blog caliente.

31.8.05

Vem, Douro, larga o Tejo!

Acabaram com a "Educação do Max qualquer coisa". Fizeram bem, grande medida, esta.
O gestor de produto deve ter comprado "n" episódios, aquilo não dá "xère" (que é como os "kultos ke gerem isto dos gostos xamam" ao caralho das audiências, e eu espero que tenham reparado que não aspeei caralho, nunca se aspeia caralho nenhum, sim, eu sei que estou irritado e que me devia calar sempre que me enervo, mas amanhã a lolita que apague isto, se entender), acabaram-se os "n" episódios, bota "mazé" Jamaica. Eu, injustamente punido, quando me fodem tendo, sempre, a mandar foder. Por conseguinte, fodei-vos. Ide para a Jamaica, dançar com gajas de cu preto, ao som de gajos de carapinha às tranças.
Bom.

Mas fodei-vos, mesmo, sim? Isto que fique claro. Sim, 2, é convosco.

Para já, o E.R. não acabou. Mas deve estar quase. Aquela merda não tem qualidade nenhuma, "mène!". Já repararam que agora, tendo-se entre as pernas um grelo ou um tronxo repolhudo, é tudo "mène"? Aquilo não vende, "pah!".
Dizem os bois assim: alguém quer saber daquela merda?, quando passa na SIC, à mesma hora, o "Eu, a bem dizer, o que queria era chupar-ta, mas tenho medo que não me respeites quando eu for lavar os dentes, casa ao menos comigo, mi respeita, vai...", em brasileiro, e na TVI o "Veja se ele tende a encorná-la só perante as câmaras ou se você ainda vai ficar, depois disto, com problemas existenciais...". Isto em brasilês, "mène", é profundo, "mène"!
É como os Coldplay que, à letra, é "jogo frio": hóquei no gelo para panascas e grelos deficitários.

Estou fodido. Habituei os meus filhos a ver a puta da série do "Max, sem ser o caralho do cão" e hoje não dá, amanhã também não, nem para a semana. Já não lhes chegava a saída do Rochemback, agora dou-lhes isto: olhem, acabou. Merda para isto, sim?
E exijo que me respeitem: eu sei usar caralhadas como mais ninguém, foda-se.

Está bem, "over-reaction" é uma merda. Também o caralho do incumprimento do protocolo de Kyoto, o penteado do Zé Mourinho, a candidatura de Soares (não Soares, a candidatura) e o discurso do Bush (e, mesmo, Bush) são uma merda duma under-civilization e andam aí.

Nota: o Benfica também queria vender o gnomo de Constantim, por um preço que é o dobro do que eu pediria pela minha casa. Isto, no mesmo dia em que acabaram mais um bocadinho comigo, filhos da puta, dá-me vontade de pentear o Simão e o Benfica à Nuno Gomes (ou Melo) e largá-los aos cães.

Desculpem. Desculpem. Não apago, mas desculpem.

Queres conversa, ainda agora chegaste e queres conversa?

Há muitas diferenças entre Cavaco e Soares. Ao contrário do que diz a lolita, que veio agora de Sarajevo.
Não falo da idade, nem do peso, nem do passado de luta. Aí, são parecidos, mesmo com vantagem para Cavaco, sobretudo no caso do passado de luta: que ninguém me tira da cabeça que a história do candeeiro quebrado, no eléctrico, tem uma matriz contestatária que merecerá compêndios. Vasco Graça Moura, no caso de os compêndios necessitarem, traduzi-los-á.

Do terror socialista é que não falo mesmo: Cavaco fá-los andar todos borrados de medo, aos socialistas. Cavaco tem esse poder, esse carisma catárctico, esse efeito de benigno enema. No bom sentido, na brincadeira, claro, poder-se-ia afirmar, de Cavaco, que, em se enfiando numa bisnaga e em se espremendo, depois, no orifício certo, caramba, seria um "Cavax"! Reparem que não se afirma tal, antes se utiliza um brincalhão condicional. Repararam? Além disso, não se sabe de bisnaga onde ele coubesse.

Soares é histórico. Cavaco é estórico.
Soares era líder dum movimento indefinido. Cavaco é indefinido e parece liderar uma espécie de estatismo: possui a postura de "eanito el estatico", reconvertida.
Soares propunha-se negociar com terroristas. Cavaco não conhece nenhum, nem nenhum o conhece, a questão nem se lhe coloca.
Soares nunca se habituou a ouvir ninguém, nem a discutir. Cavaco nem sequer tentou nenhuma das coisas.
Soares ostenta-se de cima, olímpico, ganhador. Cavaco ostenta, de há uns tempos para cá, uma chave. Está sempre a falar nela, embora não a mostre.

Consta que será a chave do euro-milhões, mas pode ser que não seja. Há muita inverdade neste mundo cão.

Ora. Tiveste boas férias, ciganita?

Provocações de lolita

Aterrorizados com a perspectiva da vitória cavaquista, os socialistas desenterraram o histórico que um dia foi líder do partido e que, nos últimos tempos, era líder de qualquer movimento indefinido, mais amplo do que o partido e mais ambíguo do que mobilizador, situado algures entre a esquerda radical e a notoriedade vaidosa do personagem. Soares, até agora, não mobilizava mais do que os amigos que recebe na casa do Vau. Dispunha-se, com descomprometida e imprudente diletância, a negociar com grupos terroristas no intervalo das partidas de bridge e exortava ao ódio aos americanos apenas para que, em momentos críticos da história da humanidade, pudesse ter tempo de antena. Soares nunca se habituou a ouvir ninguém, muito menos a discutir o que quer que seja. Ostenta-se de cima, olímpico, ganhador antes do duelo.

Ou seja: em muito, ou em quase tudo, é hilariantemente parecido com Cavaco.

Valha-me Deus

Não se anuncia que "ainda" se vai pensar num jantar em Viseu. Logo em Viseu, localidade que viceja de pensamento sobrepujante, uma espécie de contraponto finlandês ao terreiro nacional.
Má táctica.
Aliás, ficando-se calado, presume-se que se está calado (em não se dormindo, mesmo que silenciosamente) porque já se está a pensar. "Eu venho aqui dizer que vou pensar" merece um "que estiveste a fazer até agora, a mascar côdeas de centeio?" como resposta. Quando se vai ali dizer, vai-se ali dizer alguma coisa. Isto se queremos marcar uma diferença qualquer sem ser na escorreiteza linguística.

Por outro lado (e mesmo por este) não se entrevista ninguém entre duas colheres de sopa. Isto também é líquido. Mas aquela gente também tem de comer e não havia pratos para todos.

Aquele radialista, Magno, de quem se diz ter sido, em jovem, o modelo da egípcia esfinge, diz que foi tudo obra do marketing político.
Ora, então, sendo magna a verdade de Magno, pergunto eu: com que média se entra em marketing? Cinco centímetros? E com que média se sai de lá? Com a que se entrou, presumo, embora aquilo tenda a murchar no retrocesso.
Ora bolas.
E, já agora, com que média se entra em Magno? Em dioptrias, neste caso, pode ser, sim.

Poesítica

É um processo eleitoral curioso, este, em que o único pré-candidato que não fomentou tabus, não usou truques de bastidores para potenciar eleitorado ou apoio de aparelhos nem, sequer, invocou o prestígio anti-fascista ou de "excelência" governativa é, também, o único que, ao que parece, não se candidata. O único, afinal, que não queria mesmo enganar ninguém: é orgulhosamente aprumado e escandalosamente narcisista. E é poeta.

Terras do fim

Isto era para ser um texto sobre a Finlândia, o nível de vida da Finlândia, o tipo de vida na Finlândia, os dias e as noites da Finlândia, a corrupção portuguesa e, em jeito de nota final, já com música, a semelhança entre o tamanho dos sapatos das finlandesas e dos portugueses. Anda pelos 39.

Deus, que é misericordioso, apagou-me cerca de sessenta e sete linhas de letra corrida, essa é que é essa.
Deus é misericordioso convosco, note-se.

Note-se, adicionalmente, que nunca fui à Finlândia. E que expresso a minha grande vontade de conhecer o país em que viveria (sort of) se não houvesse empreiteiros (nem autarcas) no meu. Expresso isto, que tenho sono, e que aguardo pelo decreto que me torne nórdico. Mas que haja lá calor e sol, sim? Sim, no decreto, ao menos.

batatas para o blogger.

30.8.05

Foi Athelny, o pequeno barroco, que lhe deu a mão.

Boa viagem de regresso, lolita.

Por aqui, vai um dos últimos calores dentro do seu tempo. Como por aí há-de ir.
Ambos sabemos como é: entrando Setembro, mais dia menos dia, há-de vir a primeira chuva, o primeiro agasalho. Teremos alguns dias pintados de ocres gastos e de castanhos avermelhados, há-de vir essa calidez passageira que serve de repouso aos corpos, que ainda se fatigarão, antes, na vindima. O chão há-de cheirar a terra molhada, um bocadinho ainda, antes de se encharcar demais e perder o aroma subtil dos novos borrifos. Num esforço de memória, havemos de lembrar-nos de quando ainda havia Outono e, se ele durar mais do que o costume, acabaremos por acreditar que se pode voltar atrás sem pagar nada. Durará pouco, isto. E pagaremos: sem aviso, vai ficar tudo cinzento e preto cedo demais, outra vez.

Vi futebol no fim-de-semana, fiz anos (como sabes, que até me pediste a bênção, e eu dei-ta; aguardo a tua prenda, quero que se foda quem diz "presente", presente é hoje, tu dás-me a prenda um dia destes, no futuro), mas nada disto me pareceu coisa que fosse diferente doutros dias, doutros anos.

Sabes o que tenho feito? Trabalhar, esperar, observar e pensar. Podes por um "-me" a seguir a cada verbo, sim.
Nos hospitais, agora, redescobriram a pólvora do desfasamento de horários. Desde há anos que é assim, esta recorrente converseta sobre a pólvora antiga, cada vez mais seca, da gestão do tempo. Tens um serviço com dez médicos e redescobres, outra vez de repente, que um serviço não passa dum atendimento permanente de gosmas crónicas. Pode deixar, portanto, de ser um serviço, uma vez que se mobiliza para fora da sua essência. Sabes do que falo, até pelo que viste quando foi de quem sabes, onde sabes: estava sempre gente mas nunca estava ninguém, não era?
Isto já vem sendo feito, de forma clara, há muitos anos, sobretudo pela imposição "sugadora" e persistente dos serviços de urgência, cada vez mais megalómanos e mais destituídos de quadros próprios, com que se sustentem.
Eu não sou capaz de lá voltar, sabes? Não tenho coração de ganadeiro, nem de apascentador de frangos. Se tiver de ser, espero não ter de quebrar meia dúzia de bocas para não ser eu a quebrar.
"O que é preciso é que esteja lá alguém para despachar o povo, mesmo que se esteja lá muito tempo, tempo demais, médicos de menos e povo demais, mesmo que não queira lá estar ninguém, nem médicos nem povo, porque aquilo é a sala de visitas do hospital". Sentes a lama destas palavras? Há uma geração rasca que aí anda, enfeitada de si, a dizer estas coisas desde que cismou ser deus maior duma religião feita de dogmas, só. E espalhou-se, metastizou, criou os seus amestrados monstrinhos, que lhes repetem as palavras com sotaque variável.
Não é nada disso: a sala de visitas dum hospital é a cara e são as mãos de quem lá trabalha, se estiver feliz de lá estar a "fazer o que tem a fazer". O resto é teoria de quem tem média de dez na vida: tudo ao molho, frases feitas numa língua saburrosa, a malícia enfática dos simplórios.

Percebes que os serviços acabarão, não percebes? Nao há serviço que resista ao "nunca estamos juntos porque trabalhamos separados". Mas não te preocupes, isto já pode estar a ser feito há muito tempo, como sabes. Isto já foi, se calhar, parcialmente conseguido, em alguns lugares. Dividir para reinar, quando feito por tipos talhados para "vice-reis na sombra" (no balls, no match), acaba sempre numa divisão sem reino: quando chega a hora de dizer "sim, quero o reino que dividi!", encolhem-se, negam a culpa, não sabiam de nada e, atirando outra pedra, escondem outra vez a mão. E recomeçam. sem notória vergonha.

E há mais coisas, que depois te conto. No fundo, sabes, nem sequer é novidade.

Da bola não te falo. Não gostas.

