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30.9.03

Massas

É irrecusável a ideia de que Portugal é, hoje, um paí­s empobrecido quer na indústria, quer na agricultura e que a economia portuguesa se sustenta (como pode, enfim), nos serviços. Apesar disso, os empresários portugueses (burgueses, na perspectiva mais socialista tão in, ou motores da economia na visão mais liberal ou centro-direita) não acordaram ainda para a necessidade de apostarem no único recurso que - embora duvidosamente - possuem face ao triunfo neuronal, que se adivinha, da europa de leste nas próximas décadas: a massa cinzenta, também celebrizada como little grey cells pelo Hercule Poirot.

Enquanto as empresas portuguesas se distraiem nos seus compadrios, pequenas corrupções e negócios escuros de pilha-galinhas, essa tal massa cinzenta desperdiça-se em subprodutividade, num marasmo onde sobressaem os medíocres bem encostados e se desmotivam os menos medí­ocres a colaborar para além daquilo que constitui o limiar mínimo da sua prestação. Ou seja: por umas ou outras razões, todos se limitam a ganhar o seu com o mí­nimo esforço e com a aparência do dever cumprido. É, aliás, este modelo de sobrevivência organizacional que os sistemas de qualidade estimulam, com os seus entediantes check-lists de verificação de conformidades e com a abundância de papéis inúteis que, depois, se congregam em mapas obscuros onde supostamente se demonstra a inequívoca optimização dos recursos.

O mais engraçado de tudo isto é que, num momento em que o Estado se prepara para "empresariar" a gestão, as empresas parecem-se cada vez mais com a pesada, inoperante e obscurantista administração pública. Nacionalizem-se as empresas e privatize-se o Estado. Isto anda tudo ligado...

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