desafio sanguinário, para o bem ou para o mal, gostei de ler isto.
No Domingo, dependendo, pode mesmo ser que já deteste o que agora gostei. Isso acontece-me.

Ser parcial não é ser burro. Eu sou parcial. E posso ser bastante burro. Devo ser.
Um burro pode ser parcial e é-o, quase sempre. Mas a parcialidade depende tanto da burrice como a esperteza da imparcialidade.
É apenas uma questão de orelhas e, no caso, de brincar com as palavras. Não passa disso e é isso tudo, ao mesmo tempo.
Gostei. Só é pena andar a ver cada vez pior ao perto e detestar lunetas com lentes a sério.

Tripas à mostra, bem rugidas

Está a aproximar-se o dia, Francisco.

Amanhã, terça-feira, muito provavelmente - e com muito invejoso gosto meu, mas com gosto, acima de tudo - ireis limpar os alemães do Sport Verein. Os que são daquela cidade com aquele porto grande, sim; menores, a cidade e o porto - contudo - que o Porto inteiro.
Na quarta, ainda mais provavelmente do que isso, iremos nós levar o competente correctivo dos bávaros; que possuem, ainda por cima, nas suas fileiras operárias, um projecto de trolha frequentador do Bois de Boulogne ou do cais de Marselha, chamado Sagnol (é, de facto, o que mais me mexe com os nervos, o sacana; a seguir são os sul-americanos, que só jogam quando é pelo Bayern, nas selecções deles parecem Nunas Gomas e Sabrosos, ali aos saltinhos: exactamente, o Pizarro e o Santa Cruz), e um treinador, chamado Felix, que não tem nadinha de gato e é mais marreco do que o Gunther Netzer.

Mas, no Domingo? Com letra maiúscula, isto do dia da semana, que o dia merece distinções de nome próprio. Como é que estamos? Como é que há-de um de nós, o que perder, você ou eu, derramar a verrina latrinária em cima do outro (com a lolita a assistir, evidentemente, e contra mim, como sempre acontece nestes casos, ainda por cima) sem parecer que não ligamos muito a estas coisas da bola?

Estamos tramados. Enquanto a coisa se limita a vermos o Benfica a chutar ao poste e a sofrer golos nos descontos, a gente entende-se. E parece que não liga nada a isto, ri-se apenas, porque não é connosco. E no Domingo?

Vamos ver?
Eu tenho uma vantagem, mas não lhe digo qual é. Não, não é sequer jogar em casa.

Olha o sol, Alonso, enquanto o há

A que propósito iria eu gastar espaço precioso deste blogue modesto - e dispendioso na sua modéstia - com fotografias "cartoonadas" de um desempregado do jornalismo (escrevinhar críticas de cinema, agora, já é trabalho?), da política activa (isto da dedicação aos bastidores, se é que o vício disso lhe não passou ainda, faz-me associá-lo, sempre, a senhoras a bordar, vestidos longos) e da vida quase inteira?

Não. O blogue não se compadece com estas miudezas. Muito menos com irritações. Eu sou um tipo calmo, Alonso. E tu bem sabes.

Além disso, repara: o Portas diz que escolheu sete factos de qualidade variável.
Eu, se não me quantificarem os conceitos, as garrafas de Porto, os anzóis, os cigarros que fumo, os pensamentos niilistas, seja o que for, não vou lá contá-los. Juro que não vou. Mas, se mos quantificam, vou imediatamente lá conferir. Eu, que nem as contas de restaurante confiro, a menos que embirre com a fuça e o comportamento do criado, vou logo lá. Podes chamar a isto um pedregulho anancástico no meu sapato, claro que podes, mas quem começou por contar foi ele, o Portas-Blitz-Whatever; e tu, que o citaste em seis lugares comuns e numa súmula deles, como se fossem sete lugares-comuns um bocadinho geniais: eu só conferi os números, a genialidade nunca confiro -não a sei, como conferi-la?

E, conferindo, contam-se lá, não sete, mas apenas seis factos de qualidade invariável. Sendo que aquilo que ele considera o sétimo, aquilo de "a diferença não se pode expor", não é sétimo facto em texto nenhum que tenha tino, nem em cabeça nenhuma que tino tenha. Se ele pensasse mais antes de publicar, veria que referiu apenas seis factos, os seis primeiros, e um denominador comum a todos eles. A esse denominador comum, o menino chama sétimo. Paciência. É comum na meninada.