Falo-te duma boa série, acabei de decorar o nome, "A educação de Max qualquer coisa". O ambiente não é, uma vez mais, de descoberta: é de redescoberta. Nenhum dos personagens tem a minha idade, aparentemente. Nem a tua, isso muito menos, excepto a professora "não sei o quê", fanática de Elvis e de ser feliz, e uma outra que só vi hoje, loira, de ginástica e artes orientais. Os homens têm mais de cinquenta anos. Antecipam-se-me. Antecipam-me. Gosto disso, é como se estivesse a ver e descobrisse que ainda tenho muito tempo. E, depois, há os filhos, que andam entre os 9 e os 17 anos, passando pelos 12, pelos 15. Aquilo é ternurento, a cor é bela, há ali ternura, e toda a gente parece um bocadinho fora do tempo. Precisamente porque o tempo faz, ali, sentido. Vais gostar. É, precisamente, fora do tempo que se está melhor a olhar para ele.

Também tenho visto, às quartas feiras, o ER. Tu sabes o que penso de ambas as coisas: do ER e do que me leva a vê-lo. O novo sonho americano, provavelmente adiado para sempre, deveria ser este: descobrir que as coisas são simples ou difíceis, espectaculares é só nas festas.
Repara que eu não defendo a insipidez. Tu sabes que gosto, o meu bocadinho, de purpurina. Concedo-te estas ilhargas cansadas ao esporeio.

Mas, talvez da seca, dá-me agora para estar cada vez mais certo que é de águas claras que gosto. Podem as águas estar revoltas e engolidoras, ou numa calmaria de espelho: não sou mais medroso que ninguém, nem mais bravo que quem quer que seja, defenderei sempre o meu barco e, se tiver que ir com ele, a pique, irei. Está bem, irei nem que seja esmifrado pela torpe inércia de saltar, de não conseguir fugir. Mas eu falava de águas. E é claras, cada vez mais claras, que as quero.
Não se trata aqui de dissertar sobre graus de agitação, entendes isto?, é de gostar de meios transparentes.
Como o cristalino, sabias? É o meio transparente onde nascem as cataratas. É gelatinoso mas é sempre a água, sempre o antagonismo entre as palavras e o tempo que passa, tapa, esconde, mina. Se não houver cautela e boa hidratação. E sorte.

Depois, no fim-de-semana, falamos das eleições, da OTA, do Cavaco e do Soares, espero que do Alegre (devia candidatar-se, nem que fosse só para se ouvir aquele ruído de cremalheira de meninges a espremerem-se para explicar que faz mal, como se fosse isso que estivesse em questão, fazer bem ou mal. Um homem faz o que tem a fazer, não é? E o que não tem, se for obrigado a isso por quem faz sempre o mesmo.

Das coisas do hospital, das do meu, em vez daquelas generalidades que abordei ali em cima, vai ter de ser mais a sério. Talvez seja tempo de desparasitar, sabes? A vérmina anda escondida, mas eu acho que sei dela. Por falar nisso, escutei ontem o Marcelo, hoje o Vitorino. Amanhã não sei.

Volta bem, Deus te proteja, guia com cuidado. Eu continuarei sem cuidado nenhum, como já sabes. Reli Maugham. A vida não tem sentido, portanto calma.

29.8.05

De partida

Esta é a última noite das minhas férias. Jantei assistindo a uma festa de inspiração marroquina em que os homens se vestiram de palhaços e as mulheres aproveitaram para imitar odaliscas. Enfim, nada além do que é corrente - aposto, aliás, que a Casa do Castelo e o T-Club promoveram festas parecidas, daquelas em que todos se vestem de branco, de vermelho ou, até, de bombeiros a apagar incêndios, que o Verão está (esteve) aí e o que interessa é que a malta se ria muito em festinhas trendy em penhor das quais afanosamente combateu a banha acumulada nas estações mais rigorosas.

Amanhã, recuperada e saudosa, percorrerei as duas mais famosas e saturadas autovias portuguesas, a caminho de casa e de tudo. Que aqui não há tudo, há só sol (e amêijoas), aqui eu não pertenço nem tenho nada. Por outro lado, sabem-me bem os fins de férias, da mesma maneira saborosa com que me sabem os inícios. Desolada, capacitei-me, na minha atávica lusofonia, de que é mesmo verdade que ninguém sabe ao certo o que é Portugal: cansei-me de ouvir ingleses com pronúncia "cockney" a explicar aos filhos que "the portuguese people speak portuguese, son", como se precisassem de memorizar factos que lhes parecem pouco claros às evidências geográfico-linguísticas que ensombram países cuja possível glória se dilui em incêndios, secas e inoperâncias ancestrais. E eu, ora, não é para isto que vim de férias: para que me reavivem verdades duras.

Já sei dos candidatos. Sei, até, que Louçã está na pole-position. E que Sócrates voltou de férias antes de mim.

28.8.05

Datas (2)

Acho que se deve fazer um testamento aos 45 anos. Logo no primeiro dia, ou na primeira noite, não interessa.
Fica aqui o meu, reconheçam-me a assinatura onde quiserem, mas ei-lo. É curto.

Testamento: no dia em que eu morrer, deixo tudo.

Segue cópia, vinheta, autorização de substituição por genérico (ela pode, portanto, amar outra besta qualquer, eventual e evidentemente) e assinatura. Que é esta, fica já aqui.

besugo

Datas (1)

Nasci no dia 28 de Agosto de 1960.
Foda-se.
Boa noite. Já se foi tudo embora, não arrumaram nada, nem os cinzeiros despejaram, e eu aqui, acordado, à espera dum telefonema que não vem.
Talvez amanhã ela se lembre, não nasci de cesariana.
Posso é ter sido encontrado na lata do lixo... Serei design?

Foi galo

Não me parece. Acho que o Lille não ganha aquilo assim, à Lagardère...
(há alternativas benévolas às caixas de comentários, sim)

27.8.05

Não tenho um espírito sintético: I'm a natural, ok?

Vou traduzir aquilo que a lolita disse, que é para percebermos todos. Se tirarmos o latinório, que ela põe aquilo para parecer que está a falar empoleirada numa espécie de púlpito, fica mais fácil.

Vejamos: o que a indigna é que, em podendo decidir entre favorecer o patrão ou favorecer os empregados, o Tribunal não sei das quantas decidiu pelo patrão, fazendo sobrepor uma particularidade qualquer à lei geral. Bom, pode não ser bem isto, mas basicamente é. Eu não sei latim. Também não sei grego, mas isso nunca impediu Anabela Mota Ribeiro de se deleitar com clássicos helénicos na versão pátria.

Isto, por um lado, é bom: gosto de particularidades. Também gosto de estalagmites, deve ser mais difícil vir de baixo que de cima, não? As estalactites, por exemplo, deixam-me praticamente indiferente. Aquilo limita-se a pingar, não é?
Por outro lado, é mau: este tipo de particularidades é, indubitavelmente, geral. Só não é lei, ainda, porque quem a faz aplicar tem o poder de generalizar particularidades, não sei se bufando, se, apenas, sorrindo e, sendo assim, não se torna necessário promulgar leis que façam as pessoas sentirem-se demasiado incomodadas, ao ponto de desatarem a pendurar liberais e tipos muito ricos, pelo mole cachaço, de postes altos.

Pronto. O que ela queria dizer era isto. Comuna, no fundo, a lola. Há-de ser do sol de Quito, apeteceu-me agora situá-la perto dum círculo central e em altitude. Se a situasse no Nepal ainda ia presa, no regresso, e não tinha a vantagem do calorzinho que cresta e acastanha.

Ah! O Benfica lerpou, isso faz-me sempre sentir bastante bem, é como o sol e a água, sossega-me, espero que não venha aí um inverno muito longo. Mesmo que venha, foi engraçado, dá-me até amanhã, pelo menos.

Directamente do Oceano Índico: sobre indignidades

Aqui, em Bazaruto, chegam-me notícias de uma inovadora decisão do Supremo Tribunal de Justiça que, na graduação de créditos de uma falência de uma empresa portuguesa, considerou prevalecentes os créditos da Caixa Geral de Depósitos em relação aos créditos dos trabalhadores/credores.

Lamentavelmente, a biblioteca do Palms Spring Resort, aqui no Índico, não disponibiliza qualquer exemplar do Código Civil português, que eu imediatamente tive vontade de consultar para ver se as minhas evidências jurídicas estavam erradas - porque estavam, isso é seguro - à luz da lei ou da lógica. Em todo o caso, não discutirei, aqui, essas opções doutrinais ou legislativas do aromático mundo jurídico, que não interessam ao comum e livre pensador mortal mais do que interessam os nomes científicos das injecções e pózinhos de alquimia (vulgo, medicina) com que o besugo, com o seu habitual espírito sintético, regularmente nos brinda. O mesmo se diga, mutatis mutandis, das suas teses sobre o mundo da bola e, em particular, sobre o plantel do Sporting.

Voltando ao tema que aqui me traz: para quem defende que o Direito é uma ciência, e mesmo para quem defende que o Direito, além de ser uma ciência, é uma ciência acessível (olá, besugo!), é possível que defenda que é natural que a regulação das relações jurídicas se torne, às vezes, numa pura (no sentido de abstracta) aplicação do Direito aos factos e que, quando a literalidade da lei não é suficiente, se busquem, por via interpretativa, as soluções que a lei quis dar aos factos "sub judice". Quem pensa assim o Direito não é, porém, jurista, embora possa eventualmente orgulhar-se de ter uma licenciatura desta nobre área e, até, com classificação brilhante. Há casos desses, reais, garanto. Pelos vistos, até entre os ilustres Senhores Conselheiros do supremo tribunal.

Não é concebível que a aplicação do Direito se reduza à aplicação de uma regra simples: a de que o que é especial derroga o que é geral. O que os Senhores Conselheiros fizeram, ao declarar prioritários os créditos da Caixa em detrimento dos créditos dos trabalhadores, foi indigno das suas eminências. Espicaçados por juristas brilhantes sedentos de reconhecimento e da auto-estima que só encontram nos articulados longos, mas que, aposto eu, usam óculos, são baixinhos, gordos e falhos de inteligência social. Os chamados "totós", que frequentemente são virgens até de saber da pobreza em que outros vivem.

Repare-se bem. O Supremo Tribunal é a última instância de recurso. O Supremo Tribunal sancionou, com farta e (admito) inatacável argumentação jurídica, a iniquidade com que os grupos económicos e os poderosos em geral se estão nas tintas para os que trabalharam a troco de pouco (ou de muito, ora) e que, agora, seguramente não receberão um euro que seja.

É isto, meus amigos, o liberalismo económico aplicado ao Direito. Rejubilem, ó liberais.

Alonso: se isto te parece centrismo, é porque a vida em Lisboa te torna impertinente. Aproveita bem as amêijoas, que aqui em Madagascar são um mimo.

Olha ele!

Alonso! Estás feito. Pega lá mais centrismo, animal!
(interlúdio musical por tuna académica à escolha, de preferência por uma das que ainda não são suspeitas de albergar homicidas, mesmo que involuntários; imbecis deve haver em todas, há-os em toda a parte, olhem eu aqui).

Anda, incorpora isto na mente, que isto é centrismo:

1 - Manuel Alegre devia ser o candidato do PS, em não podendo ser Garcia Pereira.
2 - Mário Soares vai ganhar facilmente a Cavaco, o que é mau. Cavaco é um homem traumatizado, já. Não era preciso mais nada depois da "candeeiral trombada no eléctrico". Que é que foi? Isto é informação Histórica, o homem foi mesmo detido, é quase como o Mário Soares em matéria de delinquência política!
3 - Cavaco ainda não sabe se se candidata, aliás. Mas eu pico-o tanto que o homem, perdido de vergonha, cego de ódio, vai acabar por se candidatar. É, eu tenho muita influência nestas questões, não sabias? O Cavaco lê-me sempre. Deixa-me ir ali buscar os comprimidos de lítio que já te conto mais sobre isto.
4 - Tu é que davas um excelente candidato do Bloco, agora pensando nisso! Não sei já te disseram, mas se desfizesses a barba parecias a Ana Drago. Pois, já te devem ter dito...
5 - Há alguma possibilidade de Mário Soares vir a aconselhar o voto em Jerónimo de Sousa, na segunda volta? Digo isto porque me parece que Jerónimo de Sousa tem mais ar de estadista que Cavaco e Soares juntos. E, como não me parece que tu te candidates... Ia ser interessante o engolido passar a engolidor, não? Há quem engula espadas, são menos redondas que os sapos, mas embaínham-se melhor. Eu sei.
6 - Outra questão: que achas tu que me impede de te insultar soezmente quando afirmas que vais "para o Algarve, de castigo, passar uma semana"? Exactamente, podes escolher: a amizade, a decência, a esmerada educação, a raiva. São quatro. Eu dou-te uma pista: eu espumo.
7 - Não se devia fazer nenhum aeroporto na OTA. Nem em lado nenhum. Quanto mais aeroportos se fizerem mais voos há e a mim chateiam-me os voos. Aliás, andar de avião não é voar, é sentar a peida no vazio.
8 - Desisti de querer perceber os estudos sobre a OTA e o TGV. Aliás, nem quero vê-los. Muito menos lê-los. Qualquer dia desatam a querer explicar-me tudo, passa a ser obrigatório saber de tudo, tipo "o desconhecimento não desobriga" (põe lá isto em latim, vá) e eu deixo de poder dizer mal do que quer que seja sem consultar bibliografia. Isto não me preocupa, sinceramente, mas posso ser forçado, e isso já me aborrece mais, a deixar de dizer bem do que me apetecer, isto por um antagonismo lógico que tu entendes.
Corrijo, que isto é para ver se te irrito: que até tu entendes.
9 - Uma vez que vais para Kuala Lumpur, dá cumprimentos à lolita. Ela que não apanhe muito sol, ainda adoece, e nunca conseguirá - por muito que se espreguice - adquirir a tonalidade beduínica (há disto?) da minha trabalhadora e sedosa cútis!
10 - Tens aqui tema, ou nem assim? É que, se não tens, resta-me dizer-te que o teu problema é, mesmo, a avançada idade e a degenerescência neuronal.
11 - Nem assim vais falar? OK, eu desço mais baixo ainda: o teu problema é a degenerescência, pá, tout-court.

