blog caliente.

30.9.03

Bem-vindo, Alonso

Este blogue passa a contar a partir de hoje com mais um membro, que se confessa pouco sabedor de tudo um pouco e de nada em particular, mas que nos deu a conhecer imediatamente o seu interesse pelos petits-riens do mundo cor-de-rosa e, consequentemente, a sua vocação para cronista social. Ó Alonso: por mim, ficas com esse pelouro, que te cai tão bem!

besuguices

O besugo mandou-me um convite e eu aceitei. Agora estou frente a um ecran a pensar que, para corresponder a tanta simpatia devia escrever qualquer coisa original, que fizesse o convidante rir (o que não é fácil) e/ou pensar (o que é difícil) ... e não me sai nada !!!

De futebol ... num gosto. De fado ... nada sei. De F1 ... a chuva lixou o Juan Pablo ... Dos dramas dos polícias do Porto em face de moçoilas que param o carro como lhes dá jeito ... estou muito longe e os polícias de Lisboa são mais do género de bloquear carros e montar banca a 20 mts para a colecta.

Mas então lá vai uma dica em estilo de diário: Hoje li a VIP. Em circunstâncias inenarráveis, mas tenho que admitir que li.

Fiquei a saber:

- Que a Marluce contratou o advogado da Fátima Felgueiras para a defender;
- Que a Stephanie chorou na rua;
- Que se casou imensa gente e que o Zezé Beleza continua (ou voltou a estar) "in";
- Que o Rei da Suécia comemorou qualquer coisa (li à pressa);
- Que o Zé Maria tem um livro de receitas (não percebi se eram pratos de galinha ou não, mas pela barbicha do tipo deviam ser pratos de ... bode);
- Que a "Sofia de Portugal" (eu nem queria acreditar) vai gravar um CD;
- Que a Sofia Aparício dorme nua (só não tira o silicone);
- Que está tudo bem entre a Catarina Furtado e o João Gil;
- Que está tudo bem entre os dois membros de um casal cujos nomes não fixei mas que estavam escandalizados por "se" andar a dizer que eles se iam separar (a foto dos dois com a filha mostra bem como esses maldizentes são venenosos);
- Que o Ben Affleck foi visto com uma mulher que não era a Jennifer Lopez (foto dele na praia agarrado a uma loira para atestar o facto)
- Que a Jennifer Lopez foi vista com um homem que não era o Ben Affleck (foto dela a passear de mão dada com uma espécie de Zé Maria chibudo para atestar o facto)
- Que eles, que afinal já não iam casar, afinal vão casar, e que a imprensa é que tirou conclusões precipitadas (a imprensa, a loira e o chibudo, diria eu);

Pois é ... hoje fiquei mais culto.

Massas

É irrecusável a ideia de que Portugal é, hoje, um paí­s empobrecido quer na indústria, quer na agricultura e que a economia portuguesa se sustenta (como pode, enfim), nos serviços. Apesar disso, os empresários portugueses (burgueses, na perspectiva mais socialista tão in, ou motores da economia na visão mais liberal ou centro-direita) não acordaram ainda para a necessidade de apostarem no único recurso que - embora duvidosamente - possuem face ao triunfo neuronal, que se adivinha, da europa de leste nas próximas décadas: a massa cinzenta, também celebrizada como little grey cells pelo Hercule Poirot.

Enquanto as empresas portuguesas se distraiem nos seus compadrios, pequenas corrupções e negócios escuros de pilha-galinhas, essa tal massa cinzenta desperdiça-se em subprodutividade, num marasmo onde sobressaem os medíocres bem encostados e se desmotivam os menos medí­ocres a colaborar para além daquilo que constitui o limiar mínimo da sua prestação. Ou seja: por umas ou outras razões, todos se limitam a ganhar o seu com o mí­nimo esforço e com a aparência do dever cumprido. É, aliás, este modelo de sobrevivência organizacional que os sistemas de qualidade estimulam, com os seus entediantes check-lists de verificação de conformidades e com a abundância de papéis inúteis que, depois, se congregam em mapas obscuros onde supostamente se demonstra a inequívoca optimização dos recursos.

O mais engraçado de tudo isto é que, num momento em que o Estado se prepara para "empresariar" a gestão, as empresas parecem-se cada vez mais com a pesada, inoperante e obscurantista administração pública. Nacionalizem-se as empresas e privatize-se o Estado. Isto anda tudo ligado...

S.O.S

O abrupto hoje teima em invadir o meu computador: se carrego no link, sugere-me que faça o download do blogue, o que liminarmente recuso. Até pelo risco de ser acusada de apropriação ilícita de bens que, embora intangíveis, não deixam de ser bens. Será um hacker com sentido de humor ou a laranja mecânica ao ataque?

29.9.03

Para os que não visitam este blogue

Aqui só se fala de futebol e de fado? Pois. É para que saibam que aqui escreve-se para a seguir se ler o que se escreveu e não necessariamente para os outros lerem. Contudo, se quiserem ler, estejam à vontade.

Um acrescento sofrido

Ser sportinguista é ser resignado com o destino e emocionado com a esperança de um dia acordar para uma vitória apoteótica, demolidora, de dez a zero contra o Porto. Enfim, um sonhador.

Às vezes. Outras vezes é estar ali a acreditar até ao fim e, quando o desespero parece inevitável, um bocadinho da sorte que não tivemos antes (uma faísca de génio e um ressalto justiceiro) parece transformar o sofrimento em redenção. Ninguém me convence que tínhamos ganho este jogo se eu não estivesse ali, em frente à televisão, com os meus leõezinhos, a enxotar a descrença.
Isto é irracional? Pois é. Mas sabe tão bem!

As virtudes de ser sportinguista

Escrevo em resposta a um desafio que reconheço ser espinhoso. Não por ser difícil reconhecer virtudes aos sportinguistas que, para além dessa fatal caracterí­stica, são, como todos nós, ví­timas do determinismo histórico e biológico que os torna volúveis às fraquezas facilitistas de serem adeptos de clubes de quem defendem uma espécie de elevação moral face aos demais. Assim como quando apareceu o PRD, não sei se se lembram. E como se esvaiu em fumo, lembrem-se também, já agora.

Mas o desafio é espinhoso, dizia eu. Corro o risco sério de, ao divulgar aquilo que penso ser um sportinguista, os condenar a um torpor eterno, fruto do prazer mórbido que retirariam da ideia do eterno sofrimento. E isto, de tão medieval, é obsoleto e portanto contraproducente para um clube cujo estádio tomou uma designação tão... futurista. Porque o sportinguista puro e duro é assim mesmo: encontra consolo no infortúnio. De tal forma que vive mais intensamente as derrotas do que as vitórias e quase deseja que os árbitros lhes aumentem o sofrimento.

Ser sportinguista é ser resignado com o destino e emocionado com a esperança de um dia acordar para uma vitória apoteótica, demolidora, de dez a zero contra o Porto. Enfim, um sonhador.

As qualidades de Mourinho (encomendado)

José Mourinho é, seguramente, um poço de qualidades. Domina a metodologia do treino, controla os balneários, é estimulante e salta muito depois de ganhar a Taça UEFA. E acerta nas ameaças, disse que o Sporting ia levar uma coça, porque ele queria, e a coça foi-nos aplicada, provavelmente apenas porque ele quis.
Ou seja, Mourinho é uma espécie de semi-deus. Eu prefiro deuses menores, prefiro Boloni e Fernando Santos (até preferia Camacho!) a Mourinho. São cismas de pequeno crente em deuses menores. Tudo se explica.
E escusávamos, obviamente, de ser tão sovados como fomos, duma forma semi-humilhante. Eu nem sei que diga mais...

Eu gostava muito era que alguém que percebesse de blogues pusesse aqui música sempre que isto abrisse. Mesmo que demorasse mais, ia saber melhor.

28.9.03

Consciência crítica

Tenho mesmo de ser a consciência crítica deste lugar. O problema é que, por motivos muito meus, hoje dá-me para concordar com tudo... e achar tudo belo. Não que a vida me corra melhor que noutros dias, até porque hoje é domingo, dia aziago que se antepõe a agruras indescritíveis. Mas alguém tem culpa de haver uma pessoa que vem aqui dizer "...E ele nem criou essa beleza, limitou-se a descobri-la. O que o torna parte dessa beleza."? Uma pessoa que nos permite pensar que somos belos só por descobrir o belo?

Há domingos surpreendentes. Muito obrigado, Paco. Muito obrigado, sempre, Lolita. Sorte do Mourinho, depois disto.

A onda que se ergueu no mar

Estou a ouvir um CD do Tom Jobim. De cada música, de cada acorde que se ouve retira-se uma estranha e protectora paz, quase viciante. O Tom foi uma daquelas pessoas abençoadas pelo infinito dom de tornar aos outros as alegrias mais reconfortantes e as tristezas menos tristes, embora mais profundas. De uma forma simples, e por isso certeira e plena, mostrando aos demais o mundo na sua vertente mais bonita. E ele nem criou essa beleza, limitou-se a descobri-la. O que o torna parte dessa beleza.


António Barreto

Nem sequer vou citá-lo, já o citou você e o homem não carece de mais. Mas você viu, Lolita, aquilo da evasão fiscal? E não lhe fez a impressão de um déjà vu muito discutido, muito dissecado?
Você parece que lhes dá razão a eles, à McKinsey e ao António Barreto, mas logo a seguir tem um rebate de consciência (como quem admite "eu disse isto mas não disse, bolas!") que a faz deslizar, novamente, para as fraldas protectoras do "não vou lá nem faço missa". Você, no fundo, sabe perfeitamente que resiste fortemente a dar-me seja o que for. Muito menos razão. Mesmo por interpostos discursos. Admita isso e eu lá disseco o seu amigo Mourinho...como me pediu.

A beleza das cores

O mal deste blogue, caso notório de insucesso mediático, é apenas um: é um blogue de emotivos virados para a sua emoção.
Até a minha fleuma se perde quando lê vinhedos verdes, a avermelhar na cabeça dum gajo inspirado que os queria azuis, assim de repente, porque lhe dá para aí. Ou quando lê pensativos passeios solitários que levam a infelicidades profundas e sentidas, logo dissipadas na esperança, que por acaso é tradicionalmente verde.
O mal deste blogue é que tem gente bonita por detrás. Bonita demais.

Eu limito-me a tentar organizá-los, o que é difícil como o caraças. E a beleza, de facto, quer-se desorganizada, à flor da estética de cada um, e de cada sentido que a degusta.

Salvaram-me a tarde.

As cores da vida

Tenho dentro de mim uma tal contradição cromática que me pergunto porque não podemos, unilateralmente, estabelecer as cores daquilo de que gostamos.
Porque não poderia eu decidir que o vermelho Ferrari passasse a ser azul Ferrari ou que o verde das vinhas do Douro (mesmo quando vira para aquele vermelhão outonal...) passasse a ser azul...?
Talvez para não ser monótono ou, quem sabe, para alimentar esta vontade de contrariar que me faz escrever estas linhas.

De facto, gosto muito do azul, do azul superior, do azul maior. Talvez por ter nascido à beira mar...

E nem os desmandos de qualquer Costa me fazem vacilar neste gosto, muito menos os do Jorge, rapaz alto e espadaúdo que, por um momento de deslize foi "papado", pelo João Tomás.
Pelos vistos o outro Costa (será primo do Jorge ou até do Jorge Nuno Pinto da dita? talvez a PGR devesse investigar o parentesco...) não achou bem e anulou o resultado do deslize. Mal, mas anulou. Não por decreto, nem por portaria, apenas por apitadela mas anulou.
Estava com o apito virado para o lado errado, como o Manaca estava com a cabeça virada para o lado errado em 1980 quando ofereceu o título ao Sporting no mesmo estádio.
No fim da SuperLiga faremos a contabilidade mas palpita-me que, tal como no ano passado, vai ser sem espinhas.

Tal como o Michael Schumacher (esse arquétipo das minhas contradições cromáticas), que também é de uma desonestidade intelectual a toda a prova, apenas porque é o melhor, vai limpar o sexto título mundial na terra dos gringos e mostrar de que é feito o rosso Ferrari.

Ou talvez como o Douro que, agora que a vindima se escoa pelos lagares, vai perdendo aquele verde maior que tudo e se transforma no azul...perdão, no vermelhão que há-de voltar a ser o verde mais azul que se pode desejar.

Informalidades

O ilustre e sempre muito lúcido António Barreto comenta hoje, no Público, o relatório da MacKinsey sobre a produtividade em Portugal. Para além da curiosa verdade sobre o investimento na educação (sobre a qual vos remeto para o artigo), há duas conclusões do relatório que, a mim, me intrigam, a saber: a de que um dos grandes obstáculos ao aumento da produtividade é a evasão fiscal; e a de que a legislação laboral demasiado "garantística" é responsável apenas por 13% das deficiências de produtividade da economia. De tudo isto, impõe-se concluir o seguinte: Um país é tanto mais produtivo quanto mais se previligia o bem colectivo em desfavor das liberdades individuais. E que as liberdades individuais não são, sequer, relevantes para aumentar a produtividade de uma nação. Ora bolas!

