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11.9.06

Prevalecendo a acção sobre o pensamento.

A imagem mais tristemente poderosa do documentário que acaba de passar na RTP sobre o atentado às torres gémeas é a das duas mulheres, presas nos últimos andares da torre norte, quando se abraçam, assim que tomam consciência de que vão inevitavelmente morrer. Aquele inferno, esgotado em menos de duas horas, foi um crescendo de perda de inocência. Desde os primeiros minutos de pasmo pelo absurdo até à explosão das paixões humanas. Umas, as da coragem contida de quem, aterrorizado, sentiu a morte iminente e assim a esperou; outras, as de gestos salvíficos de desconhecidos em perigo, cometidos por gente comum. A outros inundou-os o terror da morte, cegando-os, correndo sós até se lhes exaurirem as forças a caminho da saída.

Há quem se tenha salvo com o remorso de ter usado os escassos minutos que tinha para fugir sem olhar para trás, para os que ficaram. E há quem tenha morrido a salvar todos os que pôde salvar, sem ter usado esses mesmo escassos minutos - nem um segundo deles - a pensar em fugir. O heroísmo do director de obra, Di Martini (que conhecia as torres como a palma da mão) só podia tê-lo levado aquilo que, no final, se imagina. "Vamos tentar sair? Acho que não." Só então soube disso, no único momento em que parou para pensar em si próprio.

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