Olha o sol, Alonso, enquanto o há
A que propósito iria eu gastar espaço precioso deste blogue modesto - e dispendioso na sua modéstia - com fotografias "cartoonadas" de um desempregado do jornalismo (escrevinhar críticas de cinema, agora, já é trabalho?), da política activa (isto da dedicação aos bastidores, se é que o vício disso lhe não passou ainda, faz-me associá-lo, sempre, a senhoras a bordar, vestidos longos) e da vida quase inteira?Não. O blogue não se compadece com estas miudezas. Muito menos com irritações. Eu sou um tipo calmo, Alonso. E tu bem sabes.
Além disso, repara: o Portas diz que escolheu sete factos de qualidade variável.
Eu, se não me quantificarem os conceitos, as garrafas de Porto, os anzóis, os cigarros que fumo, os pensamentos niilistas, seja o que for, não vou lá contá-los. Juro que não vou. Mas, se mos quantificam, vou imediatamente lá conferir. Eu, que nem as contas de restaurante confiro, a menos que embirre com a fuça e o comportamento do criado, vou logo lá. Podes chamar a isto um pedregulho anancástico no meu sapato, claro que podes, mas quem começou por contar foi ele, o Portas-Blitz-Whatever; e tu, que o citaste em seis lugares comuns e numa súmula deles, como se fossem sete lugares-comuns um bocadinho geniais: eu só conferi os números, a genialidade nunca confiro -não a sei, como conferi-la?
E, conferindo, contam-se lá, não sete, mas apenas seis factos de qualidade invariável. Sendo que aquilo que ele considera o sétimo, aquilo de "a diferença não se pode expor", não é sétimo facto em texto nenhum que tenha tino, nem em cabeça nenhuma que tino tenha. Se ele pensasse mais antes de publicar, veria que referiu apenas seis factos, os seis primeiros, e um denominador comum a todos eles. A esse denominador comum, o menino chama sétimo. Paciência. É comum na meninada.
Eu não me importo que um tipo assim escreva sobre cinema, porque sempre vi os fimes que quis (é verdade, isto) e nunca vi os que não quis, mesmo insistindo comigo dezoito vezes. Faltava só o Portas, agora, para me consolidar esta certeza.
A crítica de cinema é a arte de parasitar a arte. Como a crítica literária, em parte. E eu bem sei que não é sempre assim, mas gosto mais de livros e escritores, de filmes e de actores (e cineastas) que de críticos.
Bom. O que eu não quero é que um tipo que pensa conforme contabiliza, mal e levianamente, me governe.
Eu, de Portas, quero só que o "Sol" continue a dar-lhe a cheta para as nuances, de forma a mantê-lo alimentado e vestidinho, e tão longe de mim como o "Sol" há-de estar sempre.
O Sol já não, que gosto dele.
Devia, até, ser proibido a um jornal que nunca lerei, adoptar um astro que me faz tão bem - e que me lê sempre - como nome. Desilude e não bronzeia.
<< Home