Aos papéis

Tal como me dizem com alguma frequência (sobretudo aqueles que não concordam com o que eu digo), eu não percebo nada de futebol. Intrigam-me, por me serem desconhecidas, e até com algum fascí­nio, as tácticas de ataque, de defesa, de cruzamentos, de entradas, de saí­das, de foras de jogo, de trincos e de médios, de medianos ou de geniais, de defensivos ou ofensivos.

Noutro plano, já fora da estrita técnica do desporto, o futebol suscita um manancial enorme de reflexões. Um exemplo riquíssimo disso são as reacções dos dirigentes desportivos às decisões dos árbitros. Neste plano, cada um assume, de acordo com a sua ondulante conveniência, um dado papel que, determinado por um objectivo, digamos, mediático, é, por isso mesmo, plástico às necessidades do momento.

Eu não percebo, por exemplo, por que razão o Mourinho tem de mandar recados ao Sporting sobre as incoerências deste. Eu não percebo porque é que o Bettencourt não critica as decisões arbitrais sem precisar de sugerir a ideia de que o infortúnio do Sporting se deve à sua postura imaculada no que toca a assédios ilícitos aos árbitros. Nem porque é que, a ser isso verdade, é preciso que o afirme por contraponto à postura de outros dirigentes desportivos, alegadamente menos imaculados do que ele. Enfim: todos andam ao mesmo. Uns arrogantes, duros e fanfarrões; outros gentis, vitimizados, apóstolos da lisura. Todos representando um papel e alimentando a discussão infinda sobre as injustiças do poder arbitral que, como o destino, mudam inexoravelmente os resultados dos jogos. Uns do lado do lamento, outros do lado da presunção, mas todos roçando uma anacrónica infantilidade que seria até divertida se não fosse já tão gasta.

Não creio, porém, estar a dizer nada de novo para quem goste, a sério, de futebol.

O decreto ideal

O competente e inefável José Mourinho declarou o seguinte, referindo-se, provavelmente, às afirmações de dirigentes do Sporting sobre prejuízos decorrentes (para os leões) de erros de arbitragem:
«Devia haver um decreto para que só pudessem falar dos árbitros aqueles que assumissem que os árbitros também erram em seu favor. Ainda há uma semana, algumas pessoas falaram e criticaram um árbitro, e dias depois venceram um jogo por 2-0, beneficiando de um erro do auxiliar, mas nada disseram. Que credibilidade têm essas pessoas para falar de árbitros? Eu, pelo menos, vou tentar ganhar essa credibilidade»

Isto é um perfeito exercício de desonestidade intelectual, como se verifica facilmente. Já se sabe que qualquer árbitro, na sua boa fé, errará de forma tendencialmente indiscriminada e aleatória, com uma frequência inversamente proporcional à sua competência.
Os dirigentes do Sporting que criticaram o juiz do jogo com o Moreirense e não falaram publicamente na deslocação de Liedson no lance do 2º golo contra o Malmoe, sabem muito bem (até porque já viram as imagens do jogo) que o “bandeirinha” italiano se equivocou. E que esse equívoco acabou por favorecer o Sporting. Que, contudo, na altura, ganhava já, justa e escassamente por 1-0. Refira-se isto, também, por ser verdade.

A diferença é apenas uma: é que não se vislumbra na arbitragem italiana nenhuma motivação suplementar para beneficiar ou prejudicar seja quem for. Nem para isso haveria motivo! Ou José Mourinho e os portistas em geral, agora, já acham que o Sporting é um portento europeu, capaz de receber vassalagens das arbitragens da UEFA? Claro que não: foi um erro “randomizado”, daqueles que eu admito terem sido cometidos de boa fé. E, mais importante do que isso, sem influência decisiva na qualidade do resultado. Esses erros não merecem análises, apenas se registam.
Já na arbitragem do Moreirense, de tão óbvias que foram as infracções, é exactamente a boa fé que se questiona. Não apenas a boa fé deste ou daquele juiz, mas a boa fé das arbitragens. Foram erros grosseiros, dois deles seguidinhos, que fizeram o Sporting passar da possibilidade de vencer por 1-0 para a inevitabilidade da derrota por igual margem.
Aliás, como Mourinho falou no final do jogo com o Vitória de Guimarães, mais calado deveria ter ficado. E, se não gostasse tanto de protagonismo, talvez até nem piasse. E mais valia. Porque a equipa que dirige foi grosseira e directamente beneficiada com a anulação incrível de um golo limpo ao Guimarães, que daria o 2-1 aos minhotos. E, aqui sim, devido a uma arbitragem portuguesa, o resultado pode ter sofrido uma alteração qualitativa. Não sei se o Porto marcaria o segundo golo, sei é que, se marcasse, empataria. O empate dá um ponto, não dá três. E as contas são fáceis de fazer, no campo das probabilidades: talvez o Sporting tivesse mais 3 pontos, e se calhar, o Porto tinha menos 2.

Mourinho disse, também, que João Tomás lhe admitiu, particularmente, que tinha feito falta sobre Jorge Costa no lance do golo. Esta declaração vale o que vale, até porque João Tomás disse, publicamente, exactamente o contrário do que o excelente técnico portista afirma ter-lhe sido confidenciado pelo vimaranense, em privado. E Mourinho esquece-se que o lance foi tão nítido, mas tão cristalino, que toda a gente pôde ver (mesmo sem câmara lenta) que se anulou ali um golo legal. E Mourinho não pode alterar esta verdade com argumentos de “ele disse-me ao ouvido”.

Quanto ao decreto que Mourinho gostaria que baixasse, não sei de que governo ou assembleia, ele não diz, mas gostaria, talvez, que rezasse assim: “Por este decreto se proibe o pensamento e a sua expressão a quem, de forma ostensiva e provocatória, contradisser ou suspeitar a versão oficial do FCP em tudo que concerne à vida futebolística. Publique-se e cumpra-se, enviando-se, contudo, cópias reverendíssimas ao Estádio do Dragão para a fundamental aprovação prévia”.

Pérola acidental

Alguém que se lamuria da morte das ideologias, afirma que alguns portugueses são terrivelmente irracionais (ou outra coisa qualquer) por expressarem (em sondagem avulsa) 6% do seu apoio aos radicais do Bloco de Esquerda. Ah! E por darem a vitória eleitoral, na dita sondagem, ao PS. Mas isto já não espanta os "liberais", habituados que estão a alternâncias de gabinete entre "liberais" e aspirantes envergonhados. Dizem os "liberais", preciso era que lhes fosse provado o contrário...Enfim, adiante.

A senhora viscondessa de Arantantum também pasmou, um dia, quando percebeu que os criados que a espiavam por detrás dos pesados reposteiros da "salle à diner", enquanto ceava faisão e trufas, na sua irracionalidade inculta, lhe desejavam miséria e morte lenta.

A sorte dos "liberais", meus amigos, é que a irracionalidade do povo português o vai levando, aos rebanhos, a escolher ser cada vez mais pobre para poder ver os "liberais" cada vez mais ricos... e incrédulos! Pelos motivos errados, que a incredulidade "liberal" podia e devia ser bem maior, assim o povo pobre fosse, de facto, mais racional e os espancasse fortemente, aos "liberais", mesmo em seus aposentos de recolhimento intelectual, por nem sequer perceberem que são poucos e tão tremendamente inchados na sua pequenez.

Os Costas

O Porto ganhou em Guimarães, por 2-1. Estava o jogo empatado, foi anulado um golo limpo ao Guimarães, porque o Jorge Costa tropeçou nele próprio, de tanto carregar fardos pesados de culpas antigas, eventualmente.
Há árbitros assim, sensíveis a detalhes. A este, ao Costa (António), há 2 anos, ouvi-o eu dizer ao Quiroga, depois dum lance junto à linha lateral dum estádio pequeno: "Tem cuidado, que eu a ti só se não te puder ser bom...". Ouvi mesmo, e o Quiroga também ouviu. E mais pessoas.

Sousa Tavares, Santana Lopes, outros cronistas do "politicamente correcto" (Santanitas) e do "digo o que me vem à pena" (Tavaritos) até podem dizer coisas diferentes. Mas que o 2-1 era justo e limpinho, isso era. E nunca se saberá se haveria 2-2 depois disso. Mourinho e Pinto da Costa, com seus humores de gosto duvidoso, não vão safar-se assim, mais vez nenhuma. Não podem. Não jogam para tanto, coitados, abram os olhos! Não jogam mais do que ninguém, o resto é treta! Atirem-se a eles e eles deitam-se!

27.9.03

Onde está o ódio, afinal?

Descobri, há relativamente pouco tempo, este lugar. É dum colega, que percebo ser, talvez, mais velho, mas que deambula comigo pela labuta hospitalar, quase de certeza na área médica, a julgar pela observação de casos de AVC, que escapam, em regra, à actividade dos cirurgiões. Será internista, como eu? Não sei, nem interessa para o caso.

O caso é que, por diversas vezes, tem colocado olhares e "betadines" certeiros em feridas abertas e conspurcadas por outros, feridas que andam aí a céu aberto em purulências ogulhosas, à espera de cicatrizações acidentais.
A lucidez calma com que tem abordado, entre outros, o problema dos genéricos e das contradições na área farmacêutica, por exemplo, valeu-lhe uma reacção destemperada dum esganiçado qualquer. De meco a homenzinho, de clinicozeco a escriturário de receitas, de arrogante a funcionário público mal pago (e, por isso, insultável?), de corrompido pela "outra" indústria, a que investiga e produz os remédios que as farmácias se limitam a transaccionar, a diplomado de segunda, tudo lhe foi arrimado, de forma pestilenta e odiosa.

Sim, caro colega, fique ainda mais seguro do que diz: a gente sabe muito bem em que parte está o ódio. A gente vê-o bem daqui, sente-lhe mesmo o cheiro. Mas peço-lhe, repito, que fique ainda mais certo daquilo que já sabe: o ódio e a intolerância não estão, seguramente, entre nós. E nos seus escritos, que leio sempre que posso, muito menos.

Receba as nossas simpatias... e boa urgência, quando for o caso.

Invisível

Saiu para a rua, sem destino. Sentia-se perdido, apertado no meio de pressões que, justas ou injustas, necessárias ou dispensáveis, o apertavam e lhe doíam. Não queria ser frio, mas mostrava frieza. A vida rodava à  sua volta, incontornável, e ele tinha de participar nela, mas não conseguia, nem sequer queria. E, então, sentia a censura, a sua própria censura e a dos outros, a sua própria impaciência com os outros. E os outros, que não o ouviam, porque estvam dentro da vida. Ele cá fora, obrigado a participar, mas sentindo-se irremediavelmente fora. E pedia socorro, tantas vezes, mas tão baixinho que ninguém ouvia. Tremia por dentro e pensava, pela primeira vez na vida, que o dia seguinte não ia ser melhor. E nem os pequenos prazeres que até então o acalmavam lhe iam dar alguma paz, nem que fosse instantânea. Não enlouqueceu, porém, como chegou a imaginar. Tornou-se, apenas, infinitamente triste. E a vida, essa, jorrava à sua frente, impiedosa e inatingível.

Ir à gaveta

“Se fulano não faz parte da solução, faz parte do problema”. Ouve-se isto todos os dias, na lógica do sistema em que, cada vez mais, vivemos. E nem sequer é um sistema, é um regime de excepção permanente. Sistemas, como sabemos, são mais complicados do que meros articulados legais, esburacados na sua essência, logo à partida, pela possibilidade de sermos penalizados por eleitorados ... sensíveis, chamemos-lhes assim.

Qualquer cientista, na sua distracção permanente das coisas importantes, poderia dizer que a afirmação inicial é bacoca. Assim de repente. “Fulano não faz parte da solução, o que implica que nem é solvente nem é soluto, e isto não me parece um problema porque há sempre outras soluções, com outros solventes e outros solutos, onde ele pode entrar de forma absolutamente química. E há mesmo fulanos que são insolúveis em determinados solventes e não são noutros. Isto para não falar nos que são absolutamente insolúveis e nos que são abolutamente solventes.”

O problema da esquerda portuguesa, hoje em dia, é mesmo o evidente facto de estar reduzida a ser “contra-poder”. Não se vislumbra nenhuma possibilidade (que não advenha de chicana política, mais apropriada, na minha opinião, a outros quadrantes) de a esquerda, nos tempos mais próximos, argumentando “de dentro do sistema”, isto é, esgrimindo argumentos como “competitividade” , “sucesso”, “lucro” e “privado”, entre outros, ganhar qualquer discussão. Só por descuido dos adversários, mesmo que não tenham nenhum Mourinho como treinador de campo, nem nenhum Pinto da Costa como educador do povo. Que não são excelentes, mas lá cumprem, dentro do sistema.

