blog caliente.

30.9.06

Conflitos graves

Um génio, que acabava de estacionar o seu Kia Shuma na berma duma rua larga e sem passeios, foi abordado por um indivíduo de idade indefinida, usando uma I-shirt (é uma T-shirt sem mangas, portanto "caveada"), uma tatuagem no ombro direito - que exprimia o juízo "Bissau - o meu Pai esteve lá - amor de Mãe" -, e sete piercings dispersos pela anatomia.
- Mãos ao ar! - berrou o indivíduo dado à iconografia e ao desleixo na indumentária.
- Tem prudência! - silabou o génio.
- Mãos ao ar e é já, que eu sou um salteador!
- Ó meu rapazola: eu sou um génio, tenho poderes. Não pareço porque o meu Kia Shuma não se assemelha a uma lamparina. Contudo, se eu quiser conceder-te o favor de te cortar essa boca toda, faço-o sem necessitar de requerimentos. E tu, em contrapartida, ficas necessitado de dezoito agrafos de cada lado do orbicularis oris.
- Ai sim?
- Sim.
- Bom. Então, nesse caso, mudo de ideias. Sou, afinal, um gestor de património negligente no vestir e não quero assaltá-lo.
- Fazes bem.
- Em alternativa, gostaria de colocar-lhe uma questão...
- Queres fazer-me uma pergunta mas escutas muito a Fátima Campos Ferreira, não é?
- Bom, sim, enfim, sim, essa e a Judite de Sousa...
- Dize lá (o génio tendia para utilizar alguns "quase arcaísmos verbais" quando confrontado com gestores de património; com gestores de matrimónio lidava menos "quase vetustamente" e descontraía-se ligeiramente mais).
- Bom, era o seguinte: o senhor doutor...
- Não me chames doutor. Podes tratar-me por excelente génio, isso parece-me bem. Mas prossegue.
- Está bem. Excelente gén...
- Pára com isso e faz o caralho da pergunta, foda-se! - proferiu o génio, já um bocadinho enervado com a untuosidade do indivíduo.
- Bom, no fundo era para saber por que razão Pedro Arroja ainda não escreveu nada no Blasfémias. Já foi anunciado há vários dias que o contrataram e ele nada...
- E perguntas-me isso a mim? Que sei eu disso? Alguma cólica que teve! Um caso de arrependido arrependimento, quiçá. Um sindroma de "eu já disse tudo o que tinha a dizer há doze anos"! Eu sei lá disso? Tu é que és colega dele! Dize tu! (lá está, outra vez dize..., pois)
- Mas eu não sei, eu não possuo - sequer! - um reclamo de grandes dimensões na minha penitenciá... quero dizer, na fachada do meu escritório! Eu podia, mesmo, chamar-me Caldeira! Ou, em calhando melhor, Manuel António de Santa Olávia Campos da Ramificação!
- Meu rapaz - suspirou o génio, já duas passadas afastado de Manuel da Ramificação - também eu possuo apenas um Kia Shuma e detesto coreanos.

29.9.06

Que pena tão grande!... (ler anasaladamente)

É gratificante para Portugal e para a Europa inteira saber que o Nacional da Madeira foi eliminado da Taça UEFA. É pena que a simpática agremiação madeirense não desça à segunda divisão, aliás.
Isto não se prende com nenhum ódio de estimação aos nacionalistas que, aliás, juntamente com os maritimistas, deviam competir apenas - quanto a mim - numa liga interna, a Madeira League, tão independente do nosso futebol como a Madeira, se eu mandasse, seria de Portugal.
Não, nada disso.

É por causa daquela claque que eles têm, que parece um coro de carpideiras aflautadas e que, além disso, toca bombo. Ah!, e faz imitações: imita sirenes quando os adversários se aproximam com perigo da sua baliza (da deles, do Nacional) e imita, no resto do tempo, aquele "slogan" benfiquista do "ècèlebê, etc", azeitando-o ainda mais - se isso for possível - com aquela coisa inacreditável do "cêdêène, etc".

Por este singelo mas incomodativo facto, peço muita desculpa mas estou razoavelmente feliz. Andor.

28.9.06

Dizer que "a minha é maior que a tua" é um juízo de facto, assim sem mais nada?

Por acaso é-me mais ou menos indiferente esta questão da antiga entrevista (parece que foi há doze anos) da nova aquisição do Blasfémias. Que a entrevista tem para lá umas coisas que parecem um bocadinho possidónias, tem. Mas isso não me interessa por aí além e é, até, um juízo de valor.

Também não me interessa por aí além (a não ser do ponto de vista do registo sorridente) o esforço titânico de alguns blasfemos defendendo sua dama, já tão atacada mesmo antes de escrever de sua justiça!
De facto, isto importa-me tão pouco que, já a seguir, virarei o azimute para uma ocorrência que, essa sim, me encheu de relativo gáudio. Se pretenderem partilhar do meu nirvana é só saltarem esta "posta" e passarem à que vai estar imediatamente acima.

No entanto, é engraçado que se escreva isto, remetendo para isto (que é um livrinho sobre Filosofia), onde se pode ler, entre outras coisas, isto:

"Os juízos de facto têm claramente valor de verdade. E o seu valor de verdade é independente das crenças ou gostos de quem os profere. Ou melhor: é independente da perspectiva de qualquer sujeito.
Os juízos de facto são totalmente descritivos. Quando são verdadeiros, limitam-se a dizer-nos como as coisas são.
Não é óbvio que os juízos de valor tenham valor de verdade. E, se são verdadeiros ou falsos, talvez não o sejam independentemente das crenças ou gostos de quem os profere. Talvez não o seja independente da perspectiva de qualquer sujeito.
Os juízos de valor são pelo menos parcialmente normativos. De certa forma destinam-se a indicar-nos como devemos avaliar as coisas".


No texto blasfemo, parece bastante que João Miranda cuida ser a frase "a escravatura não foi má para os negros em termos económicos" um juízo de facto. Tanto que parece contrapor-lhe, como juízo de valor, ainda por cima emocional (sic), aquilo que acha ser uma estúpida leitura da primeira frase, ou seja, que "a escravatura foi boa". Este tipo de coisas irrita mentes superiores, evidentemente. "Ó Tomás da Cabana, sim, tu aí, que estás a levar chibatadas nesse dorso, está bem que te dói, mas economicamente, hem?, tens alguma coisa a dizer? ah!, só gemes, portanto concordas! Então cala-te!".

A ser assim, atrevo-me a expressar, imediatamente, ser João Miranda "um indivíduo atarracado e um bocado balofo, que apresenta soluções infantis para resolver problemas como o de Maomé na ópera". Isto é descritivo, limita-se a afirmar como as coisas são. É, portanto, um juízo de facto. Isto sempre tentando seguir João Miranda no seu raciocínio.
Se João Miranda, perante isto, reagir dizendo "ah! tu estás a dizer que eu sou um tonto gordo?", acusando-me (emocionalmente) de estar a emitir um juízo de valor, eu fico totalmente sossegado, porque não foi nada disso que eu quis dizer - até porque, como é consabido, o que eu disse não é verdade. E vou-me embora feliz, escrever da bola antes de me deitar.

Aliás, isso é já a seguir e sem necessidade de nenhuma reacção, era o que faltava.

Y, según tu punto de vista, yo soy el malo?

Não percebo. Sócrates em sequer parou para pensar que Chávez estava, afinal, a dar-lhe o ensejo para se integrar o selecto e exclusivo grupo dos desalinhados e de, com isso, conquistar a imortalidade.
Mas não. Encheu-se de brios e manifestou-se incomodado com o cartaz.
Podia, ao menos, ter alimentado o pasmo, deixar que o Ocidente se indignasse, que Bush pedisse explicações, que a CIA o perseguisse, que a Europa o renegasse e que o pacifista Mahmud Ahmadinejad o declarasse irmão, para depois, dominando em estreia absoluta a agenda mundial, pudesse ir outra vez ao plenário da ONU dissertar sobre as inestimáveis janelas de oportunidade (*).

(*) Marca prestes a ser registada.

Nani (pós-prandial)

Por acaso a bola saiu-lhe comprida demais na recepção, saiu-lhe dali quase quadrada, mas ele reconquistou a "circulatura do quadrado" com o toque curto - e de recurso - com que ladeou, pela direita, o polaco (careca de tão russo); e enfiou-a lá, no sítio, aqui já sem recurso nenhum, nem sequer para Quaresmas despeitados.

Declaração

Eu, abaixo assinado, declaro para os devidos efeitos que nada tenho contra pessoa nenhuma só por essa pessoa não ser eu. E muito menos contra quem - não sendo eu - nem mesmo vagamente conheço.
Mais declaro, também, que tenho a perfeita noção de que, em não tendo comigo cómodos e competentes cuidados, poderei vir a ter, um dia, toda a gente (ou quase toda) contra mim, como compete a quem, não tendo nada contra pessoa nenhuma só por ser outra pessoa, tem contra algumas pessoas o nojo inteiro, ou seja, o simples facto de elas não terem nascido, apenas, daqui a duzentos e dezoito anos. Partindo do princípio que, por essa altura, eu já cá não estaria - o que não sei garantir.

E mais declaro que não tenho, nunca tive - e se algum dia tiver, também direi - intenção de ofender ninguém, na minha vida inteira de escrevinhador de blogue.

Por ser verdade e me ter sido pedida por mim, passo esta declaração. Que dato e assino.

