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21.9.03

Mentir é feio, mas não exageremos

Ainda o Mata-Mouros. Estive a ler a os vários postes (julgo que são cinco) sobre a homossexualidade nos políticos e admito que se trata de reflexões sérias e cautelosas. Mas, e independentemente de ser minha convicção de que devem ser muito estreitos os limites para a divulgação pública de qualquer aspecto da vida pessoal de cada um, seja quem for, mesmo político (e não me venham falar em transparência, que isto não tem nada a ver com isso), o que me faz confusão é o equí­voco de que parte o Mata-Mouros quanto à questão da homossexualidade. A menos que o Mata-Mouros esteja mais bem informado do que eu, que se saiba não há prova concludente de algum político português ter mentido sobre a sua orientação sexual. A outra hipótese será a de que o Mata-Mouros desconfie que alguém tenha mentido, quando, na verdade, se terá limitado, nessa hipótese, a omitir, penso eu. O que é bem diferente e justificável, atenta a irrelevância pública da orientação sexual dos políticos, do ponto de vista da sua competência, digamos, profissional.

Esta questão só tem sentido (se tiver), evidentemente, no plano dos princí­pios e de forma instrumental (porque não acredito que o Mata-Mouros acredite que a homossexualidade nos políticos, só por si, seja tema para tanto discurso) relativamente às possíveis mentiras que nos andam a pregar. Primeiro, porque todos sabemos adivinhar o suicí­dio político que representaria uma confissão dessas por (por exemplo...) um dos nossos ministros. Depois, porque me causa desconforto a radical censura moral da mentira que leio no Mata-Mouros. Se forem assim com tudo, devem ter poucos amigos...

Se algum político mentiu (melhor: omitiu) quanto à sua orientação sexual, fê-lo por pudor ou por conveniência. O que é criticável, mas assim como isso não faz de alguém um bom polí­tico também não me parece que o diminui assim tanto como querem.

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