blog caliente.

27.5.04

Em contra-tempo

Eu devia, claro, falar da vitória do Porto (que muito me alegrou)e da saída do Mourinho. Parecem coisas indissociáveis uma da outra, aliás, se fizermos fé no que por aí se lê. Não sei, mesmo, se algum iluminado lhes não arranjou, entretanto, uma relação de causalidade...

Mas lembrei-me do Joaquim Agostinho.



Fez anos que morreu, há pouco tempo. 10 de Maio. Houve um ou dois blogues que falaram nisso, eu li, mas não me lembro agora quais. Na altura eu não pude escrever, ou não me deu para aí. As coisas fazem-se quando é preciso e a gente é que sabe, geralmente, quando é preciso. Deixo agora aqui, é sempre tempo se a gente acha que é, algumas notas soltas sobre o melhor ciclista português de sempre. Sem outro rigor que não o da minha lembrança, tal qual ela é, sem preparação. Assim como se fosse à meia-volta.

1 -Começou tarde nas bicicletas, pela mão de João Roque, grande ciclista do Sporting, que o topou a massacrar a pasteleira fortemente.
2 - Ficou conhecido por "andar mal de bicicleta". Para ciclista, é claro. Houve quem dissesse, por piada, no pelotão internacional, que Joaquim Agostinho era o único ciclista que conseguia cair... a subir!
3 - Em 1969 foi à Volta à França. Antes de se decidir, andou por ali a resmungar (Carlos Miranda fazia crónicas deliciosas, na Bola, sobre o "Jaquim"!) que não, que não ia. Porquê? Porque não! Lá acabou por confessar, em surdina, que "tenho medo de lá ir e que eles se riam de mim...". Quase chorei, puto, ao ler isto. Carlos Miranda, mais tarde, ao recordar a cena, acrescentou um pessoal "pois sim: foi e ficou em oitavo". Se bem me lembro.
4 - Ficaram famosas as suas birras. "Não, não estou bem, amanhã vou-me embora!", dizia ele, a seguir às quedas que sempre lhe marcaram o corpo e a carreira. Miranda e os amigos ralhavam-lhe. E ele resmungava: "Eu é que sei, vocês é que haviam de andar aqui em cima a ver como é! Vou-me embora, já disse!"... e, no dia seguinte, lá montava a "pasteleira" para mais uma etapa. E ganhou algumas assim, bem famosas, nessas Voltas do mundo.
5 - No tempo de Agostinho havia Merckx. Há quem diga que o belga foi a principal razão para Agostinho nunca ter tido outra projecção. Se calhar foi mesmo isso. Mas contam-se histórias deliciosas sobre a relação "pelotónica" Merckx-Agostinho: um dia, numa subida, o belga da Molteni terá dito ao luso, que estava a esfrangalhar o pelotão com as suas pernas possantes, que "doucement, Tino, doucement!...". Em outra ocasião, também numa subida, Merckx(*) quedou-se, estava em baixo, nesse dia. Agostinho foi incitado pelo carro de apoio: "Mais il faut que tu t'en vas, homme de Dieux!". E ele não foi. Disse a Carlos Miranda, depois, que "eu ia lá atacar quando o homem não se podia defender!".

Basta. Julgo que basta. Os mais novos, os que não o conhecem bem, caso se sintam curiosos sobre este homem simples de Brejenjas (Torres Vedras), que calhou ser do Sporting, mas podia ter sido do Porto ou do Benfica, podem ler sobre ele em vários sítios.
Ao fim e ao cabo, aqui, nem sequer leram sobre ele. Foi sobre mim.

(*) Não me lembro bem se foi o Merckx ou o Ocaña... Poulidor acho que não foi.

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