blog caliente.

24.5.08

metoclopramida

A sintonia entre Ferreira Leite e Passos Coelho é emetizante.
Faz náuseas.
Refiro-me a isto. Há ali frases que chocam qualquer sensibilidade mediana. Sentenças que, resumidas, dão nesta poia mental: um SNS de qualidade, sim, mas para pobres. Como se o mundo não estivesse já suficientemente cheio dos maus resultados desta "ideologia" desagregadora.
Isto que eles dizem, ali pelo meio, é desonesto do ponto de vista intelectual, leviano do ponto de vista político e, acima de tudo, é nojento. De todos os pontos de vista.

De Santana Lopes não seria de esperar nada de diferente do que também ali vem, mais para o fim: "um nim relativamente adversativo, um todavia, contudo".

20.5.08

Feitios

O Porto tem lá um jogador que se chama Fucile (diz-se mesmo Futchile?, é que não sei mesmo, se é assim que se diz, é, mas soa mais a calabrês) e que tem cara de burro, e que devia levar quatro murros nas ventas por ter assoado o Moutinho. Estive a rever as imagens e o patarata devia mesmo ser seviciado pela frontaria abaixo. O pelém.
Já aquele defesa alternativo, o João Paulo, está perdoado. Entrou com os pés juntos e para aleijar, não tendo conseguido o objectivo, o jogador do Sporting. Aquela entrada foi muito pior que uma que o Peixe protagoizou sobre o Semedo, há década e meia, noutro Porto-Sporting, em que parecia que o Peixe estava a "sacudir um tapete", sendo o Semedo a tapeçaria. Mas o Fernando Rio, que é uma pessoa que percebe de bola (remeto-vos para o "A bola é redonda", no Porto Canal", que é um programa de conversa da bola sem igual, actualmente, isto para o bem e para o mal, até tem lá um benfiquista chamado Raul Lopes que é interessantíssimo e que dispõe bem, tanto lhe faz ficar em 4º como em 2º, é tudo mau, e afirma solenemente que o Porto e o Sporting são equipas irrelevantes, e eu rio-me, tem piada mesmo, futebol discute-se como?, acho que é assim, no café), atravessa-se a discorrer que, como o Moutinho não ficou estropiado após aquela varredela do ex-leiriense, o cartão vermelho é duvidoso, e tal. E até se atreve a achar que uma cacetadazita do Grimi no Quaresma, uma coisa de nada, um mero "chega-te pra lá, cigano" é igual ao litro.
Alguns portistas são mesmo assim: "se o adversário sobreviver depois de cacetada, é bola ao solo; se der entrada nos Cuidados Intensivos com prognóstico reservado, foi pouca sorte e aceitamos um livre; indirecto; se fenecer, aceitamos um amarelo".
Uma coisa é certa: um portista nunca perde. Um portista perde, "mas!".
São feitios.
Mas perdem mesmo. E bem.

18.5.08

Foi justo e estou um bocadinho feliz (*)

Ganhou-se bem.
É normal.
Este ano ficou 3-1 em jogos e 5-1 em golos. Ganhámos nós.
Já foi pior.
Se foi.
Já perdemos as vezes suficientes para sabermos que ganharmos hoje é apenas isso.
Mas, também, não é menos que isso.
O Porto lida melhor com Leirias, Benficas, Setúbais e Guimarães, vai-os limpando a eito.
Lida-os melhor que nós.
Nós, contudo, lidamos melhor com eles. Com o Porto.
Temo-los lidado.
É normal.
Eles também nos lidaram, já. Bastantes vezes.
Mas, este ano, não.
Este ano lidámo-los nós.
Coisas particulares.
Tem de haver coisas particulares para haver coisas públicas.

Por conseguinte, "vai buscar!".




(*) Revisto em baixa.

Caneco!

