blog caliente.

31.5.04

O meu voto vai para...

...o maradona-com-minúscula. Não sei se aquilo é comédia, tragédia, cinismo ou - hipótese mais provável - um bocado de cada, mas sei que é raro ver obra criada com a superior inspiração do poste cheio de falta de assunto sobre o Thilo Krassman ou dos soberbos conflitos do maradona com a informática. Isto não vem a propósito de nada? Pois não. Sucede que, há momentos atrás, acabei de os reler e que tornei a rir à gargalhada olhando para o monitor no qual, lamentavelmente, nunca me apareceu o msnp.dll.

Um dia desses imprimo tudo, não vá este desaparecer também.

Quanto ao voto: na verdade não é um voto, porque nem o maradona entrou numa competição nem a mim me apetece votar. No dia treze tenciono apanhar sol.

O anoitecer acalma, em Maio

1 - No hospital, o dia correu bem. Não houve reacções adversas à Oxaliplatina, nem ao CPT-11. Os cancros do intestino (estadios IV)parecem sossegados na sua trajectória de miserável vitória anunciada sobre os novos miseráveis do velho Hugo. O atrasar da inevitável vitória do mal é, às vezes, a maior vitória que um homem consegue na sua vida inteira. Para si, para os outros. Para si, no fundo. Não, não vou definir o mal. Sei é de alguns males, o que é diferente.

2 - Sem conhecer Paulo Pedroso, nem sequer da pesca, pensei sempre duas coisas a respeito do seu envolvimento no caso Catalina Pestana, Namora & Outros. Chamo-lhe assim não sei porquê, nem vem ao caso, mas o nome da senhora ocorre-me e eu sou muito esotérico, às vezes. Essas duas coisas que eu pensei sempre (os senhores não se lembram, ninguém se lembra do que não leu, mas até foi aqui) são as seguintes:
a) - Há aqui esturro do grande, o homem não é culpado (isto era a vertente subjectiva de besugo).
b) - Se ele tem, inequivocamente, o apoio do partido e do seu líder, mesmo desta forma aparentemente intempestiva e tão condenada por quem cuida ser a vida política mais política que vida (tristes bisonhos), das duas uma: ou vai ser mesmo inocentado, ou, então Ferro e seus pares são alimárias. Ora, alimárias eu sei que eles não são. Há aí alimárias à solta, há sim senhores, mas não vou agora dizer quem são. Vou referir-me a uma, mais abaixo, suponho, se me não esquecer. Mais "de caminho". Digo que aqueles que eu disse, o Ferro e seus pares, não são.

Claro que isto não chega: "vem agora este besugo com isto!". Está bem. Fiquemos por aqui. Mas devo ao Alonso, que fora do blogue é dono duma lucidez ainda maior que a sua carrinha, isto: tinhas razão. Por motivos totalmente diferentes (e mais claros) que os meus. Não se fala mais nisso, pelo menos aqui.

3 - Começou a campanha eleitoral. Qualquer campanha eleitoral, em Portugal, é ridícula: sobretudo as rondas de rua, com senhores a cheirar a perfumes bons visitando os mercados, o que, na minha opinião, está longe de melhorar a qualidade da fruta. Mais ridículas que as campanhas portuguesas, no mundo dito civilizado, só as americanas. Sobretudo porque as senhoras republicanas vestem mal, as democratas também, e aquilo parece sempre o carnaval de Fall River, piorado. O que nos leva à alimária, nobre substantivo, bizarro adjectivo.
Retém-se, por entre esta gramática, a intervenção da candidata Manso. Foi eloquente, automobilística e, de certa forma, educativa.
Eloquente, porque sim. Não há nenhuma deputaria que o não seja, eloquente, não vou agora desdizer a minha definição de deputaria, muito eventual condicional do verbo deputar. Que é o verbo que auguro à eloquente candidata Manso, bem haja minha senhora, na condição de conseguir exportar-se. Pensar que já houve galés!
Automobilística, porque a referência subliminar a Lauda, essa lenda da fórmula 1, é evidente: ao tentar achincalhar Sousa Franco daquela inteligente, altaneira e grácil forma, a senhora mostra trilhar bem, com seus pneus de baixo perfil, a "selva do asfalto". Pressente-se ali personalidade competitiva. Se fosse futebolista, seria um Toñito.
Educativa porque, tal como aconteceu com o excelente e talentoso piloto austríaco, a perturbadora senhora vai ser alvo, coitada, de "hordas" de anedotas sobre... transplantes auriculares de vulva. E ela, agora, já sabe que sim, daí a vertente educativa. O candidato Deus Pinheiro já lho ensinou, disse-lho ao ouvido, aos berros educados que ele sabe dar (joga golfe, nunca berram, os golfistas de pêra, bêrram). E ele tem obrigação de saber, pois usa um ornamento "peri-orbicularis oris" mui alusivo à sua sabedoria destes factos da vida. A candidata Manso vai ter de ouvir coisas, coitada, do tipo "levanta a saia a ver se serves, como a outra!...". Isto é grave. Ela a querer, como hoje se viu, mostrar a luz ao povo, e o povo a não querer ver a luz, a querer ver-lhe a... pronto, também não se fala mais nisto, a Tina Turner canta excelentemente, a propósito, e também merece ser medida só pelo seu talento... valha-me Deus, pronto.

4 - Finalmente, mais um excelente documentário na 2, esta noite, sobre as Guerras. Guerra devia escrever-se, sempre, com letra maiúscula, porque uma Guerra nunca é coisa de pouca monta. Não é a pêra do Dr. Deus Pinheiro. Seja ele de montaria (outro condicional, eu hoje estou gerúndico!) pequena ou grande.
Bom, gostei do dito documentário. E fiquei contente por, antecipando-se à informação do narrador, o Zé Pedro ter identificado a assinatura do Tratado de Versalhes pelo que aprendeu na História, lá na Escola.

Ainda bem que brincar com a "pequena estória" nos leva à História.
Sempre se respira melhor, no fim de contas, na grandeza do Tempo. O anoitecer acalma mesmo, às vezes. Em Maio costuma ser assim. Só é pena estar no fim, este Maio.

Política de saúde. No comments !

No DN hoje:
"O ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, desvalorizou a polémica e afirmou que uma equipa vinda de fora, que é contestada por ser liderada por um economista que vai presidir ao Conselho de Administração do São João, pode ajudar a pacificar um «hospital dividido».

O novo presidente, Fernando Tato, ex-quadro do Banco Comercial Português, que hoje assumiu funções, também deixou palavras optimistas.

«Acho que as forças de bloqueio serão uma minoria de pequena expressão em termos reais, o que tem tido é na comunicação uma repercurssão desproporcionada. Estou seguro que as forças de bloqueio não vão prejudicar a boa operacionalidade e as melhorias que queremos introduzir no hospital», afirmou.

Por sua vez, o ministro da Saúde minimizou também as dúvidas que surgem sobre o negócio entre o Hospital de S. João e a empresa Bragaparques.

Luís Filipe Pereira considera que a contestação tem como objectivo dificultar a mudança do conselho de administração daquele hospital.

«É tentar fazer uma cortina de fundo para obstaculizar esta mudança», afirmou aos jornalistas.

A ex-administração do São João, presidida pela professora universitária Isabel Ramos, foi afastada pelo ministro da Saúde, num processo que as organizações médicas consideram pouco claro e ligado à construção de um hotel, a galeria comercial e o parque de estacionamento construídos em terrenos da unidade hospitalar."

Contra o cantinismo

No final de uma longa noite dedicada à temática e imbuída da mais intensa revolta contra a frieza das cantinas hospitalares, aqui deixo a todos os profissionais de saúde subnutridos e carentes dos mimos domésticos uma sugestão de refeição quente e carinhosa que, há poucas décadas atrás, aquecia o estômago do proletariado, essa classe de que esses profissionais, julgo eu, admiram o exemplo. Dos proletários, não do estômago deles. Julgo ter a solução dos vossos problemas, meus caros amigos. Aqui está:

Curioso...

Algumas pessoas, poucas, geralmente internadas em instituições destinadas à abordagem de estratégias terapêuticas conducentes à compensação de determinados distúrbios... OK, manicómios, casas das boubas, já se percebeu... algumas pessoas, dizia eu, afirmam que eu tenho mau feitio.
Não tenho.
Mas este senhor tem. E o mais engraçado é que eu concordo com ele em cerca de 85% do que diz. Os restantes 15% devem-se a isso mesmo, ao seu mau feitio. Ah! E ao facto de ele ser um famigerado andrade que, ainda por cima, vê o mar todos os dias.
Enfim, também temos disso por cá, paciência...

Quem te avisa...

Caro manolo:

Tu decalcas para aqui coisas assim, pormenores rupestres sobre médicos brasileiros, que são uns grandes ardidos. Depois não te queixes.

Meus caros amigos: eu declino toda e qualquer responsabilidade no que respeita aos escritos falaciosos e "copy-pastes" do manolo.
Mais: eu até receito genéricos, senhor! Como já lhe garanti.

Eu vou mas é passar a levar uma marmita. Também fiz tropa, eu um dia conto.
Ok, não conto.

Cantina IV - A realidade.

1. Orgãos de Gestão: empresas que variam de tempos a tempos, cuja modificação estrutural mais visível é a mudança de fardamento das funcionárias, e a diminuição da qualidade das refeições. Uma responsável que se destingue pela bata semi-fechada e uma "mise" capilar. De vez em quando noto que há visitas das cúpulas, porque se trata de um casal com semblante carregado, com as funcionárias mais tensas que o habitual. Desconheço a restante pirâmide hierárquica.

2. Staff permanente:
- as meninas do atendimento normal (bar/cantina) - sem exagero são simpatiquíssimas e competentes, tratam toda a gente impecavelmente. Olhamos para elas, sem falar, os nossos pedidos são satisfeitos. Tipo: o normal sr dr ? e um gesto - padrão (enrugar da testa por exemplo) é o suficiente, para que lá venha o pão torrado, o néctar de pessego, a meia-de leite e o café no fim de tudo. Quase sempre solicitado com a frase mítica "onde há galos não cantam galinhas" para irritar as enfermeiras de obstetrícia, que se "postam" acotoveladas uma nas outras, com as mamas em cima do balcão, á espera do cafezinho!. Conhecêmo-las pelos nomes, são extraordinárias.
- o cozinheiro, tratado e controlado pela minha enfª-chefe, benfiquista de gema. Guarda-nos a comida mais interessante: o que acontece cada quinze dias, quando há arroz de pato - que é apresentado sempre coberto uma camada de queijo sólida destacável, e quando só há feijão ele faz milagres e arranja uns bolinhos de bacalhau. Excelente pessoa, humilde, afável, cumpridor.

3. Ementa:
- caracterizada pelo seu minimalismo repetitivo, orgulha-se de incluir a maior concentração de frango e perú de todas as cantinas hospitalares, cujo consumo normal provoca perturbações hormonais masculinas: ginecomastia, atrofia testicular, voz de timbre mais agudo e um gosto estranho pelos programas mais recentes e ordinários do tio herman...
- a sopa é razoável hiposalina - prevenção da HTA.
- Há peixe de três qualidades, incluindo um bacalhau com natas (quinzenal) que parece massa de reboco. É um prato potencialmente letal, porque, tal como nos bolinhos de bacalhau, não são extraídas as espinhas. A recente aquisição de mais valias humanas em gastroenterologia veio tranquilizar espiritos...
- A fruta é-a-mesma-todo-o-ano: as maças, e as laranjas têm sempre as mesmas características semiológicas.
- O leite creme é meia refeição, e não deve ser consumido por pessoas com cárie dentária.
- Há grande variedade (comprimento) nas espetadas. Têm todas o mesmo gosto metálico.
- A feijoada é extraordinária: não tem carne de porco, nem dobrada. Tem batatas e feijão (vá lá!)

4. Funcionamento:
- Pequeno almoço (8 - 8,30h): tudo bem! orgulham-se de não ter (teimosia) os produtos mais consumidos, nomeadamente néctar manga laranja. Há uma pequena torradeira (mais forte "deita a luz abaixo...") de resto não existe logística para mais voos. População frequentadora (ordem de chegada): intensivos, motoristas, funcionárias da cantina, anestesistas, cirurgiões (raros), ortopedia. Enfermeiras de obstetrícia e algumas em "saída-de-vela".

- Manhã (9,30 - 11,30): enfermeiras que não "comeram" ie: quase todos do SU, uci, medicina, cirurgia, piso 4, 5 e 7. Cirurgiões após visita, médicos de horário flexível, administrativas... internistas (late-morning).

- Almoço (12-14h): motoristas e administrativos, alunos enfermagem, enfermeiros pisos 7,6,5,4,3 e su. Médicos de pneumologia, med interna, cirurgia, cardiologia,ortop, pediatria, obstetricia, bloco, urgência.

- (14h):só há rissois e arroz.Sopa impossível de comer (fria)

- Tarde (15 - 18h): med int, su, vários, exterior.