Eu não me importo que um tipo assim escreva sobre cinema, porque sempre vi os fimes que quis (é verdade, isto) e nunca vi os que não quis, mesmo insistindo comigo dezoito vezes. Faltava só o Portas, agora, para me consolidar esta certeza.
A crítica de cinema é a arte de parasitar a arte. Como a crítica literária, em parte. E eu bem sei que não é sempre assim, mas gosto mais de livros e escritores, de filmes e de actores (e cineastas) que de críticos.

Bom. O que eu não quero é que um tipo que pensa conforme contabiliza, mal e levianamente, me governe.

Eu, de Portas, quero só que o "Sol" continue a dar-lhe a cheta para as nuances, de forma a mantê-lo alimentado e vestidinho, e tão longe de mim como o "Sol" há-de estar sempre.

O Sol já não, que gosto dele.
Devia, até, ser proibido a um jornal que nunca lerei, adoptar um astro que me faz tão bem - e que me lê sempre - como nome. Desilude e não bronzeia.

16.10.06

Há que ter respeito ...

Isto não é sobre palmadas nem chapadas, é sobre facadas mesmo. E não, não me refiro ao besugo, que perante a afronta que lhe faço ao citar aqui o Portas (uma autêntica facada), há-de aqui publicar 40 fotos "comentadas" do dito nos próximos ... 2 dias!

"Escolhi sete factos de qualidade variável. Têm um problema comum. Por ordem cronológica: o cineasta não pode filmar, a deputada não pode falar, o cartoon não pode sair, o Papa não pode pensar, o professor não pode escrever, a Ópera não pode estrear, a diferença não se pode expor. Basta um módico de lucidez para perceber o que une o Islão fanático contra estas pessoas que, provavelmente, nunca se juntariam para almoçar."

Re: Monday Morning

1 - Esqueceste-te dos óculos em casa e leste tudo ao contrário?
Eu não uso óculos, ó pitosga!

2 - Andas distraído com algum torneio de carrinhos matchbox?
Já não há carrinhos matchbox ... chuif

3 - Para ti, é tudo a mesma coisa?
Não. A bofetada na cara humilha (por isso é que as gajas no cinema passam a vida a dar estaladas aos galãs), a palmada só dói (e pouco, ou nada) e/ou assusta. Por cada cem palmadas, devo dar uma bofetada, mas normalmente depois arrependo-me.

Vai tomar um cimbalino e, a seguir, se quiseres, explica qual é o grau de impacto das segundas feiras nas tuas competências cognitivas...
Já tomei, em tua honra ó tripeira. O impacto foi devastador :)

Monday morning

Alonso: tu concentra-te. Falava-se de bofetadas e de chapadas - não de palmadas, que são aquelas achegas que se dão no traseirito do puto no momento certo (enfim, em fragrante delito) para que sejam eficazes como meio de dissuasão de futuros comportamentos desviantes.

Porque é que confundiste bofetadas e chapadas com palmadas?

1 - Esqueceste-te dos óculos em casa e leste tudo ao contrário?
2 - Andas distraído com algum torneio de carrinhos matchbox?
3 - Para ti, é tudo a mesma coisa?

Vai tomar um cimbalino e, a seguir, se quiseres, explica qual é o grau de impacto das segundas feiras nas tuas competências cognitivas...

Em defesa das palmadas

Pois é. Eu cá prefiro dar uma palmada do que mandar o menino pró quarto o resto da tarde ou proibir a utilização da Playstation durante o fim de semana.

A palmada tem um efeito imediato, esgota-se em si mesma, não provoca rancores nem constrangimentos. Crime e castigo. E redenção. Tudo em poucos segundos.

E não me apetece escrever muito mais sobre o assunto. Até porque, no mais, aplica-se a uma palmada bem dada o que se aplica a qualquer outro castigo bem dado. Ou seja: deve ser dada quando já é previsível que o seja. Deve ser dada com critério, e não por capricho. Deve ser aceite como merecida, em face de um comportamento anterior.

Eu cá levei as palmadas que mereci, e não tenho mesmo dúvidas de que mereci muitas mais do que as que levei. E, não tendo gostado de as levar quando as levei, hoje não lamento tê-las levado, e taenho a certeza que quem mas deu não lamenta ter-mas dado.

PS - Quanto à lista dos portugueses ... vistos nove séculos de história (enfim, quase) o Salazar é a figura histórica mais importante de Portugal num deles (o séc. XX), o que o põe automaticamente na lista dos "nove mais". O resto é conversa, de quem o admira (como eu), de quem não o admira (como a lolita), de quem anda cada vez mais nihilista (o besugo) e mesmo de quem não fala (o stkaneko).