28/9/2006

besugo (não tenho outro nome que seja mais bonito do que este e, quem aqui vem, bem sabe: sabe-me o nome inteiro e a justiça estética que cuido preservar não o chapando aqui)

Em Alvalade, na relva, levais na anilha, ó bois!

Se aquilo que aqui se lê é tal e qual como se lê, então caralho: o Blasfémias fez mais uma excelente aquisição para o plantel. Sim, o excelentíssimo projecto de interior direito adaptado Pedro Arroja.
Jogava no Seixal de Toronto? Mais ao lado? Ah, eu disso não sei.

Ainda bem.
Antes no Blasfémias que no Sporting.
Que caralho: se se tem metido na cabeça do nóvel interior direito do Blasfémias que havia de ser futebolista (em lugar de médico, por que não?, o mercado regula Arrojas como regula tudo, não é? what's up, Doc?), e que desde que a Juve Leo - ou uma outra nova ordem qualquer - o apoiasse muito (mesmo que não jogasse a ponta dum corno - que não devia jogar, bastaria ver-lhe a estampa, deve ser parecido com o João Miranda, ou com o Rui Albuquerque, mas por acaso não sei se é, não sei mesmo, por isso esta frase é, portanto, excessiva e um bocado lorpa) deveria ser futebolista do Sporting "e, ora bolas, quem não gostasse de mim que me remetesse para o tribunal!" estávamos bem fodidos. É que nós já aturámos o Sá Pinto anos a fio, esse gentil e esforçado liberal - era outra coisa? - desajeitado, e a justiça desportiva é uma coisa complicada - de tão "arrojada" que é.

"Um homem deve ser o que um homem quiser!". Basicamente é isto, embora soe mais a "eu quero fazer o que me der nos cornos e o resto que se foda!".
Boa, é mesmo isso, Arroja, rapaz! Isto que disseste foi há dez anos? Que perspicácia antecipatorio-profilactico-terapêutica, homem! Marcas tu os livres, a partir de agora, sim? Queres barreira? Não? OK!

Aquilo da desventura dos hemodialisados e da falta de médicos em tribunal, assim ligado duma forma que nem sequer o Miguel Garcia (ou o Luís Delgado) seria capaz de fazer, tipo "ó meus amigos, então como é?, alumínio é logo médicos na barra, ok?", é um pontapé na atmosfera desferido com o pé que está mais à mão por um defesa esquerdo adaptado a escriba, ou vice-versa. Eu, isso, nem comento.

Eu, de Arrojas, aliás, nem sabia que treinavam. Quanto mais que queriam tanto jogar que, por via desse gostinho, se sujeitavam aos pelados agrestes e paupérrimos dos campeonatos distritais patrocinados.

27.9.06

A liberdade não se oferece. Conquista-se.

Não é, sequer, um sinal inquietante, a decisão da directora da Ópera de Berlim. A ser verdade que se aconselhou com a polícia berlinense sobre os possíveis riscos de atentados caso a cabeça de Maomé surgisse no palco dentro de uma bandeja, então é evidente que bateu à porta errada - não há memória de uma força policial aconselhar apenas o cinto quando pode pôr também os suspensórios.
Assim como há quem olhe para o mundo islâmico do pedestal da sua infinita sabedoria sobre a liberdade de expressão, também há, naturalmente, quem se subjugue cegamente ao temor da retaliação. Tolerância não tem, claro, nada a ver com medo ou com terror.
Eu acredito que, para além daquelas minorias desviantes que cultivam a arrogância ideológica e a capitulação ao medo, os europeus continuarão a pensar e a agir como sempre pensaram e agiram: naturalmente livres e consequentemente tolerantes, sem que para isso tenham de se socorrer da retórica gasta das evidências, há muito adquiridas, sobre liberdades cívicas que alguns insistem em exaltar.

E sobretudo isto:

26.09.2006 (véspera do jogo)

Эксклюзивная продукция UEFA на матчах «Спартака»!
Впервые в России официальная продукция UEFA, изготовленная специально для клуба ФК «Спартак» - участника турнира Лиги чемпионов!
ФК «Спартак» Москва - единственный российский футбольный клуб, на матчах которого болельщики могут приобрести оригинальную продукцию, произведенную UEFA специально для клуба.
Продукция заказана в Англии. Партия ограничена.


Ora bem, depois não digam que não fazemos trabalho de casa. Diz ali em cima, basicamente, espero eu, da soltura que invade as tripas russas sempre que se lembram do que as espera entre as 17 e 30 e as 19 e 15, isto mais ou menos (o horário e o resto), no dia 27.09.2006 (dia do jogo).

Carta a Miguel Garcia

Caro Paulo Bento:

Amanhã, como aquilo vai ser naquela espécie de alcatifa e a bola salta muito e vai haver muito "contacto", pões a jogar só os gajos altos, fortes, rápidos, corajosos, saltadores e inteligentes. Ou então, caso espécimes destes não te abundem no plantel, mandas os gajos que tiveres aí à mão ganharem aquela merda de qualquer maneira, o que é capaz de ser mais fácil e mais adequado e, ainda por cima, poupa-te palavrório.

PS - Algum problema? É preciso eu ir aí?

Olha ali Gaia!

Fui espreitar o Altino, como vou quase sempre. Descobri duas coisas, as outras já sabia, ou já ia sabendo:
1 - Que mudou de "template" (eu gostava mais do anterior, mas isto é uma coisa que eu hei-de dizer sempre sobre "templates", da mesma forma que afirmo as vantagens da antecedência de livros ou de filmes em relação a filmes ou a livros)
2 - E que conseguiu, não sei se sem querer (mas acho que não, acho que foi uma mistura de querer, de saber e de algum calhar), fazer a fusão - pueril, inteligente e conseguida - entre o blogue que já tinha (o fodido) e o que queria ter também (o outro, que depois foi abandonando e que, bem vistas as coisas, ainda bem que foi, se isso significasse desleixar este).

O fodido está bem e bom. Podia, evidentemente, voltar a maiuscular depois dum ponto final, como regra, como fazia dantes. Mas eu sei que ele não faz isso por causa da Fernanda Câncio, há-de ser por outra coisa qualquer suficientemente nobre.

Já ela não sei, não posso saber, nem vem ao caso.

26.9.06

Ó Arsénio, vai mamar!

O Arsenal é uma equipa que se chama assim porque tem, há vários anos, um treinador que se chama Arsène e que é gaulês.

Os britânicos podem ficar um bocadinho chateados com isto e virem berrar-me aos ouvidos muitas coisas sobre outros tempos gloriosos dos "gunners", antes de começarem a chamar-me "bastard", e aquelas outras coisas que eles chamam a quem os arrelia. Mas, a mim, ninguém me demove disto: o Arsenal chama-se assim porque pronto, já disse. E ninguém se lembra já doutros tempos gloriosos dos "arsenalistas", muito menos antes do Arsène e dos outros "francophones" que ele para lá foi levando.

Aliás, já que se me pede racionalidade - e eu, quando ma pedem, dou-a logo - o pior treinador que o Porto podia ter, neste jogo, era o Jesualdo Ferreira. Isto é evidente, porque o sorumbático pedagogo da bola que agora comanda as tropas que treinam em Gaia tem uma simpatia especial pelo Arsenal do Minho. Ora, o Minho é verde e, por acaso, o relvado do Estádio dos Emirados também é dessa cor. Esta foi frouxa, admito, mas é que amanhã vamos jogar num sintético. Raios partam a sorte, que nem a um relvado temos direito.

Agora por Emirados: a equipa do Arsenal é uma equipa basicamente árabe. Das arábias. Começa no nome do estádio e prossegue na publicidade nas camisolas. Aquilo é um Islão pegado.
Britânicos é que o Arsenal não tem. Hoje tinha um, o defesa direito, mas foi exactamente esse tipo o pior jogador em campo, logo seguido pelo Ricardo Costa (que tem um ar britânico, ali das Hébridas, a chatice é essa).

Isto chateia-me.

O Porto perdeu com uma equipa cheia de grandes jogadores? Não. Perdeu com uma marca poderosa que juntou grandes jogadores sob a batuta dum Arsénio.
Aquilo não é o Arsenal de Londres, a menos que Londres seja um beco de Marselha, ou de Nice, ou de Yaounde.
Não. Aquilo, de facto, é um arsenal. O arsenal do Arsène.
Um arsenal que deu um banho de bola ao Manchester United na semana passada, eu vi, toda a gente viu.
Mas... de Londres? Só se for por jogarem lá (se for em casa) ou por virem de lá (quando vão fora).

Ora, é exactamente aqui que eu queria chegar: esta marca do Arsène só joga bem em casa; e é se as coisas lhes correrem mesmo bem. Não tem alma. Se tivesse alma, já tinha ganho a Champions. E não ganhou.
Têm lá o Cesc Fabregas, que é bom e espanhol, têm o Henry (que chega a ser irritante, porque podia fazer a diferença entre o futebol e a pintura, mas não faz, porque passa muito tempo em deleites de gouache, o pincel é o caralho dum francês, anda ali a pastar, a masturbar o cavalete, enerva!), mas não têm alma. Também não têm casa, valha a verdade. Nem nada que emocione por aí além.
Quem torce pelo Arsenal, no fundo? Os gajos de Londinium? Não me macem.

Esta marca "Arsenal" vai perder no Porto e eu aposto 500 euros nisso.

