As trevas
Alonso: defendes, portanto, que "o lado que faz mais "barulho" é o que tem mais convicção". Concordarás, no entanto, que esse "barulho cheio de convicção" de que falas é um dos instrumentos clássicos da propaganda política. É assim como quem diz "quem faz mais barulho tem mais convicção, logo tem mais razão", a ver quantas alminhas se deixam enebriar pela verve abundantemente convicta.Também concordas que a direita, com o tempo, adoptou os tiques da esquerda tradicional. Está cada vez mais colectivista e cada vez mais se move de forma organizada e disciplinadora - o que é apenas um sintoma de que se sente a perder terreno. Mas não te desiludas, Alonso: isto são apenas conjunturas decorrentes da orfandade da direita portuguesa e da falta de rumo de quem ainda navega à vista. Um dia desses (ou um ano desses), há-de renascer (o que é bom).
Não preciso de te dizer, Alonso, que a tua convicção - respeitável - não é maior nem menor do que a dos que defendem a despenalização do aborto. Assim como não preciso de te lembrar que a propaganda mais "barulhenta" é usada, geralmente, por quem mais teme perder um sufrágio - o que não corresponde, necessariamente, a maior convicção.
O tema é muito forte e isto é importante? Inteiramente de acordo. Não explico porquê porque já expliquei isso aqui vezes sem conta. E acredito, no mínimo com a mesma convicção do que tu, que a lei actual permite que sucedam indignidades intoleráveis. E que deve, como vai, ser alterada - aqui tens a minha convicção.
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