blog caliente.

18.8.05

Eu quero comprar gasóleo nas retrosarias!

Estive a ver o filme de cowboys do Clint Eastwood, com o Clint Eastwood. Estou bem.
Um dia destes pode ser que dê, na RTP, um filme qualquer do Sean Penn, com o Sean Penn. Nesse dia eu escaco a porcaria do aparelho, a menos que alguém o desligue antes. Ou a mim.
Bom.

Estive a ler o Vilacondense e o Trenguices e o Causa Nossa. Li, lá (lilá, esta saiu-me "de esterqueira", olha...), sobre as farmácias e sobre a venda de medicamentos em outros sítios. Isto faz-se lá fora. Eu sei. O Sean Penn também foi feito lá fora e, convenhamos, é uma valente bosta.

Mete-me impressão que se aviem remédios fora das farmácias. Pronto. Quando se falou nisto pela primeira vez ainda pensei que ia haver alguém, nos supermercados, a prestar informações, a supervisonar as vendas. Não vai haver. Pelos vistos, vai haver um especialista por "cadeia de supermercados". Não me chega. Pode ser que vos chegue, a mim não me chega.
A mim chega-me pouca coisa, por isso já vêem...

Conheço vários farmacêuticos e farmacêuticas. Não conheço o Mário, ainda, tenho pena. Conheço daqueles que possuem farmácias e conheço dos outros, que trabalham em farmácias hospitalares. Conheço bastantes farmacêuticos competentes. Fiz, além disso, parte duma Comissão de Farmácia e Terapêutica, no meu Hospital. Habituei-me a respeitar os neurónios farmacêuticos, coisa que muita gente não faz, porque não consegue, não percebe. Os médicos deviam reunir-se, frequentemente, com os farmacêuticos. Trabalha-se bem. É a minha opinião.

Não gosto do bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. Isto é "por outro lado". Mas eu não gosto de Ordens, também já o disse várias vezes.
Isto é, evidentemente, supérfluo. Pus isto aqui não sei porquê e não apago pelo mesmo motivo. É uma das vantagens de ter um blogue, aliás: é isto e não ter caixa de comentários, ao menos não os lemos. Não é?

Estou de acordo com o que o Mário diz sobre a qualidade das farmácias: é boa. E podia ser melhor. É como tudo. Refiro isto: nem sempre se aconselha, nas farmácias, o bom uso dos medicamentos de venda livre. Dos Panadois. Mas, também, nem sempre os médicos prescrevem paracetamol explicando os riscos do abuso. Isto não é complicado: o que não é, é simples. Há muita gente que nem o nome sabe pôr, meu Deus, a tomar remédios que trazem bulas explicativas desdobráveis e em letra assim!

Não sou um liberal. No sentido de hoje, não sou. Peço desculpa, não consigo. Acredito nas farmácias hospitalares públicas, conforme creio nas virtudes da medicina pública. Acredito nas virtualidades da disciplina, embora a reconheça, à disciplina, como uma das mais confrangedoras peias da criatividade. Mas também reconheço isto: grande parte das enormes merdas feitas à superfície da Terra (e no subsolo; e, mesmo, na atmosfera), só nos últimos setecentos lustros, foi obra-prima de criativos.

Em não podendo ser - não querem, ora! - um sistema público fogoso, como eu gostava de experimentar, com as farmácias hospitalares competindo directamente (e tenazmente) com as tais 2700 empresas privadas de que fala o Mário, estou de acordo com ele: sendo assim, já que não querem como eu digo, paciência, mais farmácias. Deixem lá os farmacêuticos abrir farmácias novas onde delas se carece. A acessibilidade deve ter qualidade. E as farmácias têm, até que me demonstrem o contrário, qualidade. Sendo assim, digo eu, mais farmácias e menos chinfrim por aspirinas a 10 cêntimos.

O problema da indústria farmacêutica é diferente. Olarila. Se queremos falar de monopólios, é aqui que se deve abrir a chaveta. É evidente que não se baixa o preço dos medicamentos só porque se colocam os que já são de venda livre nas prateleiras da Sonae. Isto é uma verdade peregrina. Eu concebo que o Pingo Doce venha a oferecer dois pares de peúgas de nylon a quem comprar uma caixa de AAS, só para competir com o Continente, que oferece, pela mesmíssima aquisição, dezassete caramelos. O que isso há-de contribuir para a poupança nacional, individual ou colectiva, há-de caber entre os incisivos de Sócrates. Sobejando espaço.

O problema real dos preços dos medicamentos, bom, meus amigos, é já a seguir: vem aí o Clint Eastwood resolver. A menos que o Penn decida resolver antes, caso em que a película será mística e merdosa, solicitando-se tropisetron endovenoso - logo na ante-estreia.

Como costuma dizer o excelente Júlio Machado Vaz, sempre que lhe apontam a câmara da despedida - semicerrando os olhos naquele sorriso de "velho garnizé, provavelmente sabido e, aparentemente, cansado do saber" (mas eu é só da fadiga braçal, que trabalhei muito ontem e hoje; e amanhã também lá vou, pois...) -, olhem, "fiquem bem".

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