"La colique" (Stranglers unplugged)

Tenho um mau pressentimento para o jogo de quarta-feira, com o Spartak.
Ou tenho isso ou, então, tenho bastante sono.
Vou dormir e amanhã já devo discernir melhor entre estas duas futilidades, até porque já me terei livrado duma.
Se não for amanhã será depois, isso é como o sol.

O Mehmet Scholl é que joga!

Gosto muito dos muçulmanos. Os mais radicais e resmungões parecem-se vagamente com os tipos mais radicais e resmungões da Quercus, embora estes ainda não preconizem - pelo menos que eu saiba - amputações públicas de membros (e outras extremidades) aos prevaricadores. Nem impõem aos seus membros o uso de chinelas e turbantes apanascados.

Lá está: o que é ser membro? Tanto pode ser uma coisa para calçar, como uma para cobrir, como, ainda, uma para cortar. Portanto, mesmo que vos tenham inscrito na juventude, nunca pagueis as quotas desta merda. A pagardes, que seja alguma coisinha ao Sporting, que precisa e, ao menos, ainda só tem nove pontos.
Mais um ponto, aliás, e começamos a contar tudo em Mandamentos; e a parir dogmas.
Mais três e nem isso.

Fabbrica Italiana Automobili Torino

Penso que chegou o tempo de agradecer a quem nos recuperou do lixo dos endereços avulsos.

Haverá, certamente, quem o tenha feito apenas por delicadeza. A delicadeza é uma finura, contudo, mesmo quando se trata de remexer no lixo.
Haverá, também, algumas boas almas que ainda nos não pescaram do entulho por falta de tempo; ou de vontade. Mas sabemos todos tão completamente da intrincada relação que existe entre o tempo e a vontade que nenhum de nós terá, nunca, vontade de retirar razão ao tempo - nem à vontade. Mesmo que se trate aqui do tempo e da vontade dos outros, essas excreções alheias.

O agradecimento será, sempre, por intencional definição, mais singelo que o apelo.
Um apelo tem, sempre, qualquer coisa de gongórico, mesmo que parido por uma vontade simples. A gratidão, essa, terá sempre a dimensão de quem ajudou, nunca será tão pequena como a de quem pediu e, depois, simplesmente, agradeceu.

Ou seja, a gratidão é grande mas chega sempre de Fiat 600.

Muito obrigados a todos

lolita, Alonso, besugo e (este, qualquer dia, fode-se) Stkaneko

25.9.06

Terza puntata

E eis que surgem os primeiros sinais do tom dominante do debate sobre o próximo projecto de referendo sobre a despenalização do aborto. Os argumentos mais grotescos sobre a IVG serão os daqueles que gostavam de mandar na vida dos outros; os mais revivalistas serão os daqueles que não conseguem ver mais do que a sua própria vida (e que, mesmo desta, vêem mal).

O protocolo revela melhor do que qualquer Polaroid

Havia delicadeza em Cavaco Silva, ao beijar a mão da rainha Sofia. Há uns milésimos de segundo - aqueles por que dura o momento em que ele, pragmático e determinado, lhe eleva a mão - em que se chega a supor que, afinal, vai mordê-la.

Os indicadores do corpo, esses dedos todos

Falta de apetite, desconforto abdominal e uma assustadora perda de quase quinze quilos, tudo isto esmagando-o em menos de dois meses, levaram Libório ao hospital. A ver se lhe diziam o que haveria nele que lhe causasse aquele esmagamento.
"Neurastenia", dir-lhe-ia Breuer, caso Libório o procurasse; e caso, alguma vez, tivesse Breuer sido displicente num exame físico.
"Uma qualquer debilidade do corpo, esse vexame ignóbil, mistura de tripas sufocadas pelo espírito e pela inteligência, esse detestável suporte que suporto!", garantir-lhe-ia Nietzsche, já irritado, se, em lugar de ser um luminoso triste, fosse tão estúpido como costumam ser os egoístas antes, durante e depois da sua própria dor.

Contudo, Libório não os procurou. Aliás, Libório, em quarenta e cinco anos que leva de vida, tudo o indica, não soube, nunca, de nenhum deles, mais que do nome e da remota existência. Isto, se tanto.

Libório, afinal, como ele próprio suspeitava, padecia daquilo a que Eça chamou, suave e nebulosamente, um cirro.
Dum cancro no estômago, sim.

Quem lhe olhasse para a base do pescoço, aliás, ali à direita de quem o olhasse e aqui à esquerda de quem o tivesse, veria a exuberância da propagação do mal: aquela massa tumefacta, logo acima da clavícula, que nem dores lhe dava, mas que estava ali agora e que dantes não.
Que fazia ali aquilo?
Nada. Era o mal, apenas o mal, o viajante mal, ali estacionado numa estrada secundária do corpo.

O Libório foi operado. "Abriu, fechou".

Começámos, faz hoje uma semana, este Outono dele.

O mal tende a espalhar-se e, tantas vezes, só dele damos fé quando espalhado.
Eu não quero - nem sei - discutir o que é o mal, que o mal não se discute fora das academias cultas. E muito menos com o Libório, que o tem dentro de si como se fosse um filho da puta.

Aquela coisa no pescoço ficou mais pequena. Ambos vimos. O Libório e eu. Isto quer dizer que temos algo em que pensar nos próximos dias e que temos, ao menos, isso.
Creio que se percebe perfeitamente por que digo isto. O Libório percebeu e teve, embora isso fosse independente do seu entendimento, alta precária.

Orelhas de burro (2)

A Sheryl Crowe e o Sting fazem um belo dueto, naquela música do "Wildflower". Chama-se "Always on your side" e nem sequer é uma coisa muito nova: saiu antes do Verão, é velharia.

Ela no piano, ele no contrabaixo, tudo sempre cordas e olhos de tempo. De ainda há tempo.

Eu não sei pôr aqui a música, o raio do "clip". Mas se quiserdes saber o sabor do meu Outono, bom, então provai-o aqui.
E que vos seja doce, se calhar gostardes da doçura.

24.9.06

Orelhas de burro

Acabou por ser um fim-de-verão sereno, apesar de ter chovido quase sempre. Mudanças de tempo. Nunca hei-de habituar-me a isto, parece que sou sempre apanhado de surpresa.
E sou.

Hoje, por exemplo, o céu esteve cinzento amarelado, com algum azul no meio, como é costume dele neste tempo. E, sempre no céu, havia algumas nuvens a irem para norte e muitas outras a irem para oeste, como se estivessem doudas, como sempre; o bocadinho de azul sempre no meio.
Um bando de andorinhas escolheu partir hoje, como sempre; como se escolhesse.
E eu, como sempre, pus-me a vê-las irem-se até deixar de as ver. Como de costume, como se fosse virgem de despedidas, como se nunca tivesse levado um murro nos queixos, como se tivesse escolha.

21.9.06

Homenagem a La Palisse: benditas janelas de oportunidade.

Sócrates, discursando no púlpito nas Nações Unidas, apelou a "uma solução permanente e equilibrada" para a crise do Médio Oriente. Destacou "a janela de oportunidade que constitui a resolução 1701 do Conselho de Segurança", uma vez que se trata de "um desafio em que as Nações Unidas e a União Europeia assumem responsabilidades partilhadas na promoção da paz e da estabilidade".

Já se sabe que a opinião de um governante português sobre a crise no Médio Oriente não interessa nem a um calceteiro saudita e que, nessa medida, só serviu para cumprir o calendário da tecnocracia correcta da ONU, onde todas as nações têm tempo de antena nem que seja uma vez por década (na melhor das hipóteses). Mas dispensava-se bem aquela retórica de redondilha estéril, assente em evidências banais e nos chavões típicos do empreendorismo lusitano que o governo PS tanto acarinha. Tal como se adivinhava, o bisonho Primeiro Ministro pensa os direitos humanos com o mesmo apuro ético com que decidiu como havia de fazer para controlar o défice.

Hoje as seringas, amanhã os microclisteres

Perfeitamente.

- Não às seringas, é?
- É!
- Está bem. Porquê?
- Porque se é crime cá fora, meu amigo: é crime lá dentro.
- Boa!
- Não é boa? Está a dizer-me que não é boa, esta?
- É. É boa. Quando não, de facto, tinham de se prender os presos novamente, e assim sucessivamente, sem cessar, para punir os crimes de forma sucessiva. Não, a sério, do ponto de vista do raciocínio circular é inatacável.
- Então é boa, hem?
- É. É boa. Mas o senhor resolve isso, então, exactamente como? Para o senhor se situar eu recoloco a questão: de que maneira?
- Com mais cem guardas prisionais. Ora! Exactamente. Cem! Recrutados em empresas privadas de segurança e dissuasão, uma espécie de "outsourcing" protocolado com, por exemplo, deixe-me pensar, olhe!, com entidades bancárias, que financiariam a coisa. Olhe, não vá mais longe, o Millenium, por exemplo. Ou outro assim, igualmente empreendedor e agressivo no "marketing" da dissuasão aliciadora. Ou do aliciamento seguido de dissuasão.
- E cem novos guardas resolviam? Acha que sim?
- Então não? "Queres seringa?, então toma lá o guarda de serviço às ressacas, que já ta vai dar pela cabeça abaixo, à seringona!".
- Há cem cadeias, é? Um novo guarda por cadeia?
- Não sei. Haverá cinquenta cadeias? Pronto, eram dois guardas de serviço às ressacas por cadeia, pronto, já está.
- E o aborto?
- Não sei, hoje vim sozinho...