-Jantar (19,30 - 20,30h): motoristas, alunos enfermagem, 2 ou 3 enf do su e 2 ou 3 médicos urgência. Acaba a comida precocemente. E gajos como o besujo comem sandes de pão - teimam em comer além das 20,30h - horário que não prevê refições quentes.

Foto de Capa

Ainda bem que a UCIP está sossegada. Há sortes diversas para méritos dissemelhantes, já se sabia... Que assim continue.

Aqui também se está bem. Na 2 informei-me sobre Bob Capa. Não sabia nada sobre ele. Fotógrafo de guerras, entre (muitas) outras coisas. Morreu na Indochina. Uma mina.
Os documentários são, quase sempre, comoventes. Contado daquela maneira, a única que conheço, Capa é fascinante. Ou foi.
Para isto não se tornar lamechas, termino afirmando que a sua coroa de glória foi ter feito Ingrid Bergmann apaixonar-se por si. Por ele.
Eu não era nascido, chego sempre atrasado, até à minha vida.
Segue foto de Capa. Era fotógrafo, calha bem assim.

Cantina III - O que devia ser !

Ministério da Saúde – Normas de funcionamento das Cantinas Hospitalares (adaptação do Colégio Católico Brasileiro – Instituto Dom Barreto)

"A ida frequente ao bar e, sobretudo á cantina, como parte integrante das atribuições do dia-a-dia, é um factor de influência decisivo no rendimento dos profissionais de saúde, fundamentalmente dos médicos. É por isso que ela merece as mesmas atenções que se dispensam á organização e gestão dos diversos serviços, incluindo o fardamento e equipamento. Na verdade, merece mais atenção: a boa alimentação é um factor indispensável à saúde; as horas do pequeno almoço, café da manhã, almoço, café após almoço, lanche, bolo antes do jantar e do jantar, são as horas de reunir o útil ao agradável - repor energias (utilizadas no esforço durante as horas de consulta de processos clínicos, revisão de análises e debate sobre o futebol no fim-de-semana) em locais de absoluta higiene, confortáveis e bonitos, bem cuidados por pessoas atenciosas e rigorosamente limpas.


O ideal seria que, por exemplo, o lanche do médico, fosse preparado diáriamente em casa, com os padrões de qualidade e os requerimentos nutritivos adequados (combinando proteínas, açúcares ou carboidratos, gorduras, sais minerais, vitaminas e fibras), atendendo-se dessa forma às suas exigências do cônjugue relacionadas à segurança alimentar.

Ao deixar de proceder assim o cônjugue, acaba por transferir essa enorme responsabilidade ao hospital. Uma tarefa muito delicada, como se vê. Longe do controle directo da esposa e a caminho de crescente e necessária independência, o médico descobre muitas novidades. Incluindo as enfermeiras estagiárias, do piso sete, enfim guloseimas que enchem os olhos (e muitas vezes a barriga), mas que nada têm que ver com os princípios nutritivos, ardorosamente defendidos pela administração e pelo conjugue. O mais grave é que - livre para escolher, influenciado pela companhia de novos amigos e diante de tantas tentações - ele nem sempre decide pelo melhor !

É fácil, portanto, perceber porque a cantina hospitalar deve ser eminentemente ética, primando-se por ser um local de absoluta segurança. O que exige, de imediato, que os funcionários que nela servem sejam da mais absoluta confiança da administração do Hospital e sejam pessoas que gostem de gente, sobretudo de médicos. Isso para que possam corresponder à responsabilidade que o Hospital tem para com o médico: de não expô-lo à tentação e de contrabalançar as influências (daí, por exemplo, a proibição do consumo de “bombons” e “gomas de mascar” ou aspirar “pó branco” ou “farinha maizena” - que além de poder interferir no apetite e, por conseqüência, comprometer a saúde, por outro lado, é um instrumento de distracção; os “pirulitos” e bebidas brancas são proibidas para evitar acidentes, assim como os refrigerantes em garrafas de vidro); de oferecer-lhe, para além de preservativos de qualidade comprovada, uma merenda selecionada, básica, nutritiva; de oferecer-lhe produtos de qualidade, sem quaisquer riscos de contaminação, preparados com ingredientes confiáveis e acondicionados de maneira adequada; de proporcionar-lhe um bom atendimento, incluindo desde a gentileza no tracto até os cuidados indispensáveis (podem ser intensivos) com a higiene pessoal para bem servir e com a higiene das instalações e dos instrumentos de trabalho. A cantina é fundamental como instrumento pedagógico. Deve-se entender também que o uso da cantina é de livre opção. É mais um serviço oferecido pela administração hospitalar e administrado diretamente por ela. Donde, o rigor no controle dos fornecedores, incluindo os de salgados, sucos, bolos, refrigerantes e sorvetes.

As motivações relacionadas ao controle sanitário da área da cantina levou inclusive a administração hospitalar - pioneiramente - a requerer a presença das autoridades sanitárias para fins de inspeção, tendo em vista os padrões estabelecidos pelo código sanitário do Grupo Português de Controle de Infecção Hospitalar.

O Hospital confere à cantina o valor e a importância que ela efectivamente tem. E cada pessoa responsável pelas atividades da cantina é parte deste bem inestimável, compreendendo a segurança alimentar e a saúde. E tem que se empenhar, todo dia, para conservá-lo. Isso nos deixa particularmente orgulhosos. A cantina é um bonito cartão postal do Hospital.

Assim, a alimentação ingerida pelo aluno na Escola é controlada (quando adquirida na cantina) e acompanhada, sobretudo na Educação Médica (quando trazida de casa). O princípio que informa o padrão sanitário é o respeito ao profissional de saúde. É absoluta a higiene das cantinas e de suas áreas contíguas. Os funcionários são devidamente uniformizados, portando crachás de identificação e bonés na cabeça. Os alimentos são protegidos do contato com as mãos por embalagens plásticas."

30.5.04

Cantina II - Graças a Deus !

B - Colégio Católico Brasileiro – Instituto Dom Barreto

Cantina

"A merenda escolar, parte integrante das refeições do dia, é um factor de influência no rendimento escolar do aluno. É por isso que ela merece as mesmas atenções que se dispensam ao fardamento e ao material escolar do aluno. Na verdade, merece mais atenção: a boa alimentação é um fator indispensável à saúde; a hora da merenda é a hora de reunir o útil ao agradável - repor energias (utilizadas no esforço durante as horas de aprendizagem) em locais de absoluta higiene, confortáveis e bonitos, bem cuidados por pessoas atenciosas e rigorosamente limpas.


O ideal seria que o lanche do aluno fosse preparado diáriamente em casa, com os padrões de qualidade e os requerimentos nutritivos adequados (combinando proteínas, açúcares ou carboidratos, gorduras, sais minerais, vitaminas e fibras), atendendo-se dessa forma às exigências da Família relacionadas à segurança alimentar.

Ao deixar de proceder assim todo dia a Família acaba por transferir essa enorme responsabilidade à Escola. Uma tarefa muito delicada, como se vê. Longe do controle directo da Família e a caminho de crescente e necessária independência, o aluno descobre muitas novidades. Incluindo as guloseimas que enchem os olhos (e muitas vezes a barriga), mas que nada têm que ver com os princípios nutritivos, ardorosamente defendidos pelos pais. O mais grave é que - livre para escolher, influenciado pela companhia de novos amigos e diante de tantas tentações - ele nem sempre decide pelo melhor.

É fácil, portanto, perceber porque a cantina escolar deve ser eminentemente ética, primando-se por ser um local de absoluta segurança. O que exige, de imediato, que os funcionários que nela servem sejam da mais absoluta confiança da Direcção da Escola e sejam pessoas que gostem de gente, sobretudo de crianças e de adolescentes. Isso para que possam corresponder à responsabilidade que a Escola tem para com o aluno: de não expô-lo à tentação e de contrabalançar as influências (daí, por exemplo, a proibição do consumo de bombons e gomas de mascar - que além de poder interferir no apetite e, por conseqüência, comprometer a saúde, por outro lado, é um instrumento de distracção; os pirulitos são proibidos para evitar acidentes, assim como os refrigerantes em garrafas de vidro); de oferecer-lhe uma merenda selecionada, básica, nutritiva; de oferecer-lhe produtos de qualidade, sem quaisquer riscos de contaminação, preparados com ingredientes confiáveis e acondicionados de maneira adequada; de proporcionar-lhe um bom atendimento, incluindo desde a gentileza no tracto até os cuidados indispensáveis com a higiene pessoal para bem servir e com a higiene das instalações e dos instrumentos de trabalho. A cantina é fundamental para a sala de aula. Deve-se entender também que o uso da cantina é de livre opção da Família. É mais um serviço oferecido pela Escola e administrado diretamente por ela. Donde, o rigor no controle dos fornecedores de salgados, sucos, bolos, refrigerantes e sorvetes.

As motivações relacionadas ao controle sanitário da área da cantina levou inclusive a Escola - pioneiramente - a requerer a presença das autoridades sanitárias para fins de inspeção, tendo em vista os padrões estabelecidos pelo código sanitário de Teresina.

A Escola confere à cantina o valor e a importância que ela efectivamente tem. E cada pessoa responsável pelas atividades da cantina é parte deste bem inestimável, compreendendo a segurança alimentar e a saúde. E tem que se empenhar, todo dia, para conservá-lo. Isso nos deixa particularmente orgulhosos. A cantina é um bonito cartão postal da Escola.

Assim, a alimentação ingerida pelo aluno na Escola é controlada (quando adquirida na cantina) e acompanhada, sobretudo na Educação Infantil (quando trazida de casa). O princípio que informa o padrão sanitário é o respeito ao aluno. É absoluta a higiene das cantinas e de suas áreas contíguas. Os funcionários são devidamente uniformizados, portando crachás de identificação e bonetas na cabeça. Os alimentos são protegidos do contato com as mãos por embalagens plásticas.

A Cantina

1. Instituto Politécnico da Guarda - Prelúdio / Introdução ao tema - A Cantina

Alimentação
O Sector de Alimentação dos Serviços de Acção Social do Instituto Politécnico da Guarda tem em funcionamento três Cantinas sob administração directa e um serviço de grelhados. Ainda neste sector procedeu-se à celebração de contratos com restaurantes, para o serviço de fornecimento de refeições aos alunos da Escola Superior de Turismo e Telecomunicações (Seia).

Cantinas
Cantina 1

Av. Dr. Francisco Sá Carneiro, Nº 50
Campus do Instituto Politécnico da Guarda
Capacidade: 248 lugares sentados
Responsável: Drª. Celeste Lucas Pereira

Cantina 2
Avenida Alexandre Herculano
Capacidade: 188 lugares sentados
Responsável: Drª.Elsa Vieira Henriques

Cantina da Escola Superior de Enfermagem
Avenida Rainha D. Amélia
Capacidade: 90 lugares sentados
Responsável: Drª.Elsa Vieira Henriques

Churrasqueira
Av. Dr. Francisco Sá Carneiro, Nº 50
Campus do Instituto Politécnico da Guarda
Capacidade: 48 lugares sentados
Responsável: Drª. Celeste Lucas Pereira

Ementas
São confeccionados dois pratos - carne e peixe (um à escolha), com excepção do fim-de-semana onde é confeccionado apenas um prato.
As ementas são afixadas nas cantinas e bares, na sexta-feira anterior a que se reporta a ementa da semana.

Bares
O Serviço de Snack-bar é desenvolvido através de 7 Bares distribuídos pela estrutura física da Instituição.
Bar da ESTG
Bar da ESE
Bar do Edifício Central
Bar dos SAS
Bar do Complexo das Residências
Bar da ESTT
Bar da ESENF
Bar dos Serviços Centrais
Bar da Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Bar da Escola Superior de Educação
Bar do Complexo das Residências
Bar dos Serviços de Acção Social

Foram implementados novos produtos nomeadamente: gelados, tostas mistas, cachorros, sandes de carne, sandes de presunto, pizzas, pizza especial, croquetes e bolos de bacalhau.
Devido ao prolongamento de funcionamento de algumas áreas orgânicas, nomeadamente na Escola Superior de Educação, verificou-se um alargamento no período de funcionamento do bar de forma a dar cobertura aos períodos de maior afluência.

2. Senhor de rara sensibilidade, o besugo veio trazer para a blogosfera um tema de enorme importância: a cantina do nosso Hospital. Que é um lugar muito especial, ás vezes tenebroso para quem o frequenta esporádicamente - a experiência relatada pelo besugo é mesmo assim - mas para os frequentadores obrigatórios como eu (permanência forçada no hospital - não há outro sítio para se comer - quando há comer bem entendido) tem até o seu encanto ! O preludio anterior pretende dar uma ideia de que há muitas assimetrias entre as instituições estatais, sendo ambas do interior do país. Nem a Guarda é uma cidade maior que aquela onde trabalhamos.
Em termos de infra-estruturas nós, hospital, dispomos de uma cantina - de tipo geral - militar em termos de decoração de interiores, e um bar recentemente remodelado - onde comi, recentemente, uma salada recheada de um enorme verme. Com um sorriso (fiz tropa) reclamei na altura. - Oh sr Dr passe por cá amanhã e dou-lhe uma omelete de borla ! O aspecto do bar de "baixo" está significativamente melhorado. Há fotos de francesinhas, pastelaria variada, luz clara, muita luz, melhor aspecto dos expositores e menos insectos. As funcionárias são, no geral, antigas funcionárias de cantina recicladas - igualmente pouco simpáticas. A maior parte dos produtos apresentados em fotos não estão disponíveis - percebi que houve dedo da Psiquiatria no décor - reflexo de Pavlov - e um gajo agarra-se ao que houver (sandes, pregos duros, omeletes, e uma panela de sopa espessa, por vezes saborosa). Sobre a cantina dissertarei adiante. O bar de baixo funciona ao pé da litotrícia.