Jamila Madeira foi, hoje, reduzida a pó (com evidente desgosto meu), num debate da RTP-2, por dois rapazes inteligentes e pouco belos, muito magnânimos, até, na forma condescendente com que a trataram. O que é irritante, logo à partida. Jamila Madeira, que deve cheirar bem, devia conviver, apenas, com rapazes que tivessem os mínimos nacionais da esbelteza, mas mete-se na segunda-liga!... E mais: joga em casa do adversário, logo contra dois.
Isto dirão os mais apressados. Mas não: se lá estivesse mais algum esgrimista, fosse do PCP ou do BE, Jamila jogaria contra quatro! Porque Jamila, mulher bonita e, seguramente, esperta, esgrime com argumentos votados à fácil destruição, tanto por parte do poder (a lógica do sistema, então, não é assim, ó senhores?) como por parte do “contra-poder descomprometido”, os chamados bitaiteiros. É um esquerdismo fácil, do ponto de vista mediático, o dos bitaiteiros. E ser bitaiteiro descredibiliza a esquerda. Logo, terminemos o reinado dos bitatiteiros. Como? Alianças de esquerda, sem medo, sempre e depressa. E os ratos lá acabarão por se revelar, ao primeiro naufrágio. E se ficarem todos, se não houver ratos? Melhor, senhores! Viram que bem?

Se Jamila quisesse eu explicava-lhe isto melhor. Mas eu suspeito que ela já sabe. Todo o PS já sabe, aliás. Mas nem todo o PS quer isto. É pena.
O PS, se quer ser credível (não para o “sistema”, que esse masturba-se com a sua própria e gritada credibilidade e com a credulidade de quem só ainda não viu o tamanho da sua derrota porque só olha para o que lhe mostram; mas para quem acredita numa maneira diferente de viver, mais solidária e redentora, em que quem não faz parte duma solução... pode apenas ser insolúvel naquele soluto... e não ser noutro), tem de sair dos seus apertados e masoquistas limites, indo às gavetas da sua História buscar o que lá guardou. Sem vergonha e sem medo. Vergonha é isto que se tem passado nos últimos anos, jogar sempre fora de casa, tentando defender o indefensável.
Não ter medo, é empenhar-se em mudar as regras, em vez de se desgastar em tentativas vãs de as adaptar. Soam sempre a falso, estes exercícios.

Mesmo que se percam eleições e os “meninos do aparelho” não gostem, isto fica aqui.

26.9.03

Arnaldo Palhares

Um dia, Arnaldo Palhares fugiu da vida. A mãe cuspia-lhe desgostos, o pai insultava-o silenciosamente, os irmãos rosnavam-lhe, os amigos fugiam-lhe. A mulher e os filhos cuidavam que era sempre um bocado de spleen. Os companheiros de trabalho riam-se dele, nas traseiras da cara. Até o cão lhe ladrava de esguelha.
Arnaldo Palhares, que era dotado de pouca paciência e estava cansado, apontou um revólver à têmpora direita e acabou-se-lhes. Nunca hão-de saber porque fugiu assim, mas há Arnaldos que sentem, cedo, que os combates estão perdidos para sempre.

25.9.03

Falta de sorte

Numa certa perspectiva, eu até percebo o que passou pela cabeça do presidente do tribunal da relação de Lisboa quando se deparou com uma câmara da SIC a filmá-lo. A postura de jornalista teenager, acabadinho de desmamar da mãe e da escola superior de jornalismo, convencido para além de qualquer dúvida de que o mundo lhe pertence e que tem o dever moral de informar o povo porque foi esse o nobre desígnio que lhe foi destinado neste mundo é verdadeiramente insuportável. A SIC e a TVI (menos a SIC, mais a TVI) encarregam-se de lhes dar o resto da formação em jornalismo sensacionalista, intromissor e desgovernado.

Foi isto, julgo eu, que o meretíssimo desembargador viu e imediatamente o cegou. Mas teve azar, porque, além de estar numa cerimónia pública, esqueceu-se de duas coisas: que é o presidente da relação de Lisboa e que a jornalista a quem ele mandou à merda é a Sofia Pinto Coelho, que é casada com o Ricardo Sá Fernandes. Isto há-de ser aproveitado até ao tutano, está-se mesmo a ver.

Sousa Tavares

O multifacetado Sousa Tavares, cada vez mais parecido com o Nuno Rogeiro em termos de polivalência e jactância socio-politico-desportiva, escreveu n' "A Bola" o seguinte:

"...Em Moreira de Cónegos o Silva foi agarrado e depois largado: já tinha sido largado quando achou melhor atirar-se para o chão. De facto, repito, houve penalty, mas ele teria caído do céu, porque jamais o Silva, como habitualmente, aliás, conseguiria chegar àquela bola em condições de criar perigo.
Depois, houve o contra-ataque do Moreirense, que começa numa falta do Lino sobre o Polga à saída da sua área. Dessa falta não assinalada haveria de resultar o golo do Moreirense — 30 segundos e 50 metros mais à frente. É incontestável que, se o árbitro tem assinalado a falta, não haveria golo. Mas, para se afirmar peremptoriamente o contrário, isto é, que só houve golo porque não foi marcada a falta, é preciso passar por cima de quatro momentos decisivos: a fuga de Lino pelo corredor; a forma como soube evitar dois defesas contrários que lhe saíram ao caminho e centrar quase perfeito para a entrada da área; o falhanço de um central sportinguista na intercepção do cruzamento, permitindo que nas suas costas aparecesse o Manuel; a saída extemporânea do Ricardo, permitindo finalmente a conclusão: o chapéu do avançado do Moreirense. O desfecho de um jogo de futebol raramente se pode explicar apenas pelos erros do árbitro. (...)".


No primeiro parágrafo desta parte da sua crónica, Tavares defende de forma desassombrada que os penalties devem ser assinalados de acordo com critérios de "comportamento habitual da vítima". Ou seja, uma falta sobre um jogador habilidoso e certeiro é mais penalty do que se a mesma falta for cometida sobre um qualquer Silva a que Tavares não reconheça talento. Este último, mesmo que agarrado, "que não caísse".

A seguir, desenrola-se em considerações arrepiantes, carregadas da mesma lógica, sobre a bondade de golos obtidos através de jogadas precedidas de falta grosseira. Ele bem viu que houve falta do tal Lino (não seria Lito?), mas a sua cavalgada ulterior (do Lino?) e o seu desfecho concretizador provocam no cronista tal entusiasmo que é quase como se planeasse dizer, num dia em que viesse a propósito: "caramba, assaltaram-me a casa, mas com tanta mestria que gostaria de felicitar o assaltante e dar-lhe alvíssaras!"

E eu acho que um dia lhe hão-de assaltar a casa (as Antas) e ele nem se vai lembrar do que agora escreveu. E mesmo que se lembre, a coerência é um valor cada vez menos apreciado. Por que raio haveria Sousa Tavares de se preocupar mais com a sua coerência futebolística (sim, que isto é só futebol) do que outros "cronistas do poder", cuja obra careceria de coerência mais fundamental?

Pequenos sapos

O senhor ministro da defesa tem estado ao ataque, pela mão de Judite de Sousa. Olhando de esguelha para a câmara, em furtivas piscadelas de olho, tem dito várias coisas que já se sabia que ia dizer. E outras. O desempenho televisivo (que me importa escassamente, no fundo) tem sido pobre, oscilando entre a empáfia e a veemência acusatória. Faz perguntas que sabe não irem ser respondidas em directo, porque não está lá mais ninguém. Os olhos, como sempre, estão-lhe fugidios. Nervoso, crispado como sempre, mas isso eu entendo. Os elogios absolutos e gongóricos aos amigos e amigas, amparados em linguagem não verbal pouco convincente, insegura. A pose de estado, relativamente bem ensaiada, logo subvertida pelo sorrisinho malandreco de menino bimbas que tem na mão um chupa-chupa só dele. Por acaso, tem agora expressões faciais menos histriónicas do que há dois anos, amadureceu seu pedaço, o senhor ministro, em termos globais. Nada nele é, contudo, mais doce. Nem mais autêntico.

O conteúdo, esse, é para digerir melhor. Ficou a gravar.

Para já, reparei apenas naquilo em que ele quereria que se reparasse, de forma exclusiva. E vai ter sucesso, seguramente, entre os seus fiéis. Mesmo tendo cometido a gaffe "anti-liberal" do costume, com a desfaçatez de quem sabe que todos os deslizes lhe são perdoados. Porque a democracia cristã (isto existe mesmo, também podia haver, sem chacota, uma democracia hindu, ou muçulmana... acreditem que sim) será sempre mais votada do que o partido que vai cobrindo com sua mantinha caridosa e tutelar.
Ó liberais, rapaziada, vocês engulam mais esta, em nome de Deus e da vossa participação nos governos...por via dos "votinhos dos devotos". Tenham paciência. A cada um o pequeno sapo que merece, ou que consegue tragar.

Vergonha

Um clube de futebol que não consegue, sequer, obter a solidariedade dos adeptos e do próprio presidente nos momentos de infortúnio é um clube moribundo. Acabo de ouvir na rádio o som difuso e sinistro das vozes plenas de boçalidade dos adeptos do Benfica que, nesta madrugada, estiveram no aeroporto, como é habitual, à chegada dos jogadores. O que já não foi habitual é que se tenham deslocado ao aeroporto exclusivamente com o objectivo de insultar e apupar os jogadores. Uma verdadeira indignidade. Muito doente está uma nação que abriga pseudo-adeptos de futebol que, nos momentos menos bons de desempenho das equipas, se portam como ratos a abandonar o navio, que assim há-de naufragar sem apelo nem agravo. E eu, que sou portista, hoje sinto-me solidária com os jogadores do Benfica que empataram na Bélgica porque jogaram mal.

Santana Lopes

Este senhor doutor de frondosa cabeleira sobre a nuca, escassa sobre a fronte, assume a careca com... frontalidade. Ia gostar de conhecer a Lolita, que é extremamente competitiva e "assertiva".
Comenta coisas na SIC, o Dr. Pedro, conforme as comenta n' "A Bola". Duma forma ligeira, muito "envernizada", leviana, pouco impressionista. Eu sei muito bem que devia dizer impressionante, mas o impressionismo é uma corrente. E as correntes, num fato de cabedal, ficam melhor. Mesmo que antigas, cheias de ferrugem a pedir "solarina modificada", as correntes são um fetiche antigo de gente que ainda vive hoje. Que correntes ligam Santana Lopes ao PSD? As do fato de cabedal?

Querem que responda, mesmo sendo um disparate pegado? Eu respondo, então.
São aquelas correntes antigas que nos dão (a ele, seguramente, dão) aquela triste certeza de estarmos acorrentados sem razão pertinente a razão nenhuma. Só para não cortarmos antigos elos ferrugentos. Porque, sem essa ferrugem histórica, as pessoas reparam que nos falta cada vez mais cabelo na frente da cabeça. E não vão para a cama connosco a não ser motivadas por ditados populares acerca de carecas.
E Santana Lopes, aqui entre nós, ainda não levou o PSD para a cama. Que se tenha visto.

Eu escusava disto? Eu sei que escusava. Paciência.

O que tem a ferrugem a ver com os cabelos que nos faltam é outra conversa, mas eu não sou pago para explicar tudo duma vez.

Jornada europeia

O Benfica empatou, coisa com que já ninguém se espanta, excepto, talvez, os belgas do La Louvière. O Sporting ganhou, mas foi em casa e, a acreditar no besugo, tudo se deve ao Polga. O Porto há-de ganhar ao Real Madrid e olhem que quem o diz é uma pessoa que já demonstrou possuir um raro sentido de justiça e uma extrema lucidez. Mas note-se: se o Porto não ganhar, essa pessoa continuará a ser, pelo menos, justa. O resto é fado, futebol... e árbitros.

24.9.03

Contentamento

Estou contente. Gostei do Sporting, hoje. Boa circulação de bola, boas jogadas, dois escassos golos para os 4-0 que seriam justos. Destaco Polga, jogador inteligente e que sabe "antecipar" o futuro imediato com classe. Ainda se desculpou duas vezes com o Beto, que é leão antigo, gosta de ralhar, mordendo a língua, em raivas de quem tem dúvidas. Mas tem de aprender com Polga o talento de quem sabe. Que,esse talento, Beto não tem. Lembram-se de André Cruz? Esse tinha. E Beto não jogava, às vezes. Ou se jogasse era ao lado... A liderança era de quem era.
Não basta ter nervos. Aliás, é melhor ter nervo, que nervos. Os nervos são antagonistas da calma. O nervo não. É um complemento imprescindível da placidez inteligente e robusta dos fortes.

