blog caliente.

30.6.07

Esguichos de besugo

- Toninho, tu és muito parvo.
- Repete isso.
- Toninho: és muito parvo, tu. Muito parvo, mesmo. Queres porrada?
- OK, repetiste. Não, não quero isso. Isso é selvagem. Mas a tua mamã vai ser expulsa do prédio e vai ser já, nem esperamos pela próxima reunião de condóminos.
- Mas eu é que disse que tu és totó, Toninho! Dá-me um soco na cara que levas dois, anda! Resolve isto comigo, Toninho!
- A tua mamã vai fora, já disse! Segurançaaaaaa!!!!????

A ver se temos de nos arreliar, vá...

Ignoro se faço parte da blogosfera. Mas sei que escrevo aqui coisas, neste blogue. Geralmente escrevo o que me apetece.
Por outro lado, gosto de códigos. Do penal nem se fala. O código penal é onde estão os pecados que dão cadeia ou coima, gosto.
Ainda bem que há pessoas que nos lembram certas coisas.

Vou tentar dizer uma coisa dentro do género, para ver se me sinto melhor.
Ora então:

Há quem esqueça que, se não se portar bem, mas mesmo bem, pode (e deve) ser castigado. Quem se portar mal, tanto faz que seja na rua como no quintal, pode sempre levar merecida porrada.
Dizer que o Toninho é parvo, por exemplo, mesmo que o Toninho seja mesmo muito parvo, não é menos punível se for dito alto, diante do Toninho, do que se for rabiscado numa árvore do quintal, ou segredado num café, desde que o parvo do Toninho se chateie e accione os mecanismos de segregação punitiva. Não. Desenganem-se. Tudo pode ser considerado crime de injúria, difamação, calúnia, devassa da vida privada. Por isso calem-se.

Sinto-me melhor.

29.6.07

Têm, sim, têm um cada

A licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso foi nomeada directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, pelo senhor ministro Correia de Campos, por motivos que hão-de estar relacionados com a sua capacidade para exercer o cargo. A não ser assim, seria estranho.
A recente exoneração da licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso deve-se, declarou um senhor assessor do mandante da exoneração (que é o mandante da nomeação, isto é muito curioso) ao facto de, no Centro de Saúde de Vieira do Minho, ter sido colocado "um cartaz que utilizava declarações do Ministro da Saúde em termos jocosos, procurando atingi-lo".
Ignoremos o teor do comunicado, mesmo percebendo nele que o senhor ministro da saúde produziu mesmo as ditas declarações, posteriormente gozadas em cartaz afixado por pessoa incerta. Não podemos é ignorar que a licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso, conforme é reconhecido, não escreveu o cartaz, não promoveu a sua colocação, nada tendo, por conseguinte que ver com aquilo.
Ou seja: a senhora foi exonerada - rezam o senhor assessor e o despacho - ao abrigo do dever de lealdade que, pressupõe-se, é uma espécie de empírico código de conduta que reza assim: "quando eu te nomear seja para o que for, é porque és competente para o que te nomeio, nem sequer admito dúvidas; no entanto, se eu disser coisas que façam alguém gozar comigo, saltas logo borda fora, a menos que entendas que na tua competência está incluído o dever de policiar, denunciar, julgar e executar quem me afronte jocosamente".

O dever de lealdade é uma coisa que pressupõe carácter. Não vamos às promessas eleitorais, mas podíamos ir, por exemplo: "Então disseste tal e tal e agora tungas? Isso não é leal, pá!". E o gajo: "Ah, pois, está bem, mas isso são rosas, senhor, rosas, são rosinhas!".
Eu, lá está, penso que o senhor primeiro-ministro não deve demitir-se, nem deve ser exonerado, porque - lá está outra vez - tem carácter. Tem o seu carácter.
Do senhor ministro da saúde não falo, evidentemente, era o que faltava, mas também não me restam dúvidas de que tem o seu.

28.6.07

de códigos e adjectivos

É interessante, esta discussão. E velha, esta querela. O direito do trabalho regula uma relação desigual, e portanto é um direito "orientado" para uma das partes (supostamente a mais frágil) do contrato que lhe deu origem. Resta saber quanto.

Sobretudo num contexto em que já não há verdadeiramente patrões, a não ser nas micro-empresas, em que normalmente os "patrões" até são normalmente - também - trabalhadores das mesmas. (nos cafés de bairro, nas oficinas de reparação automóvel, nos barbeiros e cabeleireiros, no pequeno comércio em geral).

Nas grandes empresas, repito, já não há patrões. Há "gestores" do dinheiro não se sabe de quem. Mas não deles. Gestores esses normalmente de curta duração nos cargos.

No Estado, proliferam tb os gestores. A diferença está só em que, normalmente, são incompetentes.

Assim, hoje em dia já vai sendo difícil colocar em alguém o rótulo de "patrão". E a subsistência do emprego depende cada vez mais de decisões que escapam absolutamente a essa lógica dicotómica (da relação patrão-trabalhador). Decisões de "investir e desinvestir".

Nesta matéria, e porque os grandes empregadores são normalmente empresas multinacionais, o nosso Dto. Trabalho é um convite ao "desinvestimento". Da minha experiência pessoal, já assisti a vários processos desses. Que se resolvem pela resposta obtida às seguintes perguntas:

- Que produtividade tenho eu aqui?
- Que produtividade tenho eu em Espanha/Irlanda/Inglaterra (é só escolher)?
- Quanto custa fechar a fábrica cá?
- Quanto custa abrir lá? Ou aumentar a produção lá?
- Quanto tempo preciso para recuperar estes custos?

Se valer a pena, fecha-se cá e pronto. Cumprindo com rigor as nossas normas, pagando as indemnizações legais e ... indo embora.

Aos patrões ainda podíamos chamar nomes. Tinham cara, voz, vida, família. Ao capital, na sua forma mais pura, não. E o capital não tem nem moral, nem remorsos. Só sabe de matemática. E as decisões que toma têm por única base a lógica.

Se calhar, é assim que tem que ser. Ou não ...

É como explicar a piada de uma anedota, mas é só mais isto.

Sábia e pensada glosa sobre um adjectivo de simbolismo evidente em contexto de pirueta estratégica. Aqui.

Precisamente

Quem nada faz por si próprio não é um relapso, a não ser nesse facto de nada fazer por si próprio. Consta, mesmo, que Cristo foi assim. Entre outros relapsos desses, que os há.

Não são relapsos. São o que são.