Um abraço e boas férias, animal! Dá-me ao menos os parabéns, amanhã, que faço quarenta anos outra vez. Sim, já são cinco vezes, com esta. Quem é amigo, quem é, que até te fornece dados para te ajudar no seu próprio esmagamento, hem?

Eu sou assim. Tenho dias em que me surpreendo da minha própria bondade.

Iuris et de Iure

É assim, inilidivelmente, o Alonso faz parte deste blogue e portanto, quando a lolita diz que eu (presumivelmente) agradeço aos que se lembraram do seu aniversário, eu agradeço mesmo.

blogamemuxista tardio e, portanto, membro não-fundador do dito, tenho sido relapso e ultimamente um quase ausente. De tanto me penitencio, mas a verdade é que, seja pela avançada idade, seja por uma degenerescência neuronal óbvia, seja por qualquer outra razão, me falta repetidamente inspiração para a escrita. Por outro lado, sendo eu o malmequer num ramo de cravos (leia-se: lolita e besugo), e tendo por função aqui vir para corrigir os meus companheiros quando eles se excedem nos seus dislates esquerdófilos e atacam sem critério os valores tradicionais da Pátria, a verdade é que tenho achado, ultimamente, que eles andam muito centristas. O que me deixa pouco espaço para polemizar, sendo que é disso que eu gosto. Enfim ... efeitos de o governo ser do PS, acho eu.

Lembrei-me (claro) do aniversário do blog, mas não estava em local com acesso à blogosfera (nem equipado para tanto), sendo que ir a cyber-cafés não me seduz.

Assim, atrasado, venho cumprimentar a lolita e o besugo, que são eles, mais ninguém, que dão a este blog o carácter que tem.

Vou hoje de castigo para o Algarve passar uma semana. A partir de Setembro prometo que, se perdurar o centrismo da compañera e do camarada, eu radicalizo-me à direita ou adiro ao Bloco de Esquerda.

Abraços. Parabéns.

Duas pequenas contribuições, pelo menos.

1 - A lolita está, afinal, algures na Arábia Saudita. O que explica largueiro, entre outras coisas, a subida do petróleo.
2 - Tanta "letra", tanta tecnologia, lolita, e esqueceste-te do Adufe.

Bom. Os parabéns do Adufe não sei se foram dirigidos ao nosso aniversário (que já foi há 3 dias, aliás, o que me aproxima, vertiginosamente, do meu próprio aniversário; sim, eu sou de Virgem, e só de imaginar, me dá vertigem... por falar nisso, lembram-se do "Astro", aquela novela com o Francisco Cuoco - Cuoco tudo junto, pelo menos naquela altura era -, quando ele ainda não tinha duzentos e dezoito anos e eu tinha só dezassete, ou assim?), dizia eu que não sei se foram endereçados ao nosso aniversário, se foi ao facto de alguém, neste blogue, em lugar de se pôr a ver, em ânsias, as "Franganitas em, enfim, ânsias também", optar pela pedagógica, calma e arredondada série intitulada "A educação de Max qualquer coisa".

De qualquer forma, estou de acordo com a lolita numa evidência: isto nem sequer é serviço público de jeito, eu não consigo, sequer, decorar o apelido do Max, sei que o actor que faz de Max é o Dreyfus, mas não faz mal, porque também não sei se Dreyffus não se escreverá Dreyfuss. Sei, outrossim, é que o puto Lester deu duas passas numa broca, no episódio de hoje, o que deve fazer parte do seu Bar Mitzvah (isto estará bem escrito?) e o enjoou de caraças, e que aquela professora que parece uma mistura piorada - mas pouco piorada- da Ava Gardner e da Ingrid Bergman, e do tempo delas, resolveu desiludir-se de novo, desta vez com um tipo que faz lembrar um rascunho do Jeremy Irons, sobretudo na finura das beiças, no pescoço esgalgado e na falta de carnação do restante invólucro.

Disto tudo, ressaltam mais duas coisas, que eu transformo em duas contribuições adicionais e num "ressalta, ainda, isto":

1 - A lolita deve estar a regressar da Namíbia. Ou, em alternativa, de Santiago do Chile (toda a gente sabe que a lolita é fanática pelo Marlon Brando, corresponde-se com tipas que acham que o Elvis TAMBÉM não morreu, entre outras coisas...). Ou, mesmo, da Madalena do Pico.

2 - Obrigado ao Adufe, anyway, embora eu não considere descabida a hipótese de os parabéns do Rui serem no gozo. Às tantas, ele também prefere a outra série, "Cozinhara eu melhor e não deseperara tanto". Mas eu agradeço na mesma. E fui eu que reparei, possuo olho de lince da Malcata, devo estar em vias de extinção, ou então em vias de extintor, não sei se já ouviram falar em combustão espontânea...

Ressalta, ainda, isto (mas também não vem a propósito): o Lucílio Ba(p)tista é mesmo um árbitro "igual a si próprio". Hoje foi notável e notório o olhar de censura que endereçou ao fiscal de linha do lado direito de quem atacava para o lado dextro da SportTV, ou seja, os educandos de Cajuda, quando o auxiliar se atreveu a não transformar em falta contra a Naval uma fita grosseirota do Peixoto (diz-se "Pichote", pelos vistos, no sotaque do Co) que ia dando o empate aos figueirenses. Claro que Lucílio "Co-rrigiu" o seu auxuliar. Era o que faltava, a Lucílio, no fim da carreira, deixar de se solidificar, na memória que há-de ficar-nos dele, a todos, com mais esta bostada. Ainda por cima o equipamento da Naval é mais ou menos como o do Sporting, Lucílio deve ter entrado em campo já a espumar-se de simpatia.

26.8.05

Daqui, de Copacabana

O besugo pensa que eu estou de serviço. Não estou, estou de férias! No entanto, como se trata duma matéria que envolve respeito e gratidão, resolvi fazer horas extraordinárias e vir fazer o que ele, que está de serviço, devia ter feito em tempo competente.

Eis-me, pois, a agradecer a simpatia ternurenta (que é recíproca) que a consensual controversa maresia, o excelente Viva Espanha , o belo Mar Salgado, o sinuoso A Arte da Fuga , o deambulante Vadiar, o sintético Lusofolia, a cheirosa Miss Pearls, o geométrico Teorema de Pitágoras , o temperamental A destreza das dúvidas, o português Por Tu Graal e o minucioso Guarda Factos, todos eles exibindo o talento como denominador comum, nos dedicaram.

Juntamos estas onze gratidões àquelas quatro que o besugo, aparentemente sem "tequenorate", conseguiu expressar, e a mais uma ou outra que, por lapso, tenha escapado. E, sem sombra de pecado, estendemos os agradecimentos à blogosfera inteira, de que fazemos parte na qualidade de "pequeno pedacinho" atento.

Chego à conclusão, entretanto - e mais uma vez - que o meu serviço público é melhor que o do besugo. Lá falar, fala ele. Agora actos...

Muito obrigados a todos.

lolita, besugo e (presumivelmente) alonso

Sossegada e caladinha? Tu?

Só para registar que me parece que a lolita, afinal de contas, não está no Gabão, está mas é de férias numa série qualquer, daquelas da 2. Protagonizando-a.
A série podia chamar-se "Libreville", ou, mesmo, "Paul Gascoigne não precisa de banda gástrica, precisa é de beber menos de sete litros de trotil por dia". Mas não é a mesma coisa.

Ou, em alternativa, está em Aranjuez: é que não tem conserto.
Olha, já não dizia uma piada à Badaró há mais de duas semanas. Devo estar a crescer.

Parecia que estava na praia

O Zacarias é meu colega. Duma obesidade bondosa, já o vi afirmar, perante olhares incrédulos de doentes que observa, abertas, "skanked", enquanto conversa, que o que gostava de ser era "astronauta". Ou "astrofísico".
Tem mais de cinquenta anos, é um chato, mas é um homem encantador. Tem dias.

Hoje surpreendi-me ao vê-lo sentado, à porta da enfermaria, de oxigénio nas narinas, enfeitado de pijama. Parecia que estava na praia.
"Que queres? Que estás a olhar para mim, pá? Tenho uma pneumonia...".
"Que quero? Quero que te ponhas bom, animal. Como quero para toda a gente, mas, já agora, se me permites, quero mais para ti. Pode ser?"
"Pode, ainda para mais eu sou dos que vêem pombinhas, faz-me ainda mais falta ficar bom." (Ele não disse "pombinhas"? Pois não, disse outra coisa, há azar? Para que saibam, até a da minha mulher já viu, o boi! - acham que devo gostar menos dele? Não, a sério, acham? Se sim, usem a caixa de comentários, anseio saber o que pensam sobre este sórdido detalhe).

Às vezes, neste mundo (não é neste país, é no mundo inteiro, não confundam: que confundir baralha, o que é uma verdade digna dum Yearbook qualquer) de raciocínios tendencialmente perfeitos, justos e sentados(*), podemos tender (tendencialmente) a deixar de ser parciais. Não caiam nisso. Um homem faz o que tem a fazer mas há sempre coisas que nos custam mais que outras, pessoas a quem queremos melhor que a outras. Cuido que isto estará previsto na Bíblia (ainda não li tudo, Paulo, desculpa, às tantas vou ter de acrescentar a lápis...), no Corão, mesmo no Expresso e no Público. Nem que seja em letras miúdas.
Se não está, passa a estar aqui, que faz o mesmo efeito.

"Faz o mesmo efeito? Essa agora! Tonto besugo, este!".
Faz. As pequenas verdades em que se baseia a existência humana não carecem de holofotes, nem de grandes articulados normativos. Nem de publicidade. É pena, contudo. Se fossem conhecidas de toda a gente, poupávamos texto jurídico, texto constitucional, poupávamos, mesmo, tempo em barda.

(*) Sentados: acto de parecer, sempre, que se tem o cu descansando sobre algo, mais duro ou mais fofinho, mesmo que ele (o cu) esteja alçado e a abanar, lascivo; particípio passado, no plural, do verbo raciocinar; imperativo do mesmo verbo, também no plural, se seguido de ponto de exclamação; sei lá que mais, vão ao google das meninges.

Van Morrison

Vá lá, ao menos desta vez ainda não tinhamos comprado os bilhetes...
Risca este, Lola.

Nota: "Músico irlandês não adiantou motivos" . Ah! Adiantar motivos adiantaria um grosso!
Não vem, não vem, aleivosa que o desovou.
Adiante, que atrás vem gente.

25.8.05

Sobre o Ricardo e sobre "mós-de-baixo"

Sobre Ricardo, guarda-redes do Sporting, li isto. Entre outras coisas que tenho lido.
Colocam-se, lá, questões que têm resposta fácil (*).

Como se recupera um jogador?
No caso do Ricardo, não se recupera. Não faz sentido, a pergunta. Ou o Ricardo é, como eu penso, um guarda redes muito bom, embora longe da perfeição, sendo necessário, apenas, ter alguma calma e paciência, ou, estando eu enganado, não é muito bom, nunca foi isso, não havendo, nesse caso, recuperação possível. Porque só se pode recuperar o que já se teve e, porventura, se perdeu.
O que precisa de ser recuperado, portanto, é o senso comum. Já para não ser mal educado e dizer que, o que falta, é mesmo recuperar o bom senso.