Decididamente

Este cantinho de gente simples não é pacífico. A gente gosta de clubes diversos, lê belogues distintos, defende patranhas adversativas, tipo "nem, nem". Uma bizarria.
De facto, eis o que recebemos na caixa do correio. Sem remetente. Vergonha!!!!

"Nem sei quem recebe estes emails mas, sendo eu leitor assíduo deste blog "que me bloga mucho" e começando a ficar levemente irritado com a suburbana leviandade do besugo a dissertar sobre matérias manifestamente mais complexas do que as curvas de uma enfermeira (ou duas, já agora), resolvi manifestar-me, após leitura atenta do tópico chamado "O calor".

Parece-me que o besugo deve ter qualquer coisa contra o ministro da saúde. Digo parece-me, porque pode ser que o besugo seja argumentista do contra informação e esteja aqui a treinar "sketches" pró dito programa.

De todo o modo, imaginemos o ministro ideal do besugo ...

E a conversa era assim:

- Quero saber quantas foram.
- Quantos foram o quê Sr. Ministro?
- As mortes de cidadãos atribuíveis ao calor, meu caro colaborador e companheiro. Se faz favor ...
- Como quer que saiba? Estive de férias!
- E esteve muito bem, que os trabalhadores têm todo o direito de gozar férias. Sim, que eu não sou seu patrão, sou seu companheiro e amigo.
- AI é ... Ahhh, touzaber ... Olha pá, não sei quantos foram, e de resto toume a cagar para isso. Queres saber? Vai perguntar tu!
- Mas ...
- Sim, pergunta a quem quiseres.
- E quem me há-de responder?
- Não sei, metade está de férias e metade está de greve por causa do calor e de não haver ar condicionado nos gabinetes.
- ...
- O que foi agora?
- Já sei, vou à Assembleia e digo àqueles dignos representantes do povo que o calor foi uma catástrofe e que o Governo vai nomear uma comissão para estudar a forma de nos prevenirmos contra catástrofes destas.
- E se os fachos te perguntarem qual é a dimensão da catástrofe?
- Digo que vou nomear uma comissão para proceder de modo rigoroso a essa avaliação.
- E se te perguntarem como é que vais constituir essa comissão?
- É fácil, falo nas forças vivas, nos agentes do sistema e dos diversos subsistemas ...
- Uma coisa abrangente, é?
- Exacto, companheiro, uma coisa abrangente!
- E funciona?
- Isso não interessa nada. Daqui a um mês abrem as aulas e o palerma do meu colega da educação (um burguês, esse gajo) passa para a linha de fogo, segundo ouvi dizer ao meu compadre da FENPROF.
- Tens um compadre professor?
- Professor, é uma maneira de dizer ... Há vinte anos que está no sindicato. Percebes, sem profissionalização dos sindicalistas não é possível defender a classe. Não é qualquer um que sabe convocar uma greve ou uma manif.
- Já percebi... Bem, vou beber santal RAD, que é vermelho e tem tomates. Feitos em puré e cheios de corantes e conservantes, mas vermelhos ainda.
- O melhor é um que também tem laranja. Tudo bem misturadinho e em puré centrifugado, esterilizado e homogeneizado, com corantes e conservantes à maneira. É RAD e não compromete ninguém.
- Pois!

Caso não seja o besugo quem recebe este email, muito agradecia a gentileza de lho fazerem chegar."


Conclusão: vamos dar-lhe o espaço que merece. Nós não podemos ver um tipo a ameaçar dar-nos pancada sem que lhe ofereçamos moca ainda maior, para melhor nos atordoar de forma redentora e vil.
Escolha um nick hispânico, senhor, que é mais caliente. Vai ter notícias.

22.9.03

O calor

O calor, para estes senhores, é uma causa de morte directa, daquelas que se podem botar em certificado de óbito. Mais ou menos assim: "Causa de morte? Calor! Em onda!".
Isto não é verdade, isto é um disparate! Mas só assim se entenderia que o pouco concentrado senhor ministro da saúde ( e os seus intransigentes e pragmáticos defensores, onde quer que se encontrem) nos viesse afrontar com aquele fatídico número quatro (só-quatro-só) quando lhe deu para quantificar as vítimas mortais do calor. Ele deve ter feito assim, pelo menos é hipótese frondosa em floresta queimada:

" - Quero saber quantos foram!"
" - Quantos foram o quê, senhor ministro?"
" - Bolas, os casos fatais atribuíveis ao calor. À onda."
" - Como quer o senhor que eu saiba? Estive de férias!"
" - Insolente! Saiba quantas certidões de óbito foram passadas com a seguinte causa de morte: calor."
" - Vou saber... calor?"
" - Sim, calor!"
.................................

" - Senhor ministro? Sou eu, ajoelhado e respeitoso, com a informação que me pediu..."
" - Sim? E então? Já conseguiram que algum desses médicos comunas assinasse um contrato individual de trabalho?"
" - Mas não foi isso que o senhor me pediu...."
" - Pois, isso é o que eu peço a Deus, todas as noites, já de barrete... Mas diga, homem, que lhe pedi eu? Você pensa que eu tenho cabeça para tudo? Sei lá bem o que disse ontem!"
" - Era aquilo das mortes pelo calor...."
" - Ah! Já podia ter dito, tenho estado aqui consumido com isso. Quantas foram?"
" - Quatro...."
" - Tem a certeza? Absoluta?"
" - Bom, só há quatro certidões com essa causa de morte, todas elas passadas por clínicos espanhóis recém-formados..."
" - Esses clínicos são contratados por S.A.s de elevada competência. Cale-se! Se são só quatro, são só quatro! Quatro! Apenas quatro! Coitados, as famílias, e tal... chuif... mas SÓ QUATRO!!!! Você fez um belo trabalho, Vasco Citrino Doce!"
" - Há quem diga que o calor foi causa indirecta de muitas mais mortes...."
" - Cale-se! Não estrague um excelente trabalho com uma insolente provocação!"


Calou-se? Não. Aprimorou-se na arte de tecer encómios, calou a consciência crítica e estabeleceu-se no "sumo de laranja". E alguém pôs aqui o link. Isto está sem rei nem roque!!!

E lá vou eu falar de futebol, que nem queria...

Mas é só um bocadinho. Apenas para dizer que fui ali ler uma coisa (eu não controlo, contrariamente ao que seria desejável e virtuoso, os "links" que alguns dos meus co-belogueiros aqui introduzem como referência e, depois, dá nisto...) e, por a ter lido, acho que devo exercer uma arrasadora acção pedagógico-imparcial. Sim, que imparcial é coisa que eu sei que sou, disse-mo minha mãe um dia, senhora de verdades totais e absolutas!
Ora o que eu li ali, foi isto:

"DE QUALQUER FORMA: Seja ou não seja grande penalidade, seja ou não seja falta sobre o Polga no lance seguinte, a realidade é que o Sporting não foi capaz de marcar um golo que fosse, nem foi capaz de chegar a Moreira de Cónegos e mandar no jogo. Estou como o Sérgio, de tão habituados a jogarem num relvado(?) como o de Alvalade XXI, já não conseguem jogar num que esteja em boas condições.
Oh engenheiro, a máquina parecia engrenar, mas afinal parece que ainda há muito para olear...."


Eu vou traduzir isto para "linguagem imparcial", a ver se o Pedro Sousa (que foi quem escreveu isto) se penetra dela e vê a luz. Não, não me refiro ao estádio.

TRADUÇÃO PARA LINGUAGEM IMPARCIAL
"Embora lhe tenham sido escamoteadas duas grandes penalidades (uma das quais, ao menos, daria golo, eventualmente, se não ambas...) e o golo do adversário tenha sido precedido de falta grosseira sobre Polga, o Sporting não conseguiu vencer o Moreirense. É escandaloso como uma equipa candidata ao título, mesmo com as benesses que atrás referi, não consegue tomar conta dum jogo contra uma equipa modesta que, apesar de tudo, "afinfou" 3-1 ao Benfica na pré-época! Escandaloso! E tudo isto num relvado decente, aqui estou de acordo com o Pedro Sousa, exclamando, contudo, raispartópitium!"

Ora, meus amigos, é assim que deve ler-se. Desculpe lá, amigo Pedro Sousa, mas isto não é censura, é sensatez, é a voz da verdadeira... hum... VERDADE!
Sim, graças a Deus ( e à minha lucidez, herança materna) pude repor a verdade neste local caliente! Valha a verdade, já que se fala nela, que neste local ninguém se entende, mas eu explico isso em tempo competente.

Calmante natural










21.9.03

Mentir é feio, mas não exageremos

Ainda o Mata-Mouros. Estive a ler a os vários postes (julgo que são cinco) sobre a homossexualidade nos políticos e admito que se trata de reflexões sérias e cautelosas. Mas, e independentemente de ser minha convicção de que devem ser muito estreitos os limites para a divulgação pública de qualquer aspecto da vida pessoal de cada um, seja quem for, mesmo político (e não me venham falar em transparência, que isto não tem nada a ver com isso), o que me faz confusão é o equí­voco de que parte o Mata-Mouros quanto à questão da homossexualidade. A menos que o Mata-Mouros esteja mais bem informado do que eu, que se saiba não há prova concludente de algum político português ter mentido sobre a sua orientação sexual. A outra hipótese será a de que o Mata-Mouros desconfie que alguém tenha mentido, quando, na verdade, se terá limitado, nessa hipótese, a omitir, penso eu. O que é bem diferente e justificável, atenta a irrelevância pública da orientação sexual dos políticos, do ponto de vista da sua competência, digamos, profissional.

Esta questão só tem sentido (se tiver), evidentemente, no plano dos princí­pios e de forma instrumental (porque não acredito que o Mata-Mouros acredite que a homossexualidade nos políticos, só por si, seja tema para tanto discurso) relativamente às possíveis mentiras que nos andam a pregar. Primeiro, porque todos sabemos adivinhar o suicí­dio político que representaria uma confissão dessas por (por exemplo...) um dos nossos ministros. Depois, porque me causa desconforto a radical censura moral da mentira que leio no Mata-Mouros. Se forem assim com tudo, devem ter poucos amigos...

Se algum político mentiu (melhor: omitiu) quanto à sua orientação sexual, fê-lo por pudor ou por conveniência. O que é criticável, mas assim como isso não faz de alguém um bom polí­tico também não me parece que o diminui assim tanto como querem.

Tiro no pé

Fui parar à  Helena Matos através do Mata-Mouros. Não querendo eu, se calhar quixotescamente, defender o indefensável, não deixo, porém, de anotar isto: não decidi ainda se me impressiona mais a demagogia entrelinhada da crónica em questão ou as saudades, levianamente expressas, do Manuel Alegre pela segurança dos quarenta e oito anos de fascismo. É que tem piada: a dita senhora, ao dissecar fervilhantemente as consequências da instauração da democracia, passa, sem se aperceber, para a esquerda o papel "odioso" de ter precipitado a mudança de regime. Isto será mais ou menos isto: "ó esquerda! mas vocês não queriam a democracia? então agora não se queixem...". E, então, será provavelmente legítimo concluir isto: a direita não quis a mudança.
Mas não se preocupem, homens e mulheres de direita. Podem continuar a sentir-se democratas, que isto é só o que a Helena Matos, sem querer, disse.

20.9.03

Ainda o Júdice

Os cruzados descobriram tudo. Agora percebo a preocupação com as escutas.

Aero-pastilhas

Hoje nem era para escrever mais, que isto não é pago à peça. Aliás, a bem dizer, nem pago é. Excepto o petróleo para o candeeiro de secretária, mas esse sou eu que o carrego sempre, vintemilréis por semana.
Eu não ia dizer mais nada, mas o verrinoso homem-a-dias decidiu provocar-me, de forma intencional e viperina. Disse ele, numa nítida referência à minha besugal pessoa, que o Lexotan é o maior amigo do cobarde aerotransportado.
Pois fique sabendo que não é! Passe a publicidade, claro. Eu ensino! O Xanax, na medida certa, é muitíssimo melhor para a gente se reconciliar com a nossa falta de vocação aeronáutica! Receba este grande tungas (e experimente, já agora... embora a dose certa seja difícil de encontrar em voos com muitos "poços de ar" e de longo curso...) com votos de boa viagem. Na SATA, obviamente.