Ser relapso é, apenas, cometer o mesmo lapso mais do que uma vez, à luz grotesca da gramática simples. Ao segundo lapso, é-se logo relapso. Isso de ser relapso depende sempre de quem "lapsa" (está fodido, muitas vezes está fodido ao primeiro lapso, depende de muitas coisas e da sorte, e a sorte é uma coisa, também), de quem julga o lapso (está, geralmente, sentado em cima dum pequeno martelinho julgador, que faz muitas cócegas na anilha, no lapso, ou seja no "brown gap") e da melancolia de toda a gente.
Não é que a melancolia leve ao lapso, nem sequer ao julgamento do lapso, mas o lapso, mesmo repetido, é só o que é: triste e chato e, mesmo, chato e triste. Evitável? Sim, tudo é evitável, conheço mesmo um homem que evitava comer e uma mulher que se evitava.

Quanto às relações de trabalho, elas são, de facto, simples: "eu preciso de ti, tu de mim, tu mandas, eu não, somos iguais, portanto, na minha precisão de broa e na tua de motores potentes, somos iguais em precisões diversas, não me podes substituir nem despedir assim, logo agora que descobrimos que somos iguais, não nas precisões, eu sei, mas no precisarmos".

Mas eu disse isto.

Relapso é, antes de mais, quem nada faz por si próprio. Auto-define-se.

O resto - fazer pelos outros ou por quem lhe paga - vem por acréscimo, inerente ao auto-desenvolvimento. Ñão exige mais esforço do que isso.

Não há, nisto, nem ideologia nem processos malévolos, besugo. Trata-se de simples reciprocidade.

Eu, isto, disse.

Os relapsos e os acomodados não merecem nada.
São relapsos e acomodados por definição de quem? De quem lhes paga?
Então, sem dúvida nenhuma, são. E serão, sempre que for útil que sejam.
Vai ser um excelente código.
Era o que eu dizia.

27.6.07

Marx no pós-modernismo

Não vejo muito bem que espécie de protecção no trabalho merecem os relapsos e os acomodados. Ou aqueles que acreditam que antiguidade não só é posto como estatuto inviolável, sempre que antiguidade significa mergulhar num processo de fossilização ad eternum (ou ad reformum) sem nada acrescentarem ao que sabiam no primeiro dia em que se apoderaram do do posto. Nunca percebi muito bem que tanta gente aparente estar pendurada no emprego, como se um emprego que lhes toma metade da vida activa fosse um mero resíduo das suas vidas, sem dele tirar partido para se construirem e para se reconhecerem. Reconheço e valorizo o mérito de quem teve a ambição de organizar meios para gerar riqueza, justapondo os próprios tostões na ordem certa para conseguir a alquimia de tranformar os tostões em milhões, dos quais paga a quem lhe vende a força de trabalho.

Há muito menos ideologia do que se pensa nas relações de trabalho. É quase tudo redutível a ideias simples, banais e dicotómicas: ambição/acomodação, temerosidade/conservadorismo, empenho/desinvestimento. Há, de entre trabalhadores e empresários, pessoas com qualquer uma destas características.

Deixemo-nos, pois, de causas absurdas, de protecções exorbitantes. Os empenhados nunca serão tramados, sejam eles os detentores do capital ou meros meios de produção. E penalizem-se os parasitas, estejam eles onde estiverem (sendo interessante notar que esses, em geral, se dedicam à política).

Coisas que eu não disse. Li isto.

Penso que deve haver um novo código do trabalho.
Um que dissipe todas as dúvidas.
Um que demonstre aquilo que é a verdade mais có(s)mica de todas as verdades baseadas na astronomia de quintal: manda quem paga, porque tem para pagar, e obedece quem recebe, obedientemente, porque não tem senão bolsos e tubos digestivos.

É. Tem de haver um código novo. Não são precisas férias. Quem diz vinte e três dias, diz dezoito horas. Se não houver férias, aliás, deixa de ser necessário um subsídio de férias. Acabem-se os subsídios. O de Natal também. "É Natal todos os dias, não é, Arménio? Lá está..."
Outra ideia: decomponha-se o ordenado. "Arménio, passas a ganhar o mesmo, trezentos contos, mas agora ganhas só cinquenta, mais o resto, mas o resto passam a ser remunerações acessórias. Entendes? Recebes, para já, ainda os tais trezentos. Mas cinquenta é, de facto, o que tu ganhas. Ou cem, vou pensar ainda. Se vais receber ainda trezentos? Sim, sossega. Que vontade de me rir de ti, Arménio! Sim, vais! Mas eu tratarei já do resto. Em pouco tempo, vais ver que receberás mesmo só os cinquenta. Ou os cem, sim, que eu vou pensar".
É mesmo preciso um novo código. Os patrões andam arreliados. Andam sempre. Os patrões, públicos ou privados, andam sempre chateados com as tropas. Diz-se a um gajo ou a uma gaja, ou a uma cáfila deles "agora mandas tu, tu é que tens o graveto, ora manda lá!", e o gajo ou a gaja (ou a cáfila) fazem logo cara de quem está a ser encabado(a) sem vaselina. E desatam a gemer.

É preciso um código que mande foder, de vez, o verbo ser. "Tu és o quê, Arménio? Hem? Cala-te, Arménio!".
É preciso ver que, para um patrão, o código bom teria um único parágrafo: "Eu posso fazer o que Eu quiser, e quem não estiver bem com o que Eu quero, que se mude". Isto é assim.

Ter é, desde 1986, o único verbo. Nem sequer era assim em 1964. Estão admirados? Não era.
É só desde 1986, com agravamento em 1987 e, depois, agora, com este executor. Perdão, executivo. Perdão, execucu. Cucucucucu...
Eu não penso nada disto, eu li isto num almanaque. É sobre novidades.
"Ter", eis o único verbo. Ter-me, ter-te, terem-me, terem-te, terem-nos, terem-vos.

Ter colhões é, contudo, cíclico. Os meus netos, se Deus quiser, hão-de foder os vossos. Hão-de tê-los à mão e espremê-los melhor do que nós vos esprememos a vós, filhos da puta, sanguessugas. Ao menos, durante mais tempo.

25.6.07

Estilistas

A parte final, numa doença crónica, é a que custa mais. É a parte da desesperança, já não se pode mudar quase nada, resta-nos que nos saibam entorpecer bem os sentidos, que nos inclinem a rampa da consciência de maneira a derraparmos por ela abaixo.
Quer nos surja vestida de revolta, quer trajada de resignação, a parte final vem sempre nua. Sempre muito triste nos lençóis do fim, mas sempre nua.