Vamos lavar isto

O Sporting ganhou mas não jogou a ponta dum corno. Nada.
O Romagnolli é um podão, o Martins não se percebe como é que ainda não se conseguiu que fosse suplente da equipa adversária, o meio campo do Sporting é um baldio onde se pasta à vontade e se pisoteia muito.
Não gostei.
Aproximam-se dois banhos de realidade, contra o Bayern e contra o Porto. Um banho de realidade é como quando a gente sai de casa barbeado e a achar que está mais ou menos belo e passa um pita qualquer que diz para a outra "olha, aquele parece o João Miranda!"
E havia de ser o Manoel de Oliveira a dirigir as filmagens de ambos os banhos de realidade, para ver se aquilo, em se prolongando o suficiente, com planos dos planos dos planos, permitiria às massas entender o tédio que eu já sinto agora, mesmo só com "realização SportTV".

Cu à parede!

Um tipo qualquer encontrou outro e disse-lhe:
- Ah! Andam aí a fazer chacota por eu ter dito isto assim-assim.
O outro respondeu-lhe, enquanto enviava uma SMS a uma conhecida que já se fartara dele e não lhe atendia o telemóvel:
- Antes isso que responderem-te à letra.
- Estás parvo?
- Não. Tu faz de conta que eras um que escreve frases de pompa, ou mesmo outro que agora já também: as pessoas podiam dizer coisas giras a respeito do que eles escrevem.
- Bom, mas então...
- Então, bastava alguém vir aí propor que a frase "a escravatura foi boa para os negros, do ponto de vista económico" é semelhante, no seu valor absoluto, à frase "a prostituição é vantajosa para a tua filha, do ponto de vista económico..."
- Cala-te!
- OK, obrigado. Ou ainda, no caso do outro...
- Cala-te! Tu cala-te!
- Obrigado. Mas era aquilo de imaginar assim, mais ou menos, "que uma tribo de negros dada ao liberalismo decidia raptar o J., um gajo qualquer, um J. qualquer, e fazê-lo sodomizar, ao lusco-fusco, todos os dias, pelos mais potentes membros da tribo, contra uma cubata, cobrando bilhetes às tribos vizinhas para assitirem à função". Tu segues-me?
- Hum, não sei.
- És burro. Bom, aquilo ia dando lucro. Depois, as outras tribos, fartas de pagarem bilhetes para verem sempre o mesmo J. a ser sodomizado, às tantas já gemebundo de lascívia, decidiam raptar o resto da malta amiga do J. Para lhes fazerem o mesmo, cada tribo sua atracção, seu artista. Iniciava-se ali, de forma primordial, uma espécie de mercado liberal competitivo, que desenvolveria a economia de cada uma das tribos, pelo menos enquanto durasse o cu de J., os cus do resto da malta, e o interesse em ver aquela merda a pagar. Depois mudavam de ramo, ou mudavam de liberais: um "refreshing".
- E o J., e a malta dele, eram obrigados a deixarem fazer aquilo? Eram escravos? Nem eram pretos! E a polícia?
- Bom, um liberal pode fazer o que quiser. Os pretos eram - suponhamos - liberais, o J. e a malta também são, falta-lhes o quê, ali, para estar tudo certo?
- Vaselina?
- Sim, isso também. E a polícia, tu viste bem a coisa. A polícia serviria para eles se queixarem aos gritinhos. Mas a questão é que não haveria uma polícia, haveria várias. Cada tribo teria a sua polícia, os seus capangas. O J. e a malta dele também tinham a sua, evidentemente, ou as suas, cada um a sua, o que lhes iria mais aos intestinais liberalismos, ou assim achavam eles, mas as tribos de negros parece que tinham comprado a polícia de J. e subornado os capangas da malta amiga dele, de maneira que os gritinhos de toda aquela malta, sobretudo depois das orações matutinas a Santo Darwin, por vezes, já não faziam senão eco. Na manhã e no dia inteiro.
Donde se depreende que o mercado pode ser fodido, da mesma forma que o pode ser o nosso cu, se a gente o não encostar à parede em lugar de andar aí com ele a dar-a-dar enquanto emite frases parvas.

15.10.06

Quero a cabeça de João Baptista...

... pediu Salomé, filha de Herodes. O que prova que os filhos, podem, até, ser ainda mais obtusos do que os pais. Ou, se quisermos, podem ser a obra acabada, se os pais forem apenas o projecto de energúmeno que se conclui na descendência.