Embora isto possa despertar sonoras gargalhadas e algum meteorismo sonoro a quem calhar ler-me, eu também tenho opinião sobre Sócrates e sobre acordos, mesmo ortográficos. Mas agora não posso.
Interessa-me agora a Taça.
Paulo Bento: desta vez é, na mesma, contigo. Contudo, desta vez, deixo o telemóvel ligado, para o caso de te dar o medo. Se precisares, liga. Cheira-me que não vais precisar, mas vê lá isso.

Desconfio seriamente de que nunca conseguirei escrever "ótimo"

Não gosto do acordo ortográfico. Custar-me-á muito (se é que algum dia conseguirei) habituar-me a omitir as consoantes mudas ou os aportuguesamentos semânticos. Isto explica-se por razões evidentes; pressente-se sempre, em grau variável, uma qualquer ilegitimidade deontológica nas inovações legislativas, se forem decretadas em patente ruptura com hábitos vigentes. Mas não partilho das histerias panfletárias que se têm desenvolvido em torno da ideia de golpe de estado que este acordo representa para o património linguístico nacional. No entanto, de um ponto de vista estritamente lusitano e pondo de parte esses exageros, o acordo ortográfico fulaniza o nosso português e fere-nos no nosso subconsciente pós-colonial. É isso, sobretudo, que nos custa.
Percebo o acordo, como instrumento político. Ouvi esta semana o VPV a lembrar que a diáspora inglesa nunca precisou de impor qualquer acordo para que a ortografia do inglês se mantivesse uniforme. Claro. Basta observar a história dos últimos quatro séculos para perceber o impacto linguístico que a hegemonia cultural e económica anglo-americana impôs ao mundo. De facto, só se pressente uma qualquer necessidade de acordar grafias quando falham todos os outros recursos, recorrendo-se, assim, a aproximações semânticas para fortalecer comunidades dispersas (e economicamente inexpressivas, à escala global). Este desígnio, só por si, justifica imposições ortográficas. Perde-se em diversidade e ganha-se em coesão, que evoluirá em função da oralidade, mas desejavelmente sem nunca perdermos de vista os nossos patrimónios.

14.5.08

Leis divinas

O modelo de sociedade asséptica e das restrições em nome do supremo bem comum ilustrou-se bem hoje com aquele episódio patético da confissão do pecadilho cometido pelo primeiro ministro, seguida da competente contrição. O tema teve direito a abertura nos telejornais e deu origem a uma acesa polémica, amplamente condenatória de um acto proibido por lei (o itálico é importante), não só por todo o espectro partidário como das associações e causas empenhadas na luta (também em itálico, que também é importante) anti-tabágica, todos em uníssono pedindo a cabeça do Sócrates. Quando as sociedades europeias se regiam por modelos de convivência social menos desviantes, os assuntos de topo da agenda política eram coisas como o aumento dos cereais ou do petróleo, as listas de espera nos hospitais ou o debate sobre o estatuto do aluno no sistema educativo. Isto, no meio de outras minudências como sejam as infinitamente pueris considerações do ex-ministro Mira Amaral sobre a autoridade do "cantor pop" Bob Geldof acerca dos governantes angolanos. O que se passou hoje, passando adiante a dimensão burlesca das desculpas do primeiro ministro (e que, no caso dele, deve tratar-se de uma verdadeira vocação) foi uma espécie de encenação de má-fé recíproca: uns acusam, o acusado confessa o pecado, mas, na verdade, toda a gente se está nas tintas para o tema, excepto num detalhe - é proibido, por lei. Não esqueçamos: trata-se de um cigarro fumado dentro de um avião, a caminho de um país governado por um tiranete poderoso, que se fosse português seria comparável a um Ferreira Torres no perfil moral e a um Valentim Loureiro na boçalidade. Ou vice-versa. Talvez um dia eu me convença de que tudo isto, todo este show colectivo sobre "o dia em que o primeiro ministro fumou um cigarro dentro de um avião" seja fruto de profunda convicção, de crença, de uma pós-teologia de massas que, como todas as teologias, nos inculca pecados originais e respectivos desdobramentos, caso em que Saramago poderá, eventualmente, ter acertado (sem querer) ao dizer que presenciamos um qualquer apocalipse e provando-se então, de vez, que os mitos são mesmo produtos humanos - e que, na pós-modernidade, dispensam qualquer ética e qualquer estética.

