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27.10.06

Não ir a jogo

Ela falava, malignamente, às facadas curtas; ele só escutava.

"- Já cá está outra vez, o meu pai. Pois é! Vem na mesma! Ou pior! Já cá está! Deu-lhe alta e já cá está!
- ...

- Pois é, já cá está outra vez! Igual ou pior. Ou pior! Deu-lhe alta! É no que dá!...
- ...


- Deu-lhe alta! É claro! Já cá está. Outra vez!"
-...


Por ter assistido e me parecer que mo pedia com os olhos, aconselhei o meu amigo a que nunca mais lhe desse alta, ao velho doente. Que lha não desse, mesmo, nunca mais. Que o deixasse viver no hospital até morrer.
Mas ele, sabendo-se encurralado, como sabemos estar sempre, sobretudo se soubermos ver gradeamentos, só sorriu. Com a mesma expressão estranha e naquele silêncio acabrunhado que mantivera durante todo o monólogo crispado e gordo da mulher de olhos malignos, acusadores e gordos, sumidos na gordura inteira da sua cara gorda, sorriu apenas. Eu percebi-o bem:

"- Pois é, morreu! Já lá está! Claro, estava no hospital e morreu! Lá está! Já lá está! É no que dá!..."

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