20.9.06

Bom, isto parece um bocadinho assim-assim...

Quer dizer: um tipo escreve um texto sobre as declarações do Papa, situa-as no tempo e no espaço (nos vários tempos e nos vários espaços), disseca-as de forma inteligível e, vá lá, inteligente, aborda Bento Dezasseis nas suas vertentes política, pontifícia, teutónica e académica, faz um trocadilho entre "faux pas" e "faut pas", enfim: um tipo escreve ali uma coisa que até arrepia os cabelos e nos faz pensar que temos aqui um companheiro de estrada que compensa, em tino, a toleima de uns e outros que por aqui escrevem. Ou seja, pronto, a minha toleima. E a da lolita.

Vai a seguir e pespega um clip musical que gravou, em tempos, aparentemente, com o Ricardo Araújo Pereira, em play-back manhoso. O RAP é o gajo da direita. O da esquerda é o Alonso, de fita kamikaze na cabeça. Enfim, isso é notório.

Quer dizer: isto tem de levar um rumo e assim não se consegue. Valha-me Deus. Isto ou é coisas sérias ou é o Memórias de Alonso na Fase Dread.
Quer dizer, eu sei que disse outra vez "quer dizer", mas quando se quer dizer que se há-de dizer? Exactamente, "quer dizer".
Quer dizer, pá, organizemo-nos. Qualquer dia só falta a lolita a cantar o "Sobe sobe balão sobe".

Isto parece uma cruzada, ou o caraças.

Temos andado a mandar e-mails a avisar duma coisa que aconteceu e que não entendemos bem; a coisa prende-se com uma iniciativa da lolita que, como todas as iniciativas da lolita, resulta como resultam todas as iniciativas da lolita: em matéria de tribunal. E lá estamos nós no chumo.

Isto chateia-me, porque toda a gente sabe como é que se diz "sumo" aqui em Trás-os-Montes, o que me leva a crer que a azougada e volátil criatura que fundou este espaço de lazer mais não quis, com esta travessura, que gozar com a minha pessoa. Leia-se "pechoa". Ou melhor: "peshoa"; é mais "ashim" que "achim".

De maneira que ainda não mandámos e-mails a todos, mas havemos de ir completando a tarefa à medida que conseguirmos. Sabemos perfeitamente que alguns dos senhores (e senhoras) vão aproveitar para assobiar para o lado, de forma sobejamente canalha e um bocadinho torpe e, se calhar, também um bocadinho merecida para nós (por exemplo, não creio que Pacheco Pereira esteja para nos aturar, nem aquele senhor dos albatrozes que apaga o blogue dele mais vezes do que Paulo Portas apaga o seu passado e o seu presente, nem mesmo outras pessoas de juízo).

Mas há um blogue para o qual não conseguimos mandar e-mail nenhum. É o Eclético. O Eclético não tem e-mail disponível. Se tem, então que o Eclético nos diga onde está ele, que não se vê daqui. Então?
O Eclético, até ter um endereço disponível, terá de nos aturar por este meio.
E nós mandamos, por este meio, um abraço ao Eclético por vários motivos, sendo que o merecimento não é o menor deles. Longe disso. Nem a gratidão.

19.9.06

O caminho é seguir em frente, sobretudo quando não dá para voltar atrás

O blogger, servidor impiedoso, condenou-nos - na esteira do pensamento steineriano - a qualquer coisa como "there are no more returns". O que equivale a dizer que "endereço perdido não é recuperado". Protestamos em uníssono, ameaçamos atentados à bomba (o besugo), debatemos civilizadamente (eu), resmungamos sobre a libertinagem democrática (o alonso), mas o blogger foi implacável.
Enfim, não sei se foi o aquecimento global, o ressurgimento dos países não alinhados, as curiosas liaisons do PS e do PSD sobre a justiça ou as obscuras declarações de Ratzinger. As causas permanecem desconhecidas, mas o facto é que, apesar de profundos connaisseurs que somos dos meandros do blogger e da manipulação de endereços, conseguimos o grandioso e irreversível feito de mandar o antigo para as urtigas, o que nos obrigou a mudar-nos para este, novinho em folha e exclusivamente nosso.

Porque é que se passou a chumo? Suponho que seja dialecto Zulu (embora não seja de pôr de parte a hipótese de se tratar simplesmente do besugal sotaque transmontano). Mas o besugo, estou certa, explicará melhor.

Obrigada, em meu nome e dos dois cépticos do pós-modernismo que aqui escrevem, a todos os bloggers que já deram por nós.

Adelante!

Façam-me um favor

Vejam isto com olhos de ver e lembrem-se dos tempos em que os nossos amigos eram tão malucos como nós, se estavam nas tintas para as figuras que faziam (como nós) e se divertiam com estupidezes assim ... belos tempos!

PS - A partir dos 2:20 os gajos passam-se de todo ...

18.9.06

O "faux pas" do Papa (?)

Antes do post: Chego à conclusão que o nosso blogamemucho não é uma casa, é mais uma autocaravana. Mudámos de endereço, mas o blog é o mesmo.

O post propriamente dito:

Antes de mais, quem quiser ler o texto da comunicação do Papa - em inglês, que foi o que se arranjou - encontra-o aqui. Devo dizer que, embora seja nitidamente o texto, de natureza essencialmente filosófica, de um alemão, não é tão cerrado como a maior parte dos textos de outros filósofos alemães que tive o infortúnio de ter que ler, e a sorte de ser obrigado a entender, tudo isto no liceu.

http://news.bbc.co.uk/2/shared/bsp/hi/pdfs/15_09_06_pope.pdf

Não sei muito bem o que pensar disto.

Por um lado, o discurso em si é inócuo e o seu tema nem sequer é o Islão. Trata-se mais de saber se a vontade de Deus pode ser racionalizada pelo Homem, e outras questões profundas - de um ponto de vista filosófico e teológico - que daí derivam.

Por outro lado o Papa não é estúpido (acho que escrever isto não é blasfemar, mas se for, é mais um pecado a juntar ao rol) e vem daí a minha perplexidade.

Ou seja: sabendo nós, como sabemos, que os muçulmanos não toleram que se lhes diga nada de desprimoroso sobre a sua religião e o seu profeta - e o Papa sabe-o também - porque é que ele foi incluir no texto da sua prelecção aquela passagem de um documento com quase mil anos que, tirando os estudiosos, ninguém nunca tinha ouvido falar.

Mais, no contexto da prelecção, a citação em causa é perfeitamente dispensável.

Não me parece que o Papa não tivesse ponderado as implicações e consequências de ter escrito o que escreveu. E, por isso, a única conclusão lógica que me resta é a de que ele "quiz" que isto acontecesse.

E, então, resta a pergunta: "porquê?"

Há, pelo menos, duas razões possíveis: a) a política; b) a religiosa.

Porquê estas? Porque o Papa é simultaneamente uma figura religiosa e uma figura política. E nem ele, nem nós, nem ninguém pode destrinçar essa dupla qualidade. Se alguma coisa podemos é dizer ou pensar que ele usa a sua dimensão política como instrumento da sua dimensão religiosa. E, neste sentido, há uma dimensão subordinada e uma dimensão subordinante.

Portanto, se o Papa usa a política como instrumento - ao seu dispôr - da sua missão religiosa, será mais na "razão religiosa" que devemos procurar o motivo da inclusão daquela citação no seu texto.

A vontade de, neste mundo em que é tudo igual, tornar claro que o Cristianismo é superior ao Islamismo é uma hipótese. A vontade de estancar a sedução do islamismo nas sociedades cristãs ou "de fronteira" é outra.

Numa análise mais cínica e, portanto mais política, podemos sempre virar isto ao contrário e dizer que o motivo foi essencialmente político: demarcar a Santa Sé - tida como demasiado simpática para com os muçulmanos, segundo os seus críticos por causa de ser anti-semita - dessa sua imagem "pró-árabe", assim ganhando espaço de manobra que eventualmente lhe esteja a faltar nas chancelarias dos países ocidentais e, sobretudo, dos EUA.

Ou tudo ao mesmo tempo. Ou nada disto, porque na verdade eu estou simplesmente a especular.

15.9.06

alonso, animal:

Escreve, mazé!

Vinagrete

Tenho lido algumas coisas sobre as FARC e parece que são muito condenáveis. E parece que o PC também é condenável, uma vez mais: o PC é quase sempre condenável, lê-se muitíssimo isto - e agora é muito condenável por interpostas FARC.

Isto é a vida indignada dos indignados crónicos. Um indignado crónico é diferente dum indignado agudo porque tende a achar os outros, que quase sempre o indignam, cronicamente indignos. Basicamente é isto, e o indignado, está claro, enerva-se.
Eu sei como isto funciona, até porque também já fui mais tanso.

Como também tenho lido outras coisas, concluo que qualquer dia não se pode convidar ninguém para seja o que for. E decido que isto é geral, não é sequer privilégio (?) do PC. E sublinho que ainda bem. E aplaudo que não se convide ninguém, nunca mais, que os convidados e observadores só dão despesas e chatices. E indignações: se não for um com os azeites é outro com os vinagres.

14.9.06

besugo, joia!

Daqui alonso.

Capitalista, eu? Não era mau que fosse ... mudava-me logo para uma moradia com terraço, garagem, piscina, um pequeno relvado, uns arbustos e umas árvorezitas ... enfim, coisas de facho! E depois tornava-me socialista, que é o que os capitalistas de hoje em dia (dizem que) são!

