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20.9.03

As academias, o papel e a praxe

Li, aqui, isto:

ESTUDANTES DE COIMBRA E PAPEL HIGIÉNICO

Fardados de estudantes, meia dúzia de dirigentes académicos de Coimbra foram entregar uma pilha de papel higiénico, equivalente ao valor das propinas que recusam pagar, em frente ao Ministério do Ensino Superior. É um bom retrato de como está a Universidade de Coimbra – os estudantes revêem-se elegantemente no papel higiénico como metáfora. Não lhes passa pela cabeça levar uma pilha de livros e dizer “estes são os livros que não posso comprar”. Mas não. Eles acham que são irreverentes e engraçadinhos sendo ordinários, e esquecem-se que, no que deixam, se retratam a si próprios.

Para além disso, o tamanho da pilha mostra o valor ridículo do que teriam que pagar.



Gostei, e apeteceu-me reescrever isto, por me ter lembrado:

A mim disseram-me, uma vez, “vou-te praxar!”. E aquilo caiu-me tão mal que ainda me doem os nós dos dedos. Mas admito que pode haver quem ache giro e eivado de grande potencial integrador esse conjunto de javardices que oscila entre o bizarro e o “tem algum mal?”.
É nessas alturas da praxe que antigos(as) sebenteiros(as) e caloiros(as) se interpenetram na simbiose perfeita que eu traduziria por “a ver se te como até ao fim do curso”, embora eu ache que há formas menos azeiteiras de exibir tesões, com resultados mais profícuos. É lá com eles, quando foi comigo levaram nos cornos, podia ter sido ao contrário mas, por acaso foi assim, calhou.

Aqui há uns tempos falaram, na televisão, na rapariga do Instituto Piaget, que parece que está com problemas (julgo que a rapaziada da associação académica, à falta de quem lhe pespegasse porrada na tromba, faz sentir à rapariga que não devia ter aberto a boca para se queixar do que entendeu queixar-se).
A essa jovem sugiro que arranje, à falta de irmãos e cunhados entroncados, meia dúzia de ciganos de má catadura. Assim acompanhada, que interrompa uma reunião da associação académica, daquelas em que os petizes costumam ir treinar o slogan “não pagamos, não temos condições, o ensino está mal, e já agora não estudamos a ponta dum caralho”. Verá que a debandada duma associação académica desse jaez é linda de ver, embora nauseabunda. Deverá pedir aos ciganos que, de passagem, enfiem os instrumentos da tuna académica pelos cornos abaixo da própria tuna académica, o que gerará sons de grande musicalidade.

Falaram, também, duma outra caloira, doutra escola, que terá sido obrigada a mexer em estrume de vaca, a dita bosta. Não vejo nenhum mal nisso, eu até sou dos que afirmam que tudo se lava desde que se dê bom uso à água e ao sabão.
Mas, estava eu nisto, fala o senhor que manda lá, o “engenheiro-das-agriculturas-chefe” da escola. E o senhor mais não babuja que isto: “os factos ocorreram em Outubro e ela queixa-se em Março; acho isto estranho”.
Fiquei elucidado. Acho que este argumento, esta estranheza, extrapolados para os casos de pedofilia, poupariam tempo ao povo e aos juristas deste país. “Ai o senhor, quando menino, foi encabado e não gostou? Isso foi quando? Em 1989? E vem queixar-se agora? Isso é muito estranho, arquive-se!” E por aí adiante. Não sei se já foi demitido o senhor da escola de Santarém, mas espero que não seja porque pode ser que ainda volte à televisão e dá-me a risa (como dizem os galegos) ouvir semelhentes “murcões”.

Ainda nessa reportagem, um jovem aluno do mesmo estabelecimento carregou sobre a colega com um silogismo hilariante, que começava em animais e acabava em bosta, querendo ele dizer o seguinte, pelo que se percebeu: “a colega queixosa, já que está numa escola agrícola, devia achar natural que a enchessem de bosta”. E depois rematou, brilhantemente: a ser assim “vidrinho”, a estranha e indesejável colega devia ter entrado antes em Medicina!”

Ó petiz! Então e as urinas, as fezes e a expectoração? O excremento humano? O cheiro a pés mal lavados nos corredores das urgências? Grande praxe não farias tu aí, petiz, tanto excremento à disposição da tua prodigiosa e tenra imaginação! Estás a esquecer-te disso, ó futuro boizinho manso das pradarias exclusivas da cerveja, dos “shotezinhos” e da pastilha! Olha que vais mal.

De qualquer forma, espero que a população académica se decida a fazer o que tem a fazer: estudar muito e aperfeiçoar-se muito na arte da desbunda, em tempos separados e complementares. Ambas as coisas são necessárias e fundamentais a uma população académica, e mesmo a qualquer outra população. E que se vá habituando a ir, conscienciosamente, aos focinhos dos “praxadores associativos”, que é uma linguagem que eles entendem mesmo quando estão perdidos de bêbados e a achar-se giraços por detrás das lunetas baças da sua banalidade boçal de fradiques de batina.

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