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18.5.08

Desconfio seriamente de que nunca conseguirei escrever "ótimo"

Não gosto do acordo ortográfico. Custar-me-á muito (se é que algum dia conseguirei) habituar-me a omitir as consoantes mudas ou os aportuguesamentos semânticos. Isto explica-se por razões evidentes; pressente-se sempre, em grau variável, uma qualquer ilegitimidade deontológica nas inovações legislativas, se forem decretadas em patente ruptura com hábitos vigentes. Mas não partilho das histerias panfletárias que se têm desenvolvido em torno da ideia de golpe de estado que este acordo representa para o património linguístico nacional. No entanto, de um ponto de vista estritamente lusitano e pondo de parte esses exageros, o acordo ortográfico fulaniza o nosso português e fere-nos no nosso subconsciente pós-colonial. É isso, sobretudo, que nos custa.
Percebo o acordo, como instrumento político. Ouvi esta semana o VPV a lembrar que a diáspora inglesa nunca precisou de impor qualquer acordo para que a ortografia do inglês se mantivesse uniforme. Claro. Basta observar a história dos últimos quatro séculos para perceber o impacto linguístico que a hegemonia cultural e económica anglo-americana impôs ao mundo. De facto, só se pressente uma qualquer necessidade de acordar grafias quando falham todos os outros recursos, recorrendo-se, assim, a aproximações semânticas para fortalecer comunidades dispersas (e economicamente inexpressivas, à escala global). Este desígnio, só por si, justifica imposições ortográficas. Perde-se em diversidade e ganha-se em coesão, que evoluirá em função da oralidade, mas desejavelmente sem nunca perdermos de vista os nossos patrimónios.

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