Escutas

As telefónicas, que a PJ faz e que, por diversas vezes, ninguém sabe delas. Sabe-se que, de acordo com a lei, têm de ser autorizadas por um juiz e os visados podem nem ser sequer, suspeitos da prática de um crime, nem nunca vir a ser. A mim parece-me que o Bastonário da Ordem dos Advogados, ao defender a criação de uma comissão independente para o acompanhamento da legalidade das escutas telefónicas, quis alertar, diplomatica e serenamente, para os riscos notórios que decorrem de uma prática que nos habituamos a chamar de vil se fora do contexto da "busca da verdade dos factos". Julgo que ele sabe também que, com esta crítica velada, está a pôr em questão o princí­pio da separação dos poderes, a independência da magistratura, a vigilância feita de dentro dos juízes e pelos juí­zes. E ele conhece essa treta toda. E tem perfeita noção, ou tem obrigação de ter noção, de que, a não lhe darem ouvidos, sai desacreditado e enfraquecido.

Portanto, ou ele sabe disto tudo, ou não sabe. Se não sabe, é mais um a lançar confusão inútil e bacoca. Se sabe e ainda assim disse o que disse, é porque sabe de alguma coisa sobre as escutas que lhe tira o sono. On vera, como diria o Marió Suarez.

As academias, o papel e a praxe

Li, aqui, isto:

ESTUDANTES DE COIMBRA E PAPEL HIGIÉNICO

Fardados de estudantes, meia dúzia de dirigentes académicos de Coimbra foram entregar uma pilha de papel higiénico, equivalente ao valor das propinas que recusam pagar, em frente ao Ministério do Ensino Superior. É um bom retrato de como está a Universidade de Coimbra – os estudantes revêem-se elegantemente no papel higiénico como metáfora. Não lhes passa pela cabeça levar uma pilha de livros e dizer “estes são os livros que não posso comprar”. Mas não. Eles acham que são irreverentes e engraçadinhos sendo ordinários, e esquecem-se que, no que deixam, se retratam a si próprios.

Para além disso, o tamanho da pilha mostra o valor ridículo do que teriam que pagar.



Gostei, e apeteceu-me reescrever isto, por me ter lembrado:

A mim disseram-me, uma vez, “vou-te praxar!”. E aquilo caiu-me tão mal que ainda me doem os nós dos dedos. Mas admito que pode haver quem ache giro e eivado de grande potencial integrador esse conjunto de javardices que oscila entre o bizarro e o “tem algum mal?”.
É nessas alturas da praxe que antigos(as) sebenteiros(as) e caloiros(as) se interpenetram na simbiose perfeita que eu traduziria por “a ver se te como até ao fim do curso”, embora eu ache que há formas menos azeiteiras de exibir tesões, com resultados mais profícuos. É lá com eles, quando foi comigo levaram nos cornos, podia ter sido ao contrário mas, por acaso foi assim, calhou.

Aqui há uns tempos falaram, na televisão, na rapariga do Instituto Piaget, que parece que está com problemas (julgo que a rapaziada da associação académica, à falta de quem lhe pespegasse porrada na tromba, faz sentir à rapariga que não devia ter aberto a boca para se queixar do que entendeu queixar-se).
A essa jovem sugiro que arranje, à falta de irmãos e cunhados entroncados, meia dúzia de ciganos de má catadura. Assim acompanhada, que interrompa uma reunião da associação académica, daquelas em que os petizes costumam ir treinar o slogan “não pagamos, não temos condições, o ensino está mal, e já agora não estudamos a ponta dum caralho”. Verá que a debandada duma associação académica desse jaez é linda de ver, embora nauseabunda. Deverá pedir aos ciganos que, de passagem, enfiem os instrumentos da tuna académica pelos cornos abaixo da própria tuna académica, o que gerará sons de grande musicalidade.

Falaram, também, duma outra caloira, doutra escola, que terá sido obrigada a mexer em estrume de vaca, a dita bosta. Não vejo nenhum mal nisso, eu até sou dos que afirmam que tudo se lava desde que se dê bom uso à água e ao sabão.
Mas, estava eu nisto, fala o senhor que manda lá, o “engenheiro-das-agriculturas-chefe” da escola. E o senhor mais não babuja que isto: “os factos ocorreram em Outubro e ela queixa-se em Março; acho isto estranho”.
Fiquei elucidado. Acho que este argumento, esta estranheza, extrapolados para os casos de pedofilia, poupariam tempo ao povo e aos juristas deste país. “Ai o senhor, quando menino, foi encabado e não gostou? Isso foi quando? Em 1989? E vem queixar-se agora? Isso é muito estranho, arquive-se!” E por aí adiante. Não sei se já foi demitido o senhor da escola de Santarém, mas espero que não seja porque pode ser que ainda volte à televisão e dá-me a risa (como dizem os galegos) ouvir semelhentes “murcões”.

Ainda nessa reportagem, um jovem aluno do mesmo estabelecimento carregou sobre a colega com um silogismo hilariante, que começava em animais e acabava em bosta, querendo ele dizer o seguinte, pelo que se percebeu: “a colega queixosa, já que está numa escola agrícola, devia achar natural que a enchessem de bosta”. E depois rematou, brilhantemente: a ser assim “vidrinho”, a estranha e indesejável colega devia ter entrado antes em Medicina!”

Ó petiz! Então e as urinas, as fezes e a expectoração? O excremento humano? O cheiro a pés mal lavados nos corredores das urgências? Grande praxe não farias tu aí, petiz, tanto excremento à disposição da tua prodigiosa e tenra imaginação! Estás a esquecer-te disso, ó futuro boizinho manso das pradarias exclusivas da cerveja, dos “shotezinhos” e da pastilha! Olha que vais mal.

De qualquer forma, espero que a população académica se decida a fazer o que tem a fazer: estudar muito e aperfeiçoar-se muito na arte da desbunda, em tempos separados e complementares. Ambas as coisas são necessárias e fundamentais a uma população académica, e mesmo a qualquer outra população. E que se vá habituando a ir, conscienciosamente, aos focinhos dos “praxadores associativos”, que é uma linguagem que eles entendem mesmo quando estão perdidos de bêbados e a achar-se giraços por detrás das lunetas baças da sua banalidade boçal de fradiques de batina.

19.9.03

Agora sim, aparece a RTP 2!

Aviso desde já que as opiniões a seguir expressas por mais incómodas ou inconvenientes que possam ser, são da completa e total irresponsabilidade do autor.
Vamos aos factos!
Ouvi com um misto de júbilo e tumefacção que o "ACONTECE" de Carlos Pinto Coelho vai ser substituído por um magazine cultural apresentado por essa insigne figura da nossa praça cultural chamada Anabela Mota Ribeiro.
Para mim, e em primeiro lugar, isto cheira-me a "espírito santo de orelha" do Ministro Arnaut ao colega Morais Sarmento...
Quanto ao currículo da moça, acho que é pouco menos que eloquente, começou nos anos oitenta aos microfones da Rádio Alto Douro com o Duo Anabela e Carla onde entoava o hit dos anos oitenta "A minhoca foi à praia".
Depois foi dar uma mãozinha ao Manuel Luís Goucha (que se tinha reformado de lavar tachos e panelas) na "Praça da Alegria"
Atingiu o cume mediático, sem malícia, com o "FALOTÓRIO" que ainda hoje é lembrado como um marco indelével no panorama sexo-cultural português a par com a novela "Vila Faia".
Se tal não fosse suficiente, convenhamos que é bem mais agradável ver uma carinha laroca a apresentar o programa do que o mono do Carlos Pinto Coelho.
Last but not least, eu sou, acima de tudo, amigo dos meus amigos e sei que tenho amigos que vão delirar com esta contratação de vulto para "A Dois". Especialmente um deles que eu não digo quem é!
Por tudo isto não posso concordar com os maledicentes que se entretiveram a descascar na mocinha.
Deixem-na trabalhar e verão...

O pitium

O pitium preocupa o Paco, preocupa toda a gente. É-me grato verificar isso, embora isto seja equivalente a confessar que o pitium me preocupa. E eu não sou de grandes confissões.
Ora, sensibilizado por alguma preocupação "global" que várias pessoas de ambos os sexos (partindo do princípio vetusto de que os sexos são, ainda, só dois, fora as aberrações e as cirurgias opcionais) e de ambos os hemisférios terrestres (eu aqui tenho a certeza, desde que vi algumas fotografias!) vêm confessando, eu dá-me para confessar também: "Sim, o pitium preocupa-me e mobiliza grande parte dos meus pensamentos! Desde há anos! E, sim, admito, cada vez mais!"

Evidentemente, tudo isto por causa do Sporting, porque eu só ligo ao futebol. Sem dúvida e sem qulquer ponta de vergonha.

Não percebi, obviamente, a alusão que o Paco fez à Cândida. Tem pitium?

Por falar em minudências

Ao passar os olhos pela “belogosfera” tenho reparado na profusão de escritos meditativos, analíticos e sintéticos, uns mais profundos, outros “de crosta fina”, sobre a própria “belogosfera”. Não vou aqui falar sobre isso, é só ir navegando e lendo, já lá está tudo. Sobre a “belogosfera” e sobre os “belogueiros”, suas intestinas motivações e causas, suas ânsias e suas relevâncias, seus egos e seus patrocínios. Está lá tudo. Está cá tudo. Até aqui, no remanso do lar, se falou disso, algures.
Caramba. Dissecar um prazer ao ponto de lhe encontrar tantas particularidades e minudências (como diria Paco, esse excelente rapaz) só se entende em fase de epílogo desse prazer. Quando o prazer se vai transformando num leve tédio, num aborrecimento saciado. Ora, um aborrecimento saciado não deixa de ser isso mesmo: um aborrecimento. Mais, ainda, às vezes vai-se a ver e não passou disso, dum aborrecimento, e não parece de juízo saciar chatices! Saciar é palavra que se associa a apetites, não a fastiozinhos deslavados de petisqueiro!
Ora, o Blogame mucho não aplaude exercícios de auto-mutilação. Que é a autocrítica levada ao ponto da imolação pública, entre amigos.
E ao Blogame mucho, como ainda agora cá chegou, e ainda nem mesmo encontrou o seu rumo (às tantas, já encontrou... desculpem é qualquer coisinha, se faz favor), não lhe apetecem, ainda, mesas de Morgani. Que é onde se dissecam os cadáveres, como sabem. E sendo um belogue caliente, o Blogame mucho propõe à “belogosfera” o seguinte, caso a “belogosfera” se dê ao remanso pacholas de ouvir o Blogame mucho:
“- Bisturi fino apontado à própria tripa pode ser cortante, mas tropical não é! Y que sigan los belogues, toda la noche!”

A culpa é do fungo.

Também podia ser do macaco ou do Engº Fernando Santos mas enquanto o relvado for distraindo as atenções, ninguém liga peva à triste figura feita pelos rapazes de Alvalade neste começo de SuperLiga.
Os moços fartam-se de acertar mais na relva do que na bola e o pobre do Pythium é que apanha as marradas.
Sempre estou para ver se, em vez desse tal Pythium, tivesse dado no relvado uma candidíase...havia de ser o bom e o bonito com os jogadores a atirar as culpas de uns para os outros! Com o azar que tem, ainda era o Beto que ficava com as culpas...
Está mal feito, anda a gente a gastar uma porrada de dinheiro a construir estádios novos com relvados de qualidade quando deviam era contratar jogadores decentes e com a pontaria mais afinada e dar-lhes as botas com o tamanho certo.
Não sei que lhes faça e acho que não há fungicida que lhes valha.
Para o ano mais sorte terão...sem fungar.

O Sporting

É, indiscutivelmente, o melhor clube do mundo. Pode perder, empatar,... até pode ganhar, calculem! Nada abalará esta firme convicção que eu tenho e que me apetece partilhar convosco: somos os melhores!

É, por conseguinte, inútil e vã a tentativa que a lolita, ignóbil uruguaia torcionária, está a fazer com o intuito tenebroso de "denegrir a imagem da insigne família sportinguista"!

Vá, nem tentem, OK?

Resposta à Nota Interna

Cara Co-Administradora,
Terei o maior prazer em dar-lhe todo o auxílio nessa nobre tarefa. No entanto, dada a minha recente entrada neste blog, estou em período de nojo pelo que me vejo impedido de irritar qualquer dos meus colegas de missão.
Para já limito-me a falar de minudências...

18.9.03

Nota interna

Paco: ajuda-me a cascar no Sporting. Entre outras razões, não menos importantes, é para isso que cá estás.

Aviso

O Paco é um sócio trabalhador (e administrador) deste belogue. Afianço-vos que não sou, nem nunca fui, amigo dele. Tirem daí as vossas conclusões.