3. Reparem nas particularidades da variedade gastronómica disponível, inclui serviço de grelhados, cantinas dirigidas por licenciados, uma ampla rede "network" de bares para todos os gostos. Na GUARDA meus caros !

4. Para tornar mais fácil a leitura do tema, subdivido-o em alguns posts. A opção seguinte - cantina - tem a ver com outra realidade além mar, mas de lingua portuguesa.

Notas sobre a morte anunciada

O Dicionário está em vias de extinção. Para além da complexa dissertação besugal, que eu subscrevo inteiramente (sobretudo na parte "eu esfolo-me de trabalho, caraças!"), apetece-me dizer o seguinte:

- Continuo a intrigar-me sempre que algum blogue anuncia o "The End", de forma mais ou menos humilde, distanciada, triste ou indiferente, mas quase sempre pomposa e solene. Neste caso, essa extinção está plenamente justificada com interesses que só ao Pedro Mexia dizem respeito, mas que não se deviam mascarar de "encruzilhadas da vida".

- A edição dos textos do Dicionário do Diabo obrigou o Pedro Mexia a cometer arakiri(*) na sua própria obra futura, a abster-se de produzir escritos virtuais num blogue que se chama (chamava) Dicionário do Diabo e que, como ele próprio diz, constituía "uma experimentação com temas e modos de escrita". Para permitir a edição em papel daquilo que escreveu, Pedro Mexia hipotecou o seu direito ao que escreverá(ria) e experimentará(ria) ali, naquele blogue.

No restante, me da igual. Pedro Mexia vendeu o seu bloco de notas, como o Mourinho, um dia, venderá o seu. Money makes the world go around...


(*)Palavra de raiz nipónica onde, por apócope, caiu o "h" e à qual só falta apocopar o "k" para se tornar um suicídio à portuguesa.

Menozumpómonte

Começo por pedir desculpa ao óbvio inspirador deste título, agora gerente de Café. Tem cimbalino?

Ora bem. O facto é que desapareceu mais um blogue, o Dicionário do Diabo. O autor despediu-se de nós, apagou textos porque imposições editoriais lho ditaram (vai sair um livro com textos do blogue, ou já terá saído, até...) e consola-nos com leituras alternativas noutro sítio onde, vai avisando, será diferente no escrever. Bom, será diferente, pelo menos, na assiduidade, isso percebe-se. Adverte que terá outros projectos.

É pena. Uma pena relativa, como todas as penas. Mas uma pena grande. Enfim, Pedro Mexia também escreve bem, mas vai continuar a fazê-lo onde mais lhe apetecer; fica, portanto. Não, não peço desculpa pelo "também" que escarrapachei na frase anterior. É um "também" justíssimo para a blogosfera. Muito justo e elogioso, também, para Pedro Mexia.
Imodesto, isto? Não brinquem comigo. Leiam mais do que se lêem , que entendem. Não é imodéstia, é serenidade de besugo cansado. Vão lendo por aí.

Gosto de ler o que escreve o autor do Dicionário do Diabo. Finou-se o Dicionário? Vou ler o homem noutro sítio, onde ele escrever, sempre que eu quiser. E vou querer, como quero sempre que quero.

Bem vistas as coisas, nunca li Eça em blogue nenhum. Nunca fez um blogue, o sacana! (Se fez um, despediu-se antes de eu chegar. Estaria entediado? Assim cansado, já, de si? Saberia que eu vinha a caminho e deu de frosques?). E, no entanto, li-o. Li, mesmo, Pedro Mexia, que não é Eça! O que é óptimo para ambos. E para mim.

É isto que me intriga mais, de facto: carregar num "link" e, quase imediatamente, ler quem me apetece ler, é bom. Fazer o mesmo e "já não dar"... cheira-me a abandono. A traição. Como se os amigos - não é assim, ao menos um bocadinho? - fossem saindo, precipitadamente, porque nós chegámos. Não é por isso, eu sei, mas ocorre-nos que seja. É a vida. Tendemos a achar que somos importantes mesmo para quem não nos conhece. Quando alguém sai, "sai-nos". A gente sobrevive e continua mas, por algum tempo, já não parece o mesmo.

Só mais uma coisa: quando mais alguém se cansar de andar aqui, que não alegue falta de tempo, ou outros projectos, para se ir embora. Não cola. Parece que a "esfera", a "blogosfera", se centra no umbigo de cada um. Logo ela, a "blogosfera" que é o paradigma do "pluri-umbiguismo"(*)! Eu, a lolita, o alonso e o manolo trabalhamos mais do que os senhores todos juntos (**), os nossos projectos diários (e nocturnos, telefonem ao manolo, hoje à noite, a ver onde ele está! e telefonassem-me ontem!) não contemplam a escrita senão como uma vertente adictiva (***) da prática quotidiana (os diários clínicos, os recursos... podem rir-se, seus felizardos!) e, mesmo assim, há sempre tempo e talento para nos irmos vertendo. Sim, talento. Um bocadinho que seja. Para não defraudar expectativas, ao menos, por minúsculas que sejam. No nosso caso, obviamente.









Se eu estivesse para aí virado, no espaço de cima podia botar uma imagem qualquer. Mas não. Eu sei, isto é um truque muito usado em publicidade, fortes bestas os publicitários. Não gosto deles, são inúteis, há campos por lavrar.


Aí para cima coloquei uns asteriscos. Ora bem, passo a explicar.

(**) - Trata-se, aqui, duma provocação de besugo, que sabe lindamente que uma das coisas que não se podem dizer a nenhum português é "eu trabalho mais, mas muito mais, do que tu".

(*) e (***) - Aqui, besugo expressa genuína esperança na dissecção do neologismo aspeado ("pluri-umbiguismo") por parte de quem, seguramente, tem mais tempo para pensar nas palavras que para as utilizar. Não, besugo não cita, hoje não está com espírito de redondel. E, contrito, jura saber distinguir adição de adicção.

Tudo somado acaba por traduzir uma dependência. Ele diz que sabe, besugo.

La mala alimentación

Estou, finalmente, em casa. Já tomei um banho memorável e, a seguir, um bom pequeno almoço. Fui ver as cerejas e os damascos, que se desenvolvem a bom ritmo (as cerejas estão prontas para a apanha, antes que os melros acabem com elas) e respirar um bocadinho da manhã, odores de Maio findo. Tirei papeladas da pasta, o que me fascina sempre: “para que raio vais guardando esta treta se, invariavelmente, acabas por deitar mais de metade ao lixo?”. Os miúdos foram a uma feira medieval qualquer e ainda não chegaram. Já me não doem tanto as pernas. Começa a cheirar vagamente ao almoço, o que me dispõe bem. Será a minha primeira refeição quente desde o jantar de 28 de Maio.

Há uma espécie de refeitório, no Hospital. Eu digo “uma espécie” porque aquilo não é bem um refeitório. A bem dizer, não se percebe muito bem o que aquilo é, sobretudo se a gente decidir alimentar-se lá. De facto, a gente não decide, às vezes tem mesmo de ser. Partindo do princípio (duvidoso, muito duvidoso) de que aquilo que nos servem é comida, então é muitíssimo fraca. Lembro-me de, nos tempos de Gaia, amaldiçoar a comida do refeitório do Hospital Santos Silva, chamando-lhe, indignado, “morte rápida!” . Muitas vezes saíamos e íamos petiscar ao Genève, embora saíssemos de lá convencidos de ter consumido “morte lenta!” . Eram os tempos do internato, da especialização, tínhamos menos 12 anos, parece que tínhamos, mesmo, outros estômagos. Moíamos tudo. E, ainda assim, que deliciosa comida, a de Gaia, comparada com a “lavagem” daqui. Para que percebam melhor, o refeitório do meu hospital actual parece servir, sem qualquer espécie de dúvida, “morte súbita!” .
Ontem, ao almoço, havia um arroz de qualquer coisa, que acompanhava uma coisa castanha e gordurenta que cheirava a ranço. Decidi comer um pão com ovo, fiquei indisposto, mas cuidei que era fome
Ao jantar, lá estava, sossegado e triste, o mesmo arroz. Desesperadamente abundante, ainda (pudera!), mirando-me com ternuras de argamassa. Ao lado, fumegantes e com o mesmo cheiro da coisa castanha do almoço, acamavam-se espetadas duma coisa qualquer, repelente. Seria perú? Devorei uma sopa de cebola e pedi, no gozo, o livro de reclamações. Deram-mo! Têm um livro! Abri-o, ia a escrever, mas o desgraçado livrinho abarrotava gordo, de denúncias irritadas e, pelos vistos, inúteis. Decidi fechá-lo, devolvê-lo à senhora (que me mirava zombeteira) e suspirar um “ora foda-se”. Ela, trasmontana e jovial (pudera, ia jantar a casa!), animou-me:
“- Não adianta nada, escrevem todos, mas ninguém liga. Sabe quantas pessoas cá jantaram hoje? Três, contando consigo. Mande-os foder, senhor doutor, e vá jantar fora, a ver se esta merda fecha duma vez. Eu não me importo de voltar para as limpezas.”
Respondi-lhe:
“A senhora tem, de facto, um ar lavado. Saia daqui enquanto pode. Tomara eu poder fazer o mesmo!”

Vou convidar o Director do Hospital para um almoço de trabalho. No ”refeitório”. Se o tipo não devorar aquela merda toda, enfio-lhe as ventas na latrinária gamela, enquanto entoo o hino do Benfica. Será entusiasmante e radical. Talvez me mandem de volta para Gaia...

La mala educación


Os críticos de Almodovar e os precipitados hão-de dizer que o tema do seu último filme é a homossexualidade de homens marcados por uma infância passada num culpabilizador colégio católico Franquista, onde eram vítimas de abusos sexuais. Hão-de dizer, provavelmente, que Almodovar acolhe, também neste filme, o tema dominante nos seus filmes anteriores - o da redenção da homossexualidade. Neste filme, contudo, os temas homossexualidade e pedofilia são apenas o ponto de partida para uma história que, na sua essência, dispensaria esses temas a não ser como pretexto. De facto, o filme não ataca, não moraliza, não conclui; apenas inquieta. Quando julgamos já ter assentes os traços de cada personagem e conseguir adivinhar o seu futuro, Almodovar inverte a lógica e desconstrói todos os arquétipos do bom, do mau, da vítima e do agressor, obrigando a que constantemente se recupere o fôlego depois da desilusão leviana com que nos deixamos convencer - pelo mesmo Almodovar - que os arquétipos lá estavam, certos, desde o início. Ignacio, que, quando criança, é belo e exala bondade em estado puro, transforma-se num adulto deprimido, descrente e fisicamente decrépito. Tudo errado. Voltamo-nos, então, para Juan, o voluntarioso irmão, que desde o início do filme queríamos que fosse Ignacio, que há-de servir de "anjo". Esse Juan que, descobrimos depois, é capaz de friamente decidir e mandar executar a forma de impedir Ignacio de continuar a incomodá-lo. Descobrimos, então, que ambos podem ser muito bons e muito maus em momentos diferentes, que ambos são, sucessivamente, anjos e demónios. O Padre Manolo, o padre católico e pedófilo que num filme banal seria o agressor, é, afinal, manietado e manipulado, em momentos diferentes, por cada um deles. "A visita" - o conto-lamúria que denuncia abusos sexuais num colégio católico - em que o filme se baseia, é apenas um acessório do filme que Almodovar habilmente enxerta dentro do filme, apenas para nos confundir e, sobretudo, para nos obrigar a, sózinhos, descobrir o sentido de tudo o que nos conta, em três tempos diferentes, sobre a vida de quatro pessoas envolvidas numa amálgama de culpa, vingança, descrença e... pasión - palavra que aparece escrita na última cena do filme, de onde todos eles partem e de que todos fogem.

29.5.04

Liberdade

Depois de uma tentativa de silenciar esta voz, estou aqui novamente para dizer bem alto as seguintes palavras de ordem:
- Volta Camacho
- O SLB estará sempre e sempre ao lado do povo
- Libertem o sporting já !
- Basta ya ! de pinturas no FCP...
Up:
- José Mourinho
- Lolita
- jvp no FCP
- Carlos Carvalhas
Down:
- Dias da Cunha
- o último post (sporting ao som de uma valsa de Strauss- Clubismos) do besugo
- tendões do Nicolai
- Ecran gigante do Rui Rio
Igual:
- remodelação do ministro do ambiente
- país
- governo
- PS
- PSP
- CDS/PP

A selecção de sub-21

Os nossos rapazes começaram mal a campanha. Levaram 3-1 da Suécia. Ou seja, levámos. Sejamos coerentes, levámos.
Falta cérebro àquela selecção. Muita vontade, bastante jeito, mas há olhos de medo em quase todos. Os que não têm medo, os que pensam o jogo, estiveram mal: Hugo Viana irreconhecível e Carlos Martins (cujo único problema é "jogar quase só para ele") a falhar os remates todos. O Moreira teve culpa num golo, o primeiro. A bola passou entre ele e o primeiro poste, por aí não pode passar. Mas no resto esteve bem, a coisa não cedeu por aí.