Travesseiros duros

A primeira pedra nunca fomos nós que a atirámos. Ou, se fomos, das duas uma: ou já não nos lembramos de ter sido nós, ou, mesmo que nos lembremos, havemos de ter tido razão, que ninguém dorme bem se tiver ciência de não passar de catapulta nervosa e gratuita. E nós vamos dormindo, melhor ou pior.

23.6.07

Ponho um sinal e os Acores são a çores

No hóquei em patins andamos agora a discutir com a França quintos lugares. Não é mau.

Um dos meus irmãos, que é delegado de informação médica e vive bastante bem a vida dele - aliás, sempre que me encontra no hospital e me vê angustiado com uma coisa qualquer, não resiste a lançar-me um "andas cansado, é?, olha!, estudasses!" -, telefonou-me de manhã com uma duvida metódica. Queria saber como se chamava o guarda-redes de hóquei do Sporting, naquela altura em que a selecção nacional era o Sporting mais o Jorge Vicente. Era o Garrancho, o Júlio Rendeiro (não confundir com o José Júlio Couceiro), o Chana, o Livramento...
Era o Ramalhete, o guarda-redes. Que, aliás, era benfiquista. Dizem os benfiquistas. E ele, se calhar, mas na altura não se dava fé disso, andava caladinho, o cara de cu à paisana.

O hóquei é um desporto alternativo. Pratica-se em Portugal e em pequenas partes doutros países. No Brasil é algures no Maranhão, na Espanha é na Galiza e na Catalunha, em Itália parece que há um clube, que é o Novara, na Argentina parece que o River Plate tem uma secção de hóquei (mas também não consegue empandeirar o Toranzo, de maneira que não interessa), na Suíça há o Montreux (gosto mais do Neuchatel Xamax, mas não tem hóquei) e nos outros países não sei muito bem, acho que jogam hóquei os tipos que não servem para mais desporto nenhum.
A verdade é que só cá, na Lusitânia, o hóquei se constitui como desporto nacional. Caramba, eu dou o exemplo dos EUA: os tipos nem patinar sabem, quanto mais manejar um aléu!

Assim sendo, é perturbador que andemos agora a lerpar com suíços (que são muito parolos, acima de tudo são parolos, mesmo o Roger Federer, é preciso dizer isto, porque se o Federer não fosse um parolo não era suíço - e já tinha enfiado com dezoito tijolos raspados nas ventas do Nadal) e a discutir quintos lugares com franceses (que nem o marido da Ségolène sabe que há uma coisa chamada "ôquêsiurpatân").

Mas a melhor estória do hóquei nem é esta. Há muitas, há sempre muitas estórias sobre quase tudo, aliás o Batista-Bastos é o expoente máximo desta maximização do mínimo, há-as também do hóquei.
A melhor é esta. Um dia, vai para entrar o Picas a substituir o Leste (que também vegetou no Benfica antes de deixar a Luz para poder vê-la), e diz o relatador, cujo nome não recordo, que "vai entrar o Piças".

Isto prova à saciedade, à sociedade, à suciadade inteira, o seguinte: há quem escreva consoante fala, ou mais ou menos isso, mas também há quem fale consoante escreve - a culpa, mesmo fonética, é sempre do teclado.

22.6.07

Não é sobre o Derlei

Há bastantes Profetas no Antigo Testamento, mas os maiores - penso que isto é consensual, até porque consultei diversas fontes consensuais que estavam, neste aspecto, em consenso, o que prova que não são fontes do PP - são quatro.

E que quatro!

O Isaías (grande joga aquela, hem?, contra o Arsenal, no século vinte, e a merda dos 6-3, não foi, ó boi?), o Jeremias (jogou no Guimarães, no milénio passado, era mulato e o Porto quilo, qui-lo, ou não), o Ezequiel (este devo ser eu; podem, portanto, chamar-me Hector, desde que não seja Babenco) e o Daniel (este, espero sinceramente que não seja o Dani, aquele talento futebolístico que iniciou a carreira no Sporting, nos anos noventa, já um bocadinho em sobre-esforço, depois foi empandeirado para a erva do Ajax , daí para o West Ham, depois não sei, nem interessa, e acabou de gozar com as tropas no Benfica, tendo feito cerca de dezassete jogos completos na sua carreira).

Claro, depois há os menores.

Há o Oséias, que era um grandalhão que jogava no Cruzeiro de Belo Horizonte (eles dizem "Berzontxe"), o Joel, que era muito rápido (sobretudo no Marítimo, e é bom saber que isto lê-se "Marêitma"), o Amós (primo do Corentin Martins, se me não falha a memória, ou então cunhado do Cadorin, um belga que se queimou no Sporting, acidente doméstico), o Obadias (mais conhecido por Jorge Fernando, ou, mesmo, por Umbadá), o Jonas (um gajo que já foi à selecção de futebol de praia e que agora se atreve a jogar pelo Sporting e a deixar-nos lerpar contra o Porto e contra o Benfica em areais diversos, e que devia ser - a meu ver - obrigado a confraternizar sempre com o Filipe Gaidão), o grande Miquéias (tambem eu as micava, se tivesse menos cinco dioptrias em cada olho), o excelente Naum (que inspirou a Dora a expelir aquela brisa que foi o "Naum sejas mau pra minhe!", de minissaia e botas da tropa, canção do caralho, pedinchona, a mulher, o cúmulo do erotismo festivaleiro), o bisonho Habacuque (um egípcio do tempo do Abdel-Ghani, mas que não chegou a jogar no Beira-Mar, ao contrário do Eusébio, nem no Benfica, ao invés do Sabry - esse réptil), o melódico Sofonias (ponta de lança do Trabzonsport, médio do PAOK e defesa central do Genclerbirligi, isto tudo ao mesmo tempo, embora tenha nascido em Viena de Áustria, e aqui aproveito para afirmar que gosto de dizer Viena de Áustria, ao menos não se confunde com Viana do Castelo), o Ageu (esse Egeu mar escrito), o Zacarias (que passou ao lado duma grande carreira, apesar de o Porto se ter desfeito dele logo que pôde) e o Malaquias (que deve ser aquele repórter da TVI que profetizou que o guarda-redes da selecção de sub-21 de José Júlio Couceiro ia defender dois penalties no desempate contra a Itália).

Pronto.


(in "Colectânea de conhecimentos de besugo - um livro pequenino" - Edições Sancho Pança)

Sim, às tantas sou, também tenho visões e tal...

20.6.07

Ainda não estou em mim

És mesmo tu, Ezequiel?

