morangos e castanhas é tudo fruta
Trocar, num texto que pretende apenas assinalar a coincidência entre a contagem do tempo embriológico e a contagem do tempo obstétrico (sendo que o tempo obstétrico é um tempo todo feito de finalidades e o embriológico deve ser, tão só, um tempo factual), trocar, num texto assim, dizia eu, semanas por meses, é abusivo. Pode ser feito, eu estou longe de levar isso a mal, mas nada mais se consegue do que desvirtuar o sentido do texto, já de si fraquinho, em que se procede à mudança. E era "semanas" que lá estava.Se alguém, ao proceder assim, pretende sugerir que a maneira como se conta o tempo duma gestação é, neste e noutros contextos, despida de qualquer relevância, eu digo que sim, que pode ser que seja, excepto no contexto do que eu disse.
Mas não se prova isso com a adulteração do texto. Da mesma forma divertida eu posso fazer com que num texto em que se lia "sete meses" passe a ler-se "cinquenta e oito milésimos de um século". E sete meses já parece mais um tempo pequenino.
Mas, repito para quem treslê ou lê apenas levemente - como, aliás, o texto seguramente merecia, mas sendo assim, enfim, não se lhe ligava - não era isso que se pretendia.
Não se tratava ali de "até quando é que se conta o tempo". Isso é outra conversa, que me parece, já agora, que se fala nisso, mero discurso de compromisso. Provavelmente necessário, mas de compromisso.
Não: tratava-se - mal explicado, certamente - da coincidência entre formas de contagem, que foi do que eu quis falar. E o que no texto havia de insinuante sobre o que parece ser um paralelismo cúmplice entre uma ciência "fora da clínica e das finalidades dela" (a embriologia) e uma outra "completamente dentro dela e das finalidades dela", a clínica obstétrica, muito entregue às suas objecções de consciência - até porque, mais do que contar semanas para ver quantas é que já passaram, as conta para ver quantas ainda faltam para o parto - o que no mal parido texto havia de meramente especulativo, valha a verdade, fica, assim, perfeitamente intacto. Nem uma folha buliu, como diria Eça, com a "aragem" da mudança de sistema de contagem. E se o texto era, já, fraquinho, caramba: assim descamba. Mas o culpado disto, e apenas disto, não fui eu.
E o mais irónico, o mais engraçado, é que, a acusar alguém, naquele texto de coincidências, eu acusaria, talvez, a obstetrícia. Eu pensava que se notava. Até nisto escrevi mal, pelos vistos: o trocador (pouco) atento achou que culpo a embriologia. Não a culpo: intimo-a a que se demarque da outra, para não ter de a culpar também.
Se, pelo contrário, apenas se pretendeu, com a troca de "semanas por meses", sugerir que um feto de sete meses é viável, e muito mais grandinho e impressionante e completo, em tudo e para tudo, do que um de sete semanas - coisa que o autor do fraco texto jura, pelas alminhas que já lá tem, que já sabia -, isso só é importante - no contexto da questão - se o autor da troca estiver conjecturando, ainda indeciso, se está mais convicto dum "a partir daqui, não" do que dum "não absoluto". Quando não, se é "não e basta!", devia ser-lhe igual ao litro a história da embriologia e escachar mas é o estúpido texto, com o autor dele à volta, como devia ser.
Logo se verá no que ficamos, esperando - das convicções - saber quais são; que são em grande quantidade já sabemos.
Nota: é impossível não reparar que o Alonso estereotipou os títulos dos seus escritos, começando-os agora a todos por um "Re". Como ele fez isso, reservo-me o direito de, em qualquer ocasião, adoptar o "Do" para iniciar os meus títulos. Ficam ainda muitas notas musicais para a lolita, pelo que me parece tudo isto muito justo.
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