José Romão, o treinador de pêra estilizada, acabou com o jogo. Um hara-kiri perfeito. Nunca tinha visto Custódio em missão ofensiva, descaído na ponta direita. E toda a gente sabe que o Bosingwa é excelente para segurar resultados, não para os inverter. É para isso que é usado no Porto. E gostava, também, que me explicassem a saída do Lourenço: não que estivesse a jogar bem, mas ia ter algumas munições, finalmente. Outra questão é esta: manter, até ao fim, 3 médios defensivos (Meireles, Bosingwa e Custódio) é epopeia cavalar. Ora bolas, a estupidez deve ser denunciada.

Enfim, lá vamos ter de ganhar à Suiça e à Alemanha, às tantas. Nada que nunca se tenha feito antes.
Calma.

28.5.04

Cebolas

Acabo de ler as reflexões de um lisboeta metropolitano às afirmações de "senhoras membros do povo, lá no Porto" sobre a forma como se comem jogadores de futebol. O dito lisboeta há-de ter achado um piadão à cebolada e giríssimo o escabeche, sei lá.

La liga de campeones

"Sí, ya sé que es difícil en los tiempos que corren, pero imagínense a alguien que se haya pasado los últimos tres meses en una misión en el África profunda, sin periódicos y sin televisión. El sujeto en cuestión toma tierra mañana en Barajas y se encuentra con que el Oporto es campeón de Europa. Si no le da un síncope pensará que se ha equivocado de planeta. Ah, y de 'propina' le dicen que la final se la ha ganado... ¡al Mónaco!".

Parolos.

27.5.04

Sinais positivos

Há contestação, pelo menos dos métodos, se não dos objectivos, no seio do próprio governo israelita. O senhor chama-se Yosef Lapid, é Ministro da Justiça e atreveu-se a dizer que se lembrou da sua avó - que morreu às mãos dos nazis - ao ver uma idosa palestiniana procurar os seus medicamentos no meio do entulho das demolições de casas em Rafah. A História é, às vezes, arrepiantemente circular. Está aqui.

Em contra-tempo

Eu devia, claro, falar da vitória do Porto (que muito me alegrou)e da saída do Mourinho. Parecem coisas indissociáveis uma da outra, aliás, se fizermos fé no que por aí se lê. Não sei, mesmo, se algum iluminado lhes não arranjou, entretanto, uma relação de causalidade...

Mas lembrei-me do Joaquim Agostinho.



Fez anos que morreu, há pouco tempo. 10 de Maio. Houve um ou dois blogues que falaram nisso, eu li, mas não me lembro agora quais. Na altura eu não pude escrever, ou não me deu para aí. As coisas fazem-se quando é preciso e a gente é que sabe, geralmente, quando é preciso. Deixo agora aqui, é sempre tempo se a gente acha que é, algumas notas soltas sobre o melhor ciclista português de sempre. Sem outro rigor que não o da minha lembrança, tal qual ela é, sem preparação. Assim como se fosse à meia-volta.

1 -Começou tarde nas bicicletas, pela mão de João Roque, grande ciclista do Sporting, que o topou a massacrar a pasteleira fortemente.
2 - Ficou conhecido por "andar mal de bicicleta". Para ciclista, é claro. Houve quem dissesse, por piada, no pelotão internacional, que Joaquim Agostinho era o único ciclista que conseguia cair... a subir!
3 - Em 1969 foi à Volta à França. Antes de se decidir, andou por ali a resmungar (Carlos Miranda fazia crónicas deliciosas, na Bola, sobre o "Jaquim"!) que não, que não ia. Porquê? Porque não! Lá acabou por confessar, em surdina, que "tenho medo de lá ir e que eles se riam de mim...". Quase chorei, puto, ao ler isto. Carlos Miranda, mais tarde, ao recordar a cena, acrescentou um pessoal "pois sim: foi e ficou em oitavo". Se bem me lembro.
4 - Ficaram famosas as suas birras. "Não, não estou bem, amanhã vou-me embora!", dizia ele, a seguir às quedas que sempre lhe marcaram o corpo e a carreira. Miranda e os amigos ralhavam-lhe. E ele resmungava: "Eu é que sei, vocês é que haviam de andar aqui em cima a ver como é! Vou-me embora, já disse!"... e, no dia seguinte, lá montava a "pasteleira" para mais uma etapa. E ganhou algumas assim, bem famosas, nessas Voltas do mundo.
5 - No tempo de Agostinho havia Merckx. Há quem diga que o belga foi a principal razão para Agostinho nunca ter tido outra projecção. Se calhar foi mesmo isso. Mas contam-se histórias deliciosas sobre a relação "pelotónica" Merckx-Agostinho: um dia, numa subida, o belga da Molteni terá dito ao luso, que estava a esfrangalhar o pelotão com as suas pernas possantes, que "doucement, Tino, doucement!...". Em outra ocasião, também numa subida, Merckx(*) quedou-se, estava em baixo, nesse dia. Agostinho foi incitado pelo carro de apoio: "Mais il faut que tu t'en vas, homme de Dieux!". E ele não foi. Disse a Carlos Miranda, depois, que "eu ia lá atacar quando o homem não se podia defender!".

Basta. Julgo que basta. Os mais novos, os que não o conhecem bem, caso se sintam curiosos sobre este homem simples de Brejenjas (Torres Vedras), que calhou ser do Sporting, mas podia ter sido do Porto ou do Benfica, podem ler sobre ele em vários sítios.
Ao fim e ao cabo, aqui, nem sequer leram sobre ele. Foi sobre mim.

(*) Não me lembro bem se foi o Merckx ou o Ocaña... Poulidor acho que não foi.

Clubismos

Ao contrário do Alonso (e, reparem, eu não digo "melhor do que o Alonso") eu defini cedo essa coisa do "de que clube és tu". Foi fácil: até aos seis anos, porque não tinha tino nenhum e porque a minha Mãe é benfiquista "soft", eu dizia que era do Benfica. Mas não era, de facto. Nem ligava. Ganhava muitas vezes, o Benfica, e os meus amigos da altura eram quase todos "lampiões", pronto, mais nada.

Depois, o meu Pai mostrou-me o Sporting. É um sportinguista sofredor, o meu Pai. E levou-me a ver jogos com o Damas, o Fernando Peres, o Pedro Gomes, o grande Yazalde, o Lourenço, eu ainda vi o Lourenço!... E mostrou-me o Joaquim Agostinho, que uma vez vi a subir "de cu no selim" uma rampa íngreme, numa Volta a Portugal, à frente, com o povo na rua a gritar, ao meu lado, ainda o "homem duma cana" (como lhe chamou o saudoso Carlos Miranda) vinha lá ao fundo, "é do Sporting!"...
Foi assim, nada mais simples.

Estive a ver. E, desde que me lembro, o Sporting ganhou, apenas, 6 campeonatos. Ao todo, venceu 18! Eu só me lembro de 1/3, apenas seis! O primeiro de que me lembro foi na época de 1969/70! Depois deste, ganhou em 73/74, 79/80, 81/82... e os dois últimos, o de 99/2000 e o de 2001/2002. Não me lembro doutros, nem do de 61/62 (usava fraldas!) nem do de 65/66 ("era" benfiquista...e não ligava).

São muito poucos títulos (comparados com os do Porto - lembro-me muito mais destes, evidentemente - e os do Benfica) para poder justificar o meu sportinguismo com vitórias. Foram outras coisas, foi o meu Pai. Sempre a dizer, como bom sportinguista, "às tantas nós vamos perder...". Foi, também, o ter ligado sempre mais aos homens que vestiam as camisolas, cujas estórias gostava de ler e conhecer, do que ao clube em si. Ainda hoje não entendo como se pode ver Fórmula 1, por exemplo, e ser da "Ferrari". Já me explicaram mas eu não entendo, sou um tosco funcional. Entendo que se torça por um dos pilotos, eu gostava do Prost e do Patrese, por exemplo, mas pelos carros?... Não. Erro meu, seguramente, mas não consigo. Hoje gosto do Alonso (do outro, deste também mas ele nem bom-fim-de-semana me deseja!) e do Montoya, por exemplo. Guiem eles seja que carro for.

Não sei explicar isto muito bem. Já se notou, aliás.
Os meus filhos também são do Sporting por minha causa, como eu sou "lagarto" por causa do meu Pai. Dou-lhes secas de morte, a ambos, a falar da defesa que vi fazer ao Damas, dos golos do Yazalde... converteram-se definitivamente com os 2 últimos títulos (numa altura em que o mais velho já me dizia, às vezes, desconsolado: "ó pai, nós nunca vamos ganhar nada, pois não?". O velho Acosta tornou-se o Yazalde deles, e o Schmeichel no seu Damas privativo. Depois, os dados estão lançados, nunca mais se muda: alguém consegue deixar de ser sportinguista depois de ver morrer o Damas? O Joaquim Agostinho? A gente morre ali também, um bocadinho, não é?

Alonso: tu tens toda a razão no que disseste. Mas também percebes a minha razão, não percebes? No fundo, repara bem no que o meu Pai me dizia: "nós, às tantas, vamos perder...". E no que o Zé Pedro, que bem conheces, me perguntava: "nós nunca vamos ganhar...?". O derrotismo é exclusivamente sportinguista, assumo. Mas o "nós"... o "nós" explica, pela parte que me toca, o clubismo, qualquer que ele seja. É, até, a única coisa que o justifica.

Eu acho que, se não for assim, anda lá perto.

Dilemas ...

Ontem à noite os meus filhos foram para a varanda festejar a vitória do FCP. Eu ainda estava no escritório mas ouvi a algazarra que ia pelas ruas. Fiquei contente com esta vitória, claro, mas falta-me, nesta matéria, alguma da sensibilidade que provoca estas manifestações. Talvez porque não aprecio particularmente o futebol como desporto, e "desaprecio" completamente as paixões clubísticas.

Não é fácil. Ainda me lembro de vir para Lisboa e de, no conjunto de amizades que fui granjeando, ter quase a obrigação de definir a que clube "pertencia". A resposta "nenhum" não era satisfatória, e aprendi depressa um meio de "despachar" tais interrogatórios: dizendo que era da Académica, o que o pessoal daqui acabava por respeitar, até porque eu tinha estudado em Coimbra. Talvez até achassem que já era mais "normal" eu não ligar ao futebol, porque a Académica realmente ia somando desgraças.

É claro que se me perguntassem na altura nomes de jogadores, do treinador ou sequer em que divisão é que a Académica jogava eu não saberia responder. Em cinco anos de curso nunca assisti a um jogo. Aliás, na minha vida inteira acho que assisti a um jogo de futebol. Foi entre o Académico de Viseu e outra equipa qualquer (3ª divisão, zona centro, acho eu) e fui lá levado pelo Pai de um amigo meu.

Enfim ... mas os "dilemas" a que me refiro no título não têm que ver comigo. Têm que ver com um rebento meu que anda a ser assediado por:
a) Um Tio que é sócio do Benfica, tem lugar cativo na Luz, assiste aos jogos todos do SLB nesse estádio e que já ofereceu ao rapaz um boné e, recentemente, uma camisola do Benfica; Não aceita outra resposta do rapaz que não seja a de que é também benfiquista;
b) Um primo que é chalado pelo Sporting, não pertence à Juve Leo mas anda lá quase, vai a todos os jogos do Sporting (em casa e fora) e que massacra o miúdo para ser sportinguista;
c) Um primo que ele vê menos - e que é o menos assediante de todos - que é feroz adepto do FCP.
d) Ao que sei, tem colegas do SLB e do SCP (do FCP acho que não), o que também não deve simpplificar as coisas.

Ele bem se virava para mim buscando conselho. Até porque era fácil responder a esse pessoal todo "Sou do ..., como o meu Pai". Era a solução ideal.

Mas, coitado dele, eu não o posso ajudar. E a minha "neutralidade" é conhecida na família, por isso não adianta ele dizer que é da Académica. E com os colegas também não, arriscava-se a ser gozado.

A verdade é que o prefiro assim. Ele gosta (muito) quer do Tio, quer dos primos. Talvez assim perceba que os benfiquistas não são más pessoas, os sportinguistas não são más pessoas, os portistas não são más pessoas.

Dirão: mas só um anormal pensaria isso!

Pois ... mas quem ouviu o fórum TSF como eu ouvi hoje, e ouviu os "mimos" que alguns e algumas portistas mandaram (sobretudo) aos benfiquistas, ficaria a pensar que os portistas são más pessoas. Ou isso, ou eles e elas tinham razão, e então a verdade é que os benfiquistas devem ser todos uns reles invejosos (e hipócritas, porque os "mimos" eram especialmente dirigidos aos benfiquistas que foram ao fórum dizer que vibraram com a vitória do Porto).

