blog caliente.

22.8.05

Eu gosto destes filmes, paciência.

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"O que vem a ser isto?" - perguntou o apresentador do programa "60 minutos" , perante um homem normal, já grisalho, um bocadito descontrolado porque pressentia que estava fodido e que, ainda por cima, teria podido evitar a foda.
"Isto? Isto é gente normal sujeita a uma pressão anormal." Respondeu o Pacino, naquela voz rouca de gajo que parece, sempre, que vai morrer cedo dum cancro na laringe.

Devo dizer que prefiro sempre pensar que "ordinary" quer dizer "normal". Porque "vulgar" tem um aroma tão fétido a "ordinário" que nos parece sempre que não é connosco. E é sempre connosco, tanto faz corrermos como saltarmos. Ou estarmos quedos.

Outra coisa bonita:
"Sabes por que cedi? Por que me deixei comprar? Porque já tenho 78 anos e, sobretudo, porque não estou para que me despeçam, obrigando-me a ter de ir trabalhar para a Rádio Pública!"

Daqui extrai-se que o último patamar do degredo, o verdadeiro ghetto americano, é o "rés-do-chão-quase-sub-cave-do-que-resta-do-público". E que, para não irmos lá parar, cedemos. Ou tentam fazer-nos ceder. E que, e isto é o mais grave de tudo, mesmo indo lá parar (ao "público"), nós, que somos bons (tão bons que não estamos lá ainda, por enquanto, no patamar de baixo, na catacumba "pública"), não fazemos "lá" diferença nenhuma: gente boa, no "público", deixa de o ser. Isto daria que pensar, mas para quê pensar, aleluia?

Que vida é esta? É a vida deles e é a nossa vida. A diferença nem sequer é subtil, não a há. É a nossa amável e global purpurina, pronto, enfeita. Não discuto isto, só sorrio. Se, um dia, levar um murro nos dentes, ao menos que eles estejam expostos num sorriso. Eu lavo-os, brilham muito. Haviam de ver.

Gosto muito de ver filmes sobre o capitalismo, sobre complicados jogos de decisões difíceis, sobre "os problemas gerados pela competência". Enfim, isto resumido, mais não é que isto: filmes sobre a vida. Ou seja, filmes sobre o jogo de pressões do "guito". Ai não é sobre o "guito"? Então é sobre o quê? As petúnias?

Há pessoas que têm o "guito" sempre nos olhos, ainda bem, ao menos vê-se. Outras é só na testa, vê-se menos. Na testa vê-se menos, tudo.

Eu gosto, sobretudo, isto variando, de ver filmes onde entra o Al Pacino. Lembram-se do "Perfume de Mulher", aquele fabuloso tango olfactivo, "Por una cabeza"? Tenho várias versões, tenho, mesmo, a do Gardel, o Paco arranjou-ma há uns anos e estou a escutá-la agora. Se me ensinarem como se faz, ponho-a no blogue. Senão, ouço-a eu: que mais faz?

Vejo-os, mesmo, aos filmes dele, do Pacino, enquanto outros se divertem mirando repetições em câmara lenta da queda do muro de Berlim, somando razões certeiras para a sua queda. Melhor, para o seu derrube.
Eu sustento que nem sempre se derrubam coisas más pelas razões boas, da mesma forma que, concedo, nem sempre se derrubam coisas boas por razões más. Derrubar é um acto independente das suas consequências, ao menos enquanto se executa o derrube. Se assim não fosse, não se derrubava nada. Pela mesmíssima razão, nada se erigia.

Podemos conviver todos, mesmo assim? Não sei, mas chama-se a isto civilidade opinativa. Civilização é outra coisa.
Eu escrevi isto, coisas simples que se escrevem no fim dum filme, antes duma segunda-feira. Se querem um texto mesmo bom, vão lê-lo aqui.

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