Invisível
Saiu para a rua, sem destino. Sentia-se perdido, apertado no meio de pressões que, justas ou injustas, necessárias ou dispensáveis, o apertavam e lhe doíam. Não queria ser frio, mas mostrava frieza. A vida rodava à sua volta, incontornável, e ele tinha de participar nela, mas não conseguia, nem sequer queria. E, então, sentia a censura, a sua própria censura e a dos outros, a sua própria impaciência com os outros. E os outros, que não o ouviam, porque estvam dentro da vida. Ele cá fora, obrigado a participar, mas sentindo-se irremediavelmente fora. E pedia socorro, tantas vezes, mas tão baixinho que ninguém ouvia. Tremia por dentro e pensava, pela primeira vez na vida, que o dia seguinte não ia ser melhor. E nem os pequenos prazeres que até então o acalmavam lhe iam dar alguma paz, nem que fosse instantânea. Não enlouqueceu, porém, como chegou a imaginar. Tornou-se, apenas, infinitamente triste. E a vida, essa, jorrava à sua frente, impiedosa e inatingível.
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