Um beijo*, siciliano**, do alonso***.


*o beijo é prá lolita

** ou seja, com todo o rispetto

*** este sou eu

alonso, flor:

Daqui besugo.

Ó alonso, está bem: quando tens PP também tens V.
Mas isso não implica que, não tendo PP, não possas ter V, na mesma.

Tens, também - e isto é outra grande verdade - um rebento que me parece, mesmo apenas de relance, muito mais talentoso que tu para as vertigens da competição no asfalto.
Por falar nisso: mesmo não tendo tu, já, PP para os karts (suponhamos isto), achas que picadinho te dava V?

Eu sei o que é isso das grandes e fugazes felicidades sucessivas, aditivas ou substituídas pela próxima, sempre cada vez maiores. Ou lembro-me de saber, que também já fui puto e tenho aqui dois em casa que, volta e meia, embora mais velhotes do que o teu, são como o teu. E como tu e eu já fomos (embora eu suponha que todo o teu ser se revolte perante esta insinuação de similitude).

Carrega lá no V, anda, mexe-me esse traseiro gordo de capitalista anafado!

marca, paula...

Miguel Veloso foi, ontem, contra o Inter, um dos melhores jogadores do Sporting. Já tinha sido dos melhores contra o Nacional. Olha, agora foi contra o Internacional, é curioso.

Jogador completamente diferente de Custódio (com quem foi comparado por um cómico que publica coisas), Veloso é rápido, duro nos duelos e possante na progressão - Custódio é lento, menos imperativo no contacto físico e mais frágil na passada e na protecção da bola. Custódio compensa estas lacunas com um excelente sentido posicional.

Qualquer pessoa que consiga ver um jogo de futebol sem estar a pensar no bem que lhe sabia um prato de lentilhas pela boca abaixo, ou um albatroz pela natureza acima, percebe isto. E que ambos se complementarão excelentemente no meio campo do Sporting, se calhar jogarem juntos: até no contraponto cromático da capilaridade exposta.

Há cómicos que não enxergam bem, nem no meio das suas risadas, nem submersos no ruído das que provocam nos outros. Isto aceita-se, cada um é como cada qual. O maradona com minúscula, por exemplo, é cómico. E é sabido que uma abundante e desordenada agitação do diafragma pode perturbar a visão de muitos galhofeiros, emissores e receptores da galhofa, por excessiva abanação dos nervos ópticos e da restante trama sensorial acessória à visualização.

Posto isto, que não seja o facto de determinadas entidades deambulantes serem - praticamente -cegas funcionais para as coisas do esférico, a impedi-las de fazerem duas coisas: de publicarem e de serem cómicas.
E que não seja, também por essa lacuna futeboleira - ainda que exibida de forma pouco galharda e, quase invariavelmente, disfarçada de uma espécie de fastio, que oscila entre o "eu percebo disto aos pacotes" e o "eu não ligo um corno a isto"- que alguém os insulte, como já terá acontecido. Mal.
Só por causa disso, definitivamente, não. Os insultos a quem os merece e, apenas, quando os insultados estão a pedi-las. Não antes, nem depois. No tempo certo.

Repito: nada de os impedirem destas coisas.
Já de cagar, pelo menos satisfatoriamente, não se me dava que os impedissem durante alguns dias, desde que recuperassem depois, inclusivamente na hora da pesagem, "onde falamos sempre em inglês" - como diria, ainda hoje, o Dâmaso, se em vez de embasbacar com corridas de cavalos, fosse ver a bola embasbacado, antes de ir publicar, eventualmente aos bordos, o seu embasbacamento.

13.9.06

PVP e a fugaz felicidade

Normalmente aquela sigla significa "Preço de Venda ao Público". Não sei porque é que o seu anagrama VPV é normalmente usado para nomear o Vasquinho Valente, mas deve haver um significado cabalístico aí que me escapa.

Mas adiante, porque não era sobre isto que eu queria escrever. Era antes sobre o trinómio "Paixão, Vontade e Paciência".

E isto porque o besugo lá me alfinetou outra vez, com aquela história da "vontade" que eu teria esquecido ... ou não ... num canto escuro da minha prosa de ontem.

Só que eu nem esqueci, nem lembrei tal coisa. É que quando eu tenho PP eu também tenho V (descobre lá o significado cabalístico desta, anda ... )

Adiante, e falemas de coisas pelas quais tenho paixão e para as quais tenho muito mais que paciência e, portanto, para as quais tenho vontade.

Este fim de semana fui ao Centro e fui ver a rampa do Caramulo, com o meu filho.

Passando lá umas horas, acabámos por escolher, para ver a prova, uma sequência de curvas e postámo-nos ao pé de um comissário de pista, rapaz novo e muito simpático, que suportou com bonomia todas as muitas questões que o meu filho lhe foi pondo sobre as cores das bandeiras, o seu significado, etc.

E que no fim o convidou a, com ele, entrar na pista para a saudação final aos pilotos (que desciam do cimo da rampa para o parque fechado), manejando duas bandeiras ao mesmo tempo, de acordo com a tradição, como poderão ver na seguinte fotografia (aqui ele ainda estava a ser ensinado/a praticar, enquanto se esperava a passagem dos carros). Cliquem na foto que vêem melhor como aquilo não é tão fácil como parece:



Depois, quando os carros passaram, muitos dos pilotos agradeceram e disseram adeus ao rapazola/comissário de pista improvisado, só provocando uma ainda maior agitação naquelas bandeiras.

Resultado: "Pai, este foi o dia mais feliz da minha vida" *


* O meu filho diz coisas destas de vez em quando, o que faz com que eu até goze com ele. Mas parece-me que, de todas as vezes que as diz, curiosamente é mesmo isso que está a pensar ... e a sentir.

Clave de Fá

- Problemas novos exigem novas soluções.
- Referes-te a quê, concretamente? Isso dito assim é um bocado parvo.
- Olha, o caso da guerra...
- Do terrorismo!
- Da guerra! Deixa-me acabar.
- Acaba lá.
- Bom, se te calares um bocadinho...
- ...
- Esta nova guerra exige soluções novas, como, por exemplo, enfim, novas soluções.
- Diz uma.
- Bomba neles. A bomba boa neles. E sanções.
- Que sanções?
- Enfim, esquece as sanções. Bomba boa neles.
- Mas vamos discutir a bomba boa e a bomba má? Qual é a má? A que te acerta? A que os maus atiram?
- Nada disso. A bondade das bombas boas não tem discussão: é como com as pessoas, há as boas e há as más - que, já se sabe, atiram péssimas bombas.
-E tu sabes distinguir assim pessoas, logo-logo?
- Ó meu amigo, brincamos? Então não?
- E a maldade das bombas más, pode discutir-se?
- Essa tem sempre discussão. Mas é pequenita. E demorada. Para dar tempo a melhorar o aspecto geral das boas e do seu melodioso "PUM".

Afinal aqui fuma-se mais do que eu poderia supor

Meu caro besugo: o teu forte não são as deduções, está visto. Um radical é um idealista; um governante déspota é, inevitavelmente, um pragmático. Ou seja: o teu existencialismo (ou deveria dizer niilismo?...) só é radical ao enunciares (ou anunciares) o fim da história. Na sua execução, transforma-se num grandioso regulamento que poderia designar-se "compêndio das coisas que eu penso ser mais adequadas para toda a gente". Serias, assim, um despotista organizador, estruturante do modo de vida alheio.

Do teu modo de vida cuidaria eu, se mandasse. Passavas a treinar os juniores do Sporting e a escrever sonetos nas horas vagas, até te capacitares de que há poesia e beleza até no verso de uma página do Diário da República.
Sem nunca te chateares - isso garanto-te eu.

Pode-se fumar em blogues abertos?

..."se eu mandasse, a primeira coisa que fazia era acabar com tudo o que me chateia" , leu a lolita não sei onde, escrito por dois neo-existencialistas (mais vale isso, seja lá isso o que for, e embora seja mentira por definição, do que ser criacionista - os tipos do Brokeback Mountain, por exemplo, eram por aí, se pudessem - ou darwiniano; acho que ser isto é achar que "se eu tiver uma máquina de hemodiálise escuso de me chatear a mijar e portanto vou juntar dinheiro para comprar uma a um gajo que tenha duas e fazer sessões diárias de depuração em filtro externo, enquanto os outros cromos continuam a ter de desbraguilhar-se para se aliviarem").

Eu não sei onde leste isto, lolita, mas gostava que me prometesses o seguinte: se um dia mandares, lolita, já que acharias - deduz-se do que disseste, não deduz? - radical acabares com tudo o que te chateia (pelo menos como atitude imediata), acaba ao menos, imediatamente, com aquilo que me chateia a mim. Sim?

Um abraço em clave de dó. Por mim e pelas verdadeiras vítimas do pensativo e abrupto senhor analisador de fenómenos - e observador do trabalho dos outros, já agora.

É no que dá fumar coisas esquisitas

A ler, mesmo aqui abaixo deste, os dois textos neo-existencialistas - na linha radical - do besugo e do Alonso. A história acabou, as análises geo-político-estratégicas são estéreis e a razão, ao que parece, dá poder a quem a tem (pelo menos assim diz o Alonso). Um esquerdófilo radical e um direitófilo intolerante: eis que eles se interceptam, no final dos tempos. Como habitualmente, sempre na linha retro, aquela que acolhe a regra primeira - a de que "se eu mandasse, a primeira coisa que fazia era acabar com tudo o que me chateia".

