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28.9.03

Aos papéis

Tal como me dizem com alguma frequência (sobretudo aqueles que não concordam com o que eu digo), eu não percebo nada de futebol. Intrigam-me, por me serem desconhecidas, e até com algum fascí­nio, as tácticas de ataque, de defesa, de cruzamentos, de entradas, de saí­das, de foras de jogo, de trincos e de médios, de medianos ou de geniais, de defensivos ou ofensivos.

Noutro plano, já fora da estrita técnica do desporto, o futebol suscita um manancial enorme de reflexões. Um exemplo riquíssimo disso são as reacções dos dirigentes desportivos às decisões dos árbitros. Neste plano, cada um assume, de acordo com a sua ondulante conveniência, um dado papel que, determinado por um objectivo, digamos, mediático, é, por isso mesmo, plástico às necessidades do momento.

Eu não percebo, por exemplo, por que razão o Mourinho tem de mandar recados ao Sporting sobre as incoerências deste. Eu não percebo porque é que o Bettencourt não critica as decisões arbitrais sem precisar de sugerir a ideia de que o infortúnio do Sporting se deve à sua postura imaculada no que toca a assédios ilícitos aos árbitros. Nem porque é que, a ser isso verdade, é preciso que o afirme por contraponto à postura de outros dirigentes desportivos, alegadamente menos imaculados do que ele. Enfim: todos andam ao mesmo. Uns arrogantes, duros e fanfarrões; outros gentis, vitimizados, apóstolos da lisura. Todos representando um papel e alimentando a discussão infinda sobre as injustiças do poder arbitral que, como o destino, mudam inexoravelmente os resultados dos jogos. Uns do lado do lamento, outros do lado da presunção, mas todos roçando uma anacrónica infantilidade que seria até divertida se não fosse já tão gasta.

Não creio, porém, estar a dizer nada de novo para quem goste, a sério, de futebol.

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