Como se pode voltar a ganhar credibilidade?
É difícil, com tantos psicanalistas de bancada. Mas, vejamos: o Ricardo perdeu-a, foi, á credibilidade? Dois erros em dois jogos fazem isso? É que, se é por isso, num deles, o Sporting ganhou. No outro, perdeu, tendo levado um banho táctico, quatro bolas na barra e nos postes, além de meia dúzia de foras-de-jogo mal assinalados à Udinese. Em correndo tudo de feição aos de Friuli, levávamos quatro ou cinco na primeira parte. Foi o erro do Ricardo que deitou tudo a perder? Mas os senhores viram o jogo?
Toda a gente diz, agora, mal do Ricardo e do Polga. Não vêem que é o Beto (e o Sá Pinto, que nem devia jogar, esse sim, e também a lesma do Rochemback, que vale apenas 60% daquilo que os adeptos sportinguistas pensam que vale e é menos de 25% do que ele pensa que é) que encrenca aquilo tudo? É lento, não comanda nem um carrinho de supermercado, só sabe jogar em marcação directa (encostem-lhe um ponta-de-lança da velha escola, daqueles de área, dos que se mexem pouco e lutam muito, e ele joga; agora, avançados a entrar-lhe pelas costas, isso já é mais adeus Maria, adeus Manel, adeus Hermengarda! Ou seja, adeus, Beto!). Jogar em linha, com o Beto, aliás, é dizer adeus a quase tudo.

Saberá Peseiro responder a estas perguntas?
Não sei. Espero que saiba. Começo a ter dúvidas, porque ele não consegue, sequer, vender o Beto ao Sacavenense. E não conseguiu que lhe dessem um ponta-esquerda, nem que fosse o Wender, ou, outra vez, cinco anos mais velho, o De Franceschi. Nem que lhe emprestassem o Hugo Viana, coisa que o Valência conseguiu, essa equipa que perdeu, há pouco mais de uma semana, com a Udinese...
Vamos ver se sabe. Tem obrigação.

Deve Ricardo continuar a jogar como se nada se tivesse passado, ou deve repousar uns jogos e assentar as ideias?
Se se sentir com vontade de jogar, se tiver ânimo para isso, deve continuar a jogar. Não temos lá melhor. Não vai conseguir jogar como se nada se tivesse passado, mas, se ele se sentir com força e vontade para jogar, a melhor e mais rápida maneira de isto passar é... jogando. Se ele confessar que tem receio, então não. Mas ele que diga. Depois de lhe dizerem que continuam a contar com ele, ele que diga. Se não quiser, nestas condições, está bem, ponham lá um dos outros, que não são melhores que ele, digam o que disserem.
Mas atenção: se o Ricardo for retirado agora, só voltará por falhanços alheios. Eu sei que eles não tardarão, que o Nélson e o Tiago (sobretudo este) têm defeitos, também. Mas, regressando sobre o erro alheio, Ricardo voltará por baixo, como "mal menor". E não se ganha nada com isto.

Pensem no Quim: titular indiscutível do Braga, parecia mesmo que seria titular no mundo inteiro, vai-se a ver e nem no Benfica é, não é assim? Se quiserem, colquem a mesma hipótese para o Marco Aurélio, que todos os anos "devia ir não sei para onde e nunca vai", ou para o Baía, que em Barcelona ficou conhecido pelo "mãos de manteiga", roçou os calções pelos "banquillos de toda Espanã" e, depois disso, ganhou vários campeonatos pelo Porto.

Com que tranquilidade pode o guarda-redes do Sporting assumir, por exemplo, os próximos 90 minutos do Funchal?
Com pouca tranquilidade. Mas não pela sua actuação contra a Udinese, bolas, aí teve um erro que deu um golo, num jogo que ficou 2-3 e podia ter ficado 3-8. Intranquilidade, sim, por causa do Beto (o Polga deve ficar possesso, por isso barafusta, só de ter de jogar ao lado do pior defesa central que eu já vi jogar no Sporting, Hugo incluído, este Beto que agora é capitão, ainda por cima) e daquele meio campo lento que temos, incapaz de acelerar a atacar, desesperante a fazer marcha-atrás, quando toca a defender.
O último frangueiro carismático que eu vi na baliza do Sporting, antes de ti, Ricardo, chamava-se Schmeichel. Era cada perú, não era? E bons frangos deu o Vítor Damas, também, esse grande e saudoso senhor guarda-redes, cuja morte chorei tanto.

Deixa-os falar e joga, Ricardo, que isso dos erros não nos impediu de ganhar o campeonato em 2000.
Por mim podes dar mais 20 frangos esta época (que não dás e, se deres, só um ou outro será importante), que eu não mudo o meu discurso, mesmo que fiquemos em quinto ou sexto lugar, embora possa chamar-te nomes durante os jogos, desculpa, mas ao menos não me ouves, que estou no sofá de casa em 90% da época.

Vamos ganhar ao Marítimo, Ricardo. OK? Diz aos teus companheiros que, em lugar de virem a terreiro defender-te, no fim dos jogos, o façam dentro do campo, enquanto a bola rola. Que marquem golos, que defendam bem, que corram e saltem mais e melhor que os outros. A ver se não é tudo tu, tudo tu.
E tu, Ricardo, limita-te a fazer o mesmo: força, rapaz!

(*) - Fácil: tudo aquilo que conseguimos fazer se não tivermos grandes handicaps e se nos parecer que sim, que não temos, independentemente de quem ache o contrário.

Mises, boys bands e fucsias

Há dias, mais afortunados (ou menos, de acordo com a perspectiva), em que o mundo se nos mostra colorido, abundante de bizarrias impossiveis de não ser notadas. Os dias em que o mundo se parece com os reality shows na sua forma mais pura, como os daquele brasileiro infinitamente asqueroso (começando pela mise, mas sem esgotar o tema, que eu já volto a ele) que comenta as pseudo-traições de namorados(as) assanhados(as) por gigolos do bas-fond carioca (ou semelhante) pagos, presumo, a cinco euros à hora (ou fracção).

Aqui, em Trinidad e Tobago, paraíso que escolhi para a minha curta estadia de férias, também há shows inusitados. Num jantar calmo e indolente, consequência directa e necessária de um dia longo de calor, eles estavam ali, insinuando-se, interrompendo, à força, a minha paz preguiçosa. Rodeavam-me por todos os lados, menos por um - o que dava para o interior do restaurante.

Os da esquerda compunham um casalinho britânico. Ela, descaradamente plagiadora das spice girls, quer na roupa, quer na expressão pateta; ele, no melhor e mais puro género brit-pop, de cabelo cortado à toa, melenas puxadas para a testa e para as patilhas, de forma tão absolutamente humorística que, pensei eu, se deve rir de si próprio de cada vez que se olha ao espelho. Aposto que sonha ser o vocalista dos Gorillaz ou dos Coldplay e que ensaia em casa, cantando com a mesma voz pastosa os êxitos das bandas britânicas mais enjoativas de que há memória.

Em frente a mim, sentava-se um adolescente de nacionalidade indefinida. A camisa, longa, desapertada em cima e em baixo, de forma a mostrar o umbigo; as calças arrastando pelo chão, caídas até metade das ancas, fazendo sobressair a cuequinha azul turquesa; dependurada na calça fashion, uma mariconera estrategicamente posicionada. O petiz entrou no restaurante com pose rígida, longamente estudada: mãos nos bolsos e olhar de baixo para cima, à James Dean. Augurei-lhe um triste futuro, situado algures entre o estilo do Robbie Williams e o Kapinha. Mas, dada a tenra idade, ainda há esperança.

Na mesa situada imediatamente atrás da minha jantava uma família lisboeta, composta por mãe, filho, sobrinha e tia velhinha. A mãe, notoriamente fã da Lili Caneças, aperaltou-se toda para o jantar, vestindo-se de preto, fucsia, excesso de jóias e brilhos. Comandava a família como um brigadeiro, com passinhos pequenos e voz de comando, tratando o filho e a sobrinha por "você", como ouviu dizer que fazem as pessoas de bem e movimentando-se ao longo do buffet, gulosa, à cata dos melhores croquetes. Até que eu, saboreando o robalo quietinha e silenciosa, dei um pulo na cadeira quando a senhora se levantou e, colocada por cima de mim, decidiu que tinha ordens para dar ao empregado de mesa. Olhei-a supreendida, mas ela não se rendeu; depois desculpei-a, imaginando que, seguramente, ainda não tinha chegado ao capítulo sobre "não gritar por cima da mesa vizinha" do livro daquela senhora com a cabela cilíndrica que se chama Paula Bobone.

Não me entendam mal. Eu não tenho nada contra o mau gosto genuíno, de criação. Daqueles que vem com o chá. Os maus gostos que se ostentam, orgulhosos de si mesmos, inconscientes dos gritinhos de aflição dos bem educados. Também não tenho, aliás, nada contra o mau gosto fabricado. Mas esse, por isso mesmo, diverte-me.

Os D'ZRT passaram por aqui há uns dias atrás e eu quase tive de ir pedir-lhes um autógrafo. Quase.

Agradecimentos e

A lolita tem razão. Foi ontem. Dois anos parece muito tempo, mas não é. Depende da maneira como se está no tempo e, algumas vezes, como deixamos o tempo estar em nós. E do acaso, do desconhecido, claro, que nenhuma equação faz sentido, como proposta, se não incluir, ao menos, uma incógnita. Uma equação desprovida de incógnita pode ser uma útil tabuada, mas mais nada.

Realmente, pensando bem, eu nunca disse que não era ontem. Não me lêem, é o que é. Eu não mereço mais que uma leitura apressada, estou de acordo. Não merecerei, sequer, isso. Mas a minha falta de mérito não me impede de ir sabendo, a cada passo, o que quero dizer. E o que digo. E nunca disse que não era ontem.
Que mais faz?

Bom.
O aniversário dum blogue não é como o aniversário das pessoas que o fazem, ao blogue. Quero dizer: não é o aniversário das pessoas, é só o aniversário duma coisa que as pessoas fizeram.

Pensando bem, vai dar na mesma coisa. Somos nós que, tirando o episódio do nosso nascimento ("andastes na brincadeira, aqui há muito atrasado, hem, cotas?"), estabelecemos os nossos marcos. E as nossas marcas, por ténues que sejam.
Por isso, duas coisas.

1 - Muito obrigado à Bomba Inteligente, ao Tugir, ao Espumadamente, ao Vilacondense (sempre com um dia de avanço, estes anti-sportinguistas primários) e a alguns outros que, eventualmente lendo-nos, se tenham lembrado de nós. A lolita disse-me que consegue, lá em Madagáscar (onde está de férias com a Iva Pamela e o Jorge Gabriel), aceder ao "tequenorate". Eu não consigo, de maneira que me pode estar a escapar algum. Espero que esteja, por motivos óbvios. Ela suprirá essa falha, se ela existir. E acrescentará o que me falta. Há pessoas com esse poderoso poder de corrigir.

2 - Peço desculpa a todos os blogues que não felicitámos na altura do seu aniversário. Não foi por mal, pode ter sido por ignorância. Ou negligência. Mas não foi por mal. E pode, até, ter sido, por um motivo mais pueril e plausível do que estes: pode ter sido por, ignobilmente, embora com a desculpa de termos a certeza de que "isto é geral", gostarmos mais de escrever do que de ler.
O que, admito, faz de nós uns biltres com tendência paa o autismo intelectual. Cuido, mesmo, que a lolita há-de acabar por reler as "Selecções do Reader's" enquanto se "encaipira". E eu por... eu, a bem dizer, nem sei.

Vi o "E.R.", na 2. E, a seguir, a "Educação do Max qualquer coisa".
Há fimes, séries, que condensam tudo, por serem muito rápidos(as). Mas há, ali, beleza. Compete-nos separar as partes rápidas demais, as que nos transmitem inverosimilhança, em pequenos pedaços de tolerância e beleza avulsa, separada, verosímil. As coisas passam-se, geralmente, mais devagar, mais desprovidas de ligação imediata, menos intensamente. Mas passam-se. Antes de passarem, as coisas passam-se.

No E.R., Green tem pouco tempo de vida. Tem um tumor no cérebro, que é o coração da alma. Green é o internista da série, aquele que mais podia ser eu. Namora com a cirurgiã inglesa que está a responder por suspeita de negligência, num caso que custou a possibilidade de andar a um doente que operou. Ela mentiu: sabe, agora, que podia ter feito melhor. Que devia. Mas mentiu, porque sabe que essa sabedoria tardia lhe pode custar caro. Muitíssimo mais caro do que ela merece. Ela sofre, e não se devia punir demais quem sofre, quem sofre já detém a parte pior da punição. Isto aplica-se ao homem que perdeu o andar? Também. Claro.