De pé, ó vítimas do Pacheco Pereira!

Olha ele! Viste a dialéctica?

- É uma guerra. Ora veja...
- Não é. É terrorismo. De facto, se pensarmos...
- É uma guerra. Basta ver que o centro do mundo mudou! E que...
- Não é nada. Isso é um disparate... O senhor sabe lá onde é o centro seja do que for!
- É! É uma guerra civilizacional!
- Não é! Isso nunca!
- Está bem, é uma guerra com um componente civilizacional...
- E o componente religioso? Hem? O senhor esquece-se...
- Eu não me esqueço de nada!
- Esquece-se do flhadaputismo e do dinheiro!
- Ora o dinheiro, só cá faltava o dinheiro!... Isto é uma guerra e um filhadaputismo, isso concedo...
- É terrorismo! E não concede nada, o senhor não conc...

(Maria da Lucidez Integral, blogger e sibilinamente sibilina, entre outros doutoramentos em pragmatismo visionário com características retrospectivas, intervém para fazer luz na discussão, bradando, assertiva e enfadada - é uma mistura explosiva em certos meios - "que os chineses não se explodem", causando pasmo geral pela sua brilhante recolocação de premissas, isto porque, de facto, pouca gente deverá lembrar-se de ter visto um chinês a fazer isso, a explodir-se, embora seja certo que alguns frequentadores de restaurantes chineses já tiveram ganas de fazer explodir um ou outro chinês; mas espantando, realmente, fundamentalmente, pela recolocação das premissas nos carreirinhos, facto notório sobretudo para os amigos e para algumas crianças grandes que gramam premissas recolocadas, quase mais nada)

- Isso é que é!
- Não é!
- É.



Tens razão, alonso. A actual análise fenomenológica é tão fastidiosa e redonda que, quando acabar de se arrastar (de rebolar, melhor dizendo) já haverá poucos fenómenos para analisar: eles irão acontecendo, o que acontece muito aos fenómenos, alheios à fenomenologia aplicada.

Eu votava em ti para mandares, sabes? Mas palpita-me que não quererias mandar legitimado por mim, nem por ninguém, talvez apenas por sete alminhas (contando contigo), e ias matar-me por passar o tempo a olhar para ti de lado, ias fartar-te de mim, fechar-me a revista, isso tudo...

Bem revindo e retoma ambas as coisas: a paixão, a vontade, a paciência. São três coisas, portanto não posso dizer "ambas"? Olha, desculpa lá, mas tu é que te esqueceste da vontade...

Um abraço.

12.9.06

O mundo está perigoso

É o que vemos, ouvimos e lemos, não podendo ignorar.

Mas apetece ... neste mundo em que ninguém é bem vilão, e ninguém é bem herói, torna-se difícil ter ideias claras e propôr que se corte a direito na busca de um determinado objectivo.

Hoje, aliás, não é suposto cortar-se a direito. Há sempre muitos "ses", muitos "mas", muita coisa que ponderar, discutir, avaliar, compreender. Todos têm razão e ninguém a tem. Aliás, que é isso da razão? Mais um conceito ultrapassado, para não dizer fascistóide porque pressupõe a superioridade de quem a tem. Ou julga que tem.

Já gostei mais de discutir do que gosto hoje em dia. Vai-me faltando a paixão, ou a paciência. Ou ambas. E não sei qual perdi primeiro.

Acho que só aceitaria governar no âmbito de um regime autoritário, a bem do povo se fosse autoritário de esquerda, ou a bem da nação, se fosse autoritário de direita.

E se quisesse passar protector solar nas costas do meu filho e a foto surgisse na capa de uma revista de mexericos, fechava a revista e pronto. Aliás, aproveitava para as fechar a todas.

E, já que andava a fechar coisas, fechava também a TVI, a SIC e a RTP1, proibia os canais por cabo e deixava o povo a ver programas culturais na TV2 - cujo director nomeava - pró resto da vida.

E finalmente, só me tiravam de lá numa revolução, em que provavelmente me matavam. Sempre é melhor do que andar a aturar sindicatos idiotas e jornalistas estúpidos durante um mandato inteiro, só para depois perder as eleições para um sósia qualquer. É mais digno ser deposto pela força das armas e morto. Ao menos, antes disso, governei "à séria".

Ahhhh ... volto agora ao mundo em que vivo. Aposto que o que deixei escrito não foi levado a sério. Mas experimentem, por um momento apenas, levar-me a sério. E pensem como sou mau, ou doido.

De todo? Nahhh, não conseguem pensar tanto. Há demasiados "ses" e demasiados "mas" enfiados no processo mental hodierno ...

PS - O besugo tem razão. Eu estive cá e lá e não estive nem cá nem lá. Para cá estar vai-me faltando a "alma" que já tive e que me permitia não parecer um Flinstone da escrita ao lado dos ilustres fundadores. Para lá estar tive lastro em excesso (sete alminhas, contando comigo), compromissos sócio-familiares inescapáveis e ... muito pouco tempo para fazer (que não fiz) o que queria, e visitar (que não visitei) quem gostava.

PPS - À Miss Pearls o meu obrigado pela distinção. E ao besugo por ma ter revelado (mesmo com as costumeiras alfinetadas).

Falta de chão

Isto é muito antipático, eu sei.
Mas reparei que no documentário de hoje sobre a destruição dos prédios do WTC, nos Estados Unidos, um que deu antes de Pacheco Pereira ter surgido de gravata preparada e de Mário Soares, sempre sonolento, ter chamado Truman a Bush, havia muitos americanos (que, na altura, fizeram trabalho de voluntariado) a acharem e a proclamarem que "tinham feito a diferença". Ainda hoje estão convencidos disso, se calhar.
Não fizeram diferença nenhuma. Fizeram trabalho de voluntariado. Perante uma tragédia foram para lá e tentaram tornar-se úteis. Era o que deviam ter dito. Era o que deviam achar do que fizeram.
Mas não. Gostam de pensar que foram "fazer a diferença". Não foram nada.

Aliás, penso que é o simples facto de dizerem que estavam ali "para fazer a diferença" que me desgosta mais.
Não fizeram diferença nenhuma, fizeram a diferença em relação a quê, ou a quem?
A diferença já estava feita.
Já estão as diferenças quase todas feitas, há muito tempo.
Mesmo no sentido de "fazer falta", a diferença estava mais que feita. Ora pensem.

Um pequeno poema sobre o eu

- Venho aqui para participar uma ocorrência e apresentar queixa...
- Está bem. Fala para aí.
- Desculpe? Eu sou um cidadão e venho aqui...
- Tá bem, já disseste, vens aqui participar uma merda qualquer e queixar-te. Ora participa e queixa-te.
- Bom, eu fui assaltado!
- Fizeste bem.
- O quê?
- Fizeste bem.
- Assaltaram-me, bolas! E o senhor...
- Ah! Assaltaram-te. É diferente. Nesse caso fizeram bem.
- O senhor está bêbado?
- Não, só bebo água. E tisanas.
- Mas isto é incrível! É inacreditável! Eu vim participar e...
- E queixar-te, eu sei.
- Estás a irritar-me, pá!
- A ideia é essa, mas dás pouca luta, cagãozinho.

E rego-a

Pacheco Pereira é uma pessoa peculiar. Prende a atenção, é inteligente, é teimoso, tem aquele tom de voz entre o baixo e o soprano (se ele gritasse, alguma vez, percebia-se melhor o que eu estou a dizer), aquela barba grisalha que contrasta com os olhos pequeninos e cansados, tem gestos contidos, parece sempre que nunca seria capaz de mexer as mãos se não se desse o caso de necessitar delas para lhe enfatizar o discurso, tem um vago sotaque portuense culto, que não chega a ser um sotaque e, sobretudo, sabe muitas coisas e repete, inúmeras vezes, pacientemente, frases como "não, o que acontece... é isto assim assim". Tropéis de palavras e de factos sem sair do sítio. Nesse aspecto é muito parecido com Prado Coelho e com Pulido Valente, que também são pessoas inteligentes, explicativas, um bocadinho maçadas com o mundo e - de certa maneira - com um biótipo sui-generis. Noutros aspectos já não.

Espanto-me sempre com as pessoas que têm esta capacidade de ver de fora estando dentro, mas cuidando sempre estar de fora enquanto falam, enquanto pensam. Esta qualidade duvidosa de conseguirem ver de cima sem, sequer, objectivamente, pairarem baixo.
As coisas, os acontecimentos, para estas pessoas, não parecem ter corpo, não cheiram a nada. A estas pessoas parece que não lhes fica na boca o gosto a coisa nenhuma depois de nenhuma coisa.
Não precisamos verdadeiramente delas, destas pessoas, nem elas carecem realmente de nós.
Não há, na existência toda, esta questão do carecer, de facto. Carece-se porque se existe, mas pouca coisa existe - fora das questões da subsistência - por dela se carecer, verdadeiramente

Mas eu tenho uma tangerineira no quintal que nunca deu senão uma tangerina, há quatro anos. E deixo-a lá estar. Nem é pela sombra, ela é raquítica, nem duma poalha de sol protege. É porque gosto que ela esteja ali, viva, embora incapaz de se mexer (nesse aspecto, de acordo, isto pode ser uma parvoíce, eu próprio tenho mais duas tangerineiras que dão tangerinas e que também não se mexem) e, mais do que incapaz de ser viçosa, parecendo de amuo com a vida inteira que lhe viceja ao lado.