Note-se que não estou a criticar os portistas. Tenho a certeza absoluta que as "bocas" que ouvi também seriam ditas por qualquer dos adeptos de outro dos "grandes", caso estes ganhassem qualquer coisa. E dirão, quando eles ganharem.

É a lógica irracional que está implantada. E, quanto a isso, não há nada a fazer.

Se o meu filho conseguir passar incólume pelo seu dilema, até nem me importo que ele acabe por ter especial simpatia por um clube qualquer. Espero é que consiga manter sempre um certo distanciamento desse fenómeno. Ele que goste do "seu" clube. Mas que não despreze os outros. Nem os miúdos dos outros que se calhar cresceram a ouvir o Pai (e a Mãe, que este fenómeno não tem sexo) a gritar no estádio que o presidente do clube adversário é um FDP.

26.5.04

Vou falar do Baía. Posso?

Eu digo-vos isto: um grande guarda-redes faz-se de experiência, coragem, inteligência e temerosidade. E de abundante motivação, além disso. A dada altura do jogo, Vítor Baía atirou-se à bola no meio do maralhal de jogadores, agarrou-a com as mãos e estatelou-se, desamparado, na relva. Embora visivelmente magoado, manteve, ainda assim, a bola agarrada a si até que o perigo passasse. Para que precisa ele de convocatórias? Já é campeão europeu e o Euro 2004 ainda nem sequer começou...

Por outro lado, digam-me lá se ele não seria uma excelente alternativa ao Figo naquela imagem Viriática do anúncio.

Porto Muito Sentido



Podem até achar que exagero. Mas comovi-me quando vi o Jorge Costa com a taça nas mãos e por aqui as buzinas não páram. Esta noite, há festa sentida no Porto como há muito tempo não se via no país todo.

Quanto às acusações.

É verdade, Durão Barroso acusou Carlos Carvalhas de incitar os polícias à greve durante o Euro 2004 e responsabilizou-o pelos perigos da não comparência das autoridades ao evento. Fê-lo com os olhinhos esbugalhados, semblante retorcido e voz indignada. Vocês sabem como é, quando ele ondula o timbre para parecer mais convincente.

Acidentalmente

Não se percebe bem, o Acidental. Parece uma espécie de IP3 dos blogues, eternamente inacabado. Ou de IP4, derivado aos acidentes...
Fica a gente na dúvida. Quer dizer, a gente sabe que, quase sempre que fala, não foi bem isso que o Acidental quis dizer, mas não deixa de ser verdade que o disse... É complicado.

Aqui, por exemplo, parece defender Bush quando manda demolir a prisão de Abu Ghraib. Porque se tornou num símbolo de desonra para os valores americanos, desonra essa causada por uns poucos energúmenos...
Claro que não deve ser isto que o Acidental quer dizer. O Acidental deve saber que há inúmeros edifícios por esse mundo fora onde se passaram ignomínias e, apesar disso (ou, se calhar, por causa disso), se mantêm em pé, bem visíveis, na sua acção pedagógica e profiláctica. Não é a demolição de edifícios ou símbolos que corrige erros: é, aliás, na constante possibilidade de relembrar o erro que se evita a sua repetição. Não, ele não quis dizer aquilo, não pode ser.

Aqui, transcreve um excelente poema de Kingsley Amis, que já fora transcrito pelo Times Literary Supplement e, ainda (percebe-se que aqui o Acidental genuflecte), re-transcrito por Pereira Coutinho. Parece perceber-se que a "devida vénia" estará endereçada ao fértil pensador Coutinho, basta ler o título do texto para se ficar baralhado, mas lá estamos nós: no Acidental as coisas nem sempre se percebem bem e, às tantas, a devida vénia era para o autor do poema, esse tipo desinteressante...

Tenho um amigo que costuma dizer que "devidas vénias" são "artigos de ourivesaria de pôr ao peito feitos de joelhos". Mas esse amigo, que também muito prezo, também se explica mal. É o diabo, isto.

Fica uma pessoa assim, sem saber o que pensar...

Retalhos da vida política

Comício de pré-campanha da CDU, algures no sul. Alentejo, cintura industrial de Lisboa, Vale do Sado, enfim. Carlos Carvalhas, o fiel seguidor do comunismo histórico, está no púlpito e comunica aos - também fiéis - militantes presentes no gimnodesportivo meio-cheio que "não tem medo das acuzjações do Çjenhor Primeiro Minizjtro!". O pavilhão tem muitas bandeirinhas empunhadas por mulheres vestidas de ceifeiras e homens de cajado, como já acontecia há trinta anos atrás. Atrás de Carvalhas, no palco, Ilda Figueiredo, a cabeça-de-lista, sorri. De punho no ar, evidentemente. Ao seu lado perfilam-se outros históricos do partido a fazer monte, de braços cruzados e ar displicente mas com sentido de cumprimento do seu dever pela causa. No final, há sardinhas, vinho, auto-colantes e porta-chaves.

O comunismo histórico português está para o Bloco de Esquerda como o Festival RTP da Canção para a Operação Triunfo.

Preocupações de besugo

Às tantas, o José Peseiro vai mesmo ser o próximo treinador do Sporting.
Às tantas, ainda vou ter de aturar um benfiquista ou um portista a consolar-me. Estou mesmo a ver este diálogo:

- Então, lá tendes o Peseiro, hem?!
- Pois...
- Não percebo o teu ar tristonho...
- Não?
- Não! O tipo está intimamente ligado ao sucesso!
- Está?
- Está, pois! Não sabias?
- Eu não...
- Então pensa: treinou o Nacional da Madeira no ANO ANTERIOR à sua melhor classificação de sempre! E foi adjunto no Real Madrid no ANO ANTERIOR ao seu regresso à ribalta!
- E então?
- Então sorri, homem! "Para o ano é que vai ser!"



Eu não vou suportar isto. Eu fodo-os.

LFV

Eu tenho pena que, afinal, tudo se tenha resolvido. Quando soube, pus-me a imaginar o Luis Filipe agarrado à Taça a gritar "não ma tiram!" enquanto era arrastado pela relva da Nova Luz pelos gendarmes da Federação. Ricardo Costa assistia a tudo isto e, na sua pureza infinita, exclamava: "hã?"

25.5.04

Desilusões

1. Fui educado a respeitar os mais velhos, a acreditar que todas as pessoas são boas até prova em contrário, a dar o benefício da dúvida aos nossos governantes. Assumir cargos de responsabilidade é, nos dias que correm, uma tarefa cada vez mais difícil, eventualmente cada vez menos atractiva ás pessoas competentes, rigorosas, sérias. Quanto maior for o nível "orbital" do cargo, maior deve ser a dificuldade em lidar com aparelhos partidários, com imbecilidades, lobis organizados, pagamento de facturas eleitorais, e outras anormalidades etc. Dirigir, governar, gerir a coisa pública deve ser uma tarefa, a ser levada a sério, tão estimulante como tenebrosa, e potencialmente aterogénica !

2. O tipo de vida frenético que levo, faz-me recordar um colega, que dizia lamentar-se por o dia não ter 48 h, para poder fazer todas as tarefas de que necessitava. Mas existem momentos especiais em que (raramente) é possível descontrair, reflectir sobre as coisas importantes da vida, ou simplesmente não pensar em nada, nem que seja apenas para admirar a paisagem, ouvir a nossa estação de rádio favorita, as músicas escolhidas (CD, cassete) ou até respirar um pouco mais fundo e calmamente - Para mim conduzir o automóvel, em viagens longas, é um desses raros momentos de prazer, de liberdade. E aí vou eu, tipo cowboy do asfalto, a pensar na vida, a tomar decisões, a ouvir música, a fazer vocalizos ou a ouvir as últimas da rádio.

3. Como convergem os pontos 1 e 2 deste post, perguntam vocês ? Porque tenho tido a sorte de apanhar acontecimentos políticos de relevo, enquanto conduzo traquilamente o meu automóvel. O que lhe dá um sabor especial. E foi assim que este fim-de-semana pude acompanhar o último congresso do PSD. Que estranha sensação de déja-vu com aquele congresso do PS, presumo que já muito perto da derrota nas autárquicas, onde o nosso então PM Guterres saía "reforçado" numa quase unanimidade (excepto MMCarrilho) para enfrentar "os combates políticos do futuro de Portugal" - que estranhíssima linguagem compañeros, não é ? "partido unido" "fileiras cerradas" e coisas assim. Tive a sensação imediata de que aquela gente orbitava (hoje apetece-me aplicar termos espaciais, não sei porquê) num autismo incrível - como aliás se viu mais tarde. E eu fui um dos portugueses que tinha acreditado no Guterres - que tinha uma capacidade oratória / persuasiva impressionante. E, numa época de fim de ciclo cavaquista caracterizado por um discurso, por vezes arrogante, aquele homem era um bálsamo para os meus ouvidos. Por educação, acredito sempre no meu presidente, no meu PM, no meu director, no meu chefe etc, até prova em contrário como disse. O resto, foi história - o Guterres foi "reforçadíssimo" para a rua - voluntáriamente e á força - e em mim ficou a desilusão de um país novamente adiado - mesmo dentro de um contexto de pujança económica, tão propício a reformas, a mudanças. Quando penso nas paixões do Guterres: educação, saúde, blá, blá, blá...!!!

4. Mais uma vez, dei o benefício da dúvida a Durão. Ainda por cima com a solidariedade de um transmontano, que partilha mentalmente com ele a dificuldade de governar um país numa situação muito difícil. Ainda por cima um PM que se expõe dessa forma a governar, vendo as suas opções ministeriáveis a diminuirem rápidamente de qualidade - mais uma razão para eu, simples cidadão, assumir que estou aqui para o que der e vier! Dois anos depois, mais uma vez, num momento de reflexão - conduzir o automóvel pelo Alentejo profundo - ouço com atenção um Congresso de estranha unanimidade (duas vozes discordantes - da jota e de Bragança) com o nosso actual PM, também "reforçado", o partido "preparado-para-o-combate-político" com "fileiras cerradas", enfim a tal linguagem que soa a autismo por todos os lados. No fundo todos presumem, que estará algo de importante para acontecer ! Mas detesto unanimidades, deixem lá que hei-de fazer !

5. No fim do ciclo Guterres e deste meio ciclo Durão, como está o país ? Seguramente mais partidarizado. O resto deixo á vossa imaginação, á vossa opinião e experiência. Não estou nada optimista. Perdemos demasiadas oportunidades, para dar saltos qualitativos imprescindiveis no país, nos sectores fundamentais. Presumo que temos todos a noção de desperdício de energias, em matérias secundárias, e não no essencial da resolução dos problemas. E escuto, muito preocupado, um PM a fazer um discurso, a todos os títulos, inacreditável para um cidadão no exercício dessas funções:
- Não gosta da pequena política, do espírito mesquinho de certos portugueses - como se não fosse a educação da sua responsabilidade.
- Fala no papel das mulheres - rais parta os políticos que falam das mulheres como se fossem deficientes, anormalidades!
- Soube que o governo não controla as forças de segurança, é o PCP !
- Sendo Sousa Franco um homem com uma capacidade e rigor técnicos reconhecidos em todos os quadrantes políticos, cuja acção no 1º gov de guterres, terá sido essencial para adesão á moeda única europeia (corrijam-me pf se não for verdade), foi no mínimo deselegante a forma como o pm a ele se referiu - apontado como um dos responsáveis pelo descontrolo orçamental posterior. E Sousa Franco fora um dos políticos mais infuentes (?) do PSD !
- Parece que foi num governo PSD que aconteceu a adesão á CEE: eu não sabia !
- E outros momentos dum discurso, que me pareceu, no geral, muito pobre, muitas vezes demagógico, excessivo, até confuso e repetitivo. Tive pena !

6. Espero por dias melhores. Embora mais desiludido!

Pronto, lá vou eu ter de falar do Benfica, que nem queria...

Só esta noite consegui ver a fantástica intervenção do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, naquele programa da SIC.
Se bem entendi, o senhor entrou por ali dentro e prantou-se ao lado do jornalista, levando papéis. E disse que "a bandalheira acabou, com o Benfica ninguém mais brinca e, além disso, ninguém nos tira a taça, nem a pré-eliminatória".
Não tenho nada contra isto. Achei delicioso e, até certo ponto, comovente. Eu até sou do Sporting, tenho ao Benfica uma azia considerável, mas que querem? Achei graça e não me escandalizou rigorosamente nada. Eu explico.

1 - Se o senhor lá entrou foi porque o deixaram. O que ele lá ia fazer era, facilmente, extrapolável do seu comportamento habitual. Com vantagem: ao contrário de Ferreira Torres, o presidente do Benfica até pode falar sem ter razão (e eu nem sei se tem) mas não tem historial de violência. E quanto à taça e à pré-eliminatória, para mas tirarem (se as achasse minhas), tinham de me anestesiar primeiro!
Meus amigos: a SIC permitiu (e, às tantas promoveu) mais este "furo". São coisas simples.