Sobre o Joãozinho

A lolita escreveu o que escreveu, acha o que acha. Isto é um belogue caliente, ninguém arrefece as temperaturas de ninguém.
Eu, curioso, fui lá ver. Também acho genial. Porque ou aquilo é tudo treta, e é giro, ou o rapaz se leva a sério e é giro na mesma. Ora a genialidade virtual é mesmo assim: tanto faz como fez, ligo-lhe tanto como ele a mim, e se ele faz bem eu não faço pior. E se ele é uma besta, olhem esta besta aqui, este besugo!
Que você seja feliz, Joãozinho, e um santo Natal para si e todos os seus. E que o seu Departamento de Operações encontre um Bloco Operatório à sua altura, à sua medida e, mais importante que isso, oxalá o Sporting ganhe ao Moreirense. Que isto anda tudo ligado, mas a mim importa-me só o que me importa e acrescento que isso é muito variável. E a vaca da minha vizinha dá mais leite do que a minha. Sim, do que a minha vizinha, tal e qual.

17.9.03

JHF ao poder

Como eu supunha, o joãozinho é genial. Estou em crer que que ele, sózinho, ri-se muito mais dos "sics" tirados do seu belogue pelas arrebatadas entidades blogosféricas atraídas pela (in)estética do possidónio do que nós todos juntos da sua teoria do Departamento de Operações. Que venham muitos belogues assim, que são estes que merecem os troféus.

Com os olhos mais brilhantes

Bonito documentário sobre a pesca, à linha, do bacalhau, nos anos sessenta. Esteve a dar na RTP2, tendo como base um filme realizado por canadianos francófonos (fixei que um deles se chamava Lemieux) que viajaram num lugre português (Santa Maria Manuela era o seu nome) à Terra Nova.

As imagens da época, povoadas de rostos barbados à volta das rugas, alumiados por olhos semicerrados de olhar o longe, fizeram-me a impressão duma epopeia. Aqueles homens fizeram-me lembrar figuras do “presépio de lata” do Carlos Tê, violentamente embaladas pelas vagas, pela esperança, pela coragem e pelo medo, sob um céu que oscilava entre o querosene e o chumbo total.

Entremeando o filme, relatos na primeira pessoa feitos por gente que lá esteve. Um senhor Agonia, que é da Póvoa como qualquer Agonia que se preze. Os Agonias, são notórios, respeitáveis e respeitados, bem para além de A-Ver-O-Mar! Um senhor Nascimento, que na altura estava internado no Hospital da Póvoa para ablação duma pedreira vesicular. E outros. Nem todos poveiros, evidentemente. Contudo, em todos eles se via ali piscar, nos olhos, uma luz antiga, como se fosse um farol velho, gasto, mas redentor, ao recordar façanhas e perigos, conquistas e perdas, valentias e medos. Vividos em comum, mas individual e sentidamente sofridos.

Falou-se ali de “ganâncias”, despindo a palavra do visco empresarial que hoje em dia se lhe cola, porque ganâncias, naquela altura, significava apenas querer muito uma coisa e lutar por ela. Ganâncias de trinta mil réis....

Não havia muita água, imaginem-se sem água! A água das lavagens só se deitava fora quando se conseguia cortar com uma faca! Disse isto o antigo imediato do lugre, com um cintilar tímido e brincalhão no olhar. Tempo de rapaziadas, de quem nunca deve ter sido menino, mas hoje é homem. Como, afinal, sempre foi. E como, meu Deus! Mesmo os que morreram, como um que lá ficou, na Terra Nova, em sepultura estrangeira engalanada de dizeres portugueses, orgulhosamente solitário na sua certeza do esquecimento.

Como a epopeia portuguesa dos bacalhoeiros se encontra bem documentada e ricamente descrita por quem sabe mais, infinitamente mais, do que eu, vou ficar por aqui. Não me apetece sujar a beleza que acabou de me adoçar com análises lúcidas sobre a sociologia e as políticas, que fizeram homens sujeitar-se a soçobrar, tristemente, em mares gelados de ilusão e desencanto. Há momentos que valem apenas por si, desenquadrados do tempo e das conjunturas. Se calhar, é só por isso que conseguimos encontrar-lhes beleza.

Jane and Travis

Acabo de reler o mais bonito diálogo alguma vez escrito para um filme.

O Porto empatou com o Partizan

Por esse motivo, decidi fazer uma pesquisa google. Introduzi (caramba, que verbo!) as seguintes palavras: "Porto" e "Partizan". Não recolhi informação relevante para o meu título. Depois teclei "Porto" e "Belgrado". Nada de interessante. Fiquei entediado, mas continuei a teclar "Porto" e outras coisas, assim ao Deus dará. Nada. Por esta altura, encontrava-me já perpassado por alguma modorra... e, sem dar por isso, em vez de "Porto" teclei "Portas". Notei a gralha (a gralha, soa bem, emite sons e voa bastante) e decidi-me por averiguar uma pequena curiosidade: a seguir a "Portas" teclei "namoradas".
Verifiquei que a pesquisa google anda marada. E, evidentemente, porque o meu espírito lógico não me permite sequer simulacros de atoardas, não concluí mais nada.

15.9.03

Johnny Nash, digo, Cash

Caro homem-a-dias: assim como me parece que a própria blogosfera tem demonstrado que nem sempre se precisa de mote para lançar polémica, também me parece evidente que, noutros casos, não é para criar polémica que se lança o mote. Mas eu confesso: li o seu post do pudor heróico de forma precipitada, o que fez com que eu desalinhadamente falasse, num contexto diferente do que me pareceu ser o seu, de heróis e de pudor. No entanto, no SEU contexto, reforço aquilo que, assim que li o post em questão, me causou algum espanto, tentando agora ser mais concisa: onde raio foi buscar essa ideia peregrina do "estranho pudor em reconhecer que se tem heróis" como o Johnny Nash, digo, Cash?"

Agradecidos pela referência positiva, embora eu, por razões puramente metódicas, duvide que um blog bom seja também, e sempre, equilibrado. Nós, por cá, também o lemos, nem que seja para discordar de si de forma desconchavada.

Citando e prevendo

No seu belogue, Pacheco Pereira, derramou-se de lucidez. Penetrou-se de luz, alumiou o espírito e disse isto:

"VOZ PRESA, VOZ SOLTA

Ver um noticiário da RTP Internacional, longe, dá-nos sempre uma visão mais depurada de Portugal. E coisas a que estamos habituados em Portugal surgem aqui mais estranhas. O dr. Portas já é estranho na pátria, e então longe surge completamente bizarro. Vi-o ontem num comício, a fazer de conta que tem a voz solta, quando todos sabemos que a tem há muito tempo presa. Falou de imigração, porque de facto quase não podia falar de nada. E o que disse é puramente ideológico, uma receita política sem sentido, ou melhor, com um outro e mais perigoso sentido do que aquele que ele lhe deu.

Primeiro, falou contra quem? Contra o governo de que faz parte. Os jornalistas, que na sua simplicidade andaram a repetir o dia todo o que o PP lhes disse, que o discurso "seria pela positiva", não perceberam que um ministro não pode dizer aquelas coisas sem estar a falar contra o Ministério da Administração Interna do governo a que pertence. Aquela parte do discurso foi "pela negativa" (acho estas classificações uma treta, mas têm uso corrente porque são enganadoramente simples...).

E depois, o mais grave: convinha que alguém no PP, que saiba alguma coisa sobre imigração e emprego, dissesse ao dr. Portas que em Portugal, em 2003, essa correlação não tem qualquer sentido. Os trabalhadores da Marinha Grande ou as operárias da Clark's não vão trabalhar para a construção civil ou como empregadas domésticas. Os ucranianos e as cabo-verdianas, os moldavos e as são-tomenses não competem com os portugueses e as portuguesas nos empregos que têm, a não ser residualmente. Mas a catilinária contra a imigração do dr. Portas nada tem a ver com o emprego. Tem a ver com um Portugal limpo de imigrantes, e por isso acaba por resultar num discurso contra os imigrantes, tão pouco português que carece de sentido. É copiado da vulgata de Le Pen, do pior que há , e escolhido, não porque constitua qualquer preocupação dos portugueses, mesmo dos da direita, mas apenas porque o dr. Portas não pode falar de quase coisa nenhuma e ele não quer ficar calado."


Provavelmente, Pacheco Pereira vai arrepender-se, um dia destes, deste naco saboroso de prosa. E vai jubilar uma merda qualquer que o Portas faça. É natural, eu entendo estas idiossincrasias. Mas, hoje por hoje, esta croniqueta do "pensativo barbas" é certeira como o arco de Guilherme Tell, apontado à maçã-de-adão do rapazinho vaidosão que, um dia, quis ser estadista quando a sua chinelita lhe pedia, apenas, as tradicionais e compreensíveis aleivosias jornalísticas de mancebo em ânsias de glorificação.

Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira

Caramba, morreu o Damas. Um grande foda-se para a morte em geral, para a morte do Damas em particular.
"Grande defesa de Damas!", ouvi isto tantas vezes, no rádio de pilhas, puto que eu era!
O Damas era um sonho de menino, que defendia bolas impossíveis numa altura em que os impossíveis ainda eram acessíveis, até para mim, um caixa-de-óculos a começar a adolescer.
Depois cresci e aprendi que os homens são todos pequenos perante a inevitabilidade do seu destino. E que só se perpetuam na memória de quem, antes de morrer também, os relembra.

Eu hei-de ser sempre um leal, incondicional e anónimo admirador do Damas. Caramba. Morreu tão cedo. Tão cedo que eu assisti.

14.9.03

Heróis

O homem a dias acha que hoje em dia há um estranho pudor em reconhecer heróis. Avanço, sem, comentários, a parte em que ele demonstra depois que, iluminadamente, é afinal um despudorado porque teve dezenas de heróis, para de seguida dissertar sobre o Johnny Nash, que morreu esta semana. A mim só me parece o seguinte: o homem a dias não precisaria de ganhar brilho ofuscando os demais, através do tal "estranho pudor" que, ao que lhe parece, mina todos os outros. E mais isto: quem tem verdadeiros heróis tem, curiosamente, pudor em revelá-los. Há coisas que se guardam para dentro, porque só existem plenamente se sentidas, mais do que ditas. Em alguns casos, nem existem palavras para as pronunciar.

13.9.03

Forza "Intália"!

Grande alegria entre os italianos, porque o piloto italiano Xumi fez pole-position!
Aqui, no belogue caliente, reiteramos a nossa posiçõa oficial de apoio aos pilotos latinos, encabeçados pelo carismático Juan Pablo Montoya e pelo imberbe e "peoneiro" Fernando (belo nome!) Alonso. Uma palavra de apreço para o ex-futuro piloto de testes da Williams, Gene, outro hispânico, e para o inefável Burrinho Barrichello, cujo único defeito (visível) é insistir em sentar o cu nas arrastadeiras encarnadas.

Um beloguista da concorrência já me confidenciou que "amanhã o Montoya papa-o no arranque!". Registei, para futuras conversetas, este dislate da concorrência.

Gosto do Douro, pronto!

Desculpem-me o neologismo sintáctico mas há coisas que, em nós, são assim mesmo, pronto!
E o Douro é daquelas coisas de que só se pode gostar. E pronto!
E quem assim gosta do Douro, daquele Douro de que os durienses gostam, só pode gemer seiva de raiva, como gemem as videiras depois da poda aguentando as geadas do Inverno, ao ver uma cáfila de ministros, secretários de Estado e deputados da Nação decidir a seu bel-prazer como irão condenar uma Região a viver à custa do beija-mão aos poderosos que por cá passam uns fins-de-semana metidos nas quintas sem saber com quantos vergar de costas se faz uma enxertia ou uma poda, com quantos cestos às costas se faz uma vindima ou com quantos levantar de joelhos até aos queixos se faz uma lagarada!
E não me venham dizer que isto é a Democracia, que é assim porque os senhores foram legitimamente escolhidos pelo povo. Não pode ser! E pronto!
O senhor que mora no Palácio de S. Bento disse por três vezes na frente deste que aqui escreve que, a ser eleito, só se não pudesse é que não compensaria a Casa do Douro pelos serviços prestados ao Estado. Vai-se a ver, à laia de compensação, pregou-lhe tamanha coça legislativa, acolitado pelo ministro Arnaut, pelo secretário de Estado Bianchi de Aguiar e seu chefe de gabinete Jorge Dias que o Antão de Carvalho há-de pensar lá, no seu repouso, para que andou às turras com o Estado Novo para criar uma Democracia vitivinícola num oásis de ditadura.
O que aqui descrevi, nem seria tão mau se não houvesse mais uns quantos protagonistas parolos, dirigentes das Associações da Região, supostamente defensores dos interesses dos viticultores e que, aos costumes, dizem muito mas, também aos costumes, significam nada. E nada significam, porque andam distraídos a engrossar as suas fortunas à custa das Associações, a passear pelo mundo à custa das Associações, a sustentar os alternes à custa das Associações, enfim, a chular o desgraçado do lavrador que vende por 20 o que vale 100!
Pelos vistos, o Douro tem muitos umbigos, e anda tudo distraído do resto a contemplar o seu umbigo...(o Jovanotti até poderia dizer que cada um tem na sua barriga "l'Ombelico del mondo").
E depois não me venham dizer que isto é a Democracia!
Não, isto é apenas e tão-sómente a força do dinheiro e a fraca força de quem a ele se vende!
E só mando cá para fora o que me rói a alma porque gosto do Douro.
E pronto!

