blog caliente.

15.8.05

Coros

Aborrece muito qualquer coro que não seja afinado. E que, afinado ou não, não cante. Um que só faça "nhanhanhã".
Há agora aí vários grupos corais, quase canónicos - no entanto, apenas quase - , que se esganiçam a querer coisas:
"Mostra-me os planos da tua OTA! Mostra-me os estudos do teu TGV! Que andaste a fazer que o país está a arder? Põe-me aí a tua para a comparar com a minha!"
E assim.

Estes corais são chatos, porque são corais sentados. E, quanto a mim, sentadinhos não libertamos convenientemente o diafragma de forma a que ele, esse poderoso e menosprezado músculo, exerça o seu conveniente jogo de pressões que, combinado com a pujança das cordas vocais (para médicos intervencionistas: é aquilo que, quando não se está a passar-lhe um tubo pelo meio, permite que emitamos sons pela boca), pode criar beleza. Ou não, que o Bono e a Madona também cantam.

Bom. Admitamos que estes corais são aborrecidos. Podem cantar afinadinhos, mas entediam bastamente.

Eu digo, apenas, que mais aborrecido que escutá-los no seu repetitivo refrão de alapadinhos - e, se calhar, é só por isso que estes corais sentaditos são chatos, porque os deixam repetir-se até se lhes acabar o eco, o que pode demorar dezassete dias, mesmo mais - , é percebermos que a razão fundamental, a razão última, a definitiva e vergonhosa razão para que se não faça a vontade aos coristas de "parnaso", é duma torpeza infinita e chafurdante: é que não se pode fazer-lhes a vontade. É que, no fundo, no abissal e profundíssimo fundo, não há planos. Conforme não há estudos, nem sequer vontade.

Um coro de chatos cala-se como? Dizendo-lhe, altivamente: "Queres? ai queres mesmo? tens aí, pronto, vai lá ler!".
Um coro de chatos que não se consegue calar desta maneira acaba por, sendo sempre chato, ter razão para cantar. E é admirável a falta de prurido (vergonha?) de quem os ouve em silêncio, percebendo-se que o nosso Governo poderia ser, perfeitamente, um grupo coral alternativo, todo constituído de Condes de Abranhos "que tamborilam com os dedos" enquanto escutam vitupérios.

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