Mais um candidato a grande português, dentro do género

A história épica de um português que se tornou emigrante e mártir. É certo que os italianos pagam muito bem, mas está-se mesmo a ver que, se comparada com a vontade e o fervor de servir o éssélebê, essa vantagem teve uma importância mínima na decisão.

Declaração de interesses: eu não costumo ler este tipo de publicações menos voltadas para a cultura e para os temas decisivos da política nacional (tipo Portela + 1, a pena de prisão desumana a que foi submetida Paris Hilton e as declarações de Manuel Monteiro sobre as empresas municipais, por esta ordem), mas vi isto na televisão e depois percebi que, além das televisões, só os jornais desportivos falam no comunicado hoje publicado pelo influente Rui Costa. O que, em termos de igualdade de tratamento, não me parece bem, se tivermos em conta que o Figo - outro grande português - tem direito a horário nobre na transmissão do jogo All Stars (mas também é preciso ver que ele é de abraço com o Eros Ramazzotti).

16.6.07

Grossuras

Não devia haver férias.
Devia haver "time-outs", mais "time-outs", os que fossem necessários. Férias não.
As férias são longas demais, curtas demais, cansativas demais e criam, ainda por cima, antes de acontecerem, expectativas demais.
As férias são uma espécie de intervalo dum jogo em que estamos a levar cinco a zero na peida e já nos enfiaram, ainda por cima, duas bolas nos postes: passamo-lo, ao intervalo do jogo, a cismar na merda que vai ser suportar a segunda parte, enquanto o "mister" tenta conservar o emprego gemendo "força, rapazes!, vamos a eles!". Fininho.

Segunda feira é já anteontem

O meu filho mais novo, que me sentiu apreensivo com o regresso às lides (sim, sou toiro de várias corridas, levam-me sempre de furgoneta para a campina, depois de me lidarem, e de furgoneta me devolvem à arena, com o mesmo despudor, há muitos anos), quis ensinar-me a jogar o "Football Manager". É um jogo que também dá aqui no meu computador, pelos vistos.

Consiste em ser-se treinador (ou melhor, manager, isto deve ser uma espécie de "responsável do hospital de dia", ou seja, um capataz) do Sporting. Ou duma equipa mais pequena.

Estive a jogar.
Vendi o Nani e comprei o Maldini. O Manchester queria emprestar-me o O'Shea, mas eu não quis. Queria o Solskjaer, ficaram de pensar.
Não consegui vender o Carlos Martins nem comprar o John Carew. Cinco clubes queriam o Farnerud e não consegui vendê-lo.
É um jogo de merda.

Jovens promessas

Joe Berardo.
Fixem este nome.
Um trinco do caralho.

Marés do monte

Já fui ganapo.
Agora já não sou.
Por exemplo, aquilo das ondas.
Primeiro, gostava de apanhar com ondas grandes pelo cerro abaixo, de ser derrubado por elas, de ser arrastado por elas, de me aleijar nas pedras do regresso.
Agora, já não gosto de me aleijar nas pedras do regresso. Qualquer dia já nem vou.

13.6.07

O defeso (e um pequeno conselho)

José Júlio Couceiro quase que não perdia com a Holanda, apesar de ter esquematizado aquilo tudo de maneira a lerpar.

Nota-se que o homem tem lá as ideias dele, isso é verdade. E parece que foi mal expulso, acho que sim, ele só disse "itsfòle", e o cara de feijão fradinho do húngaro que andava ali a saltitar fez queixa ao árbitro alemão, deve ter percebido "itsfocs", ou "itsocs", porque o Couceiro cicia um bocadinho, e o árbitro alemão (não sei se alguém reparou nestas duas coisas, uma que o Hugo Almeida parecia um ganapo ao pé do boche, e outra que o boche parecia uma ampliação do João Melo, aquele da Fúria do Açúcar, mas sem as lunetas), árbitro alemão esse que, aliás, devia ser colocado o mais depressa possível na Faixa de Gaza, com um letreiro nas unhas a dizer "ou parais já com isto, ou levais com esta bandeira de Israel pelos cornos abaixo!", ou outro slogan assim, o árbitro alemão, esse boi, expeliu-o do banco.

Ora, logo que lá ficou sozinho o Rui Caçador, a coisa mudou. Ou seja, as hipóteses de derrota diminuiram. Ou seja (eu gosto de dizer ou seja, parece que estou a explicar várias vezes, o que pode fazer pensar a pessoas mais impressionáveis que estou a aprimorar um raciocínio, ou seja, a usar a mioleira), as coisas pioraram para José Júlio Couceiro, que queria mesmo perder o jogo. Lá acabou por conseguir, é verdade, mas por pouco.

Couceiro armou bem a equipa para o efeito que pretendia. Genial.

Botou lá um guarda redes de amarelo, até aqui tudo bem, e depois, a defesa direito, o Amoreirinha.
Ora, o Amoreirinha, para além de ter um sinal na testa e de jogar no Estrela da Amadora, tanto pode ser um central mais ou menos rápido como um lateral direito muitíssimo lento, sobretudo se, pelo lado esquerdo da equipa adversária, estiver a jogar um foguete cor-de-laranja. Ora, desta análise, Couceiro retirou o seguinte: "Amoreirinha, ficas na direita, até decorares o número que o foguete tem nas costas! A ideia é apanhares um cartão amarelo cedo, porque eu ando a fazer um estudo sobre "cartões amarelos cedo: que repercussões em jogadores com tendência para a cacetada?". Boa malha.
Depois, a centrais, Couceiro não teve dúvidas: "Ora, portanto, vai o Manel da Costa - que tem um problema de comunicação com toda a gente - e o Semedo - que tem problemas de comunicação com o Manel da Costa - e está resolvido. São grandes."
Isto foi bem visto, porque sendo sabido que a Holanda não iria tentar nenhum cruzamento alto para a nossa área (até porque não jogam assim, são é velozes, não são uns belgas grandes, são jogadores da bola), e não possuindo nenhum dos nossos centrais a mínima habilitação para jogar com os pés - a ideia que estes possantes rapazes possuem dum passe é "olha a bola aqui!, espera aí que já vais, é só eu conseguir acertar-te que já vais para donde vieste!", é evidente que aumentavam profusamente as hipóteses de mamarmos golos e de não conseguirmos fazer jogo directo, a não ser "directamente para os outros". O que é bom, para "os nossos objectivos".