Ela sofre, mas Green não resistiu e contou-lhe que está fodido, na mesma noite em que ela precisava dele, sobretudo, para a assegurar (a ela) que não estava fodida. Mas ele não resistiu e contou-lhe. São diferentes tipo de foda, as fodas são todas diferentes, mas uma coisa é certa: são sempre definitivas, ao menos durante algum tempo. Geralmente, até à próxima, em havendo tempo, vontade e ocasião para prosseguir. No caso de Green vai ser por pouco tempo.

A ocasião faz o ladrão? Não. A ocasião mais não faz, geralmente, que o que tem a fazer. Há uma vantagem suprema da ocasião sobre os homens e as mulheres: os homens e as mulheres nem sempre fazem o que têm a fazer. A ocasião, em a deixando à solta, tende a cumprir-se. Quase sempre.

24.8.05

É hoje.

Não foi há dois meses nem foi ontem; não se deixem enganar pelas diatribes besugais. É hoje. Há dois anos atrás nasceu o blogamemuxo*.

Vou festejar com uma caipirinha e volto mais tarde.

*Nickname com que nos referimos ao blogue na intimidade. Como se vê, até ao blogue demos um nick.

Gringa!!!!

Eu é que lhe emprestei o "walkman" (neste caso, se bem a conheço, o "restlady"). Mas isso ela não diz, nem mesmo hoje que estou de luto, estou para aqui assim...

Não foi por una cabeza, foi mesmo por 3-2

Perdoo o frango do Ricardo. Não chateio o Peseiro. Nem mesmo o Beto, esse rapazelho eterno e lento, que havia de ser capitão mas era do Benfica. Nem o meu Pai, que estava sempre a dizer mal do Pedro Barbosa. Olhe, Pai, viu agora?

Não me desculpo é a mim: como é que ainda fico dorido com isto? Pior ainda: como é possível que eu saiba que, em não me atalhando, hei-de ser sempre assim, uma espécie rafeira de bipolar rápido (do género "puta madre, que dolor, ay, ay, pero no pasa nada, arriba!"), e não faça nada para me curar?

23.8.05

Muchas gracias, señora!

Muito obrigado. Tão bonito.
Cinco anos sem a chatear, sem lhe pedir nada, contados a partir de agora. Ganhou-os.

"Cuántos desengaños, por una cabeza. Yo jugué mil veces, no vuelvo a insistir."
Eu acho que ele volta a insistir, é dado a desabafos, apenas.

Salvem as amêijoas.

A imagem do riso dos nossos filhos é ainda mais bonita quando se riem enquanto ouvimos Rachmaninov esquecendo que, aqui a cem metros de distância, há um estafermo em forma de betão chamado Praia da Rocha. O meu sonho, aquele do outro dia, não me sai da cabeça.

Enfim, quando se está de férias desperdiça-se tempo em inutilidades na mesma proporção com que se ganha. Eu, quando não tenho nada que fazer, vejo muito e ouço muito. Dedico-me a (in)actividades que se tornam proveitosas e, até, úteis, fazendo uso apenas dos dois sentidos mais passivos de que disponho. Descobri, assim, que as pessoas em férias se tornam muito mais agradáveis se ao ruído que produzem se sobrepuser o som de uma música. Tornam-se, até, bonitas; os gordos movimentam-se mais graciosamente e os nórdicos até parecem mais meridionais.

O Algarve todos os Verões se desperdiça de forma lamentável. Os anglos, os saxões e os vândalos preferem piscinas às praias, preferem pizzas ao peixe fresco, preferem hamburger&fries às sublimes ameijoas. Em Alvor, é fácil reconhecer um adolescente inglês: antes das sardas que pintalgam a pele leitosa, repara-se na camisola da selecção portuguesa(!). Estranhos fétiches. É a estes europeus, de que os que aqui vejo são amostras relativamente aproximadas, que estamos unidos. Veja-se bem. E nós é que nos esgotamos a queixar-nos dos nossos atavismos nacionais.

Tenho lido muito. Li contos do Oscar Wilde, li as cartas de Clarice Lispector ao Fernando Sabino (e vice-versa), li a Susan Sontag a falar de fotojornalismo de guerra (tema que, acreditem, é bastante mais soturno se lido num resort de férias). Usei-os, também, como meio de afastar o ruído dos saxões...

Ontem saíram daqui dois felizardos a caminho de Buenos Aires. Prometeram-me tangos, dos genuínos, porteños. Por una cabeza, talvez. Aqui, na Costa do Marfim, não há tangos mas, quem quer, trá-los consigo. Eu trouxe, besugo. Na cabeza.

Aos que já trabalham, bom trabalho. Aos que estão de férias, o melhor que lhes posso desejar é que não estejam na Praia da Rocha. Ao besugo, peço que me mantenha ao corrente sobre a "onda suicidária" que percorre a blogosfera e aviso que, quando tiver mais do que meia hora para escrever, voltarei ao assunto aspirinas vs intermarché.

Tenho saudades do Porto e do Douro. O que é bom.

Peço pouco, mas peço. Dar, dou mais. Acho eu.

José Medeiros Ferreira, que toda a gente sabe quem é, relançou o tema do anonimato na blogosfera e, por arrasto (porque uma coisa não está ligada com a outra, a não ser pelos motivos inerentes ao facto de toda a gente saber quem é José Medeiros Ferreira e ninguém saber quem é o besugo, é mesmo por aqui que se vai), a questão da utilização pela classe jornalística, quando "on duty", de escritos e pensares da blogosfera.

Se, em relação ao primeiro tema, parece que isto é consensual (eu, que assino besugo, posso ser responsabilizado pelo que escrevo, ainda que não me fosse revelando no que vou escrevendo, ao ponto de ser possível, facilmente, ir pescar-me ao hospital em que trabalho, encostar-me à parede e esfregar-me nas ventas rebentadas o anzol acusador do "então tu dizes isto, hem? pois, pois..."), já em relação à segunda questão, que se situa noutro plano, é dum foro mais elitista.
Não tenhamos medo às palavras, cada mister tem as suas elites, as elites não são pecado.

Acredite, Medeiros Ferreira, que ninguém vai inspirar-se no que escreve o besugo para fazer um editorial, ou uma "caixinha" de 1 por 16 avos de página, em jornal nenhum. Não, aí a questão é, mesmo, com os senhores, os que são conhecidos, os que assinam o que pensam e escrevem e permitem, mesmo assim, que isso lhes aconteça. Os senhores é que têm de fazer o que faz José Pacheco Pereira, por exemplo: ninguém lhe usurpa o Abrupto, porque o Abrupto é ele e - ele faz gala em que isso se saiba, e faz muito bem - toda a gente sabe que é ele. E mais: que é dele. E se lho usurpam, ele refila. E alto! Os senhores, já que assinam, mesmo que não sejam, aqui, o que são sempre, têm de fazer saber que são, ao menos às vezes, isto aqui. Doutro modo, serão sempre roubados no vosso pensamento, deturpados. Referidos, anonimamente, "entre outros". E não passarão de besugos que assinam. Isto, para mim, seriam batatas. Mas para si, não. Pense nisso, por favor.

Quanto aos comentários, permita-me um conselho, que eu não assino mas ando aqui há quase dois anos (aproveito para lembrar que fazemos 2 anos no dia 24, agora já se percebeu por que raio é que escrevi isto, suponho, eu traio-me sempre; bom, pode ser uma prenda pequenina; já agora, uma caixa de queijadas de Vila Franca do Campo, ou um bolo lêvedo): não os permita. Pelo menos anónimos. Há muitos blogues, quem quer faz um, é fácil, e quem quiser falar consigo, interpelá-lo, mesmo deixando - era o que faltava que assim não fosse! - ao seu livre e legítimo arbítrio o incómodo de responder, pode fazê-lo assim: no seu próprio blogue. Como eu fiz agora. Na blogosfera é assim: eu não sei se me vai ler, não sei se me vai responder, ainda que me leia, mas fiz uma inscrição no blogger que lhe permitirá saber quem sou, se eu o incomodar. Isto é verdade. E o mais engraçado é que é verdade também para si.

As caixas de comentários são muito interactivas, podem resultar em excelentes punhetas virtuais, mas constituiram-se na nova diversão dos tarados provindos de certos "fora" pouco recomendáveis: "deixa-me lá ir mandar umas bocas ao Medeiros Ferreira, ou à Mãe, antes de ir ver a SIC Radical e mandar SMSs para aquele programa buédafixe".

Isto vale o que vale, é a minha opinião. O Murcon (não linko, porque ele não linka ninguém, gosta da caixinha dele, basta-lhe isso, tem esse direito), por exemplo, faz exactamente ao contrário.
Não caia nessa, digo-lhe eu. Mantenha a sua casa limpa do "lixo internáutico", esse sim, verdadeira e torpemente anónimo. Anónimo, mesmo, no sentido das cartas do Dâmaso acerca do Maia, publicadas na famigerada "Corneta do Diabo". Evite isso, se puder, enquanto puder.
É que nem sempre há-de ter aí, à mão, um Ega que conheça o Palma Cavalão que, por sua vez, o há-de levar ao seu Dâmaso, para o senhor lhe poder favorecer o lombo com as merecidas bengaladas.

22.8.05

Tango

Não sei pôr música no blogue. E queria. Não é habitual em mim, isto. Quero dizer, querer, é. Querer música no blogue é que não. Acho que tanto faz, quase sempre. Mas, agora, queria.

É muito bonita. Lembrei-me dela ontem. É um tango. Se calhar nem é dos tangos mais bonitos, mas para mim é. É o "Por una cabeza", já falei dele ontem por causa do Al Pacino, as senhoras e os senhores é que não me ligam.
Faz-me lembrar o filme. Faz-me lembrar de mim. Faz-me lembrar ausências. "Pequenos males", diria um neurologista. Um psiquiatra não sei.

E já dancei isto.
Bom, não foi bem dançar...

Eu danço bastante mal. Tenho uma amiga, que já não vejo há muito tempo, que costumava arreliar sempre que ela me deixava arreliá-la. Até aos quarenta anos fui um arreliador, sim; chato, enfadonho, sou só desde essa altura. Não é há muito tempo.
Eu dizia a essa amiga que o Pierce Brosnan era um tipo apaneleirado. Como, de facto, é. Isto se você achar que é, claro, senão não é, pois. Bom, o certo é que ela afinava, achava-o bonito, gozava-me, dizia-me que "quem não sabe dançar acusa o próprio chão do salão de estar torto". Isto tem imensa ligação, eu é que não consigo explicar-me bem.

Bom. Eu não costumo pedir coisas. Mas peço esta. E dirijo-lhe o pedido. Dirijo-lho sabendo que até pode pensar, de mim, que "olha este, pede poucas vezes mas é sempre a mim: ó homem, você não conhece mais ninguém? é tudo eu? e se você fosse antes ajudar a apagar dantescos?".
Veja se me desculpa: eu gosto muito da música, sei que também gosta (não me pergunte como sei, sei) e que consegue facilmente o que lhe estou a pedir. Repare que eu peço só isto, depois fico cinco anos sem pedir mais nada, juro-lhe! Cinco anos, bolas! Olhe que eu posso morrer entretanto!
Concordo, sim, foi um momento de tentativa de pressão um bocado lamechas, além disso você quer lá saber se eu morro ou não, ok, lá estou eu outra vez, mas posso morrer em menos tempo ainda, ok, eu calo-me.
Mas pronto. Peço-lhe que a ponha, à música, no Bomba Inteligente, num daqueles posts descartáveis, mesmo sem imagem, que não carece.

Não está para aí virada. Eu sabia. Bom, se não estiver para aí virada, além de ficar a saber que é uma birrenta, imagine, ao menos, este cenário: você está sentada num bar qualquer, ali para os lados do bairro de Boca, com amigos. De repente, começa a ouvir-se o "Por una cabeza", dolente, vermelho, quase púrpura. Você levanta a cabeça, porque escutou ruído de tropeços. Firma o olhar por entre o fumo e percebe tudo: o besugo também lá está, foi de barco para Buenos Aires (enfim...) e decidiu dançar com a lolita, regressada da Costa do Marfim, que ainda protestou: "lá vamos nós outra vez, valha-me Deus, o que eu aturo a este animal!" . E tudo se passa no meio do salão: o besugo estatela-se num volteio paquidérmico, a lolita deixa-o ali, no prato ladeiro da sua (do besugo) volumosa inépcia, e vai ter consigo, à sua mesa, rindo muito. Você não resiste e ri também. Conversam um bocadinho as duas, em voz alta, sobre "que tortos são certos soalhos, sobretudo para toscos que nem sequer percebem o Desperate Housewives!", enquanto eu, leia-se o besugo, saio pela esquerda baixa, amarrotado, para beber um copo terapêutico com o Evaristo (que chegou a Buenos Aires de avião, proveniente de Bondade Pura, que é uma terra que fica longe).