Anacronias

Ouvi hoje na TSF o José Luis Arnaut a exortar a selecção nacional para ganhar o Euro 2004. Que os portugueses estão a fazer um enorme esforço e que como contribuintes esperam que a selecção não os desiluda. E que espera que desportivamente falando - e repetiu, desportivamente falando - a selecção esteja à altura das expectativas.

Eu já ouvi isto em qualquer lado, e eu ainda nem era nascida...

Também espreitei...

Acabo de assistir a um pequeno episódio da novela da vida real. Foi assim:

Fernando chora porque foi nomeado. Promete vingança.
Raquel diz que também é vingativa e que corre até ao fim do mundo atrás de quem lhe fizer mal.
Fernando repete o que disse. Vejam acima.
Raquel também repete o que disse. Idem.
Fernando beija Raquel na cara e diz que queria beijá-la na boca mas que sinceramente não pode.
Raquel comenta com os outros que o Fernando a beijou na cara e que queria beijá-la na boca.
Um outro rapaz de que não fixei o nome afirma que um beijo na boca não tem mal nenhum, a não ser que meta língua.
Raquel diz que, se Fernando tenta outra vez, leva uma lostra.
Fernando torna a prometer vingança a quem o nomeou. Um outro rapaz diz que não tem moralidade (?) para o criticar.
Raquel, toda enrolada em cima do Fernando, adverte-o com firmeza que não quer que ele a beije.
Vai o Fernando e diz que ela tem uns olhos que tiram um gajo do sério.

Não sei se, depois, houve beijo, e se meteu língua ou não. Bolas, o que eu ando a perder. :D

12.9.03

Um dia igual aos outros

Manhã de consultas, atribulada, a começar pelo idoso com uma LLC-B, perfeitamente demenciado, que cantava o "Bacalhau quer alho” na sala de espera. Os outros “clientes externos” (é assim que se chamam os doentes, agora) estavam divididos, quando cheguei, entre dois gritos de guerra: "Calem este tipo, que já não há pachorra!" e "Coitadinho do velho, que é chalupa!". Eu demiti-me de participar na manifestação e fui vestir a bata de “cliente interno”. Exactamente. É o que eu, agora, sou.

A coisa lá foi correndo, consulta após consulta. Um dos doentes ( vou manter a nomenclatura reaccionária) que estava mais farto de aturar o velho desatou a protestar "que eu estou aqui para ser consultado, e quero já!" o que me fez pensar em emprestar-lhe a bata e pôr-me a milhas bradando "o senhor desculpe, mas eu não quero consultá-lo para merda nenhuma, percebe? O senhor é que quer consultar-me a mim! Alguém o chamou, seu barulhento malcriado da trampa?". Isto às vezes, se for repetitivo, irrita, asseguro-vos.
Mas globalmente correu bem. Com um reparo: evidentemente, apupos para a inovação tecnológica do receituário informatizado, que faz com que um “cliente interno” (lá vou eu outra vez, sossega, besugo!) demore pelo menos cinco minutos a passar umas caixas de pílulas, isto se o sistema não bloquear. Bloqueia todos os dias, aliás, e os técnicos dizem-me para ter paciência e esperar, enquanto eles resolvem. Eu tenho muita paciência, lá espero sempre. E eles resolvem, para mal dos meus pecados, impedindo a SA de decidir que à mão (algum problema?) também é bom!

No fim da manhã decidi ir ao Quartel General da SA. Um impulso repentino.
Fiquei a saber, no caminho para o Quartel General, por um “sigurança” (eles dizem assim) que está na SA há 3 dias, que o facto de ele ser novo no local e não me conhecer... é problema meu. Eu devia ter um cartão identificativo, disse-me o jovem, com ar empresarial. Reconheci o meu erro, mas tentei alertá-lo para uma evidência que me pareceu oportuna: de facto, eu até já tirara as fotografias para o dito cartão, mas acontecia que ele ainda me não fora entregue, para o poder usar em evidências de lapela... Não me pareceu que ficasse sensibilizado com o facto, não sei se por lhe parecer irrelevante, se por não acreditar em mim. Eu tenho um ar levemente turco, convém referir, e só faço a barba de 3 em 3 dias, por uma questão de economia (de mercado, claro, sosseguem lá esses órgãos administrativos!).

Fiz o que tinha a fazer na SA (ou seja, esperei que o reverendíssimo gestor acabasse de escrever, em 7 papéis diferentes, umas assinaturas rabiscadas, para lhe dizer o que penso do facto de reformularem o meu programa de ambulatório sem me dar cavaco) e regressei ao meu posto de trabalho, pensativo com a resposta do excelente senhor: "que nem sabia como aquilo tinha acontecido, que era uma das questões que Ele estava ali para resolver, e que contasse com Ele, compreensivo líder, para tal desiderato". Evitei dizer-lhe que, por acaso, tinha sido ele, com minúscula cada vez menor, a introduzir a alteração, porque a expressão do seu olhar me remeteu aos tempos do Blade Runner. E safei-me a tempo.

De regresso ao estaminé , era hora de passar visita aos internados. Ala para a Cirurgia, que é onde os interno. Estavam todos bem, sobretudo um personagem sujeito às bolandas da quimioterapia, que insistiu em discutir os atentados contra Israel, entre vómitos. Dantesco. Expressou a opinião de que o assassinato da ministra sueca devia ter "causas sexuais, a gaja devia andar numa vida!", e a seguir vomitou outra vez, uma coisa amarela, indescritível. Eu admiti a opinião dele, e até lhe disse que pensava tal e qual, "estas tipas andam metidas em alhadas e depois queixam-se".

Saí dali mais confortado. No fundo, estas suecas são frescas, são. Climas...

Bom, a manhã passou-se nesta actividade altamente lúdica. Interrompi a labuta e fui ter com uma... Que se passa aqui? Não é nada disto! E não sou de rimas , muito menos lúbricas! Fui almoçar! Pedi, no bar da SA, uma sandes de leitão, com molho. Só para ver outra vez a Márcia, a que julga que parece a Heidi, a rebolar-se e a dizer, com olhos de choco plácido e mortiço, que “o senhor acha que estamos na Mealhada?”. E lá veio o bitoque, com batatas fritas daquelas pré-fabricadas, que sabem a nabo cozido. Evidentemente. Previsível pessoa, previsível refeição.

À tarde, fiz relatórios. Ultrapassei largamente o meu horário de trabalho e acabei por me irritar com isso. Liguei para a administração, porque queria dizer isso mesmo ao BigBrother de serviço, mas atendeu-me uma rapariga simpática que me disse que “ o senhor doutor está numa reunião, mas se quiser deixar recado...”. Deixei. Disse-lhe que reiterasse ao Excelso os meus mais veementes protestos de consideração. E que era só mesmo isso, pelo amor de Deus. Que não se incomodasse!

Abandonei as instalações da SA cabisbaixo. Ainda estava calor, e eu gosto de calor. Tinha o carro estacionado debaixo duma tília, à sombra. Entrei, arranquei e pus música tranquila. “Emboscadas”, conhecem?

Caramba. 11 de Setembro e ninguém me lembrou que dia era.

11.9.03

Curiosidades da vida animal

Sou muitas vezes procurada pela polícia. Pois. Em geral, porque estaciono onde dá mais jeito e, com menos frequência, porque conduzo depressa. Como todos os delinquentes por habituação, tento sempre fugir antes que o polícia consiga chegar ao meu carro ou, se já for tarde, tento sensibilizá-los para a minha causa de cidadã apressada e de vítima da urbanização desordenada das cidades. E que não gosta de andar muito a pé desde o lugar onde estaciono o carro até ao local do destino. E, então, mandam-me embora com uma paternal admoestação, que eu guardo com carinho e que acato com convicção, até à próxima vez que me acho na contingência de estacionar o carro em local proibido...

Mas hoje foi diferente. Quando cheguei ao carro já o papelito da PSP estava no vidro. O agente da autoridade era um homem maciço, enorme, com olhinhos bovinos e assustados a espreitar detrás das pálpebras inchadas. Bolas, o homem era gordo até nas pálpebras. E eu devia tê-lo medido melhor, porque os olhares assustados quase nunca auguram nada de bom. Mas não. Preparava-me eu para lhe suplicar, com um ar submisso, que me tirasse a multa tendo em conta a tal evidência de que eu sou mais vítima do que transgressora, quando sou surpreendida com uma expressão de dor profunda a que se seguiu um grito de angústia: "Oh, mas porque é que não veio o reboque, que era o que você merecia?...". Fiquei uns segundos calada, nem sei se de surpresa ou se esperando não perturbar o seguimento da comédia. E ele antecipou-se outra vez: "É que nem sequer quero ouvi-la a pedir-me para lhe tirar a multa!...". Aquele homem carregava consigo as dores do mundo. E o mundo sofre, efectivamente, quando alguém estaciona em cima do passeio. E eu nem sequer pude abrir a boca para perdir perdão...

Portanto: desisti e aceitei, sem discutir, a minha punição. Vencida por um fundamentalista. O José António Lima é que a sabe toda...

10.9.03

Dá-me música...

Diz aqui o enevoado José António Lima o seguinte:
Se os nossos amigos anti-americanos não percebem isto -- e continuam a insistir no maniqueí­smo, geográfico ou ideológico, anti-EUA -- é porque não percebem nada. O que motiva o terrorismo fundamentalista -- nas torres gémeas de Nova Iorque, em Bali, em Marrocos, em Jerusalém ou em Bagdade -- é o ódio aos valores, ditos ocidentais, da liberdade e da democracia. E o que o assusta é a progressão, nos seus últimos redutos, desses valores, a transição para governos democráticos e representativos, o respeito pelas minorias e pelos direitos humanos, a construção da paz, da segurança e do entendimento entre os povos.

Só pode ter sido pago para dizer isto. É que é tão primário que até a ele fica mal.

Benvindo, Stkaneko

O blogame mucho ficou enriquecido a partir de hoje com um escrevinhador inspirado. Foi ele, também, que construiu o blog todo e que me ensinou a pôr lá em baixo o Ernesto. Além disso, é muito bom rapaz, acreditem. E, ao que vejo, escreve muito; mas tem a quem sair...
Benvindo, Stkaneko. :)

Aproxima-se mais um ano lectivo e como todos os anos, este promete ser algo atribulado. As aulas vão começar e em algumas escolas há problemas que continuam sem resolução. Um destes problemas afecta uma escola pequena onde, de há seis anos até à data, são pedidas obras de restauro ou mesmo a colocação de um novo piso no pavilhão desportivo.
Perguntar-me-á quem agora lê isto: mas afinal que tem de mal o piso do pavilhão desportivo? Eu respondo: coisas sem importância no entender dos responsáveis pelas diversas vistorias efectuadas ao mesmo. E as coisas sem importância são somente pregos à superfície e que sobem quando se caminha pelas tábuas do pavilhão, tábuas desniveladas desde que foi efectuada a obra e buracos que vão aparecendo devido a pedaços de madeira que saltam durante as aulas.
Acreditam no que vos digo? Bom, para que vejam que o que digo é verdade decidi colocar aqui algumas fotografias... sim, fotografias das coisas sem importância segundo os entendidos.


Ofícios, fotografias e filmagens... Tudo foi enviado como fundamentação pelos Conselhos Directivos, na altura deles, e pelos Conselhos Executivos, actualmente, para a Direcção Regional de Educação bem como a informação de que enquanto não fossem efectuadas as respectivas obras não seriam leccionadas aulas de Educação Física lá dentro. A resposta foi sempre a mesma, chegando inclusive a ser dito, pelos que se intitulavam entendidos na matéria, que os professores de Educação Física é que não queriam trabalhar. Mas nada de mais errado poderia ser dito. Para que saiba quem me lê, durante estes períodos em que não se utilizou o pavilhão desportivo as aulas continuaram a ser dadas no espaço exterior, por vezes com ligeiros chuviscos, e quando a chuva era demasiada lá estavam os alunos fechados dentro de quatro paredes e algumas janelas (com alguns baldes à mistura para apanhar as pingas da chuva...) a "aturar" o professor de Educação Física que desbobinava matéria. Matéria essa que mais facilmente é transmitida e assimilada pelos alunos nas aulas práticas.
De cada exposição efectuada para a Direcção Regional de Educação vinha quase sempre a mesma resposta: o pavilhão desportivo está em boas condições para a prática de actividades físicas pelo que os docentes podem começar a leccionar dentro do mesmo. O que é certo é que por muito cuidado que se tenha, e por muitas chamadas de atenção aos alunos, todos os anos acontece a mesma coisa: alunos que se aleijavam devido a estes perigos no piso ou que danificam seriamente o seu equipamento.
Mas o pesadelo está com os meses contados (esperemos que não sejam mais anos...). Finalmente foi dada razão aos pedidos da escola e o piso novo vai ser colocado durante este ano lectivo.
Seis anos passaram... seis longos anos! Anos de grande perigo para os alunos e de permanente sobressalto para os docentes que trabalharam neste pavilhão.