2 - Não me choca ver presidentes de clubes a exprimirem-se com dificuldade, ou em poses desafiadoras de "galuchos", ou a tentarem desesperadamente ter razão, "porque sim". Vejo isso diariamente em pessoas com responsabilidades governativas, seja aqui em Cuba, seja no Paraíso da Democracia do careca feio da Madeira. Esta não resisti, desculpem. E a vantagem é de Luís Filipe Vieira que, ao menos, é apenas presidente dum clube... e é mais esbelto.

3 - Ser dum clube não é ser um "ultra". Os "ultras", aliás, nem sequer gostam do clube, gostam é de chatear os outros. E de copiar os "ultras" estrangeiros que, antes deles, acharam bem ser "ultras", porque é sempre bom poder chatear os outros de forma "internacional". Ser "ultra" não é uma cultura, nem sequer é uma sub-cultura: eu transformava-os em adubo, com vantagem.

Pode ser-se dum clube de várias formas: a forma sofrida do "já sei que vamos perder", muito difundida entre os sportinguistas, a forma semi-arrogante do "é claro que vamos ganhar", dos portistas, a forma alucinada do "nunca percebemos muito bem como, mas lá ganhamos às vezes", dos benfiquistas. Não se pode é ser dum clube e parecer que se é doutro, percebem? Na vida política também não se devia poder, mas cada vez parece mais que se pode, ao ponto de um primeiro-ministro duma coligação de direita poder afirmar "eu, de direita, a bem dizer, nunca fui" sem ninguém lhe perguntar "então que estás aí a fazer, ó nabo?".

Luís Filipe Vieira, que é presidente do Benfica, ouviu não sei o quê que uns senhores sentados nas gravatinhas estavam ali a discutir sobre o clube dele, não gostou, e foi lá dizer o que lhe passou pela cabeça. Por acaso eu até não costumo ser assim grande entusiasta destas coisas tipo "coup de foudre", sou um besugo reconhecidamente sensato, mas não pude deixar de sorrir: o homem foi lá "à Benfica"! É aquilo, valha-me Deus.

E, se querem que lhes diga, à Benfica, portou-se bem: foi parolo (como Sousa Cintra, tantas vezes, foi). Foi arrogante (como Pinto da Costa e Dias da Cunha tantas vezes têm sido). Foi chocarreiro (como Pimenta Machado e Valentim, tantas vezes, meu Deus!).

Foi ali dizer "do seu clube". Não é o melhor presidente do mundo mas também não é homem de se calar. Mesmo que a gente perceba que "caladinho é que ficava lindo", pronto! Eu, se fosse benfiquista, não me distanciava desta atitude do presidente do meu clube, com atitudes de "snob".

Não vem daí mal ao mundo. Doutros homens e doutras atitudes, sim, às vezes vem. Se a gente deixar.

Remato, sempre ao poste (eu sei que ninguém me vê a acertar na baliza, é sempre ao poste ou ao lado...sou do Sporting, aquele torcer sofrido, como sabem) da seguinte forma: reparei que o senhor Vieira disse, sempre, "o Benfica". Já disse isto a vários benfiquistas: uma das coisas mais paneleiras que se fizeram no Benfica, nos últimos anos, foi permitirem cânticos com a sigla: "SLB". Nunca assim foi, soa a plástico, presta-se a mariquices... parece que querem fazer daquilo um clube só de lísbios enquanto reclamam dimensão nacional! Que parvoíce.
Na hora da verdade (vá lá, pronto, chamemos-lhe assim...), pela boca dum tonto (sem ofensa), eis o Benfica a querer ganhar juízo e a ressurgir "Benfica".

Desculpem lá, mas eu gostei. Continuo a não gostar nada dos gajos, mas assim respeito-os mais.


Não tenho razão? Ai não? Digam-me lá onde raio está a dar o programa em que estão uns senhores sentados a dizer isso de mim que eu vou já lá!

Futebol de primeira

1. Conheço bem o resort Marriot da Praia del Rei em Óbidos - Peniche. Trata-se de estância - spa (adoro esta palavra, até pela fonética) de 5 estrelas, com um preço de diária que nem vos conto compañeros, e com condições hoteleiras e da sua envolvente, simplesmente notáveis. Está lá a nossa selecção, e a trupe de jornalistas, que cobrem o acontecimento, não nos dá descanso. Perguntaram aos atletas e treinador se as instalações tinham as condições necessárias de trabalho (deus me perdoe). Que pouca vergonha ! Penso logo em todas as pessoas que abraçam profissões e tarefas de utilidade indiscutível para o país, a terem estas condições (gratuitas) antes de fazerem os seus exames finais, as provas de avaliação, etc. Já agora faço daqui um apelo á Comunicação Social (CS): POR FAVOR NÃO ENTREVISTEM OS JOGADORES ! EVITEM A PALAVRA TRABALHO (deus me perdoe). NÃO FAÇAM DIRECTOS TODOS OS DIAS. UM RESUMINHO SEMANAL JÁ CHEGA !

2. Amanhã final da Champions League. Força FCP, tragam a taça para Portugal. Em caso de vitória cada jogador tem 16 mil contos de prémio. Como eu gostava de ver o Prof Lobo Antunes (neurocirurgia) ou o Prof Manuel Antunes (cirurgia cardiotoracica) ganharem o mesmo... Ou o Presidente da República... ou outras profissões de grande responsabilidade...
Já agora, acho que tem sido lamentável a novela Mourinho - saída no final de época. Julgo até que o FCP tem sido altamente prejudicado, que P Costa tem muito mais categoria que o treinador, porque entenda-se que a instituição FCP está acima de qualquer treinador. José Mourinho por favor ganha a taça (é o minimo que podes fazer em compensação) e vai-te embora.

3. Quanto ao Sporting, após ter introduzido, num período curto de tempo, uma linguagem e uma postura de rigor e seriedade, eis os leões no seu melhor, fazendo jus á infeliz tradição de despedir o treinador. Vá lá que o fazem em final de época, quando era habitual fazerem-no durante o campeonato, com o record do despedimento de B Robson quando estava em 1º lugar. E F Santos não merece, por tudo o que aconteceu durante a época.

4. O meu slb ficou sem treinador - que teve postura irrepreensível, com C Queiroz e com o Benfica. Verei até que ponto o clube está organizado, pela forma como se irá desenvolver a novela - treinador. Já agora mudem tambem grande parte da equipa, porque é fraquinha ! Se o caso R Rocha for verdade - penalize-se o clube, a sério ! estas coisa não podem acontecer numa instituição com os pergaminhos como o SLB.

5. C Queiroz foi despedido do Real Madrid. De um forma lamentável e deselegante. Como português, revoltou-me a forma como foi tratado. É obvio, que quem levou porrada foi o mais fraco - dá ideia que o RM não teve nada a ver com uma equipa que transformou em espectáculo de circo. Quem viu o último jogo, percebeu que as estrelas (Zidane, Ronaldo e cia lda) nem se mexiam no campo. Por momentos apeteceu-me vê-los sob o comando de Alvaro Magalhães - que até os "ref****"...

6. Milagres: Três jornais desportivos diários. O Record hoje tem 48 páginas. Vezes três, mais ou menos = ?? Ená pá !!!

Elucidativo !

Ontem passei uma boas duas horas a escrever um post sobre o espantoso congresso do PSD, ocorrido no último fim-de-semana. A determinada altura, na perspectiva de rever visual e estruturalmente o texto, cliquei no preview. Em seguida cliquei no botão de return e adeus texto. Altos e misteriosos designios da blogosfera!

O texto que apresento a seguir, vem publicado na página 12 do Jornal Tempo Medicina (TM) de 24 de maio de 2004 e que, sem eu querer, me vem parar a casa. E tem tudo a ver com aquilo que eu queria publicar:

"Título: HSM tem novo Director"

"O Engº Luis Alves Monteiro abandonou o Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para ir integrar a Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos. De acordo com fonte do Ministério da Saúde, contactada pelo TM, o Engº Luis Alves Monteiro já foi substituído no cargo pelo Engº Alberto Moreno, que exercia o cargo de Director-Geral da empresa Minas Neves Corvo e Aljustrel."

Outra coisa

O José Manuel Fernandes mandou-me um mail com vírus. Mas que culpa tenho eu das bocas do Barnabé?

Top Ten

O Blasfémias conseguiu o impossível: o Barnabé e O Acidental surgem, unidos, nos dez blogues mais votados pelos blasfemos. Isto sim, é pluralismo!

Ainda assim, não contenho o desabafo: um deles está ali fora do contexto...

24.5.04

Conflitos

Quando sugeri ao Alonso que fosse ler a Rua da Judiaria não pretendi defender os judeus contra os palestinianos; nem o inverso. Aliás, nem sequer conheço a questão com a profundidade necessária para tomar partido, se é que tomar partido, neste caso, faria algum sentido. O artigo de Amos Oz reequilibra toda a questão, dispensando generalizações desnecessárias sobre a paz urgente e colocando-a no ponto exacto de concretização: ambos os líderes - Sharon e Arafat - estimulam o ódio, alimentam a guerra e perpetuam o conflito. Inevitavelmente, há-de existir um número significativo de fundamentalistas de entre judeus e palestinianos que não precisaram das demagogias, hoje tão longínquas dos princípios (por discutíveis que sejam), proferidas por Sharon e por Arafat, para manter os seus ódios acesos. Mas acredito que existam judeus e palestinianos que sintam uma imensa vontade de ter paz a qualquer custo, depois de tanta barbárie. O terror e os crimes cometidos e/ou sancionados por uma comunidade deixam marcas profundas de culpa na sua alma colectiva, mesmo para aqueles que, não colaborando, permitiram que tudo sucedesse assim. Serão precisos séculos para curar as feridas. E isso é triste, humanamente triste e, seguramente, já é irremediável.

O Fim de semana noutro mundo ...

1 - O congresso do PSD (e os comentários do Martelo e do Pereira):

Não vi. Faz mal à saúde. O besugo que o diga.


2 - O GP do Mónaco:

Não vi. Sei que o (outro) Alonso se despistou. Foi pena.



3 - O real casório:

Não vi. Falta de pachorra. Hoje ouvi reclamar do facto de a Ortiz ter pré-renunciado à custódia dos filhos em caso de separação do casal. Azar o dela. Escolhesse para marido alguém que nela gerasse um bebé qualquer, e não um Chefe de Estado. Se ela fôr monárquica, acha isso normal. Se não fôr, que exigisse a abdicação ao marido.


4 - Vi:

a) O "Matrix Reloaded" - estava à venda por 9,99. Para minha surpresa até gostei. O ambiente Sci-Fi combina bem com a luta entre bem e mal, e a escolha entre ser inconscientemente feliz , mas escravo, ou conscientemente infeliz, mas dono de si próprio.

b) A festa de anos de uma filha. Levou uma bicicleta de prenda. Mal chega aos pedais, coitada, mas gostou imenso.

c) Família e amigos.

Foi um bom fim de semana.

5 - Ando a ler "O Espião Perfeito" do John Le Carré. Nunca tinha lido nada dele, nem sequer o celebérrimo "O espião que veio do frio".
Estou a gostar bastante. Não é uma história "de acção", é simplesmente a história da vida de um homem, contada por ele.

6 - Lolita, li o teu recado. Vi o blog que me indicaste. E quero-te dizer que conheço judeus, me dou com judeus e sou, concretamente, muito amigo de uma judia. E digo-te: há vários anos que, quando estou com ela, evitamos polidamente este assunto. Lembro-me da vez em que comentei mais uma atrocidade qualquer do Estado de Israel e ela me respondeu: "Não há outro remédio." e "É a única linguagem que eles compreendem, podem ser que assim aprendam". Isto, no tempo em que era PM o Netanyahu (ou lá como é que isto se escreve).

Também me lembro de, com ela, ter conhecido socialmente uns judeus israelitas. E lembro-me de ter perguntado porque é que eles não promoviam políticas de integração, desde logo no kibbutz (idem) a que eles pertenciam. à falta de melhor resposta, a última que recebi foi "It's out of the consensus". Seja lá isso o que fôr, já não havia resposta possível. E achei melhor parar com a conversa por ali, porque percebi que aminha amiga já estava a ficar incomodada.

Eu não considero alguém mais, nem menos, por ser judeu. Nem por ser cristão, muçulmano ou ateu. Ou por ser ou deixar de ser da minha "raça" (coisa que duvido ter), ou por ter ou deixar de ter a mesma cor de pele que eu tenho.

E sou normalmente adepto de políticas de dureza face a quem transgride. Pelo que não defendo negociações nem contemplações com terroristas. Mas acho incomprensível a atitude de Israel. Acho-a revoltante mesmo. Digna de um país, de uma sociedade e de uma cultura do terceiro mundo. Acho que os responsáveis políticos de Israel são criminosos. E se o que por lá se passa é uma guerra, então acho que eles cometem crimes de guerra. E ainda espero (embora cada vez menos) que surja alguém com juízo naquela zona do mundo. E que se faça ouvir - e consiga alguma coisa - antes de ser morto, como aconteceu ao Rabin.