Imagine isto e diga lá se não lhe parece melhor assim. Põe? Não? Mesmo assim, eu de bruços, não põe?

Então, última tentativa de besugo. Eu sou tosco mas determinado. Considere, por favor, este facto, as mulheres gostam cada vez mais de factos, talvez este a toque: no Bomba, como sabe, vai ouvir mais gente. Até a lolita, lá na Costa do Marfim, pode escutar.

Sim?

Eu importo-me, chateia-me

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Areia grossa (Póvoa)

1 - O Francisco acabou com o Aviz.
O Francisco, esse "grande pairador que também brinca aos hooligans", um dos maiores responsáveis desse restrito grupo de uma dúzia de"culpados" pelo crescente interesse que esta coisa dos blogues foi despertando nas pessoas, levando muitas delas (como a lolita e eu, e mais tarde o alonso, por exemplo) a experimentar manter um, o Francisco, dizia, despediu-se com a simplicidade e a simpatia dos bons. Vai "pairar", agora, pela Gávea, apaixonado que anda, percebe-se isto há cerca de um ano, pelo Brasil e pela literatura brasileira.

Vamos lá visitá-lo, claro. Aliás, ele é dos que podemos, sempre, ler noutros lugares.

Prometeu novo blogue, não se sabe se para breve. E, antes de se ir embora, foi, uma vez mais, generoso. Isto é verdade, não apouca agradecer, cuido eu: no DN, fez referência a alguns dos blogues portugueses, dos muitos que afirma gostar de ler. E falou, entre outros, neste, no nosso pequeno blogame mucho. Eu soube pela Miss Pearls.

Isto agradece-se. Agradece-se por inúmeros motivos (aliás, se havia coisa que o Francisco fazia muito, no Aviz, era referir variadíssimos blogues que ia lendo, divulgando-os e estimulando, desta forma, os seus escribas, de forma sempre cordial e gentil), mesmo apenas por educação, mas, fundamentalmente, por dois: porque estas coisas sabem muito bem e porque enternecem.

Muito obrigado, Francisco, por tudo. A gente espera.
(E já te restaurámos a perfeita dentição, tu sabes, aquele deplorável episódio do "poster-alvo, enfim, fui praticamente obrigado...)

2 - Também encerraram outros blogues. Desde logo, o Jaquinzinhos. Muito bem escrito, humor corrosivo, discurso escorreito, quase "matemático" quando se tratava de defender pontos de vista. Sobretudo dedicado às coisas da política, podia ser intratável em temas económicos. Sportinguista. Foi pena, faz falta, teremos de o passar para a lista das "licenças sabáticas" até dar, de novo, notícias.
O Fora do Mundo era um projecto que juntava o Francisco José Viegas, o Pedro Lomba e o Pedro Mexia. No fundo, foi sendo alimentado por Pedro Mexia, que ia-se percebendo, estava a ficar cansado daquilo. A linha era mais intimista, menos interactiva. E era um projecto de três escritores que não resultou plenamente, como seria fácil de prever: os criadores, mesmo os da escrita, trabalham melhor separados. Sozinhos. Blogues colectivos funcionam bem quando adoptam uma temática - nomeadamente política, um projecto qualquer, ou um conjunto deles- e uma postura "corporativa" (no sentido de possuirem ou criarem "espírito de corpo", a ver se me explico bem). O Blasfémias, O Acidental, O Mar Salgado (aqui não é bem por isto, mas não sei explicar porquê), o Barnabé (enquanto não se chatearam e fecharam aquilo), o Blogue de Esquerda, o Causa Nossa, o recente Bicho Carpinteiro (entre outros) são alguns exemplos disso. Embora não se esgotem no que eu disse, bem pelo contrário.
Ou então, para serem colectivos, têm de ser "blogues de amigos", pequenos, sem rumo definido, quase sem tema, que é o caso do nosso. Assim também pode funcionar (embora esta casa não tenha rei nem roque, como é sabido. Neste momento, por exemplo, não faço a mínima ideia onde páram os outros, excepto a lolita, que está algures na Costa do Marfim a estudar a fauna bivalve).

Voltando atrás: eles voltam. Têm outros projectos, escrevem noutros lugares, mas um dia voltam. Pegando na última frase do "Jaquinzinhos", que disse que "está na altura de acabar com o bicho", o bicho atacará de novo. E ainda bem.

É possível que outros blogues tenham acabado, entretanto. Não sei. Espero que não. Gosto de os ler, concorde com eles ou não, gostem eles de mim ou devotando-me o fastio que se dedica à "fraca comida". Espero que isto não se torne numa coisa qualquer assim um bocado "endemico-epidémica", do género "Oh! chateei-me, vou-me embora, prontos!" , quando não acabamos por ficar nós para aqui a escrever sozinhos, com cara de tontos. Eu sei, lolita, eu sei, sossega lá a verrina, caladinha, sim?)

Eu gosto destes filmes, paciência.

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"O que vem a ser isto?" - perguntou o apresentador do programa "60 minutos" , perante um homem normal, já grisalho, um bocadito descontrolado porque pressentia que estava fodido e que, ainda por cima, teria podido evitar a foda.
"Isto? Isto é gente normal sujeita a uma pressão anormal." Respondeu o Pacino, naquela voz rouca de gajo que parece, sempre, que vai morrer cedo dum cancro na laringe.

Devo dizer que prefiro sempre pensar que "ordinary" quer dizer "normal". Porque "vulgar" tem um aroma tão fétido a "ordinário" que nos parece sempre que não é connosco. E é sempre connosco, tanto faz corrermos como saltarmos. Ou estarmos quedos.

Outra coisa bonita:
"Sabes por que cedi? Por que me deixei comprar? Porque já tenho 78 anos e, sobretudo, porque não estou para que me despeçam, obrigando-me a ter de ir trabalhar para a Rádio Pública!"

Daqui extrai-se que o último patamar do degredo, o verdadeiro ghetto americano, é o "rés-do-chão-quase-sub-cave-do-que-resta-do-público". E que, para não irmos lá parar, cedemos. Ou tentam fazer-nos ceder. E que, e isto é o mais grave de tudo, mesmo indo lá parar (ao "público"), nós, que somos bons (tão bons que não estamos lá ainda, por enquanto, no patamar de baixo, na catacumba "pública"), não fazemos "lá" diferença nenhuma: gente boa, no "público", deixa de o ser. Isto daria que pensar, mas para quê pensar, aleluia?

Que vida é esta? É a vida deles e é a nossa vida. A diferença nem sequer é subtil, não a há. É a nossa amável e global purpurina, pronto, enfeita. Não discuto isto, só sorrio. Se, um dia, levar um murro nos dentes, ao menos que eles estejam expostos num sorriso. Eu lavo-os, brilham muito. Haviam de ver.

Gosto muito de ver filmes sobre o capitalismo, sobre complicados jogos de decisões difíceis, sobre "os problemas gerados pela competência". Enfim, isto resumido, mais não é que isto: filmes sobre a vida. Ou seja, filmes sobre o jogo de pressões do "guito". Ai não é sobre o "guito"? Então é sobre o quê? As petúnias?

Há pessoas que têm o "guito" sempre nos olhos, ainda bem, ao menos vê-se. Outras é só na testa, vê-se menos. Na testa vê-se menos, tudo.

Eu gosto, sobretudo, isto variando, de ver filmes onde entra o Al Pacino. Lembram-se do "Perfume de Mulher", aquele fabuloso tango olfactivo, "Por una cabeza"? Tenho várias versões, tenho, mesmo, a do Gardel, o Paco arranjou-ma há uns anos e estou a escutá-la agora. Se me ensinarem como se faz, ponho-a no blogue. Senão, ouço-a eu: que mais faz?

Vejo-os, mesmo, aos filmes dele, do Pacino, enquanto outros se divertem mirando repetições em câmara lenta da queda do muro de Berlim, somando razões certeiras para a sua queda. Melhor, para o seu derrube.
Eu sustento que nem sempre se derrubam coisas más pelas razões boas, da mesma forma que, concedo, nem sempre se derrubam coisas boas por razões más. Derrubar é um acto independente das suas consequências, ao menos enquanto se executa o derrube. Se assim não fosse, não se derrubava nada. Pela mesmíssima razão, nada se erigia.

Podemos conviver todos, mesmo assim? Não sei, mas chama-se a isto civilidade opinativa. Civilização é outra coisa.
Eu escrevi isto, coisas simples que se escrevem no fim dum filme, antes duma segunda-feira. Se querem um texto mesmo bom, vão lê-lo aqui.

21.8.05

Trabalhos de besugo

Vou tentar escrever uma coisa concisa. A ver.

Pode ser sobre isto:

1 - Em lugar de se questionar sobre o merecimento do Bono em receber seja o que for das mãos de alguém que tenha um ar lavado, a inteligente criatura resolve implicar com o aspecto do raio da medalha que Portugal lhe deu. Ao Bono e aos outros três tontos. Aqui, Delgado é confusote. Não se percebe bem aonde quer chegar. Se quer gozar com o Bono e os outros três tontos (que são menos ridículos que ele, embora pouco), se pretende achincalhar Sampaio (não consegue, era como se o Petit chamasse feio ao guarda-redes da Alemanha, aquele que mamou três secas em 2000) ou, ainda, se está a gozar com Portugal inteiro.
Isto é típico de gajos buédaespertos. A sério, reparem.
De vez em quando, sobretudo quando têm, enfeitando-lhes uma espécie de cara de cu, um nariz comprido (tipo morcela murcha), uns olhinhos de morcego (tipo miastenico gravis) e um projecto de queixo metido para dentro (Delgado não é assim, mas vai dar no mesmo, que há outros que têm o focinho assim, eu já vi), certos pataratas gozam com o país deles. Fazem isso como se não fizessem parte dele, do país deles. Queriam outro país, às tantas. Ou outro focinho.
Deve ser mais ou menos isto. E, se for mais ou menos isto, Delgado chegou lá bem. Mas, dependendo de mim, não só lá chegou bem como lá chafurda estupendamente. Mesmo tendo queixo e nariz mimoso, sim, que ao pé de quem estou a pensar, Delgado é uma estampa.
Não, não digo em quem estou a pensar, que dá-me o riso. E isto é buédassério.

2 - Boa. Esta, catano: que finura! "Ignição". Aqui, Delgado já esteve mais ao seu nível. Medalha "Ignis Dei" para o lúcido homem. Percebe-se, ao menos, que critica as férias do Sócrates. Mas que, apesar disso, não lhe desejava o regresso. Aqui é que reside a fina ironia de Delgado. Por dois motivos: não quer cá o albicastrense porque não extingue incêndios e porque tem potencial ígneo. Ou seja, para o próprio Delgado perceber o que disse, porque não só não os apaga como os ateia. Boa malha. Que cabeça! Usada como bigorna fazia-se lá em cima muita obra de latoeiro. Dai-me um martelão. Sim, também pode ser um Vale Pradinhos, tinto. Que omeletas aí andam.

3 - O estudo da Anatomia ocupa dois anos do curso de medicina. Ou ocupava, agora não sei. Às tantas têm uma cadeirita trimestral de Anatomia e cadeirões quinquenais de Gestão e Relatórios, já não sei, a sério. Também não interessa.
Como já não estudo anatomia há muito tempo, dá-me para desejar coisas perfeitamente anti-anatómicas. Por exemplo, gostava que Delgado tivesse uma colostomia. Uma que lhe drenasse o pensamento, de lá, de onde toda a gente sabe que o pensamento dele brota, directamente para o exterior. Exactamente, para um saquinho. Assim, as coisas que ele pensa escusavam de subir tanto para sair, a coisa passava-se-lhe toda abaixo do diafragma.

Pronto. Quinze linhas. Não as contei, mas há-de andar por aí.
Ai são cerca de trinta e picos? Ok. Foda-se, então.

18.8.05

Relatório semanal à Lolita

Não sei se tens apanhado sol a mais. Se for o caso, protege-te. Se não for, cuidado com as caipirinhas.
Eu por cá estou, a tomar conta disto o melhor que posso. Não me tenho metido com ninguém, não tenho escrito palavrões e, suprema surpresa de lolita, nem sequer tenho falado do Sporting. Tenho estado compostinho.

Podia vir aqui dizer, por exemplo, que defendo a venda de presunto e de costelas rapadas, que têm grande teor salino, em farmácias. Com bula, por causa dos hipertensos. Mas não, como podes verificar tenho-me mantido nos limites estritos da decência e da seriedade.

Ontem houve um incêndio aqui perto, na serra das Meadas. Aquela que fica ali ao fundo, do lado de lá do rio. Era grande. Tirei uma fotografia, mas como foi com aquela máquina do costume, a que me custou só 39 contos, incluindo impressora HP de jacto de tinta, ficou estranha. Não a mostro porque parece que fotografei o filamento duma lâmpada acesa.

