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25.9.03

Sousa Tavares

O multifacetado Sousa Tavares, cada vez mais parecido com o Nuno Rogeiro em termos de polivalência e jactância socio-politico-desportiva, escreveu n' "A Bola" o seguinte:

"...Em Moreira de Cónegos o Silva foi agarrado e depois largado: já tinha sido largado quando achou melhor atirar-se para o chão. De facto, repito, houve penalty, mas ele teria caído do céu, porque jamais o Silva, como habitualmente, aliás, conseguiria chegar àquela bola em condições de criar perigo.
Depois, houve o contra-ataque do Moreirense, que começa numa falta do Lino sobre o Polga à saída da sua área. Dessa falta não assinalada haveria de resultar o golo do Moreirense — 30 segundos e 50 metros mais à frente. É incontestável que, se o árbitro tem assinalado a falta, não haveria golo. Mas, para se afirmar peremptoriamente o contrário, isto é, que só houve golo porque não foi marcada a falta, é preciso passar por cima de quatro momentos decisivos: a fuga de Lino pelo corredor; a forma como soube evitar dois defesas contrários que lhe saíram ao caminho e centrar quase perfeito para a entrada da área; o falhanço de um central sportinguista na intercepção do cruzamento, permitindo que nas suas costas aparecesse o Manuel; a saída extemporânea do Ricardo, permitindo finalmente a conclusão: o chapéu do avançado do Moreirense. O desfecho de um jogo de futebol raramente se pode explicar apenas pelos erros do árbitro. (...)".


No primeiro parágrafo desta parte da sua crónica, Tavares defende de forma desassombrada que os penalties devem ser assinalados de acordo com critérios de "comportamento habitual da vítima". Ou seja, uma falta sobre um jogador habilidoso e certeiro é mais penalty do que se a mesma falta for cometida sobre um qualquer Silva a que Tavares não reconheça talento. Este último, mesmo que agarrado, "que não caísse".

A seguir, desenrola-se em considerações arrepiantes, carregadas da mesma lógica, sobre a bondade de golos obtidos através de jogadas precedidas de falta grosseira. Ele bem viu que houve falta do tal Lino (não seria Lito?), mas a sua cavalgada ulterior (do Lino?) e o seu desfecho concretizador provocam no cronista tal entusiasmo que é quase como se planeasse dizer, num dia em que viesse a propósito: "caramba, assaltaram-me a casa, mas com tanta mestria que gostaria de felicitar o assaltante e dar-lhe alvíssaras!"

E eu acho que um dia lhe hão-de assaltar a casa (as Antas) e ele nem se vai lembrar do que agora escreveu. E mesmo que se lembre, a coerência é um valor cada vez menos apreciado. Por que raio haveria Sousa Tavares de se preocupar mais com a sua coerência futebolística (sim, que isto é só futebol) do que outros "cronistas do poder", cuja obra careceria de coerência mais fundamental?

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