Isto é um lamento, mas é honesto: ficar custa.
Eu gostava de acompanhar aqueles que dizem que é bom trabalhar em Agosto, mas não consigo. Mais: acho difícil que alguém consiga. Como se pode gostar de ficar numa cidade meia tristonha e meia abandonada e num escritório vazio e incomodativamente silencioso, escassamente povoado pelos desafortunados que ficaram? É como se se tivesse sido marcado por um destino atroz, que nos prende para que outros vão.Mas o pior nem é isso. Mau, mesmo, é pensar que metade dos portugueses estão de férias, sem horários para coisa nenhuma nem contas para dar a ninguém. Custa menos trabalhar, mesmo em sobre-esforço, quando todos os outros também estão a trabalhar e não nos consola, sequer, saber que o nosso dia também chegará.
Isto é simples de perceber: todos sabemos que a correcta distribuição da justiça determina a justeza da distribuição da riqueza. A questão é que este princípio só nos atrai pelo tempo que dura a nossa melancolia. É a este dado incontornável - a tendência inexorável para a auto-comiseração - que deve ser atribuída a falência dos regimes comunistas. Ninguém se lembrou - nem o Cunhal, ou sobretudo ele - que todos, antes de qualquer sentido de justiça social que nos invada, sentimos é pena de nós.
Isto só acontece em Agosto. Em Julho, ninguém se importa de ficar.
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