Fazer amor é melhor, porque se sua menos. É isso?
Parece-me denotar deformado espírito científico andar a discutir, sobre o aborto, aquilo das semanas "até quando pode ser".A embriologia tende, assim, a ser uma espécie de cúmplice da procriação (em lugar de ser uma avaliação científica do que se passa após o encontro singelo e antigo como o mundo - excepto naquele período curtíssimo em que Eva e Adão foram criados por punheta santa, essa criação que envolvia costeletas e frutinha - dum "cabeçudinho" com um óvulo receptivo).
Pasma-me que a embriologia entre pelos rumos determinantes da obstetrícia. Ou seja, quando envereda pela escala das semanas, a embriologia já se começa a parecer com uma parteira. Quando permite que a usem como métrica (semanal) da legitimação - ou não - dum direito de quem - mesmo que seja a maior meretriz que connosco partilha a atmosfera mais rasteira, e é só essa que respiramos, nunca se esqueçam deste detalhe, verdadeiro como punhos, da atmosfera que nos compete - não quer parir, a embriologia parece que já começa a gritar alto "puxa, filha!".
E ao berrar assim, a embriologia torna-se magistrada ridícula desta discussão pidesca, que começa sempre por humilhar a mulher que não quer parir, perguntando-lhe - mesmo que não seja preciso perguntar-lhe, que isso pode saber-se, mas saber sem perguntar é melhor? - "então, e quando foi a foda?". A obstetrícia já o faz, mas santamente, à mulher que quer.
Só falta que, à mulher que não quer ter um filho, se aplique o tratamento reservado pelas parteiras mais sacanas - e mais maltratadas pela vida - às parturientes que preferem parir sofrendo, ou a quem, sobre essa questão do sofrimento, não lhes foi oferecida alternativa: "Quando estavas a dá-la não ganiste tu tanto!".
Isto só quem não sabe nada de embriologia como ciência amoral, que deve sê-lo, como toda a ciência pura, de foder - e isto já é com quase toda a gente - ou de parir - e, disto, só sabem as mulheres, pelo menos para já -: ganem muito, sempre, ganimos sempre muito, quer quando estamos a fazer, quer quando estamos a pagar - voluntária ou obrigadamente - por termos feito.
Pode ser é mais alto ou mais baixinho, mas ganimos sempre. Nem que seja só um bocadinho.
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