No meio campo, o promissor José Júlio Couceiro resolveu colocar três trincos e um pau-para-toda-a-obra-mas-mais-a-trinco, ou seja, no fundo, quatro trincos. Ora, isto pode ser bom em portas, mas num meio campo não. E então que fez ele? "Vai o Manuel Fernandes, que é bom a ensarilhar-se com a bola e a bola nele, vai o Amorim, porque é do Belém, e vai o Veloso e o Moutinho, que é para também não levarmos cinco".

Na frente, o problema estava há muito resolvido na cabeça do ex-treinador do FCP e do Belém: Hugo Almeida, porque parece ter vinte e sete anos, e aquele rapaz do Manchester United, um com acne e que sabe capoeira, cujo futuro passará, inevitavelmente, nos próximos três anos, por três empréstimos consecutivos, um ao Middlesbrough, outro ao Charlton, e o último ao FCP (com opção de compra, ao estilo "guys, please, keep him, for Christ's sake!").

Os planos de José Júlio Couceiro acabaram por dar certo. Lá perdemos. Não apouquemos um plano que acaba por dar certo. Mas já pensaram no que poderia ter acontecido se o mais luminoso gestor de futebol que há de Setúbal para cima e do Porto para baixo se tem lembrado de dizer "foquiú" logo no primeiro jogo, aquele contra os batatões dos belgas?

Pensai nisso.

Até porque, se ainda não sabeis eu digo-vos já, não vai haver nem OTA nem TGV, escusais de vos cansar mais com essas minudências. Vai haver é eleições em 2009.
A sério, deixai-vos de fantasias.
Além disso eu fiz um estudo que demonstra que não é necessário nenhum aeroporto novo. Telefonei a dezoito mil e seicentos estrangeiros, todos residentes na União Europeia, sou poliglota - e, a bem da verdade, também ando meio enjoado -, e à questão que coloquei - "tencionais vir a Portugal de avião nos próximos vinte anos?"- só um vírgula quatro por cento dos inquiridos é que respondeu "talvez, sim, já que falas nisso, sim, passar férias, no Algarve, sim, sou mineiro em Newcastle, pode ser... pagais a viagem?".

11.6.07

Murphy, és tu?, donde teclas?

Aconteceu-me, hoje, um dia desportivo.
Como peso noventa quilos e fumo, por dia, em cigarros, cerca de um terço dos quilos que tenho, o dia aconteceu-me sentado. Mas foi desportivo na mesma.

Aproveito para dizer que estou a tentar deixar de fumar, mas que ainda pergunto, nos restaurantes, se se pode. E que, quando não se pode, saio logo dali para fora. Li algures que também se come bem em casa, de maneira que não passo fomes grandiosas.

O dia começou à tarde. Com o Nadal.
Eu, do Federer, não falo. Não sei dizer o nome dele, hesito sempre entre o "ê" e o "ère", acho que é "ère", mas não sei, porque também já me disseram que o Troyes, aquele clube francês por onde eu sonho que passa o futuro - próximo -do Pontus Farnerud, é o "Truá". E não é.
Não faz mal, as dúvidas desfazem-se. Eu telefono ao tipo, um dia destes, "está?, daqui besugo, olá Rogê! Federê ou Federère? Sim? Ai sim? Olha, vai tu. Não me conheces? Nem eu a t.... está, Rogê? Rogê, estás aí?"
É Federère.

O Nadal enerva-me. Nem é o facto de jogar de corsários, aquilo é uma coisa de puta, mas pronto, com aquela cara o Nadal tinha de usar aquilo, ou aquilo ou uma saia travada. Nem sequer são as camisas, sem mangas, assim à gaja de Benidorm, que ele veste aquilo apenas para se ver melhor que tem uma atrofia na musculatura do braço direito que, embora eu não anseie levar um uppercut nas beiças daquele bracinho direito dele, é uma atrofia notória. Notem que uma atrofia não é um défice de desenvolvimento, "tout court": uma atrofia é sempre uma coisa comparada.
Não, aquilo enerva porque... Bom. Muda-se de linha e dá-se um espaço.

O Nadal é um putão. Se o Nadal fosse português era do Benfica. Mete nojo a maneira como gane quando bate nas bolas. Gane mesmo, parece uma tenista. Uma Mauresmo aciganada. É preciso um gajo gemer quando acerta numa bola amarela? Aquele gajo que se chamava Navratilova não gemia, e era bem giro, parecia a minha professora de Física no Liceu de Lamego, mas já aquela feia que levou com um canivete entre as omoplatas, a Seles, gemia, essa já gemia largueiro.

Esta final de hoje nem devia valer, aliás. Mas pronto, ganhou a gaja. Outra vez. A gaja gosta de pó de tijolo, que se lixe: uma trolha estilizada.

Depois foi a fórmula 1. Eu aqui gostei. Desde que percebi que há uma caterfada de gajos que "somos da Ferrari! Uau! ", em lugar de serem por um piloto qualquer (ou por uma pilota qualquer, eu aqui assumia, se fosse o caso), fico sempre bem disposto desde que a Ferrari perca. Um dia, um penedo baptizado disse-me que eu tinha era inveja, por não ter um Ferrari. É verdade. Não tenho um Ferrari. Não gosto daquela merda. É por isso que não tenho um. "Ah, e dinheiro, tens, é, besugo?", "também não, mas isso vem ao caso?, vamos aqui ter uma conversa estúpida por tu seres estúpido?, já disse que não gosto do carro, vamos descer a detalhes parvos só porque queres ganhar uma discussão? vai mamar, boi.".
Espero que o Kubica esteja melhor.

A seguir, ou entretanto, o Sporting foi a Vizela demonstrar que, embora tenha uma equipa de Futsal que parece uma adaptação do Charleroi feita pelo Jorge Gabriel e pela Fátima Lopes - e, ainda por cima, treinada por ambos -, vai ser campeão nacional. Daqui a dois anos. A Fundação Jorge Antunes vai ser em 2116. A Gulbenkian é em 2068. Maio.

Por fim, a selecção sub-21 de Portugal (acho que aquilo do sub é medido em centímetros, mas ia a comentar isto e depois pensei "olha a canalha, besugo!, tem tento!") empatou com a selecção A da Bélgica.
Estranhei não jogar o Carlos Martins, passei o jogo todo nesta estranheza, mas acho que ele, finalmente, já mede menos.

Ligaram-me a dizer que a Cândida morreu.
Foi no tie-break e estava tranquila.
4-7. Ou menos.
Foi quase renhido.

10.6.07

Restos

Na Guiné há-de ter sido duro, aquilo, quem esteve na guerra costuma dizer que foi mais duro na Guiné, mas há-de ter sido fodido em toda a parte, o que me leva a poder dizer, e não estive em guerra nenhuma, que na Guiné há-de ter sido duro, aquilo.