A verdade, no entanto, é que me parece realisticamente que nada disto passa de um sonho. E que a carnificina continuará até que, de duas uma: ou um daqueles povos perde, é disperso pelo Mundo, e desaparece como entidade política por mais uns séculos (hipótese mais provável de acontecer aos judeus do que aos palestinianos, por razões demográficas), ou a comunidade internacional intervém aproveitando um momento de cansaço mútuo, separa-os uns dos outros e - a bem da estabilidade no mundo - subsidia a sua possibilidade de existir em territórios demasiado exíguos e estéreis para sustentar uma nação. E assim limita os estragos.

Et voilà le con, qu'il revient encore plus bête

Eu sei que não se dão murros assim, impunemente, às pessoas. Era a brincar.

Eu sou apenas um homem cansado que se lembrou de Darwin pelo seguinte: há agora uns tipos que decidiram afrontar os moluscos pensantes e os outros moluscos, afivelando bombas à cintura e explodindo-se colectiva e inocentemente, fazendo medo aos moluscos pensantes e aos outros. Talvez se julguem fortes, talvez se julguem, mesmo, os mais fortes, não sei. Às tantas são.

Sei que se trata aqui duma nova ordem, que não tem a honra e a glória das gestas passadas mas é nelas que vai beber a inspiração. Os livros (mesmo os de Saramago) já estão todos escritos. E a sobrevivência do mais forte deixou de ter a clareza que dantes existia, bastava a limpidez da distinção entre a vida e a morte. Quem sobreviverá a isto, à queda da fronteira do antigo senso?

Dize, Darwin, fala tu agora. Se não, falam os moluscos, a explicar que não é nada assim como eu estou a dizer. Tu tens, ao menos, a vantagem suprema de estar a ver daí, que é muito longe.

Mais doçura...

Nem sempre vem de dentro. Às vezes, vem de dentro de outros, o que é o mesmo que dizer que vem de fora... e fica cá dentro.

Isto poderia, até, ser uma alternativa ao slogan publicitário que mostra imagens bonitas de Portugal acompanhadas por música... neo-irlandesa. Eu percebo. Dá o retoque civilizado a este bocadinho de jangada à deriva, demasiado perto do Maubere para ser europeu e demasiado longe do centro para poder ostentar os seus malhões. Mas temos os ovos moles! Soft eggs, quero dizer. Bom, nem todos, isso asseguro eu.

Porrada ao AJJ, já. Ou então entreguem-lhe o destino da sua piroga.

23.5.04

A doçura

É um sabor bom que tem de vir de dentro.

Já de ovos moles gosto!

Tem piada, não tem?
Mas não é por serem moles.
É por serem doces.
A seguir vou escrever sobre a doçura.

Chega, eu calo-me.

O intelecto é apenas uma vertente cerebralizada do corpo. Uma pessoa que seja só intelecto (uma espécie de molusco pensante, com o aspecto de Pacheco Pereira ou Pereira Coutinho, geralmente) agradece a Darwin que a democracia tenha sido inventada. Não foi Darwin que a inventou, mas foi por causa dele que a inventaram.
Eu agradeço aqui ao inventor da democracia (um grego qualquer, mas Fernando Santos não foi...). Mil empenhos, senhor!
Isto porque tenho ciência da existência de vários Mike Tysons por esse mundo afora, claro. Se isto fosse só Albertos Joões e Pereiras eu agradecia na mesma, mas com menos reverência e mais bofetão.

O meu tempo de blogosfera parece estar mesmo a esgotar-se na paciência que não tenho para coisas moles.

Afirmação que carece de prova

Eu gostava de dar dois murros ao Alberto João Jardim. No entanto, julgo que não seria capaz de me agachar o suficiente para lhe dar o segundo.

Os senhores não vendam a Madeira enquanto podem e depois acusem-me, mais tarde, de medir mais de um metro e oitenta.

O melhor amigo do homem

Um dia que eu viva num País a sério quero que haja televisões a sério. Em que um Magalhães qualquer não seja obrigado a perguntar a um carnívoro das vantagens da carne.
Vantagens essas que são óbvias. Obviamente.

- Ó professor Marcelo: que acha do congresso do seu partido?
- Bem, Magalhães, acho quatro coisas positivas e uma assim mais ou menos negativa...
- Ena! Que bem! Que originalmente imparcial, usted!
- Ah! vejo que também viu a boda!
- Ah! La boda! Y que bien estaba ella!
- Y el, entonces!
- Si, por supuesto!

O onanismo devia ser um desporto solitário, no meu tempo era, mas está cada vez mais a tornar-se uma modalidade colectiva. Nas televisões, então, é uma felicidade haver o vidro, aquilo que se suja sempre com as dedadas achocolatadas da canalha e com o vapor dos cozinhados. É um vapor doméstico, nada como o Queen Mary, eu sei. Mas protege-nos. O vidro. E, às tantas, o vapor.

O fim-de-semana do homem

O homem afirmou várias coisas, lá no congresso dele, com aquela voz pastosa que ele tem. Uma das coisas que disse, lá do alto dele, foi "que não tem tempo para coisas menores".
Ou seja, afirmou a Portugal inteiro que vai dar férias ao bidé.
Também, com a psicológica lambidela escrotal que o Santana lhe deu... fica lavadinho para uns meses.
Já sabem: se o país cheirar mal, será (certamente) dos incêndios.

22.5.04

Morfeu foi ali ao lado...

...e ainda vi, por entre as imagens nubentes dos príncipes de Portugal e Espanha (parecia assim, pelo menos...), Durão Barroso a dizer a sus muchachos que "deixem comigo!", o gordinho cómico da Madeira a fazer chicana de encardido e, supremo desperdício, a jornalista da TVI que cobre o Congresso (logo todo, hem?) a fazer boquinhas dignas de melhor aproveitamento fálico. Desculpem, eu escrevo sempre o que me apetece escrever. Mas sosseguem: não faço sempre o que me apetece fazer. E peço desculpa, era a brincar.

No entanto, vou ter de ir descansar com a enjoativa e gordurosa voz do primeiro-ministro (eu explico: é o primeiro porque há uma bicha; isto é assim, há uma bicha e o que está à frente é o primeiro, consoante lhes vamos dando senha) na lembrança, a encontrar (ele, o cada-vez-mais-gordo-e-gorduroso) défices democráticos nos Açores, uns dias depois de ter elogiado (ele, o cada-vez-mais-gordo, mais o beatle, mais o de bigodes que foi ministro, etc...) a savana madeirense y su soba.

Isto vai levar-me à metoclopramida! Ao tropisetron! Mesmo assim, há-de conduzir-me à inevitável vómica.

Os senhores defendam-se, pelo amor de Deus.

Kafka

Não sei se é por estar cansado, mas não deve ser. Isto é mesmo bom.

La vie en gris



Mais uma excelente noite passada no Serviço de Urgência. Consegui descansar cerca de duas horas, o que é bastante bom para quem, como eu, “está ali para trabalhar”. Gosto deste determinismo europeísta, “sopeira evoluída-like” , que querem?

Os casos mais marcantes foram:

1. Encefalopatia hepática, em doente do sexo masculino, 63 anos de idade, que mantém alcoolismo activo e entusiástico, manifestando espanto recorrente (partilhado pela família, também consumidora dos discos de Baco) pelo facto de acordar no hospital de três em três dias.
2. Aflições e formigueiros pelo corpo todo, em doente do sexo feminino, 71 anos, com antecedentes de cirurgia cardíaca. Não há clínico geral que não a mande ao SU se a paciente se queixar dum flato. Eu faria o mesmo. Depois, um dia, morrem-nos... é só complicações... siga para o Hospital.
3. Coma hipoglicémico, em doente do sexo masculino, 68 anos, diabético desde 1979, que ainda não percebeu que um diabético tem de comer. Duas ampolas de glicose a 20% fizeram-no verberar, pela noite fora, o sistema de saúde que lhe devolveu as forças para falar.
4. AVC em doente do sexo feminino, 79 anos de idade. Sete eventos idênticos anteriores, percebendo-se, a custo, que este novo AVC provocara uma ligeira diminuição da força do polegar esquerdo, até porque se tratava de pessoa em coma desde o quarto acidente. Não deixava dormir a família com o seu resfolegar de morte. Que veio a acontecer, a contento da parentela. Isto é controverso, mas eles pareciam aliviados, sobretudo por poderem deixá-la a morrer no Hospital. Em casa, aparentemente, seria complicado, por causa dos netos emigrados na Suíça, que tendem a achar que “em Portugal nunca se faz tudo” . A bem dizer, “nunca se faz nada” , devem regurgitar eles. Porque ainda é quase de borla, filhos da puta, haveis de pensar vós, “xeus xuíxos”, digo eu, que tenho pouca paciência para preços.
5. Disfagia com 3 meses de evolução, em doente do sexo masculino, 61 anos de idade. Na madrugada de ontem resolveu ingerir, mais uma vez, água (tinha sede, o pobre diabo!) e “não passou”. RX de tórax mostrando alargamento do mediastino. TC torácica, sem contraste, mostrando colapso esofágico e espessamento de paredes da víscera. Internamento, com palpite de cancro e morte para breve, independentemente da abordagem. Com este falei bastante. Até porque este falava e, mais do que isso, em 3 meses ninguém lhe pediu uma endoscopia. O resultado final seria, eventualmente, o mesmo. Mas uma endoscopia é o exame correcto, até uma peixeira treinada o pediria. Azia do médico (eu), já com sono, contra o sistema. Que posso ser eu, às vezes, o sistema.
6. Enfermeira reformada, 66 anos, que vive só, com ansiedade. Legítimo recurso ao SU. A solidão é respeitável. Também é respeitável, melhor dizendo.
7. Jovem de 19 anos, cheirando a “erva”, com palpitações. O indicado seria obrigá-lo a repouso e a frequentar as crónicas do Pereira Coutinho, mas foi mandado para valoración por medicina interna por um galego qualquer, ensonado. Disse várias coisas, o petiz, entre elas que me ia bater. Não resisti e afirmei-lhe que o partia todo, logo que se tivesse em pé. Pareceu-me convencido, mas pode voltar um dia destes. Abandonou o SU às 6 da manhã, aos pontapés a tudo, derrubando o soro do doente referido em 3 e ameaçando-me de regresso. Eu disse-lhe o nome: “volta, pá, e pergunta pelo Manolo, dos Cuidados Intensivos!”. Enfim, um homem vinga-se, quando pode....
8. Chamada ao Serviço. Doente de 88 anos, em coma, que convulsivou na sua febre. Vi a TC cerebral prévia, onde se lia “couve”. Paracetamol endovenoso, após leitura de diário clínico onde estava expresso um “mantém o mesmo estado” revelador. Ainda um dia hei-de ler, porque Deus é grande, “mantém estado clínico diferente”, num diário. Hei-de felicitar o autor. Pela bizarria.
9. Edema agudo do pulmão em doente do sexo masculino, 90 anos de idade. Boa resposta ao Lasix e restantes medidas. Deixei-o sentado no leito, a tomar o pequeno almoço. Guicho, sacana do velho, fixei-lhe a cara e comigo não morre.
10. Intoxicação por alprazolam em jovem do sexo feminino, 22 anos. Duas caixas. Queria morrer porque o namorado tem outra. Não é que não seja razão para querer morrer, mas ao menos não vomitem logo. Não resulta, assim.
11. Telefonema , às 8 horas (foda-se!) de pessoa amiga que tinha empenho por pai de amigo de amigo. Problemas de cardiopatia isquémica, falta de ar e ausência duradoura de emissão da redentora e amarelada urina. 80 gastos anos. Vinha a caminho, buzinando. Levantei-me, passei o turno ( e o empenho) e fui ver os meus doentes oncológicos ao Serviço. Todos bem, aparentemente, mesmo o velho do carcinoma gástrico a fazer Cisplatina e 5-FU. Dei altas. Ficam sempre contentes, de dia, quando saem do hospital, para casa. E eu, merda do caraças, acabo por gostar deles todos. Até porque o meu pensamento é o mesmo: “deixem-me sair daqui também, isto não passa duma imitação da vida e, um dia, isto é comigo mesmo e, às tantas, já não saio.” .

Recado ao Alonso

Como terapêutica para o seu recente anti-semitismo confesso, recomendo ao Alonso a leitura deste artigo do escritor israelita Amos Oz, publicado na Rua da Judiaria, antes de começar a tomar a parte (Ariel Sharon e a sua trupe) pelo todo (os judeus). Recomendo-lhe, também, que leia outros postes da Rua da Judiaria antes de se atravessar a dizer que Moisés se enganou no mar. Falta-me, porém, ler um blogue pró-palestiniano (não, o Barnabé não serve, um dia desses explico porquê) para que se me acabem as dúvidas. Fundamentalismos à parte, de um lado e do outro, mas a verdade é que poucos se livram disso. Por isso me lembrei do Barnabé.

