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16.10.06

Cu à parede!

Um tipo qualquer encontrou outro e disse-lhe:
- Ah! Andam aí a fazer chacota por eu ter dito isto assim-assim.
O outro respondeu-lhe, enquanto enviava uma SMS a uma conhecida que já se fartara dele e não lhe atendia o telemóvel:
- Antes isso que responderem-te à letra.
- Estás parvo?
- Não. Tu faz de conta que eras um que escreve frases de pompa, ou mesmo outro que agora já também: as pessoas podiam dizer coisas giras a respeito do que eles escrevem.
- Bom, mas então...
- Então, bastava alguém vir aí propor que a frase "a escravatura foi boa para os negros, do ponto de vista económico" é semelhante, no seu valor absoluto, à frase "a prostituição é vantajosa para a tua filha, do ponto de vista económico..."
- Cala-te!
- OK, obrigado. Ou ainda, no caso do outro...
- Cala-te! Tu cala-te!
- Obrigado. Mas era aquilo de imaginar assim, mais ou menos, "que uma tribo de negros dada ao liberalismo decidia raptar o J., um gajo qualquer, um J. qualquer, e fazê-lo sodomizar, ao lusco-fusco, todos os dias, pelos mais potentes membros da tribo, contra uma cubata, cobrando bilhetes às tribos vizinhas para assitirem à função". Tu segues-me?
- Hum, não sei.
- És burro. Bom, aquilo ia dando lucro. Depois, as outras tribos, fartas de pagarem bilhetes para verem sempre o mesmo J. a ser sodomizado, às tantas já gemebundo de lascívia, decidiam raptar o resto da malta amiga do J. Para lhes fazerem o mesmo, cada tribo sua atracção, seu artista. Iniciava-se ali, de forma primordial, uma espécie de mercado liberal competitivo, que desenvolveria a economia de cada uma das tribos, pelo menos enquanto durasse o cu de J., os cus do resto da malta, e o interesse em ver aquela merda a pagar. Depois mudavam de ramo, ou mudavam de liberais: um "refreshing".
- E o J., e a malta dele, eram obrigados a deixarem fazer aquilo? Eram escravos? Nem eram pretos! E a polícia?
- Bom, um liberal pode fazer o que quiser. Os pretos eram - suponhamos - liberais, o J. e a malta também são, falta-lhes o quê, ali, para estar tudo certo?
- Vaselina?
- Sim, isso também. E a polícia, tu viste bem a coisa. A polícia serviria para eles se queixarem aos gritinhos. Mas a questão é que não haveria uma polícia, haveria várias. Cada tribo teria a sua polícia, os seus capangas. O J. e a malta dele também tinham a sua, evidentemente, ou as suas, cada um a sua, o que lhes iria mais aos intestinais liberalismos, ou assim achavam eles, mas as tribos de negros parece que tinham comprado a polícia de J. e subornado os capangas da malta amiga dele, de maneira que os gritinhos de toda aquela malta, sobretudo depois das orações matutinas a Santo Darwin, por vezes, já não faziam senão eco. Na manhã e no dia inteiro.
Donde se depreende que o mercado pode ser fodido, da mesma forma que o pode ser o nosso cu, se a gente o não encostar à parede em lugar de andar aí com ele a dar-a-dar enquanto emite frases parvas.

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