As ilhas do canto

Fernando Tordo escreveu alguns dos seus mais belos poemas e, seguramente, as suas melhores músicas, enquanto esteve desterrado nos Açores. Mais concretamente no Faial, partilhando as sopas de José Decq Mota, destacada figura do PCP regional e, não menos importante que isso, filho dum médico que tratou, a bordo do seu iate ao largo da marina da Horta, o próprio Jacques Brel. Julgo que foi assim que se passaram as coisas.
A Horta e os Açores foram o refúgio temporário do orgulhoso e mimado Tordo, homem talentoso e encurralado cedo pelos estigmas de ter nascido livre e ter percebido que não lhe reconheciam o talento que tinha. E tem.
Há algumas canções dessa altura que são pouco conhecidas, e o próprio cantor-compositor, por motivos que ele saberá, não as divulga como poderia. Os arranjos foram feitos pelo próprio ex-pianista de Brel.
Eu não o conheço, ao Fernando Tordo, nem ele a mim; e Decq Mota é apenas uma figura civilizada e inteligentemente activa que me habituei a ver pelas ilhas, quando lá me desterrei por motivos menos nobres, mas perfeitamente aceitáveis. O trabalho, o vil trabalho.
As ilhas que conheço, ouvi-as. Enquanto as via nas cantigas do Tordo.
Tordo, o mal amado cantor "da dicção demasiado perfeita", inconsequente mas franco nas suas crenças e amarguras, é uma figura respeitável da nossa cultura. Só será, reconhecidamente, um talento marcante, quando a sua vida excessiva o levar de nós, para onde nos levam sempre as nossas vidas.
Se alguém se lembrar que eu disse isto, nessa altura, será suficiente para mim. Mas atenção, para ele não. Ele nunca perdoará que não o tenham ouvido, nas alturas em que o mereceu e nas alturas em que se limitou a ser, como lhe atiraram à cara, "o menino Fernando".

9.9.03

As mãos de Deus

O jovem Postiga, jogador do Tottenham Hotspur, "engaldrapou" a loira Albion ao mais belo estilo "maradoniano". Enfiou uma bola nas redes britânicas com a sua pérfida mão esquerda (acho que foi essa...) como se uma perfídia (a da loira) justificasse a outra. Se calhar até justifica. Não discuto estes acidentes.
Quero ver o que Postiga vai dizer quando lhe perguntarem "então você não meteu aquele golo com a mão?". Espero que tenha a presença de espírito (e o restinho de respeito por si e por nós) para admitir que sim, que sentiu que a bola lhe bateu na mão, mas que foi sem querer. Que não se ponha com alegorias ( e justificações) bacocas. Que o aconselhem nesse sentido, se ele não for capaz. O golo foi com a mão, valeu porque o árbitro não viu, mas vai ver... Como todos já vimos. E quanto mais não seja para não ser ridiculo, Postiga vai ser suficientemente inteligente para dizer "sim, bateu-me na mão, mas foi sem querer". E porque se espera que seja, também, além de esperto, honesto, não acrescentará nada de imbecil que ajunte perfídia ao que já se viu que é pérfido: o golo não devia valer. Ponto final. Coitada da Albion, loira esforçada: lixa-se sempre contra latinos!
Se fiquei contente com a vitória de Portugal? Fiquei. Se, no entanto, me pareceu justa? Não.

Recursos

O Bastonário da Ordem dos Advogados reuniu-se hoje com os advogados de desfesa do caso "Casa Pia". Antes de mais, acho que deviam arranjar outra designação para o caso, dada a evidente e desconfortável catatonia. Falar no caso "Ballet Rose" ou no caso "Rosenberg" é muito mais elegante. Além de que Casa Pia (mudem-lhe o nome a esta, em alternativa...) faz lembrar o nome de um tasco. Se não fosse de mau gosto, sugeria até que acrescentem "Vinhos e Petiscos" à frente. Bom, pior seria se lhe chamassem Casa de Pasto... OK, eu páro.

Voltando ao assunto: o Público diz que quem pediu a reunião foram os advogados de defesa. Repare-se, esta reunião coincide temporalmente com a data em que foi indeferido o recurso acerca da novela da distribuição de um outro recurso, o da suspeição do Rui. O que pretendem com a reunião? Colher o apoio do Júdice para o recurso do recurso do inferimento do recurso de forma a que este recorra ao PR? Ou, caso o Júdice não se atravesse, recorrer do recurso que indeferiu o recurso em que se recorreu do indeferimento do recurso da suspeição do Rui? Olhem, já estou tonta.

8.9.03

"Fumar pode provocar morte lenta e dolorosa"

Acaba de se abrir um novo nicho de mercado para os contrabandistas de Camel com letrinhas pequeninas em todo o maço: eu.

Espreitadelas

Hoje espreitei o programa do BigBrother. Não consigo evitar, ainda mais aquilo é mesmo para isso: "espreitem, espreitem..."
Bom. Espreitei e, obviamente, não percebi nada. Recolhi dados para espreitadelas futuras.
Vi lá um rapaz de elevada estatura que me pareceu um chorãozinho de segunda categoria. Um outro, mais baixo, dotado duma penca grega, aparenta ser, esse sim, um chorão de primeira: lamuriou-se constantemente não sei bem de quê. Há lá um ser vivo que parece que corta o cabelo com uma tesoura da poda; e um madeirense castiço que se limitou a enfiar-se na cama com duas marmanjas, mas aparentemente sem grande sobressalto. Paira ali, também, um rapazinho que me pareceu ser o preferido das garanhonas, mas tem a voz um bocado fininha e já começou a pedir desculpas à namorada. Ou seja, um imbecil chapado.
Quanto às participantes, fixei uma loira que parece ter uma tendência esotérica para deitar cartas (acho que tem sempre de haver uma) e para receber massagens. E depois há 3 ou 4 quase iguais, e mais uma com a bunda maior. Ainda não vi tudo, mas parece-me que são desbundáveis e frescas, embora um tudo-nada "canhõezinhos".
Enfim, nada de surpreendente. Evidentemente que se, na próxima espreitadela, me parecer que fui precipitado, eu penitencio-me.
Entretanto, estão proibidos de criticar o número de vezes que eu escrevi aqui palavras derivadas do verbo "parecer", porque a mim parece-me que assim também não fica mal de todo. E bem me basta ter de editar isto tudo, que eu já sei como é!

Disfuncinhas

Ó cidadão livre: o que tens tu contra as "disfunções sociais"? Pensa lá se a evolução histórica não é feita de "disfunções sociais", às quais lhes sucedem "desdisfunções sociais". Sem que o Marx seja, sequer, para aqui chamado. Não?

E os mobs nem chegam a ser disfunções de coisa nenhuma. A mim parecem-me mais manifestações de carneirismo iguais, nos sintomas, às razões que levam as pessoas a não perder os directos do Bigbrêda. E isto tudo é genial: controla-se muito mais facilmente uma população sub-cultivada do que uma população analfabeta.

A importância de se chamar Ernesto

Deixo-vos aqui a foto do Che, de quem me lembro muitas vezes. Isto não é um manifesto ideológico, OK? Mas olhem para a foto e reparem no olhar dele. O Che é inesquecível e a verdade é que é invariavelmente à esquerda que estão os gajos inesquecíveis. Ora, isto há-de ter, seguramente, um significado histórico-político. Ou outro qualquer. Tenho de pensar melhor nisto.

Mas porque é que já nem os guerrilheiros são assim?


7.9.03

Aqui vai:

Tenho ido regularmente visitar o blog do JPP. Não passa de uma redundância pobre afirmar que o JPP é inteligente. Escreve com uma densidade de raciocí­nio notável. É profunda e genuinamente culto, o que é uma condição básica e permanente em todos os que têm bom gosto. E eu gosto do bom gosto, contrariamente à Calcanhoto, que lhe dá um sentido diferente do que eu dou, parece-me.

Faltam-lhe, porém, duas coisas, sendo uma sucedânea da outra. A primeira é ter sentido de humor. O prazer de troçar de si próprio e dos outros torna os textos, além de conceptualmente legíveis, saborosos e sedutores. E falta-lhe, porque uma coisa depende da outra (embora eu não tenha decidido ainda qual é que depende de qual), humildade. E a humildade é, evidentemente, uma qualidade intrínseca aos que têm alguma coisa para ensinar mas que sabem que ainda têm muito para aprender. Provavelmente, o JPP ainda não sabe que é sábio ou, então, pensa que ainda não tem nada para ensinar. Conheço mais pessoas assim, umas pelas melhores razões, outras pelas piores.

Ainda volto ao assunto. É que tenho ido visitar outros blogs e já tive boas surpresas.

6.9.03

Portugal - Espanha e assim

Scolari disse que jogámos mal e que, por isso, não estranhou a reacção do público presente no estádio vimaranense. Refiro-me ao jogo de futebol entre Portugal e a Espanha, que teve lugar esta noite. É bom dizer isto, porque há pessoas esquisitas que não ligam ao futebol (o passo seguinte deve ser dizerem que não ligam, não pegam... não arrancam; questão de ignição).

Bom. Que jogámos mal, a gente viu. Que o resultado esteve de acordo com a prestação de ambas as equipas, nem se fala mais nisso. Agora a reacção do público, tenham paciência. Vaiar os nossos? Assobiar? Dar "olés" premiando as jogadas do adversário? Desculpem lá, ficavam em casa e mudavam de canal, viam um filme e depois iam a um blog qualquer fingir de entendidos das artes que os fascinam, mas que apenas observam. No futebol (como na vida a sério) é preciso ter mais cuidado, mais cautela.

Qualquer dia, a nossa mãe dá-nos um estalo nas fuças, mesmo que imerecido. Acto contínuo, um atirador furtivo, daqueles que agora andam aí a soldo da demência, dá-lhe um tiro na testa, certeiro. Enquanto ela agoniza, a nossa mãe, a gente grita "que é bem feito"?! E aplaude o bacorito que a matou, escondidinho no matagal da sua cobardia?
A má prestação da mãe justifica o enxovalho?
Não. A morte muito menos, mas eu só exagerei esta "estorinha"por dois motivos: isto é só futebol, está bem, mas os atiradores furtivos metem sempre mais nojo que um estádio inteiro a ser cobarde e vil. Nem as suas próprias mães gostariam deles, dos "desperados da penumbra", se os pudessem ver assim, camuflados de traidores e em postura vermiforme, enrolados no seu visco pestilento.
Saber perder é muito bonito, traduz decência e justifica respeito. Perder com despeito merece punição e desprezo.

Refiro-me, evidentemente, ao público de Guimarães, que devia levar, em conjunto, dois estalos na cara dados por qualquer mãe de respeito. E onde se lê mãe, aqui apenas, que se leia mão, a ver se eu me importo.

O atirador furtivo é apenas um apêndice triste desta história. Há-de haver sempre tipos destes, até vos dou um exemplo de í­ndole cientí­fico-fecal: qualquer intestino tem um apêndice, enquanto não é excisado com ciência, calma e sabedoria por mão (aqui é mão, mesmo) experiente que se cansa dele e decide lançá-lo ao balde dos dejectos. E qualquer médico sabe onde fica o apêndice. Algures em Guimarães, claro, então não é disso que estamos aqui a falar??
:)

E viva Scolari.

4.9.03

Com título e com sentido

Acredito na garra, no querer muito as coisas que se querem, no lutar até à exaustão (ou à impotência) em nome desse querer. Se bem entendi, a lolita é uma uruguaia sportinguista que prefere o Peñarol apenas por questões geográficas. E analógicas.
Merece-me respeito.
Podem até apagar o "substantivo/complemento directo" da frase anterior, por mim. Por ela não sei.

3.9.03

Sem título e se calhar sem sentido nenhum...

Há ocasiões em que as maleitas e as adversidades que nos ensombram a vida nos permitem extrair algumas boas e reconfortantes conclusões. E, o que é curioso, sem que se tenha de fazer qualquer esforço para seguir aquele velho conselho redundante e bacoco segundo o qual "até dos males se retira sempre algo de bom". Até porque isto, mesmo sendo verdade, não é mais do que um prémio de consolação mais apropriado para conformistas do que para pessoas que aguentam com os males que lhes vêem com a mesma força com que agarram, com unhas e dentes, as coisas boas que lhes aparecem. E que, depois, as seguram com a mesma garra, para que elas não lhes faltem.

Era só isto. :)

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