Nos tempos mais recentes, os Kindergarden (que eu cuidava designarem-se cá por jardins de infância, excepto na Câmara de Comércio Luso-Alemã e no Goethe Institut; mas suponho que o João Gonçalves os designa assim para dar o preciso ênfase no tipo de educação militarista que defende) explicam, ao que parece, a parvoíce dos filhos. Mais: explicam a infinita estupidez dos pais, que confiam que alguma Kindermädchen (qual Eva Braun, castigadora) está, vigilante e atenta, a educar os seus filhos durante o dia, aplicando-lhes a competente bofetada no momento oportuno ou outros castigos corporais não menos eficazes para alguém se fazer homem. Mas não. Ocupam as crianças, imagine-se, com "frivolidades" e "brincadeiras". Vai daí, o progenitor, embuído do mais nobre espírito de missão, dirige-se ao filho e, sem mais, prega-lhe uma sonora chapada enquanto pensa para consigo: "mas que parvo é este meu filho".

Caríssimo João Gonçalves: eu não fiquei incomodada com a sua crítica à reforma do código penal. Longe disso. Divertiu-me o fervor que dedica às boas práticas sobre a educação de um filho "parvo": é à bofetada e à chapada, q.b.. Certo, já percebemos.
Já você pareceu-me algo irritado com o meu comentário, ao ponto de me "aspear" e de me negar (oh, infortúnio!) a improvável comparação com a Lolita Nabokoviana - que eu, grata pela justiça, registo com agrado.
Em todo o caso, não perca o fair-play. Afinal, estamos em público (para facilitar, imagine que estamos num restaurante). Eu garanto-lhe que, se por um qualquer inusitado acaso do destino calhasse termos alguma relação de parentesco e eu tivesse o dever de o educar, ainda assim não lhe daria uma tal chapada.

Em suma: eu já não frequento nenhum Kindergarden. E você?

A alternância fica muito dispendiosa.

Vistas bem as coisas, o modus faciendi da ditadura salazarista resultava em poupanças significativas no erário público, designadamente no que diz respeito ao subsidiamento dos pés-de-meia dos notáveis do regime. Se pensarmos que os ministros de Salazar se mantinham em funções durante décadas e que só eram exonerados por velhice ou destacamento para funções não menos úteis aos propósitos do estado (por exemplo, como governadores de províncias ultramarinas), temos forçosamente de concluir que a despesa pública se controla melhor num regime de partido único do que na nossa actual alternância democrática.
De facto, os ministros do centrão, bem como toda a pandilha da confiança política dos ministros, mudam de quatro em quatro anos - e isto na melhor das hipóteses. São, portanto, dez a doze pés-de-meia em cada quadriénio que o estado português se vê forçado a subsidiar, contra dez a doze pés-de-meia por cada dez anos (ou mais) durante o Estado Novo.
E isto, claro, já sem falar no habitual jogo das cadeiras a que se assiste em cada legislatura, para que, em cumprimento do princípio da igualdade e da participação cívica, todos os membros do aparelho possam usufruir da ilustre condição de ministro que os transporta à prateleira dourada do lugar na administração da CGD, da Galp ou das Águas de Portugal.

Depois das leis do Abrupto, os ensinamentos do Fundo.

Pedro Arroja ensina: a prática do Bem deve ser funcionalizada ao retorno do investimento.

do adubo

Devo dizer, contudo, por ser verdade e me ter lembrado agora, que se os finalistas fossem, por hipótese, Salazar, Cunhal, Durão Barroso, José Sócrates qualquer coisa, Figo e Amália Rodrigues, eu hesitaria entre Cunhal e Salazar. Apenas entre estes. Os outros, puta que pariu esta merda, que querem?
Mas hesitaria mesmo entre os primeiros dois. Juro. Não gosto nada de Salazar, entendem? Não lhe emprestava o carro. Nem a caneta, sequer. Mas a questão que os imbecis nos colocam não é essa. Não é de quem mais gosto, é "qual o maior, o melhor, e assim mais ou menos tal e coisa, para si, hem?".
Hesita-se, na questão, em a levando a sério, até à morte!
Por isso é que a ideia é parva. Eu admito que se pergunte qual é o melhor pintor. O mais criativo ou emocionante cineasta. A melhor actriz. A actriz mais boa. O mais altruista dos homens. A mais enganadoramente bela das mulheres. O melhor jogador. O mais fecundo escritor. O mais bonito. O menos belo. O português que melhores odores exala e, por outro lado (ou pelo mesmo), o que mais fede. Ou o que pior fedeu, essa estultícia guinessiana aplicada aos aromas, bons ou maus. O mais bondoso homem, a mais frondosa mulher (partindo do princípio que é a sombra que nos faz à nossa inequívoca bondade que distingue uma mulher; e é).

