blog caliente.

31.10.06

Agora vou às laranjas...

A verdade é esta: o hedonismo da pita que toma todas as precauções e mesmo assim engravida - e quando engravida quer abortar - não está nas precauções. É que não percebi se ela queria abortar para continuar a sua actividade preferida sem restrições - mesmo que com precauções - ou se era por razões de saúde. Era? Ou era porque foi violada? Ou era porque corria risco de vida? Ou era porque o feto era deficiente, logo desmerecedor de nascer? O que era mesmo, besugo?

É simples, Alonso.
1 - Era só que ela não queria ter filhos; tanto que até tomou precauções para não engravidar e tudo.
2 - E era, também, que ela queria continuar a dar umas berlaitadas quando lhe apetecesse e com quem lhe apetecesse, porque lhe sabia bem, dando-as com as mesmas precauções universais (embora recusadas, na sua maioria, pelos senhores abades) com que dera a berlaitada que, já se viu, resultou naquela fatalidade de ser fecundada, apesar de não querer sê-lo.

"Tu nunca mais berlaites sem ser para gerar um "sêre" - soa assim, muitas vezes; a sério, soa "sêre", em vez de soar "ser", quando algumas pessoas dizem este substantivo -, rapariga, porque berlaitar, mesmo com precauções, não é prudente, até porque berlaitar não faz parte das precauções aplicáveis à berlaitada!".
Excelente ladaínha.

Repara, se me permites usar palavras que uso diariamente - até pela minha fraca formação nas coisas do léxico, "e derivado" à deficiente educação que me concederam (e por ser uma besta, evidentemente), até me parece vantajoso colocar a questão nestes termos (tu desculpa):
1 - A ela, fraca criatura prenha de terminações nervosas mal dispersas, dá-lhe prazer aquilo do coito e suas variações.
2 - Ela, apesar de gostar de variações, também gosta do trivial.
3 - Ora, é durante o trivial que as coisas acontecem para o torto da fecundação, mesmo com precauções universais (esquece, se conseguires, mesmo que por um momento, a precaução universal da abstinência).
3 - É do trivial que ela não pode gostar, é o trivial que tem de evitar, por conseguinte? É que se é, vais ter de redefenir tu o que vem a ser isso do hedonismo, que para mim é mais amplo do que transparece da tua camuflada definição, quase "funcional", da coisa em si.
4 - Ou tem de se abster mesmo de tudo, como aquela sopeira que tomava banho no jaccuzzi do patrão, que também se abstinha de tudo menos da especialidade gastronómica de Santa Maria da Feira?

Que é pecado, tudo isto, sem dúvida que é. Eu isso nem discuto. Disseram os senhores abades que sim, não dizem outra coisa há séculos. É isso, é a gula, é a preguiça, é o etecétara.
Tudo preceitos cumpridos à risca pelos senhores abades todos deste mundo.
Até se diz, dum magricelas que seja um pisco a comer, que come como um abade. A coisa santa presta-se aos aforismos mais eloquentes sobre frugalidades.

Eu sei que isto é trivial. Tudo o que eu disse. Eu sei, Alonso.
Como a lolita e tu, tenho a certeza disto, sei que muitas vezes argumentamos e contra-argumentamos sobre seja o que for, apenas para tentarmos marcar pequenos pontos em pequenas discussões de "mal vestidos", os nossos corpos nus apenas enroupados nos andrajos das palavras, ainda por cima arremessadas como se fossem contra alguém.

Cuido que "O Caderno" é para os três. E para toda a gente.

("O Caderno", só o li e ouvi depois de ter escrito. E acrescentei o que está em "negrito" apenas depois de ler e ouvir "O Caderno". Mas mantive a ordem dos escritos conforme saiu, e foi assim que saiu, porque há coisas que merecem ficar na ordem por que saem, independentemente de tudo, e sobretudo se nos parece que saem bem assim).

View blog authority