Por hoje é tudo. Não há grandes novidades e, as que há, vês nas notícias. Amanhã é sexta-feira, começa o campeonato. Mas, antes, a Mafalda vai lá fazer o Taxol (com os tais factores de crescimento). É aquela de quem te falei há uns dias, a nova, a dos 27 anos. À noite é que joga o Sporting, parece que dá na TVI. O Peseiro deu uma nova conferência de imprensa e parecia um bocadinho com os copos, acho que ele pensa que treina o Manchester United ou o Milan. Ou, então, um grupo de hipertensos, derivado àquilo da "pressão alta" que ele gosta de dizer, ultimamente. Não sei. Tenho um mau palpite (até tenho dois, calcula), mas descansa: não hei-de vir para aqui desabafar enormidades.
Se calhar estou a crescer. Ou, então, não. Vai dar no mesmo.

Um abraço e boas férias.

P.S. - Se o vires por aí, de chapéu, a zanzar pelo Vau, diz-lhe que limpe as mãos à parede. Ou, em alternativa, que as limpe no Sócrates, ou no Correia, ou, mesmo, no Vitorino. Mas que as lave bem, primeiro, com o sabão Clarim que me recomendaste em tempos. Se resolver limpá-las no Vitorino que as sacuda bem antes, sim? Quando não, enxarca aquilo, temos aí um afogamento.

Talvez tenha apanhado sol demais.

Não estou na Praia da Rocha, mas estou ao lado. Eu, que todos os dias passo por lá, confesso que, como o Luther, tenho um sonho recorrente em que as torres Miramar, Luz do Sol, Sol da Luz, Rocha Linda e Penedo Poente se desmoronam como pirâmides de cartas de jogar. As churrasqueiras do franguinho-a-parecer-leitão também.

Por agora é tudo. Eu volto.

Eu quero comprar gasóleo nas retrosarias!

Estive a ver o filme de cowboys do Clint Eastwood, com o Clint Eastwood. Estou bem.
Um dia destes pode ser que dê, na RTP, um filme qualquer do Sean Penn, com o Sean Penn. Nesse dia eu escaco a porcaria do aparelho, a menos que alguém o desligue antes. Ou a mim.
Bom.

Estive a ler o Vilacondense e o Trenguices e o Causa Nossa. Li, lá (lilá, esta saiu-me "de esterqueira", olha...), sobre as farmácias e sobre a venda de medicamentos em outros sítios. Isto faz-se lá fora. Eu sei. O Sean Penn também foi feito lá fora e, convenhamos, é uma valente bosta.

Mete-me impressão que se aviem remédios fora das farmácias. Pronto. Quando se falou nisto pela primeira vez ainda pensei que ia haver alguém, nos supermercados, a prestar informações, a supervisonar as vendas. Não vai haver. Pelos vistos, vai haver um especialista por "cadeia de supermercados". Não me chega. Pode ser que vos chegue, a mim não me chega.
A mim chega-me pouca coisa, por isso já vêem...

Conheço vários farmacêuticos e farmacêuticas. Não conheço o Mário, ainda, tenho pena. Conheço daqueles que possuem farmácias e conheço dos outros, que trabalham em farmácias hospitalares. Conheço bastantes farmacêuticos competentes. Fiz, além disso, parte duma Comissão de Farmácia e Terapêutica, no meu Hospital. Habituei-me a respeitar os neurónios farmacêuticos, coisa que muita gente não faz, porque não consegue, não percebe. Os médicos deviam reunir-se, frequentemente, com os farmacêuticos. Trabalha-se bem. É a minha opinião.

Não gosto do bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. Isto é "por outro lado". Mas eu não gosto de Ordens, também já o disse várias vezes.
Isto é, evidentemente, supérfluo. Pus isto aqui não sei porquê e não apago pelo mesmo motivo. É uma das vantagens de ter um blogue, aliás: é isto e não ter caixa de comentários, ao menos não os lemos. Não é?

Estou de acordo com o que o Mário diz sobre a qualidade das farmácias: é boa. E podia ser melhor. É como tudo. Refiro isto: nem sempre se aconselha, nas farmácias, o bom uso dos medicamentos de venda livre. Dos Panadois. Mas, também, nem sempre os médicos prescrevem paracetamol explicando os riscos do abuso. Isto não é complicado: o que não é, é simples. Há muita gente que nem o nome sabe pôr, meu Deus, a tomar remédios que trazem bulas explicativas desdobráveis e em letra assim!

Não sou um liberal. No sentido de hoje, não sou. Peço desculpa, não consigo. Acredito nas farmácias hospitalares públicas, conforme creio nas virtudes da medicina pública. Acredito nas virtualidades da disciplina, embora a reconheça, à disciplina, como uma das mais confrangedoras peias da criatividade. Mas também reconheço isto: grande parte das enormes merdas feitas à superfície da Terra (e no subsolo; e, mesmo, na atmosfera), só nos últimos setecentos lustros, foi obra-prima de criativos.

Em não podendo ser - não querem, ora! - um sistema público fogoso, como eu gostava de experimentar, com as farmácias hospitalares competindo directamente (e tenazmente) com as tais 2700 empresas privadas de que fala o Mário, estou de acordo com ele: sendo assim, já que não querem como eu digo, paciência, mais farmácias. Deixem lá os farmacêuticos abrir farmácias novas onde delas se carece. A acessibilidade deve ter qualidade. E as farmácias têm, até que me demonstrem o contrário, qualidade. Sendo assim, digo eu, mais farmácias e menos chinfrim por aspirinas a 10 cêntimos.

O problema da indústria farmacêutica é diferente. Olarila. Se queremos falar de monopólios, é aqui que se deve abrir a chaveta. É evidente que não se baixa o preço dos medicamentos só porque se colocam os que já são de venda livre nas prateleiras da Sonae. Isto é uma verdade peregrina. Eu concebo que o Pingo Doce venha a oferecer dois pares de peúgas de nylon a quem comprar uma caixa de AAS, só para competir com o Continente, que oferece, pela mesmíssima aquisição, dezassete caramelos. O que isso há-de contribuir para a poupança nacional, individual ou colectiva, há-de caber entre os incisivos de Sócrates. Sobejando espaço.

O problema real dos preços dos medicamentos, bom, meus amigos, é já a seguir: vem aí o Clint Eastwood resolver. A menos que o Penn decida resolver antes, caso em que a película será mística e merdosa, solicitando-se tropisetron endovenoso - logo na ante-estreia.

Como costuma dizer o excelente Júlio Machado Vaz, sempre que lhe apontam a câmara da despedida - semicerrando os olhos naquele sorriso de "velho garnizé, provavelmente sabido e, aparentemente, cansado do saber" (mas eu é só da fadiga braçal, que trabalhei muito ontem e hoje; e amanhã também lá vou, pois...) -, olhem, "fiquem bem".

17.8.05

Reportagem do Exterior

- ... e temos, no local, a repórter Carla Marina. Carla Marina?
- Sim, de facto, o dantesco ainda lavra. Não pára de lavrar, o dantesco, e a noite não vai ajudar. Nem a noite, nem o vento. Nem os bombeiros, nem nada. Ele lavra e é dantesco. E lavra.
- Obrigado. Mais acima, temos a repórter Sónia Patrícia: que vês daí, Sónia Patrícia?
- Vejo daqui, de cima, o mesmo que o caralho da Carla Marina vê dali, de baixo. Querias que visse o quê, o chapéu do Bono? E está quente como o caraças! Posso ir tomar um banho à residencial?
- Estás em directo, Sónia...
- Ah! "'Xculpa". Então, pronto: dantesco. E lavra. Temos aqui um popular. Ó popular: o senhor está a ajudar a apagar o dantesco?
- Sim, exactamente, apagar o filho da puta, pois.
- Isto preocupa-o?
- Não, nada, isto é buédafixe, anda cá que eu mostro-te já uma coisa que te vai pôr a arder...
- Muito obrigad... Ai o car...! Tu põe-te manso, ó cromo! Tira a pata, sim? Ai o car...!
- Foi a Sónia Patrícia, algures acima da Carla Marina, no dantesco que lavra. Em Israel, prossegue a retirada dos colonos...

Ele há-o!

É num estado de perfeita e miserável contrição que me desdigo. O que abaixo escrevi é ignóbil, quedando-se ainda ali, vergonhosamente exposto, apenas à guisa de penitência. Um pelourinho perpétuo numa praça da alegria à escolha de vossas senhorias.

Desculpe-me, excelentíssima senhora dona Viseu. Desculpe-me, excelentíssimo senhor Portugal inteiro. Perdoai-me ambos, excelentes e catitas senhores Abades, que eu pequei.
Eu excedi-me.

Corrijo já, senhores. E é agora:
"Não é bem assim, besugo, ó forte asno! Ele há aí talento, ele há saber!"

Pois há. E calo-me. Então não? Por quem sois! E logo perante vós, que sois quem sois!
Mesmo eu, passo a ser, imediatamente - se mo pedis assim, severos -, uma espécie piorada de conde de Gouvarinho, aquele sólido estadista que dava braço e leito conjugal à voluptuosa fulva que, sempre que podia, tresandava a verbena nas caleches eróticas do inútil Maia.

Espero que um Gouvarinho com fronte menos inspirada, já agora, em podendo ser. Não é pedir muito, mesmo de mão no peito e de joelhos frouxos, ajoujado pela culpa. Ou é?

16.8.05

Ditongos

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O museu da Póvoa é este. Por fora.
Serve esta, evidentemente, para falar de Viseu.

Ora, então, quanto a Viseu: é uma cidade relativamente pequena, com muitas rotundas, um bocado árida, com contentinhos a mais (consta que há, por lá, em barda, quem acredite que Cavaco vai voltar, fumando o "português suave da competência numérica"), que digerem, agora, outra frustração.

Explico isto? Perfeitamente.
Depois da merecida derrota "do Cândido" - é que se viam "tugas-provavelmente-viseenses" a apupar o solitário russo, nas bermas de Viseu, senhores!, estavam ali quase todos aos urros, ostentando verde-rubra bandeira, envergonhando o ideário geral do ciclismo, que é a dura e bela luta do indivíduo (ainda por cima num contra-relógio) contra a sua dor, em nome dum "tuga"qualquer que "joga em casa" -, dizia eu que, depois desta amargura de parolos, veio agora toldar Viseu, ainda mais, a impotência da nossa selecção de gajos com cara de burros (com raras excepções) em ganhar à Hungria. A Hungria não joga grande coisa, mas nós também podemos limpar as mãos à parede. Isto é cristalino.

O público de Viseu queria ópera. Mas ópera não é cá, nunca foi: cá (e em Viseu, já agora) é mais fadinho e, ultimamente, aquela merda do hip-hop e dos tipos que "rapam". Ou aquela coisa híbrida que os Dauísel fazem, aquilo que é para agradar, ao mesmo tempo, aos filhos e aos pais dos filhos, aquela seborreia inter-geracional, isso, aquela grossa e trenga merdice. E, também, já agora, aquela desgraceira dos "Humanos", já ouviram(?), sim, aquela miscelânea que é totalmente inaudível sem ser por uma causa qualquer que envolva interesses de barbearias e talentos frustrados (e fenecidos) de pouco Pitralon e muito paroxismo tonto, transformado em saudadezinha apanascada.

Bom. Viseu teve o que temos sempre: teve de mais e de menos, que Viseu é como nós, é consoante.
E eu prefiro vogais. Vogais abertas. E alguns ditongos.
Mãe. Estás bem, Mãe? Estás na Póvoa, ainda, Mãe?

15.8.05

Prosa tonta

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O pobre homem da Póvoa, essa espécie de Eça quase humilde (que só terá existido, humilde assim, convenhamos, na sua própria cabeça), tem ali, na Praça do Almada, além de estátua, estes dizeres.
Levei lá os meus rapazes: sendo a Póvoa o nosso lugar de passagem e estadia mais frequente, nunca se tinham aventurado muito para além da Avenida dos Banhos, da Rua dos Cafés e da Junqueira. Estão a crescer, ficam-lhes as passadas mais largas, mais capazes de os levar a espreitar os sítios, os lugares. Viram a Matriz, o museu, a Póvoa mais antiga, a Póvoa de dentro.

Não os levei ao cemitério: mal recordam o tio Zé, apenas que era grande e forte; e que parecia presidir, quase redondo, na mesa do fundo do andar de baixo do Diana Bar. Sempre, ali ao meio. E não é forçoso apoucar résteas de imagens de homens grandes e fortes, apenas porque já morreram e não podemos crescê-los outra vez.

