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15.10.06

Os melhores, a nata, o coiso!

Já me disseram que se fez o mesmo, com grande sucesso, noutros países. "No estrangeiro". Isso provoca-me efeito nulo, respira-se de igual forma em qualquer lugar e não me impressiona mais o que me é alheio do que o que toco. Nunca fui assim.
A verdade é que não faz sentido nenhum eleger "o melhor português".

O melhor português é o que mais comove? O que mais fez por si? Ou pelos outros? E a que horas, isso?
É o mais belo, é o mais forte? É o que das fraquezas fez mais forças? O que, sendo feio, seduziu? Ou o mais amável e mais terno? O menos fraterno, se for terno? O que mais emocionou? O que mais se emocionou? O mais discreto, o mais sossegado, o que mais sossegadamente sossegou? O mais corajoso, que fugiu sempre como se avançasse? O que recuou prudentemente, salvando-se do tempo e resgatando-se na fuga? O que deu a cara? O que deu o que tinha? O que não deu nada, porque nada tinha? O que saltou mais alto, o que mergulhou mais fundo, o que correu mais velozmente, a acercar-se ou a fugir? O mais lúcido, o mais intempestivo? O bárbaro que se amaciou? O cordeiro que agrediu, cheio da sua razão feita de coices, o rebanho?

Como se faz isto de escolher sem um critério, ou um conjunto deles? E mesmo assim, criteriosamente, como se compara o incomparável?

A questão não é, sequer, discutir se lá deve estar Salazar. Ou se Joaquim Agostinho faz lá falta. Se formos por aí, faz. Na mesma.
A questão, a vergonhosa questão, é esta escolha que se propõe, este sufrágio sobre pessoas diferentes, de tempos diversos, umas mortas, outras a caminho dos torrões, como se houvesse um denominador comum a todas elas sem ser a finitude, uma qualquer miserável razão de ponderação que não existe, nem nunca poderá existir, fora da subjectividade magoada de cada um de nós, uma coisa qualquer fora do tempo e acima da razão, uma coisa qualquer absolutamente absoluta que permitisse escolha assim e que ela se pudesse fazer, ainda por cima, valha-nos Deus, com votações.

As votações, meu Deus, Tu que nos vales, que coisa parva e hedionda. Não Te parece? Que coisa tonta de jurados. "Nós, estes doze ou estes quinhentos e dezassete mil imbecis, achamos isto assim-assim: é a nossa opinião; e faça-se." Isto dito com cara de quem comunga por um porta-voz, que é uma espécie de megafone dos intestinos colectivos.

Não digo mais nada, isto é estúpido como ideia e como tema de discussão.

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