O Zé Alferes (se se chama assim? chama, sim, é o Zé Alferes) esteve na Guiné e era, como está bom de ver, alferes miliciano; e parece que um dia, ou uma noite, o tempo é muito redondo, um soldado teve uma chatice qualquer que meteu explosões nele, ou com ele, ou apesar dele, e ele, o soldado, apesar dos "apesares" e independentemente de ser dia ou de ser noite, lá ficou sem as duas pernas e sem as partes pudendas, que se lhe explodiram ou que, pelo menos, dele se apartaram.

O Zé Alferes e outros alferes pagaram a viagem de regresso do soldado, para a viagem ser mais rápida, ou mais confortável, ou para serem melhor acondicionadas as partes restantes do soldado a quem pagaram o regresso, que houve peças que não regressaram com o dono: coisas de azares e de minas. De mineiros ternos.

E parece também que o soldado tinha mulher e uma filha. Não parece, tinha mesmo. E foi melhor assim, aparentemente, porque também parece claro que, se já não as tivesse, já não as teria. Ou não.
Tinha e pronto.
Seria um tinhoso. Como se verá.

Um ano depois, o Zé Alferes regressou, deixou a Guiné e veio de barco, mar adentro. Vinha tão bem de vir que nem avisou a família.

Nunca escrevera à mãe, aliás.

"Para quê, homem? para lhe dizer mentiras ou para lhe dizer ó Mãe, sabes?, matei ontem dois e ia-me fodendo ao mesmo tempo que os fodia a eles, mas por acaso ainda não me fodi, olha, Mãe, morreu o Seixas, o de Sanhoane, mas fica bem, Mãe, fica bem, Mãe, ficas?, beijos ao pai e aos meus irmãos, eles que evitem crescer muito, que fiquem pequenos, que se cuidem, que eles ainda não mandam para aqui crianças, e olha, olha!, mando uma flor para as minhas irmãs, que são meninas e meninas e meninas, e, para ti, Mãe, olha, Mãe, Tu pega-me neste medo e aquece-mo no Teu coração, coração, no Teu coração, eu dava-Te o meu, não podia, pá, não podia escrever-lhe estas merdas, pois não?".
Não.

Seja como for, o Zé Alferes tinha lá, no Porto, acho que em Lisboa, no porto de lisboa que nos acontece sempre que vimos de longe, o soldado à espera. Qual soldado? Não ledes nada. Qual soldado? O sem pernas e sem partes, o hemi-soldado das explosões, montado em cadeira de rodas empurrada pela mulher, a filha ao colo. Dele. E penteado.
E o soldado levava, para depois do abraço, um envelope, uma merda onde se metem muitas merdas, já meti tanta merda em envelopes endereçados a merda tão porca, mas neste caso não, estava lá metido, pelo soldado, o dinheiro que o soldado achava que devia ao Zé Alferes, pela viagem de regresso que o Zé Alferes ajudara a pagar, viagem de ternura em "turística para estropiados".

O Zé Alferes teve de aceitar o envelope, pesava quase cinco contos, mas teve também de comprar uma promessa do soldado. O animal queria ir a Fátima todos os anos, num dia qualquer que não me recordo agora. Pagar uma promessa.
O Zé Alferes pensou "mas que promessa? este caralho ficou sem pernas, sem colhões, sente-se grato por quê, e, mais do que isso, a Quem?", mas calou-se. Disse que sim.

Decidiram dividir a tarefa de levar o soldado a Fátima por quatro. Pelos quatro, que tinham sido quatro alferes a gastar soldo para repatriar o soldado, o Zé era só um dos Alferes, iria um em cada ano, combinou-se logo: "no primeiro ano levo-te eu, vou-te buscar e vou contigo", o Zé Alferes a comandar as pequenas tropas do regresso, as tropas parecem sempre mais pequenas no regresso, a não ser nos pesadelos, aí devem crescer mais, devem parecer-se com o medo que as Mães não podem saber, mas isso agora não interessa.

E foi buscá-lo e levou-o, no primeiro ano. Levou-o mas rabujando sempre que "este caralho vai a Fátima agradecer o quê, foda-se?, agradecer o quê?", naquela surdina de condutor que põe o rádio do carro na antena 2 para não apontar o carro para uma ribanceira, ou para o apontar, nunca se sabe muito destas sintonias.
No segundo ano levou-o também, que o alferes de turno não podia, tinha merdas dele, que desculpassem.
No terceiro, porque mais nenhum alferes se lembrava já da farda, e é engraçado que as fardas são importantes para as promessas, mas isso é outra conversa, também o levou o Zé. Tinha de ser, ele queria ir, ia-se. O Zé Alferes já tinha aquela data reservada para o soldado sem partes de sobra, e a data sobrava-lhe. Ou faltava-lhe, ele nunca disse nada sobre isto de sobras e de faltas: coisas de despensa. Dispensáveis.

No quarto ano telefonou a mulher do soldado, ao Zé Alferes, a dizer que já não era preciso. O soldado tinha-se matado, pouco tempo depois da terceira visita a Fátima. Um tiro nos cornos.

Pelos vistos, o soldado ia a Fátima pedir umas pernas e uns colhões novos a Nossa Senhora. E Nossa Senhora, valha-nos Deus, arranjar pernas ainda vá. Colhões, duvido, valha-nos Santa Lavoura e a Decência. E, mesmo que Nossa Senhora andasse a ponderar o caso, que caralho, uns colhões são coisa para sessenta lustros, há gente apressada!

O Zé Alferes ainda hoje, mais de trinta anos depois, proclama baixo e espumando-se da sua razão, que mais valia o soldado ter morrido logo: "morria na guerra, não percebes?, ficava logo ali, escusava a filha de se habituar a ele para depois descobrir que o resto do pai não era nada, ou era, mas era só um resto dele, um resto que não chegava para ninguém."

Ena, tantos!

Os controladores de tráfego aéreo devem, do ponto de vista do dever, ter atenção dispersa.

Parece que é assim que se chama o tipo de atenção que eles têm de ter. Eu achava que não, que isso era apenas característica de distraídos. Mas é assim mesmo, disse um deles, um que trabalha no aeroporto de Pedras Rubras (eu não consigo dizer o nome novo, é como com a Praça Velasquez, também não consigo, o nome novo da praça é o mesmo do do aeroporto, mas os motivos que me fazem manter a nomenclatura velha são diferentes), disse isto no Porto Canal, que é um canal engraçado, apesar de lá grunhar (ar, sim, ar, muito ar) o Manuel Serrão. Que é aquele gordo que ainda se penteia como o meu filho mais novo e que parece mais estúpido do que é, mas pouco.