A modernidade

Se bem se lembram (como dizia Vitorino Nemésio, mas de forma reflexiva), o concurso para a escolha da Miss Portugal consistia, até há pouco tempo atrás, num programa confrangedoramente anacrónico, apresentado pelo Eládio Clímaco (sempre achei que este homem tem nome - e físico, talvez - de marciano) e pela Ana Zanatti (que entretanto se deixou dessas coisas para se tornar numa espécie de diáfana semi-diva da produção cultural portuguesa), ambos com a sua dicção p-e-r-f-e-i-t-a e entoação pastosa, como se usava no tempo da pasta medicinal Couto, e que, na actualidade, foram sucedidos com vantagem pelo José Carlos Malato e pela Serenella Andrade, que permanentemente exibem aquele esgar contentinho de quem está feliz com a sua vidinha pateta. O concurso Miss Portugal, dizia eu, era invariavelmente gravado nesse mausoléu da piroseira chamado Casino Estoril, onde, para o evento, se montavam cenários modestos de cartolina e esferovite e a música ambiente, enquanto desfilavam as misses, era escolhida de entre os concertos de piano do Richard Clayderman (que, aliás, também tinha o mesmo tipo de sorriso do Malato e da Serenella) e as variações melódicas da música do mundo, à qual, hoje sabemos, devemos chamar world music. Aquilo tudo tinha qualquer coisa de deprimente: o programa era lento, entediante e tristonho, embora ufanamente solene porque, afinal, estavam todos ali engalanados para escolher a miss Portugal. Como o Festival RTP da Canção, era, nos anos noventa, um resquício do Portugal obsoleto, bafiento e pobrezinho. Que, apesar dos sinais exteriores, não (r)evoluiu assim tanto daí para a frente... mas isso não vem aqui ao caso.

Entrámos, então, no século XXI. A modernidade inspirou os criativos da produção televisiva das estações modernas e inovadoras (leia-se SIC e TVI) a alterar os formatos do entretainement e a torná-los coloridos, radicais, irreverentes, com imagens desconstruídas, close-ups artísticos e apresentadores fresquinhos e humoristas. E assim nasceu o “Sonho de Mulher”, um programa reality-showesco que se destina à escolha da Miss Portugal 2004 e onde tudo mudou, com excepção das rapariguinhas candidatas a miss, todas semelhantes, na postura e nos anseios, às de há trinta anos atrás. Bonitas, esculturais e ignorantes, todas sonham ser manequins ou, nesse papel, poder acabar com a fome do mundo depois de arranjarem as unhas.

O que complica tudo é que a modernidade introduziu uma areia na engrenagem dificilmente compatibilizável com aquele estereótipo feminino. Ao que percebi, Manuel Serrão (o gigante) e o seu compincha (também gordo) que não conheço, que lá estão a apreciar, distanciada e cientificamente, os atributos das meninas defendem que as candidatas a miss não podem ser só bonitas; impõe-se que saibam, também, que Portugal entrou na modernidade. Na presença de uma posta de bacalhau, seria exigível que descrevessem, com graça, o contexto do bacalhau no Portugal moderno ou que mostrassem um desprezo profundo pelo galo de Barcelos e que esse desprezo servisse de mote para que exortassem os portugueses a alinhar com o mundo civilizado. O júri – os tais dois sapientes connaisseurs do género feminino, mais duas pimpolhas excessivamente enfeitadas que devem, em tempos, ter sido misses (uma delas, suponho, em sonhos) – indignado, afirmou que uma miss não pode deixar de conhecer a evolução histórico-cultural da sociedade portuguesa, agora virada para a Europa (Manuel Serrão, sic). As meninas arregalavam os olhos, inseguras, sem nunca, porém, perder o sorriso - de novo, e curiosamente, o tal sorriso à Malato/Serenella. Julgo que se sentiram traídas, injustiçadas. Afinal, isto é só um concurso de misses, eu não tenho por onde mostrar mais do que isto que está à vista – o meu físico. É o que tenho e não sou obrigada a mostrar mais nem sequer fui preparada para isso. Por isso concorri a um concurso chamado “Sonho de Mulher”: sorrio e desfilo, não venho aqui para falar muito, a não ser para agradecer, terão pensado as meninas. Têm razão. Maldita e preconceituosa modernidade: querem, à força, fazer delas tristes clones da Margarida Rebelo Pinto.

21.5.04

Soltas ...

1- Já não fazia as minhas "soltas" há algum tempo, mas hoje é sexta feira, estou em fim de dia, e apetece-me escrever qualquer coisa.


2 - Estou a ficar perigosamente anti-semita. E começo a achar que se calhar a solução para o problema de Israel é sacar os judeus de lá e pô-los num espaçozinho agradável algures no Connecticut (o rancho do Bush no Texas também era uma hipótese). Pedia-se a um teólogo judaico qualquer que sacasse da Torah a interpretação de que a terra prometida afinal era do lado de lá do Atlântico. E que Moisés atravessou ... o mar errado.


3 - Se os meus amigos bloguistas vierem com a treta de que estou a contemporizar com os terroristas do Hamas e quejandos (aqui não vêm, que vocês até simpatizam com essa corja de assassinos), eu só pergunto o seguinte: Cabia na cabeça de alguém que a Thatcher, no auge do terrorismo do IRA andasse a bombardear manifs de católicos, a passar a "bulldozer" os subúrbios católicos de Belfast ou outros mimos do género dos que os israelitas fazem?


4 - Os gajos (os israelitas) dizem que os terroristas estão misturados com a população civil. E então? Mata-se tudo?


5 - A única explicação "racional" que eu encontro para o comportamento dos israelitas (ou daqueles em quem eles votam, o que dá no mesmo) é que eles vivem com o trauma do Holocausto e querem pagar na mesma moeda a alguém. Não aos alemães, que eles aliás inconfessadamente admiram, mas a alguém que desprezam tanto como os nazis os desprezaram a eles. Para um nazi um judeu não era um ser humano. Hoje, para um judeu como o Sharon, um palestiniano não é um ser humano.


6 - Adiante ... e desculpem lá o desabafo.


7 - Haver bons juízes novos e maus juízes velhos é uma evidência. Mas se bons juízes novos serão sempre juízes com pouca experiência, maus juízes velhos são apenas o sintoma de que, na justiça como em tudo neste desgraçado País, não se premeia a competência, nem se penaliza a incompetência. Quanto ao mais, o problema dos "juízes novos" resolvia-se reimplantando o sistema de acesso à magistratura que existia antes do 25/A. Uns anitos nos tribunais como delegado do Ministério Público, para apanhar tarimba e sem ter pretensões de se ser "par" do juíz. E depois concorrer e, eventualmente, passar a ser juíz.
Só que para fazer isto tínhamos primeiro que integrar todos os actuais M.P.s na magistratura judicial. E se o fizéssemos então é que era o desastre.


8 - O besugo tem um trauma qualquer com a Mocidade Portuguesa. Deve achar que quem cantava "lá vamos cantando e rindo" só podia estar a ser submetido a lavagens cerebrais e a aprender métodos de tortura. Aliás, é sabido que a Mocidade Portuguesa foi o berço do fanatismo fascista português e que para os moços Salazar era uma espécie de semi-Deus.

Ainda bem que essa organização sanguinária desapareceu. E que foi possível desfazer todo o mal por ela causado em todo o País. Foi difícil, mas conseguiu-se.


9 - A lolita diz que os homens deste blog (e fora dele) não responderam a uma provocação inserida no seu relato da conversa com a cínica e o romântico. Eu cá, como não sou de me ficar, fui logo ler aquilo outra vez para descortinar a provocação que ficou sem resposta. E para responder, claro.

10 - Ora bem ... ainda assim fiquei um bocadinho às escuras. Nada do que li me provocou. Estarei velho? Em todo o caso vou tentar ficar "provocado". E assim saliento as passagens eventualmente provocantes:

a) - "A romântica lamentava, algo desiludida, que os homens são felizes desde que tenham cervejas e futebol"
- Só se fôr o homem dela. Eu não passo é sem os meus jogos de estratégia e/ou de condução. E amendoins (comentário sarcástico típico de quem se sente provocado e não tem resposta à altura).

b) - "o casamento por amor é uma invenção, muito recente, do humanismo do século passado, que veio colocar angústias afectivas onde antes, quando os casamentos consistiam em meras fusões de património, e com expectativas conjugais mais realistas, havia estabilidade"
- Não discordo de todo, mas estas lérias costumam ser associadas a outras, tais como: o casamento agora é por amor, portanto é uma realidade necessariamente transitória, sendo os casamentos para toda a vida marcados, ou pela infelicidade, ou pelo conformismo, o que dá no mesmo. Portanto, os votos aos jovens casais já não devem ser "sejam felizes para sempre", mas antes " que seja bom enquanto dure." E com estas é que eu não concordo. De todo. Porque continuo a achar que quem casa deve fazê-lo com a intenção de criar um laço para toda a vida. Ainda que depois o casal não o consiga. E faz-me impressão que as pessoas se casem na base do "se der, deu. Se não der ... paciência." Que se juntem. Ou nem isso.

c) - "perguntei ao cínico se achava que as mulheres são, como os homens, embora de forma latente, predadoras do sexo oposto. Se achava que, em condições óptimas de tempo, lugar e vontade, poderá qualquer - qualquer, mesmo - mulher ceder à tentação da lascívia."
- Conhecendo a lolita, esta é, claramente, a mais forte candidata ao título de provocação . Na cabeça feminina dela, claro está, que deve encontrar todos os dias predadores lascivos e que gostava era que as mulheres deles fossem iguais a eles. Nem que fosse por castigo. "Isso é que vocês mereciam", já deve a lolita ter dito algumas vezes e pensado muitas mais. É uma frase recorrente nas mulheres quando se dirigem a homens, porque sabem do condicionamento cultural existente - fundamentalmente no meio dos ditos "predadores" - de que para um homem não há maior vergonha do que a de ser enganado pela mulher.

Perante esta provocação - que na altura li como exercício intelectual perante os conhecidos da lolita, mas que agora entendo que era sobretudo dirigida aos homens deste blog e da blogosfera em geral - impõe-se que eu responda. (Lolita, estás a sorrir agora, não estás?). E a minha resposta é: há mulheres assim, há mulheres que podem ser assim. E podem ser todas, considerando as tais "condições óptimas de tempo e lugar". Põe-se no entanto a questão das "condições óptimas de vontade". E aqui temos o problema do ovo e da galinha. Se há vontade, há vontade. Se não há ... não cedem.

E é aqui (no problema da vontade) que reside a minha resposta à questão do "qualquer mulher". Penso que quase todas poderão ter vontade, e mesmo "ceder". Mas não acho que "qualquer mulher" possa entrar em "condições óptimas de vontade".

Mas isto digo eu que sou homem e que não sei o que se passa na cabeça das mulheres. E desconfio que nem elas sabem. mas vou dar início a outra "solta" que esta já está muito grande.


11 - Quem é mais complicado? Homens ou Mulheres? Eu diria que depende. Da profundidade a que essa complicação se revela.

É assim: Regra geral, as mulheres são complicadíssimas à superfície. O que logo se revela no facto de que inventaram ao longo dos séculos mil e uma maneiras de se auto-flagelarem para terem "boa apresentação". Desde os banhos em leite de burra da Cleópatra até aos sapatos das chinesas, dos colares destinados a alongar o pescoço, que as mulheres de uma tribo africana qualquer usavam, até ao depilar de buço, pernas e virilhas das ocidentais, a dificuldade está na escolha. E depois ainda são capazes de nos culpar por esses desmandos. Pudera, se não fosse assim tinham que admitir que são simplesmente burras.

Mas a complexidade e detalhe que dão ao seu aspecto físico não é, ainda assim, verdadeiramente reveladora da complexidade global da mulher. Que se fosse animal era um felino, o tipo de bicho que nunca se sabe o que verdadeiramente pensa e pretende. Já o homem, nesta metáfora, é claramente um canídeo. Animal eventualmente menos inteligente, mas sobretudo muito mais franco.
Conversa típica:
Ela - Amor, sabes que dia é hoje?
Ele - É sexta-feira.
Ela - Não é isso.
Ele - ... dia 21 de Maio?
Ela - Sim. E?
Ele - Hummm ... não é o teu aniversário.
Ela - Claro que não! Estás parvo?
Ele - Calma ... não fazemos anos de namoro nem de casamento ...
Ela - Estás a irritar-me.
Ele - Não comeces. Diz lá que dia é hoje, pronto!
Ela - Era o que faltava! tens obrigação de saber a que me refiro, caramba!
Ele - Olha, mas não sei, não me lembro de nada de especial.
Ela - Então se não te lembras fica a saber que também não te digo.
Ele - Então não digas.
Ela - És um bruto, um insensível ... não tens consideração nenhuma por mim!
Ele (baixinho) - Irra ...
VLAM! (porta a fechar com estrondo)

FIM

12 - A um nível mais profundo, no entanto, o homem é incomparavelmente mais complicado do que a mulher. Que, aliás, é de uma simplicidade quase tocante.
Mas isso são contas de outro rosário, e o tempo escasseia ...


Bom fim de semana
(besugo excluído. Ele sente-se condicionado por estes cumprimentos e eu não quero que ele passe estes dias em estado de "condicionamento")






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