Comparam-se comprimentos de pilas para quê, se as gajas - ao que verifico em alguma literatura - preferem, à longitude, a grossura e o desempenho?
Para nada. Até porque, se nos propusermos sufragar grossuras e desempenhos, elas irão preferir comparar tonalidades de castanho!

Mesmo com critérios pré-definidos, acreditem, a ideia é má. É lorpa.

Agora assim? Esta globalização parva da ausência de critério? O atentado torpe à inteligência? A questão imbecil sobre se "salvavas o pai, a mãe, o filho, ou a amante que te satisfaz e te diz que a satisfazes?", assim travestida de grandiosidades que não tem?
Eu tenho de confessar que quero que Vasco da Gama se foda, de preferência na mesma cama de palha onde Camões se derreteu dum cirro, se me pedirem para os comparar! Comparo Camões com Agustina e apetece-me logo que ambos se encontrem com alguma brevidade no purgatório, para longas conversas muito interessantes para ambos, que eu não oiça e de que nem tenha notícia!
E assim por diante.

Não votem. Não participem neste sufrágio parvo. Ignorem-no, vejam antes filmes franceses na 2. Masturbem-se. Vejam a bola. Leiam rótulos de garrafas de tinto.
Puta que pariu os simplexes, foda-se.
Bosta de tempo.

O moralismo por um moralista

Perante a proposta de introdução de uma norma penal que proíbe os "castigos corporais" às crianças, diz o João Gonçalves que isso pode, até, impedir o recurso legítimo à força em ambiente parental. Exemplos? "Bofetadas" e "chapadas" a filhos "parvos". Bofetadas? Chapadas? Livra. E palmatórias, porque não? E autos de fé públicos, para penitência e castigo dos filhos prevaricadores - aliás, parvos?

De uma coisa não pode haver dúvidas. A parvoíce de um filho decorre, em larga medida, da estupidez dos progenitores - muito antes de eles se aperceberem de que ele não se sabe portar bem em lugares públicos.

Os melhores, a nata, o coiso!

Já me disseram que se fez o mesmo, com grande sucesso, noutros países. "No estrangeiro". Isso provoca-me efeito nulo, respira-se de igual forma em qualquer lugar e não me impressiona mais o que me é alheio do que o que toco. Nunca fui assim.
A verdade é que não faz sentido nenhum eleger "o melhor português".

O melhor português é o que mais comove? O que mais fez por si? Ou pelos outros? E a que horas, isso?
É o mais belo, é o mais forte? É o que das fraquezas fez mais forças? O que, sendo feio, seduziu? Ou o mais amável e mais terno? O menos fraterno, se for terno? O que mais emocionou? O que mais se emocionou? O mais discreto, o mais sossegado, o que mais sossegadamente sossegou? O mais corajoso, que fugiu sempre como se avançasse? O que recuou prudentemente, salvando-se do tempo e resgatando-se na fuga? O que deu a cara? O que deu o que tinha? O que não deu nada, porque nada tinha? O que saltou mais alto, o que mergulhou mais fundo, o que correu mais velozmente, a acercar-se ou a fugir? O mais lúcido, o mais intempestivo? O bárbaro que se amaciou? O cordeiro que agrediu, cheio da sua razão feita de coices, o rebanho?

Como se faz isto de escolher sem um critério, ou um conjunto deles? E mesmo assim, criteriosamente, como se compara o incomparável?

A questão não é, sequer, discutir se lá deve estar Salazar. Ou se Joaquim Agostinho faz lá falta. Se formos por aí, faz. Na mesma.
A questão, a vergonhosa questão, é esta escolha que se propõe, este sufrágio sobre pessoas diferentes, de tempos diversos, umas mortas, outras a caminho dos torrões, como se houvesse um denominador comum a todas elas sem ser a finitude, uma qualquer miserável razão de ponderação que não existe, nem nunca poderá existir, fora da subjectividade magoada de cada um de nós, uma coisa qualquer fora do tempo e acima da razão, uma coisa qualquer absolutamente absoluta que permitisse escolha assim e que ela se pudesse fazer, ainda por cima, valha-nos Deus, com votações.

As votações, meu Deus, Tu que nos vales, que coisa parva e hedionda. Não Te parece? Que coisa tonta de jurados. "Nós, estes doze ou estes quinhentos e dezassete mil imbecis, achamos isto assim-assim: é a nossa opinião; e faça-se." Isto dito com cara de quem comunga por um porta-voz, que é uma espécie de megafone dos intestinos colectivos.

Não digo mais nada, isto é estúpido como ideia e como tema de discussão.

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