blog caliente.

26.8.05

Parecia que estava na praia

O Zacarias é meu colega. Duma obesidade bondosa, já o vi afirmar, perante olhares incrédulos de doentes que observa, abertas, "skanked", enquanto conversa, que o que gostava de ser era "astronauta". Ou "astrofísico".
Tem mais de cinquenta anos, é um chato, mas é um homem encantador. Tem dias.

Hoje surpreendi-me ao vê-lo sentado, à porta da enfermaria, de oxigénio nas narinas, enfeitado de pijama. Parecia que estava na praia.
"Que queres? Que estás a olhar para mim, pá? Tenho uma pneumonia...".
"Que quero? Quero que te ponhas bom, animal. Como quero para toda a gente, mas, já agora, se me permites, quero mais para ti. Pode ser?"
"Pode, ainda para mais eu sou dos que vêem pombinhas, faz-me ainda mais falta ficar bom." (Ele não disse "pombinhas"? Pois não, disse outra coisa, há azar? Para que saibam, até a da minha mulher já viu, o boi! - acham que devo gostar menos dele? Não, a sério, acham? Se sim, usem a caixa de comentários, anseio saber o que pensam sobre este sórdido detalhe).

Às vezes, neste mundo (não é neste país, é no mundo inteiro, não confundam: que confundir baralha, o que é uma verdade digna dum Yearbook qualquer) de raciocínios tendencialmente perfeitos, justos e sentados(*), podemos tender (tendencialmente) a deixar de ser parciais. Não caiam nisso. Um homem faz o que tem a fazer mas há sempre coisas que nos custam mais que outras, pessoas a quem queremos melhor que a outras. Cuido que isto estará previsto na Bíblia (ainda não li tudo, Paulo, desculpa, às tantas vou ter de acrescentar a lápis...), no Corão, mesmo no Expresso e no Público. Nem que seja em letras miúdas.
Se não está, passa a estar aqui, que faz o mesmo efeito.

"Faz o mesmo efeito? Essa agora! Tonto besugo, este!".
Faz. As pequenas verdades em que se baseia a existência humana não carecem de holofotes, nem de grandes articulados normativos. Nem de publicidade. É pena, contudo. Se fossem conhecidas de toda a gente, poupávamos texto jurídico, texto constitucional, poupávamos, mesmo, tempo em barda.

(*) Sentados: acto de parecer, sempre, que se tem o cu descansando sobre algo, mais duro ou mais fofinho, mesmo que ele (o cu) esteja alçado e a abanar, lascivo; particípio passado, no plural, do verbo raciocinar; imperativo do mesmo verbo, também no plural, se seguido de ponto de exclamação; sei lá que mais, vão ao google das meninges.

View blog authority