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27.5.04

Clubismos

Ao contrário do Alonso (e, reparem, eu não digo "melhor do que o Alonso") eu defini cedo essa coisa do "de que clube és tu". Foi fácil: até aos seis anos, porque não tinha tino nenhum e porque a minha Mãe é benfiquista "soft", eu dizia que era do Benfica. Mas não era, de facto. Nem ligava. Ganhava muitas vezes, o Benfica, e os meus amigos da altura eram quase todos "lampiões", pronto, mais nada.

Depois, o meu Pai mostrou-me o Sporting. É um sportinguista sofredor, o meu Pai. E levou-me a ver jogos com o Damas, o Fernando Peres, o Pedro Gomes, o grande Yazalde, o Lourenço, eu ainda vi o Lourenço!... E mostrou-me o Joaquim Agostinho, que uma vez vi a subir "de cu no selim" uma rampa íngreme, numa Volta a Portugal, à frente, com o povo na rua a gritar, ao meu lado, ainda o "homem duma cana" (como lhe chamou o saudoso Carlos Miranda) vinha lá ao fundo, "é do Sporting!"...
Foi assim, nada mais simples.

Estive a ver. E, desde que me lembro, o Sporting ganhou, apenas, 6 campeonatos. Ao todo, venceu 18! Eu só me lembro de 1/3, apenas seis! O primeiro de que me lembro foi na época de 1969/70! Depois deste, ganhou em 73/74, 79/80, 81/82... e os dois últimos, o de 99/2000 e o de 2001/2002. Não me lembro doutros, nem do de 61/62 (usava fraldas!) nem do de 65/66 ("era" benfiquista...e não ligava).

São muito poucos títulos (comparados com os do Porto - lembro-me muito mais destes, evidentemente - e os do Benfica) para poder justificar o meu sportinguismo com vitórias. Foram outras coisas, foi o meu Pai. Sempre a dizer, como bom sportinguista, "às tantas nós vamos perder...". Foi, também, o ter ligado sempre mais aos homens que vestiam as camisolas, cujas estórias gostava de ler e conhecer, do que ao clube em si. Ainda hoje não entendo como se pode ver Fórmula 1, por exemplo, e ser da "Ferrari". Já me explicaram mas eu não entendo, sou um tosco funcional. Entendo que se torça por um dos pilotos, eu gostava do Prost e do Patrese, por exemplo, mas pelos carros?... Não. Erro meu, seguramente, mas não consigo. Hoje gosto do Alonso (do outro, deste também mas ele nem bom-fim-de-semana me deseja!) e do Montoya, por exemplo. Guiem eles seja que carro for.

Não sei explicar isto muito bem. Já se notou, aliás.
Os meus filhos também são do Sporting por minha causa, como eu sou "lagarto" por causa do meu Pai. Dou-lhes secas de morte, a ambos, a falar da defesa que vi fazer ao Damas, dos golos do Yazalde... converteram-se definitivamente com os 2 últimos títulos (numa altura em que o mais velho já me dizia, às vezes, desconsolado: "ó pai, nós nunca vamos ganhar nada, pois não?". O velho Acosta tornou-se o Yazalde deles, e o Schmeichel no seu Damas privativo. Depois, os dados estão lançados, nunca mais se muda: alguém consegue deixar de ser sportinguista depois de ver morrer o Damas? O Joaquim Agostinho? A gente morre ali também, um bocadinho, não é?

Alonso: tu tens toda a razão no que disseste. Mas também percebes a minha razão, não percebes? No fundo, repara bem no que o meu Pai me dizia: "nós, às tantas, vamos perder...". E no que o Zé Pedro, que bem conheces, me perguntava: "nós nunca vamos ganhar...?". O derrotismo é exclusivamente sportinguista, assumo. Mas o "nós"... o "nós" explica, pela parte que me toca, o clubismo, qualquer que ele seja. É, até, a única coisa que o justifica.

Eu acho que, se não for assim, anda lá perto.

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