Eu não tenho isso. Isso da atenção dispersa e do penteado. Não tenho isso.

Dói-me é um dente. Do lado esquerdo. Do meu lado esquerdo.
Não sei qual é o dente. Já estive a ver, embaciei o espelho de tal forma, com o bafo, que quando acabei de ver já ninguém se poderia ver lá decentemente, mas não descobri qual é. Sei que há quatro hipóteses: dois pré-molares de cima e dois molares de baixo.
Tudo do meu lado esquerdo.

Às tantas doem-me os quatro ao mesmo tempo. Eu já vi uma vez um grupo de gajos que cantavam juntos e nem a merda duma segunda voz faziam, era só re, tudo re, quando podia ser re fa la e dava um acorde do caraças, se fosse em re menor.

São os quatro. São todos eles, os quatro paneleiros.
Eu ia ao dentista, mas já sei como é: "antibióticos e anti-inflamatórios e depois vemos isso, sim, colega?". Sim, cabrão, sim, sim, vemos vemos, colegas são as putas.

De maneira que se passar com antibióticos e anti-inflamatórios, e queira Deus que passe, vou ao boticário (desculpe, Peliteiro, isto não é consigo, é com "boticas ferrramentárias") mas é apenas na próxima crise que não me passe assim, que eu gosto pouco de estar com a boca aberta e com os olhos fechados ao mesmo tempo, excepto em me cheirando a jasmim ou se me apetecer.

9.6.07


5.6.07

Já agora, porque o Pontus também é homem para jogar na Arábia Saudita, vai assim:

القادمة. انها تتحدث البرتغاليه سيئا ، مما تحدثنا في السويديه. لكني ترجمتها. الجزء الاخير. - Ó بونتوس فانتم الوعد ، حتى ان تواصل بذل كل ما لمعرفة ما اذا كانت لكم الحصول على الدخول في الحضر اكتئاب عصابة يقودها كارلوس مارتينز ، حيث تدنى الكمان فقط اثنين حبال - بييçاس لورنسو ، - ورغم ان هذا وضعكم لبرغمان ، الذي يجعل منكم فإني نوع من بدلا من بالاكوفسون او فراغويتسون او بيريسون وبالفعل هنا شاتييا الاول لاعطاء امثلة لي - رغم كل هذا ، ذهبت الى اقل يلعب الكرة السبيل لجعل الحساب تريدون لترتيب عقد مع تروا ، وسيدان ، أو في كانون الثاني / يناير 2008؟ وقالت ان نعم ، باللغه السويديه. هكذا كنت ترانكويلو وبالفعل نحن لسنا بحاجة لشراء سويدي آخر ، وهو ما لم يبراهيموفيك ، اي بوسنيو.

O defeso

Telefonei ao Pontus Farnerud e disse-lhe o que esperava dele para a próxima época.
Ele fala mal português, de maneira que falámos em sueco.
Mas eu traduzo. A parte final.
- Ó Pontus, tu prometes que, embora continues a fazer tudo para ver se consegues entrar numa banda urbano-depressiva liderada pelo Carlos Martins, em que a viola baixo só tem duas cordas - as beiças do Lourenço - , apesar dessa tua fixação pelo Bergmann, que faz de ti uma espécie de Fanny em lugar dum Balakovsson, ou dum Fraguitsson, ou dum Peresson - e eu aqui já me chateia dar exemplos -, apesar disso tudo, vais ao menos jogar à bola de maneira a fazer de conta que queres arranjar um contrato com o Troyes, ou com o Sedan, em Janeiro de 2008?

Ele disse que sim, em sueco. De maneira que fiquei tranquilo e já não precisamos de comprar outro sueco, a menos que seja o Ibrahimovic, que é bósnio.

O defeso

Tenciono escrever para aí quinhentas verdades sobre o defeso, mas pode ser que só escreva esta. Eu sei lá de mim.
A minha verdade de hoje é que, mesmo que seja mentira, era muito bom que o Porto caísse na asneira de trocar o Ibson pelo Carlos Martins. Oxalá seja verdade, pronto, já disse.
Não é que eu ache que o Ibson seja por aí além, mas é que despachar o Carlos Martins para o Porto - que mal fizeram os gajos do Huelva a Deus? - seria como dar um pontapé nos guizos dum americano. Quando levam um biqueiro nos guizos, os americanos, acho que gemem "Ouuuuuch", antes de vomitarem.
Nós é "valha-me Nossa Senhora, que desagradável!", enquanto vomitamos.

Faz diferença.

Eu acredito que para certas pessoas é mais fácil assim

The Americans had come and came with that air that the Americans assume when they visit small farms, mandatados to fiscalize them and to americanizar the order of given pedinchões to give the grommet for diplomas in foreigner passed by foreigners.
The American whom he ordered was black, or better, much chestnut. He had forty and such years, as I. He was of my height, but leaner: let us say that if I it of this five kilos we were the both happyest ones, excepto it.
They are interesting, the Americans. They do not want nothing in the walls, because of the embryos. Nor flowers. E is donkeys.

“As it is that I know that you do not deceive yourself, that this drug - let us assume - is same for me? ”, it asked.
“He is fodido. Vai to have to trust me. If it thinks that I go it to prove very I am deceived, knows”.
“Then I do not know, certain”. The chestnut was in the seven fifth.
“Certain. You do not know.”
“And then? I want to know. That I make to know”.
“Páre everything, if does not treat, refuses, opens an inquiry. E if I will have deceived in its drug fuck me. But, for the time being, he goes myself to foder”.
“But I do not know, therefore not? If this drug was for me, as it would know, hem”. It started to be irritated, I thought. E said everything to it.
“It would know; because the bottle of the drug would have a label where drug for caralho of the American would be written “who comes of the Burkina Fasso of the Health to cagar ece of fishes of fished in a small farm where has pictures in the walls and flowers in the cantos of the room of treatments, but where in them we only deceive a time after the Americans if deceiving two”. “Everything Would say this there”. He was purple. Made blue chestnut.
“Yes. E repairs that it would say only this there because we are educated”.

Charruas de fora

Os americanos vieram e vinham com aquele ar que os americanos assumem quando visitam sítios, mandatados para os fiscalizar e americanizar a pedido de pedinchões dados a dar o ilhó por diplomas em estrangeiro passados por estrangeiros.