11.5.08

Paulo Bento:

Demito-me. Hoje é contigo. A ver, então.

Já é tarde

Não acredito que haja um único sportinguista que condene a atitude do Porto, veiculada por Pinto da Costa: o Porto não recorre, recorro apenas eu.

O Dr. Rui Moreira, outros portistas inteligentes, muitos benfiquistas que há, podem manter acesa a tese do "recurso, porque, se não devemos, não tememos".

Que nenhum sportinguista se atreva, durante a minha gestão do Sporting (acaba amanhã, assinei por três jogos, leiam mais abaixo se quiserem, fui contratado para a dificílima empresa de ganhar ao Marèitmã, ao Paços de Ferreira e ao Boavista), a comentar de esguelha esta decisão do Porto. No fundo, o que quero dizer, é que será fuzilado - ou morto a murros - qualquer sportinguista que venha ganir que "pois, já se sabia, não recorrem para não começarem o próximo campeonato com menos seis pontos".
Por vários motivos.

Vou dizer os que me apetecerem.
1 - Porque o Porto tem sido quase sempre, desde há 30 anos, a melhor equipa que aqui há e, mesmo que tenha havido marosca pontual, nada invalida o que eu disse.
2 - Porque acredito que, quando o Sporting foi campeão, em 2000 e em 2002, também foi a melhor equipa nessas duas alturas e, portanto, não me sujem isto.
3 - Porque me aborrecem sportinguistas que não percebem que, no fundo, não passam de inspectores retrospectivos. Ou o caralho, agora não me sai o termo que queria.

Não vale a pena lerem isto, eu amanhã apago, às tantas. Mas só depois de fazermos o que temos de fazer no jogo com o Boavista.
Paulo Bento, eu amanhã falo contigo, não penses mais nisso.

7.5.08

Fica dito (*)

Vamos ver se nos entendemos: eu sei alguma coisa de pensamentos, pecados, actos e omissões.
Sei de pensamentos que desencadeiam acção, de acções que são pecado, de pecados pensados mas omitidos e, mesmo, de omissões activas que não se pensam. Pensem os senhores no resto, que há aqui muitas mais variações desta matriz "de quatro".

O Zé, que tem doença má no fígado e nos ossos - e que nela se consumiu muito depressa -, anda agora enredado nas percentagens de sucesso e de fracasso a que, regras da qualidade americana, o seu "consentimento informado e expresso com detalhe" nos obriga. A ambos.
Se acho isto mal? Não. Nem bem.
Nem bem, nem mal: é, simplesmente, agora, a regra. Um desgraçado que, de palavras e probabilidade estatística pouco sabe - mas sabe assinar o nome! - , doente e fraco, ali, a decidir de si, quando a questão assume já contornos carregados de "risco-benefício", numa espécie quase sádica de exercício de papel que se assina, já com a alma a morrer também, sobre a esperança de morte, uma "janela de inoportunidade transformada em exemplo de civilização".
Cumpra-se a regra: a regra é, andam a ensinar-nos em múltiplos papeis - paridos às resmas - a basezinha sólida da "qualidade". Em breve, cada pessoa terá de contratar, além de sopeira em "full-time", mordomo especializado em leitura e interpretação de "normas e procedimentos". E, quem sabe, adquirir serviços de americano adjacente, para não haver mais trevas nem entraves no processo de "normalização".
Isto não tem interesse nenhum para mais ninguém, só para o Zé e para mim. Escrevi isto há uns dias, depois pus no "rascunho", hoje reli e fica, de vez, ao léu.
E acrescento, mesmo que haja quem me leia só para depois me acusar de retrógrado, inadaptado ou imbecil: não, não concordo - acho-as uma humilhação, até - com "acreditações de qualidade" fornecidas por empresas de países que são menos civilizados do que o meu, como é o caso dos EUA.
(*) suprimi algumas interjeições

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