Não a abato, é pequena, fica ali assim, a cismar fora do tempo e da serventia. E pode ser que dê figos.

11.9.06

Boa sorte (folhinhas de tangerina)


Pêssegos, pêras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.

Eugénio de Andrade

Dardos

As histórias individuais comoventes, essas coisas, comovem pelo seu cariz individual, pela história inteira e independente - na sua inteireza - dos indivíduos, ou pela possível e quase obrigatoria aleatoriedade do protagonista?
Isso não se sabe.
É um estudo que ainda vai na fase 2 mas que deve resultar mal e ficar muito caro, em termos práticos.

Entretanto, lolita, o diário do Moretti é uma seca atroz. Nada que se compare ao Quarto do Filho. Devo dizer-te que nem Nietzsche seria tão espartano em Atenas como Moretti nesta aridez que se passeia por Pasolini como se Pasolini fosse uma gelataria. Se não viste não vejas.

Prevalecendo a acção sobre o pensamento.

A imagem mais tristemente poderosa do documentário que acaba de passar na RTP sobre o atentado às torres gémeas é a das duas mulheres, presas nos últimos andares da torre norte, quando se abraçam, assim que tomam consciência de que vão inevitavelmente morrer. Aquele inferno, esgotado em menos de duas horas, foi um crescendo de perda de inocência. Desde os primeiros minutos de pasmo pelo absurdo até à explosão das paixões humanas. Umas, as da coragem contida de quem, aterrorizado, sentiu a morte iminente e assim a esperou; outras, as de gestos salvíficos de desconhecidos em perigo, cometidos por gente comum. A outros inundou-os o terror da morte, cegando-os, correndo sós até se lhes exaurirem as forças a caminho da saída.

Há quem se tenha salvo com o remorso de ter usado os escassos minutos que tinha para fugir sem olhar para trás, para os que ficaram. E há quem tenha morrido a salvar todos os que pôde salvar, sem ter usado esses mesmo escassos minutos - nem um segundo deles - a pensar em fugir. O heroísmo do director de obra, Di Martini (que conhecia as torres como a palma da mão) só podia tê-lo levado aquilo que, no final, se imagina. "Vamos tentar sair? Acho que não." Só então soube disso, no único momento em que parou para pensar em si próprio.

10.9.06

Tu recupera bem, rapaz, demora-te nisso

Que bom médio defensivo é o Miguel Veloso. Não é? Pois é.
O meu problema principal, agora, é tentar evitar que o Carlos Martins recupere rapidamente da lesão crónica que tem, sem ser a dos neurónios, a outra: é que se a inconsistente criatura recupera, o Bento ainda o põe a jogar na terça-feira e, na terça-feira, é contra o Inter. Ora, jogando contra o Inter, parece-me que estamos tramados de qualquer maneira, mas também não é preciso facilitarmos-lhes a vida.

Não, isto é só a brincar.

Não vi o jogo do Bessa, nem me pronuncio sobre o resultado. Além disso, chateia-me que agora se diga que 3-0 é uma goleada. Isso é 7-1. Isso sim, é uma goleada. Está bem, 5-0 também é, mas abaixo disso não.

Do jogo do Bessa retiro, apenas, do pequeno resumo que observei, a epopeia de Petit em câmara lenta. O pequeno e pouco belo publicitário do Benfica (não é publicitário? então desculpem, mas tem cara disso, ou disso ou de cu, à paisana) encostou a porção cefálica da sua estrutura anatómica à própria cabeça do João Ferreira - que lembra a do João Tomás - e afinfou-lhe, pelo menos, com dezoito perdigotos. Levou vermelho directo.

O João Ferreira, como bem afiançou o senhor Vieira ao senhor Major, serve. Isso ele admitiu. Mas o Paraty, de facto, serviria muito melhor. Pelo que hoje se viu na Madeira seria, mesmo, o ideal.

Paraty

A dada altura, um tipo do Nacional - um que trazia escrito "Cardozo" nas costas da camisola - abateu um jogador do Sporting, na intermediária, com uma pandeirada extraordinária. A seguir, ainda veemente e enervado, dirigiu-se ao árbitro careca e afinfou-lhe uma "peitadela" que o fez estremecer.
O árbitro, que se chama Paraty, não hesitou: mostrou-lhe um cartão amarelo.

Paraty, filho, se me escutas elucida-me: o amarelo foi pela pandeirada? Se foi, está bem, ficamos a saber que admites encontrões de paraguaios, desfechados na tua careca e trombuda pessoa, sem os punires. Foi pela "peitadela"? Bom, nesse caso é bom saber que toleras pandeiradas, desde que não haja, pelo menos, fracturas expostas.

De facto, de ti sabe-se quase tudo. E o que não se sabe revelá-lo-ás tu, em próximas batalhas, em todas aquelas para que sejas destacado, tu mais a tua estrídula e cagarolas gaitinha. Aquela que penduras do pescoço, sim.

A ti, como já disse ontem, não te queria nem que viesses de toga.

8.9.06

Coisas da seita da peúga branca que cuspinha para a alcatifa(*)

No Público:

Valentim Loureiro (VL) - Eu penso que ou o Lucílio... o António Costa, esse Costa não lhe dá... não lhe dá nenhuma garantia?
Luís Filipe Vieira (LFV) - A mim?! F.., o António Costa? F... Isso é tudo Porto!
VL - Exacto, pronto! (...) E o Lucílio?
LFV - Não, não me dá garantia nenhuma o Lucílio!
VL - E o Duarte?
LFV - Nada, zero! Ninguém me dá!... Ouça lá, eu, neste momento, é tudo para nos roubar! Ó pá, mas é evidente! Mas isso é demasiado evidente, carago! Ó major, eu não quero nem me tenho chateado com isto, porque eu estou a fazer isto por outro lado.(...)
VL - Talvez o Lucílio, pá!
LFV - Não, não quero Lucílio nenhum!(...)
VL - E o Proença?
LFV - O Proença também não quero! Ouça, é tudo para nos f...!
VL - E o João Ferreira?
LFV - O João... Pode vir o João. Agora o que eu queria... (...) Disseram que era o Paulo Paraty o árbitro... O Paulo Paraty! Agora, dizem-me a mim, que não tenho preferência de ninguém (...) à última hora, vêm-me dizer que já não pode ser o Paulo Paraty, por causa do Belenenses.

(Nota da redacção, completamente imputável a besugo: eu, por exemplo, por motivos que agora percebo muito melhor, mas que já tinha discernido mais ou menos, ao Paraty -se pudesse - não o queria nunca; e vou apanhá-lo na ilha do Soba, amanhã).

(*) - Aqui há uns anos, Alexandra Tavares Teles escreveu uma longa crónica - não me lembro se foi no "Independente", até - em que revelava que em casa de VL se cuspinhavam as cascas de camarão para a alcatifa; lembrei-me disso agora não sei porquê, talvez por imaginar que LFV é tipo para fazer o mesmo.

7.9.06

Pronto

"Se um amigo te pede ajuda, oferece-lhe um catre duro".

Por estas e por outras é que Nietzsche teve uma vida desgraçada, o que reputo de muito bem feito; e ainda havia de ter sido pior.

Signos

Um génio regressava penosamente à lamparina depois de excursão ao Ali Super, onde adquirira lingueirão congelado para botar ao arroz e onze quilos de queijo fatiado para sandes, quando foi interpelado por uma senhora com aspecto um bocadinho feliz.

- Eu sou a Maia (ou assim soou ao génio, na estrydula voz da interpelante).
- Muito prazer. Eu não, mas conheço perfeitamente Águas Santas.
- Tem de me revelar esses segredos. Adoro águas.
- Furtadas?
- De preferência. E frescas. Esse lingueirão é fresco?
- Sim, quer dizer, está fresco: ainda está congelado, está fresquinho... Quer dele um pouco?
- Não. Olhe, sabe que dia é hoje?
- Cuido que seis...
- Coitado: repita comigo "cuido que sei!". Tinha um "s" a mais.
- Não, é seis, é dia seis. Eu disse seis.
- Eu sei, ora, estava a parvejar. E sabe quem faz anos hoje, sabe?
- Isso não sei... quem é?
- O Sócrates! Quem é amiga, hem?
- Sei lá, eu não a conheço, não posso dizer-lhe quem é sua amiga...
- Parvo. Quem é sua amiga! Sua amiga! Hem?
- Não sei. A senhora?
- Eu o quê?
- A senhora é minha amiga?
- Não, embora simpatize consigo. Sabia que o Sócrates era Virgem?
- Não. Mas se soubesse garanto-lhe que tinha tido mais cuidado...

Esguichos de besugo

Marco Materazzi revela, aqui, o teor da conversa que manteve com Zinedine Zidane durante a final do recente campeonato do mundo. Essa conversa, recorde-se, valeu ao italiano uma potente cabeçada na região precordial, com consequente queda para trás; e ao francês, que teve a felicidade de lha desferir, um banho precoce (se é que ele se foi, de facto, lavar).

Vejamos.

Zidane, generoso, ofereceu a sua camisola ao central transalpino (por acaso até é transalpino, mesmo; visto daqui, aliás, é tão transalpino como, por exemplo, o Litmannen ou o Miroslav Klose). Propôs-se, até, entregar-lha no fim do jogo, eventualmente já passada por água.