Levei-os, antes, ao museu. O museu da Póvoa é pequeno mas cheira a maresia: a que haveria de cheirar? Não vi lá o Zé Flores, não admira, já o não vejo há tantos anos.
Leram e viram coisas do Cego do Maio, do Patrão Sérgio, do Patrão Lagoa. Viram o velho hospital. Casas poveiras. Viram o tempo.
Fascinaram-se com as marcas de gente que marca e que se marca: as marcas da morte, as da família, as do casamento. Se os homens tendem a deixar a sua marca em tudo, que espanto pode haver na naturalidade ancestral com que um poveiro as grava na memória e na memória das coisas? Contei-lhes que só quando tinha a idade deles, mais ou menos, me tinham explicado o que queriam dizer aqueles sinais estranhos, pintados nas barracas dos banheiros, na praia: eram os tempos da Maria do Sérgio, do Arlindo Mouco, do Augusto Caneta. Das férias de dois meses inteiros, onde cabia quase tudo.

Leram registos de naufrágios num livrinho velho. Letra antiga, aguçada, tinta preta. Passaram longos minutos a rondar o bote velho, com um rombo no fundo direito do casco, quase à proa. "Cego do Maio", chamava-se o salva-vidas altaneiro, antes do rombo. E ainda chama, pode-se imaginá-lo a galgar este destemido mar como se fosse um clarão de esperança, uma mão grande e nodosa que se estendesse, toda aberta, entregando, possante, a quem a agarrasse, a derradeira misericórdia.

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Aprende-se, assim. Aprende-se, ao menos, que um bote velho há-de ter sido novo, há-de ter envelhecido bem, há-de ter sido, um dia, belo e salvador. Vê-se isso, sobretudo, no rombo. Eu mostrei-lhes que é mesmo ali que isso se vê, que é onde se vêem melhor as coisas todas, é nos rombos, é por debaixo da pintura.

E eu revi tudo, também. Revi, mesmo, Eça, que me fascina até na sua morte sofrida. Cuido que há-de ter morrido dum cancro do estômago, queixava-se sempre dele, nas suas cartas. E fez padecer do criminoso cirro alguns dos seus personagens, sempre secundários.
Revi os meus sonhos de menino que, um dia, havia de ter uma traineira, perderia o medo e iria pescar, de noite, o seu sustento e o de uma prole inteira que ficaria em terra, numa espera ansiosa e confiante.

Ao passar por um espelho, nos passos da saída, vi-me lá. E fiquei calado. Ando agora a tratar de cirros, em lugar de bolinar no mar alto de me cumprir. E nem sequer os trato bem, aos cirros: Eça duraria, comigo, careca e aos arrancos, talvez, mais um ano.

Não falei nisto aos rapazes, que vinham ali cheios da beleza das coisas fora do tempo.

Coros

Aborrece muito qualquer coro que não seja afinado. E que, afinado ou não, não cante. Um que só faça "nhanhanhã".
Há agora aí vários grupos corais, quase canónicos - no entanto, apenas quase - , que se esganiçam a querer coisas:
"Mostra-me os planos da tua OTA! Mostra-me os estudos do teu TGV! Que andaste a fazer que o país está a arder? Põe-me aí a tua para a comparar com a minha!"
E assim.

Estes corais são chatos, porque são corais sentados. E, quanto a mim, sentadinhos não libertamos convenientemente o diafragma de forma a que ele, esse poderoso e menosprezado músculo, exerça o seu conveniente jogo de pressões que, combinado com a pujança das cordas vocais (para médicos intervencionistas: é aquilo que, quando não se está a passar-lhe um tubo pelo meio, permite que emitamos sons pela boca), pode criar beleza. Ou não, que o Bono e a Madona também cantam.

Bom. Admitamos que estes corais são aborrecidos. Podem cantar afinadinhos, mas entediam bastamente.

Eu digo, apenas, que mais aborrecido que escutá-los no seu repetitivo refrão de alapadinhos - e, se calhar, é só por isso que estes corais sentaditos são chatos, porque os deixam repetir-se até se lhes acabar o eco, o que pode demorar dezassete dias, mesmo mais - , é percebermos que a razão fundamental, a razão última, a definitiva e vergonhosa razão para que se não faça a vontade aos coristas de "parnaso", é duma torpeza infinita e chafurdante: é que não se pode fazer-lhes a vontade. É que, no fundo, no abissal e profundíssimo fundo, não há planos. Conforme não há estudos, nem sequer vontade.

Um coro de chatos cala-se como? Dizendo-lhe, altivamente: "Queres? ai queres mesmo? tens aí, pronto, vai lá ler!".
Um coro de chatos que não se consegue calar desta maneira acaba por, sendo sempre chato, ter razão para cantar. E é admirável a falta de prurido (vergonha?) de quem os ouve em silêncio, percebendo-se que o nosso Governo poderia ser, perfeitamente, um grupo coral alternativo, todo constituído de Condes de Abranhos "que tamborilam com os dedos" enquanto escutam vitupérios.

14.8.05

A prova da relatividade (ou porque é que eu não devo cem euros ao besugo)

Agora é a minha vez. Escolhi livros pequenos, de poucas páginas, para não me pesarem na bagagem nem me incomodarem nas mãos. Recuperei o kit da máquina digital, que terei sempre por perto a ver se apanho o instantâneo da minha vida. Tenho, até, dois (!) walkman, emprestados pelo besugo, para dar música de fundo ao pensamento.
Vou ao Sul, mas volto. Lugo está onde sempre esteve, admito, mas a estabilidade geo-política espanhola não é a regra do resto do planeta; Lugo, aliás, é muito menos galega do que, por exemplo, Pontevedra; e as Astúrias são, do ponto de vista de um lapão, no Sul. Até os cem euros são, na verdade, apenas cinquenta, vejam só.
Finalizo com uma dica: se quiserem pedir dinheiro emprestado ao besugo, disfarcem-se de ciganita descarada e pedinchem insistentemente. Se forem persistentes, ele não só vos paga o jantar como entrega, qual mecenas, um cheque pré-datado.

Até à vista. Conto eliminar este bronzeado à trolha que me persegue desde Junho. O estio tem sido bravo e eu anseio por frescura.

Porque o Cavaco não é assunto

1 - Sobre a Volta
Por mim, ganhava o russo, mais nada. Que era para ver se o parolo do Cândido Barbosa percebia, duma vez por todas, que não chega, sequer, ao selim dos comentadores que o antecederam na prova (Marco Chagas e Orlando Rodrigues), nem do actual organizador Joaquim Gomes. Além disso, esta azeiteira criatura (o Càundido) só teve alguma piada (sem ser lá em Rebordosa, que é a terra dele, pronto) quando ajudou o cunhado a ganhar uma Volta. Aliás, a piada maior era essa, era ver o Cândido aflito com a cândida possibilidade de haver quem não desse conta, nessa altura, do seu altruísmo...
Espero que este tipo não ganhe. Sinceramente.

2 - Sobre a bola
Não falo. Ainda. O Peseiro já vai falando, mas não se percebe tanta faladura: queria um ponta-esquerda, não lho deram, temos lá agora um Liedson piorado, foi o que lhe deram, eu calava-me muito caladinho. Raios partam isto.

3 - Sobre as férias
Acabaram. Vai aqui um calor igual ao de sempre. Parece que não saí daqui. Na Póvoa houve um estio vigoroso, entremeado duns nevoeiros mijões e duma maresia sempre forte, daquelas que penetram as narinas à força toda.
A Lolita passou por lá, como um furacão. Ainda a demorei, confesso. Discutimos, inclusivamente, Lugo! Não, contado não tem piada, embora ela me deva cem euros. Mas, mesmo assim, tinha obrigação de ter escrito mais. Estive a inspeccionar isto, pronto, é uma opinião.
Tirei fotografias que me pareceram belas na altura em que as tirei. Hei-de aqui pôr algumas. Antes que deixe de lhes encontrar a beleza da frescura ou que desbotem na memória.

Agora que se me acabaram o descanso e a paz, vai ela embora, a Lolita, rumo ao sul. Fico eu aqui a esgrimir sozinho a inevitável neura do regresso e a suar nova maré de citostáticos nas veias dos outros.
Talvez vá espreitar aquilo dos cérebros, a ver se o meu tem, de masculino, tanto como o Sporting detém do raio da posse de bola (70%).
Tudo isto para nada, às tantas. Eu não quero conhecer o caraças do meu cérebro, entretenho-me mais é com o dos outros, é para isso que o meu me serve, quero lá saber do funcionamento do prazer!

Ah! E fazemos dois anos em 24 de Agosto. E não é suposto eu dizer palavrões. E nunca lerei George Steiner (embora tenha percebido sete frases seguidas duma coisa qualquer que ele escreveu e que me pareceu simples; mas deve ser erro meu, se aquilo fosse mesmo simples não se citava de forma erudita em sítio nenhum). E mais uma coisa qualquer que agora não me lembra.

11.8.05

Curiosidades da vida animal

Apesar dos incêndios, da crise sem fim à vista desarmada, da chuva em Agosto e dos shows eróticos do gorila da Quinta das Celebridades, a vida na aldeia continua aprazível. Daqui a uns dias cerca de cinquenta mil pessoas estarão entaladas num estádio de futebol rendidas ao poder magnetizante dos Iútu, banda já lendária e idolatrada por qualquer conaisseur que se preze e que se vem aproximando perigosamente do nobre e exclusivo estatuto de dinossáurica. Estatuto esse que se adequa na perfeição ao elefante branco onde os rapazes se propõem a pôr os tais cinquenta mil aos saltinhos ritmados, todos orgulhosos na sua condição de eleitos do desígnio, quase religioso, de poder ver, ao vivo (pahhh!) o Bono, aquele rapaz já entradote a quem, um dia, Frank Sinatra chamou "fucking freak" quando, por razões estritamente comerciais, se impôs que ambos se encontrassem para gravar "I've got you under my skin". Num certo sentido, o Frank também era um dinossauro. Mas isso passou-lhe rapidamente quando feneceu, retirando-se-lhe a catalogação animalesca para passar a ser designado, simplesmente, por clássico - o que é, convenhamos, bem mais respeitável.

Há uma larga franja de indefectíveis militantes dos - ainda - dinossauros Iútu que ainda hoje se lamentam por não terem arranjado bilhetes para o arraial. No mínimo, o quadrúplo dos que lá estarão, se descontarmos os que, desistindo, se deslocaram para o Algarve ou para os safaris na Tanzânia. É assim, na aldeia. Todos morremos por ver estrelas das genuínas, das que organizam arraiais à escala planetária e são tão poderosas que podem, até, dedicar-se à filantropia sem prejuízo de monta.

Unidos que estamos em torno de um fascínio, mal pareceria, até, que cá viessem os galácticos e que não os honrassemos com uma pequena demonstração da nossa idolatria. Os Iutú serão, por isso, condecorados por Jorge Sampaio - que ainda não é dinossauro mas que será, ao que tudo indica, substituído por um.

8.8.05

Air on G String

Sem ter cumprido a tradição de visitar a feira do livro do Porto, acabei por visitar uma outra feira mais modesta e bem mais pequena onde encontrei um livro de contos de Cervantes e o primeiro romance de Sthendal. Trouxe-os comigo sabendo que, independentemente de me terem custado um euro cada um, ambos teriam o exacto valor que eu lhes quisesse dar. Decidi, então, dedicar-me ao Cervantes, por atracção à estremadura espanhola quando ainda não se chamava Castilla-La Mancha, em que penso sempre assombrada por um eterno D. Quixote inevitavelmente libertador das amarras prosaicas que nos prendem à existência, conveniente, das relações de poder e de culpa. Num conto chamado Casamento Ardiloso, Cervantes ensaia-se num colóquio imaginário em que Berganza e Cipión conversam longamente sobre os homens. Conversam porque se respeitam, porque prezam a companhia um do outro, porque sabem ter mais a aprender do que a ensinar. Berganza e Cipión são, note-se, dois cães. Não sabem de si a não ser quando conversam. Nada nem ninguém os prende. Ninguém os ama nem ninguém os rejeita.
Curiosamente, o país arde mas os dias estão mornos. Curiosamente também, sabemos o que é que nos traria o calor. Sobra-nos o conforto de saber que ter consciência do calor que nos falta é, ainda assim, bem mais quixotesco do que julgar-se aquecido.
Lembro, tal como expliquei ali em cima, que D. Quixote tem virtudes redentoras.

5.8.05

Brisa à solta

Os incêndios próximos da A1 descritos no Abrupto.
Noto, como pormenor escandaloso do ambiente caótico, a suprema ironia da manutenção do regular pagamento das portagens apesar das chamas que se propagavam junto à auto-estrada. Enquanto isso, o número de informações da Brisa, afinal, não informava nada.

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