O americano que mandava era preto, ou melhor, muito castanho. Tinha quarenta e tal anos, como eu. Era da minha altura, mas mais magro: digamos que se eu lhe desse cinco quilos ficávamos ambos mais felizes, excepto ele.

São interessantes, os americanos. Não querem nada nas paredes, por causa dos germes. Nem flores. E são burros.
"Como é que eu sei que você não se engana, que esta droga - suponhamos - é mesmo para mim?", perguntou ele.
"Está fodido. Vai ter de confiar em mim. Se pensa que a vou provar eu está muito enganado, sabe?".
"Então eu não sei, certo?". O castanho estava nas sete quintas.
"Certo. Você não sabe."
" E então? Eu quero saber. Que faço para saber?".
" Páre tudo, não se trate, recuse, abra um inquérito. E se eu me tiver enganado na sua droga foda-me. Mas, por enquanto, vá-se foder".
"Mas não sei, pois não? Se esta droga fosse para mim, como saberia, hem!?". Começava a ficar irritado, pensei. E disse-lhe tudo.
"Saberia; porque o frasco da droga teria um rótulo onde estaria escrito "droga para o caralho do americano que vem do Burkina Fasso da Saúde cagar postas de pescada num sítio onde há quadros nas paredes e flores nos cantos da sala de tratamentos, mas onde só nos enganamos uma vez depois de os americanos se enganarem duas".
" Diria lá isso tudo, hem?". Estava roxo. Castanho arroxeado.
" Sim. E repare que diria lá só isto porque somos educados".

3.6.07

Vende-se?

Não sei se percebi, mas parece que o João Miranda rejubila pelo triunfo das leis da economia sobre a irrenunciabilidade do direito ao greve, como se todos, empresários e trabalhadores, ficassem a ganhar. De tão notoriamente agradado que está com a ideia de que todos estejamos à venda, esqueceu-se de explicar que soluções apresentar - através das leis da economia - aos trabalhadores renunciantes (e a todos nós, já agora) que jubiloso estímulo representa a parte variável da remuneração que deixam de receber sempre que as multinacionais da indústria encerram as unidades portuguesas.

Bom exemplo

Para variar, a TVI passou hoje no Jornal da Noite uma reportagem sensata e objectiva sobre salas de chuto, que pode até ser um excelente contributo para sossegar os receios dos temerosos da libertinagem que representará a toxicodependência assistida. O médico espanhol que dirige uma sala de chuto em Bilbao dizia, no fim da reportagem: "não se resolve, mas reduzem-se os riscos. Mas há solução?". Aqui, em breve.

I beg everyone's pardon

Espanto-me cada vez mais com o mediatismo hollywoodesco do casal MacCann. Há porta-voz, advogados, detectives, gestores, jornalistas, entrevistas organizadas, teses sobre neglecting children, discursos, viagens, audiências papais e, sobretudo, muito dinheiro, vindo de todo o lado, para sustentar tudo isto. Há qualquer coisa aqui de indefinivelmente incomodativa - um quase despudor.

2.6.07

os "mabs"

Num programa qualquer que deu na televisão, aquele deputado do PP que está à espera que lhe caia o restinho de cabelo que ainda lhe viceja na parte mais fronto-parietal do seu coiro (pouco) cabeludo para parecer o Telly Savallas em santinho, e aqui, concedo, refiro-me a Diogo Feyo, ou Feio, ou mesmo Pouco Belo, ou Belo, ou o que quiserem, dizia eu que aquele deputado do PP que é peludo apenas na periferia do seu deserto piloso cefálico resolveu atacar o senhor ministro da saúde pelo lado que, ao senhor ministro da saúde, mais jeito dá.
Disse mais ou menos isto, o senhor deputado: "o senhor ministro diz que tem as contas equilibradas, que tal e tal, mas, no entanto, todavia, contudo, efectivamente, verifica-se que os hospitais públicos estão a gastar mais em medicamentos!, ponto de exclamação, vírgula."

Pois estão. O Trastuzumab, o Cetuximab, o Bevacizumab, o resto da panóplia dos anticorpos monoclonais, essa corja infame, custa dinheiro como o caraças.
CC, esse homem bom, agradece a Diogo Calvo a pertinácia argumentativa: CC dirá que sim, que vamos poupar nos "mabs", que até Diogo lhe dá razão.

A gravidade disto deve ser tratada em blogues sérios, ou, mesmo, embora com perda de qualidade, em jornais.

Derivados Ridículos E Algo Néscios (DREN? Não! DREAN!)

Por exemplo, se eu viesse aqui dizer uma coisa do género "o senhor primeiro ministro é uma pessoa que não me inspira a mínima simpatia, isto para não dizer que me inspira profunda antipatia, ou, mesmo, já que estamos entre amigos, que me causa um nojo descomunal, ou, ainda, isto do ponto de vista metafórico, que não passa dum grande boi", bolas, caramba, eu devia ser punido.

Agora, como não disse nada disso, e como (não tendo afirmado semelhante aleivosia) não mereço punição, perspectivo a minha continuidade na função pública com algum optimismo - derivado à consciência tranquila dos que nada afirmam e, nada afirmando, não sentem na pele o medo da denúncia - e algum pessimismo, também, mas isso apenas derivado ao facto de nela permanecer, de forma primitiva.

Isto é sobre matemática.

As transferências

Foram boas.

Eu, do Tello, não falo. Nem sei quem é, que se foda o Tello. Nem se transferiu, aliás: zarpou. É um cargueiro sem o primeiro "erre".

Do Nani falo: tem olhos de burro e não lhe viram os dentes. Andor. Um boi.

Do Anderson também falo: usa demasiados anéis e faz-me lembrar o Emmerson, um tipo que ainda jogava há pouco tempo e que também passou pelo Porto, antes de ir para outros sítios quaisquer que agora não me lembro. Aquele balançar de fracassado, não vale o que se pensa.

Do Figo falo, também: "não tem sido possível regressar ao Sporting, e tal, umas coisas e outras", diz ele. Deus te conserve longe, rapaz, sinceramente; e com muita felicidade mútua.

Parece-me bem, já agora, que o Sporting compre o Antunes. Se bem que o nome do ganapo não ajuda, um gajo chamado Antunes parece sempre que chega ao balneário para se equipar com mangas de alpaca, mas pronto: um tipo chamado Simão também lembra logo o ídolo menor das índoles bacocas que se babam por Camilinhos. E um Quaresma remete-nos, a todos, a Pilatos. Pela quadra. Ex-quadra.

Esquadra.

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