O italiano (é uma espécie de transalpinos que há, mas como ficam mais perto dos Alpes que os outros transalpinos todos, acabam por ser do menos transalpino que há, isto tudo em termos de indivíduos e colectividades sediados para lá dos Alpes, claro) expressou preferir, nesse caso, já que Zidane se encontrava de bom humor e propenso a oferendas, a irmã do francês.

Zidane afastou-se, pensativo. Vê-se bem que começa por dar uns passos, afastando-se do outro. Mas também se percebe que já vai um bocadinho fodido da cabeça. Tanto que, repentinamente, inflecte a marcha e rapidamente regressa ao convívio de Materazzi, tendo sucedido, num ápice (gosto desta expressão, num ápice, parece um empregado de restaurante português a informar um cliente francês - ou belga, ou canadiano do Quebec - da ausência de determinado acepipe, mas com má grafia e, basicamente, numa espécie de françoguês) aquele episódio pitoresco da tolada.

Eu faria o mesmo. Então um transalpino, perante oferta grátis da minha camisola - ainda que suada, mas a cheirar a um Lancôme qualquer, isto se houver disso para homem - atreve-se a afirmar-me, levianamente, "ah!, já agora, se não te importas, em vez da tua camisola antes queria a tua irmã..."!?
Antes queria a minha irmã que a minha camisola? Tungas. Pega lá esta no meio da quilha. Era logo.

Agora vem o transalpino dizer que "ah!, além disso eu nem sabia que ele tinha uma irmã...". E ainda, quase ranhoso de choraminguice, "ah!, e ele nem me pediu desculpa nem nada, o temperamental pré-alpino...".
Isto enfurece. Quer dizer: preferir a nossa irmã à nossa camisola já é grave, já chateia um bocado; agora dizer isto na galhofa, sem sequer saber que temos uma irmã, quanto mais conhecê-la o suficiente para a cobiçar, ainda por cima cobiçá-la mais do que à nossa camisola gloriosa? Não. Isto é torpe.

O transalpino devia era levar outra turra, só por ser leviano. "Ah!, não sei, não conheço, nem sei se há, mas prefiro". Palerma.

5.9.06

Obrigados

Visitámos o technorati e o sitemeter e descobrimos alguns bons amigos que saudaram o terceiro aniversário do "blogame mucho". Muito tardiamente assinalamos a simpatia, sabemos bem, mas às vezes o que tarda é, apenas, o que se cala ou adia para melhor ocasião - e não o que se esquece.

Agradecemos, honrados e felizes, as saudações do Luis Novais Tito (cá por coisas, cá por coisas...), da MP (que atacou logo de Neruda), da Isabel (Alonso, tu vem cá ver isto, pá: tu tens um prémio de carreira!, tu que só escreveste para aí dezasseis vezes e metade delas a malhar nas tropas supostamente aliadas!), da Carla (acorda sempre tão bem!...), do Pedro Caeiro (o segredo é, de facto, o fiozinho de azeite e as pedrinhas de sal; já aquelas rodelas de tomate, só por si, são um milagre da agricultura nacional), do espumante (o aniversário é em Agosto, sim, mas em data móvel por culpa dos malabarismos do besugo), do El Ranys (temos mesmo de rever as páginas amarelas, de facto), do Evaristo (cada vez mais cordial e abrangente), da concisa e clara Ana Cláudia Vicente e do Francisco, a quem aproveitamos para felicitar pelo primeiro aniversário do blogue mais mediático da nação(*), sobretudo para quem nos olha do lado de Manaus.

Da mesma forma, agradecemos aos bloggers que teriam assinalado o aniversário do "blogame" se não estivessem ocupados, preocupados ou, mais desejavelmente, felizes com outro evento qualquer. Tal como sucede quando nós, aqui, nos esquecemos dos aniversários dos outros, tendo-os sempre presentes nas outras datas todas.
A sério: não nos levem a mal. É a vida, que nos inunda a todos ao ponto do sufoco, ou do de rebuçado, conforme as humidades e a temperatura com que nos vai cozinhando.

Lolita e Besugo

(*) Não, o Abrupto já não é um blogue - é um espelho de aumento.

à volta


Não é uma fotografia boa, até porque foi tirada com o telemóvel dum desartista. Eu.
Mas acontece que gosto dela.

Ler

Afinal não vou rever texto nenhum, não me apetece, estava sem conserto. Era muito mau.
Por isso vou antes escrever outro, também muito mau, mas apetece-me mais assim.
Mantive o título, claro.
É que ando a ver se acabo de ler "Quando Nietzsche chorou". Ando a ver se acabo de o ler porque também comecei tarde a lê-lo, nunca mais mo emprestavam, sempre ali a engonharem. Eu podia comprar o livro? Pois podia. Mas sou assim, que querem?

E posso dizer-vos uma coisa: no livro - pelo menos - Nietzsche era um chato inenarrável. Há enxaquecas que são castigos divinos para o egoísmo, mais do que manifestações da vasculatura. De maneira que tenho andado a ler aquilo praticamente só por causa do Breuer, e por causa da angst do Breuer, e porque a lolita me disse que aquilo é um bom livro. E é.

Posso afirmar, assim daqui, do meio do livro, que quando o Nietzsche chorar será muito bem feito!

Em Castelo de Vide acabei de ler um livro que já tinha começado há uns meses, aquele volume em que Maria Filomena Mónica, basicamente, diz o óbvio ("eu era muito bonita" - e ainda é), o inacreditável (tudo o que se refere ao Vasco, como é possível, meu Deus, o Vasco da Pirose Eterna e Intestina Que (O) Enoja partilhando humores - e sabe-se lá o que mais - com a Maria Filomena Mónica, mil raios!, a mulher deve ter padecido duma cegueira transitória qualquer, total e paralisante, Cristo!) e o cristalizado gasoso e relativo (António Barreto paira no livro todo, isto é a parte do cristalizado, mas apenas o suficiente para se perceber que não paira mais porque ela sabe que ele não quereria pairar mais do que isso - é a parte do gasoso - ou assim - é a questão do relativo, isto é tudo pensado e esmifrado até à glia periférica).
Bom livro. Andaram aí a dizer mal e bem dele, há uns tempos, mas isso é normal. Há gajos que ganham a vida assim, a opinar, também há quem ganhe a vida com o mesmo verbo mas sem o "o" inicial, ouvi dizer. Gostei mais da biografia do Eça, por sinal. Ainda estou à espera que a lolita ma devolva, mas também se não ma devolver gamo-lhe o Breuer. Limpinho.

Bom. Este é, de facto, uma porcaria dum texto. Vou limpar as mãos à parede e volto em seguida. Espera aí, Vasco.

4.9.06

Ler

Texto em revisão

3.9.06

Mazagrin



Café, gelo picado, sumo e rodelas de limão.
Para os espíritos mais sensíveis, recomenda-se abundante açúcar. Ou, na gíria culinária, açúcar q.b..

Nota: bebida desconhecida em vários pontos do mundo, designadamente no Maceió.

Auld Lang Syne

A penúltima etapa do regresso terminou na estação de serviço da Mealhada, um dos redutos nacionais do brunch de lancheira, disposto sobre as tirinhas de relva que rodeiam o parque de automóveis - ou mesmo em cima do betão engordurado, se tiver de ser. Retenho também na memória a imagem do octogenário que, assanhado e oportunista, beliscou imperceptivelmente a coxa da mulher que lhe passou demasiado perto, para mal dela e prevaricador gozo dele.

Ficou-me a lição; da próxima vez reprimo a gula. Secretos de porco preto, se degustados ao ar livre com trinta e sete graus (à sombra!), são indigestos. Corta-se a náusea com uma canja tardia, ontem foi o primeiro dia do resto da minha vida.

Amanhã será o segundo.
Agora falando sério: preferia não falar falando sério.(*)

Cheers. Com mazagrin.


(*) Adaptação (à balda) de um poema do Chico Buarque.

Do fim da estrada

















E depois dei fé que o rapaz mais velho estava a chorar molhado, nos olhos cheios de saudades húmidas e por debaixo dos acenos tristes, ali no desvio para Viseu. E que o mais novo - mais como eu, mais de securas caladas - estava na mesma. Mas mais como eu, lá está.

E todos sabemos que faltam aqui pessoas, são as que faltam na fotografia. Faltam as pessoas que lá faltam e as que cá faltam, porque se dá o caso simples e registado (mas não é para aqui, ao menos por agora) de lá terem estado e de cá terem estado e de não as vermos lá, nem sequer cá, muito menos agora, recortadas. Boas figurinhas.

Carecemos muitas vezes, vezes demais, as vezes que calha carecermos, de implantes queridos na paisagem. Temos sede dos implantes e apetece-nos bebermos da paisagem. Concedo que é uma frase parva.
Mas na paisagem, quando despida das pessoas, pode dizer-se que as pessoas são implantes. Decalques enquadrados, mas moldura livre. Pode sempre ser.
E não é contra a paisagem, isto das pessoas. É nela. Não sabiam? É.

É por eles que se chora, contudo e por conseguinte. Chora-se sempre pelos implantes, pela falta deles. Quase sempre pelas pessoas, pela falta delas, leia-se o "quase" como se fosse uma química de perda. Não há química diversa desta, aliás. Tudo custa, às vezes muito, em qualquer combinação da tabela periódica do nosso tempo.

As paisagens choram menos e não nos humedecem tanto os olhos como o que lhes falta ali, nelas. Como o que nos falta aqui, em nós, a justificá-las.
A justificar-nos.

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