blog caliente.

31.5.04

O anoitecer acalma, em Maio

1 - No hospital, o dia correu bem. Não houve reacções adversas à Oxaliplatina, nem ao CPT-11. Os cancros do intestino (estadios IV)parecem sossegados na sua trajectória de miserável vitória anunciada sobre os novos miseráveis do velho Hugo. O atrasar da inevitável vitória do mal é, às vezes, a maior vitória que um homem consegue na sua vida inteira. Para si, para os outros. Para si, no fundo. Não, não vou definir o mal. Sei é de alguns males, o que é diferente.

2 - Sem conhecer Paulo Pedroso, nem sequer da pesca, pensei sempre duas coisas a respeito do seu envolvimento no caso Catalina Pestana, Namora & Outros. Chamo-lhe assim não sei porquê, nem vem ao caso, mas o nome da senhora ocorre-me e eu sou muito esotérico, às vezes. Essas duas coisas que eu pensei sempre (os senhores não se lembram, ninguém se lembra do que não leu, mas até foi aqui) são as seguintes:
a) - Há aqui esturro do grande, o homem não é culpado (isto era a vertente subjectiva de besugo).
b) - Se ele tem, inequivocamente, o apoio do partido e do seu líder, mesmo desta forma aparentemente intempestiva e tão condenada por quem cuida ser a vida política mais política que vida (tristes bisonhos), das duas uma: ou vai ser mesmo inocentado, ou, então Ferro e seus pares são alimárias. Ora, alimárias eu sei que eles não são. Há aí alimárias à solta, há sim senhores, mas não vou agora dizer quem são. Vou referir-me a uma, mais abaixo, suponho, se me não esquecer. Mais "de caminho". Digo que aqueles que eu disse, o Ferro e seus pares, não são.

Claro que isto não chega: "vem agora este besugo com isto!". Está bem. Fiquemos por aqui. Mas devo ao Alonso, que fora do blogue é dono duma lucidez ainda maior que a sua carrinha, isto: tinhas razão. Por motivos totalmente diferentes (e mais claros) que os meus. Não se fala mais nisso, pelo menos aqui.

3 - Começou a campanha eleitoral. Qualquer campanha eleitoral, em Portugal, é ridícula: sobretudo as rondas de rua, com senhores a cheirar a perfumes bons visitando os mercados, o que, na minha opinião, está longe de melhorar a qualidade da fruta. Mais ridículas que as campanhas portuguesas, no mundo dito civilizado, só as americanas. Sobretudo porque as senhoras republicanas vestem mal, as democratas também, e aquilo parece sempre o carnaval de Fall River, piorado. O que nos leva à alimária, nobre substantivo, bizarro adjectivo.
Retém-se, por entre esta gramática, a intervenção da candidata Manso. Foi eloquente, automobilística e, de certa forma, educativa.
Eloquente, porque sim. Não há nenhuma deputaria que o não seja, eloquente, não vou agora desdizer a minha definição de deputaria, muito eventual condicional do verbo deputar. Que é o verbo que auguro à eloquente candidata Manso, bem haja minha senhora, na condição de conseguir exportar-se. Pensar que já houve galés!
Automobilística, porque a referência subliminar a Lauda, essa lenda da fórmula 1, é evidente: ao tentar achincalhar Sousa Franco daquela inteligente, altaneira e grácil forma, a senhora mostra trilhar bem, com seus pneus de baixo perfil, a "selva do asfalto". Pressente-se ali personalidade competitiva. Se fosse futebolista, seria um Toñito.
Educativa porque, tal como aconteceu com o excelente e talentoso piloto austríaco, a perturbadora senhora vai ser alvo, coitada, de "hordas" de anedotas sobre... transplantes auriculares de vulva. E ela, agora, já sabe que sim, daí a vertente educativa. O candidato Deus Pinheiro já lho ensinou, disse-lho ao ouvido, aos berros educados que ele sabe dar (joga golfe, nunca berram, os golfistas de pêra, bêrram). E ele tem obrigação de saber, pois usa um ornamento "peri-orbicularis oris" mui alusivo à sua sabedoria destes factos da vida. A candidata Manso vai ter de ouvir coisas, coitada, do tipo "levanta a saia a ver se serves, como a outra!...". Isto é grave. Ela a querer, como hoje se viu, mostrar a luz ao povo, e o povo a não querer ver a luz, a querer ver-lhe a... pronto, também não se fala mais nisto, a Tina Turner canta excelentemente, a propósito, e também merece ser medida só pelo seu talento... valha-me Deus, pronto.

4 - Finalmente, mais um excelente documentário na 2, esta noite, sobre as Guerras. Guerra devia escrever-se, sempre, com letra maiúscula, porque uma Guerra nunca é coisa de pouca monta. Não é a pêra do Dr. Deus Pinheiro. Seja ele de montaria (outro condicional, eu hoje estou gerúndico!) pequena ou grande.
Bom, gostei do dito documentário. E fiquei contente por, antecipando-se à informação do narrador, o Zé Pedro ter identificado a assinatura do Tratado de Versalhes pelo que aprendeu na História, lá na Escola.

Ainda bem que brincar com a "pequena estória" nos leva à História.
Sempre se respira melhor, no fim de contas, na grandeza do Tempo. O anoitecer acalma mesmo, às vezes. Em Maio costuma ser assim. Só é pena estar no fim, este Maio.

View blog authority