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5.6.07

Charruas de fora

Os americanos vieram e vinham com aquele ar que os americanos assumem quando visitam sítios, mandatados para os fiscalizar e americanizar a pedido de pedinchões dados a dar o ilhó por diplomas em estrangeiro passados por estrangeiros.

O americano que mandava era preto, ou melhor, muito castanho. Tinha quarenta e tal anos, como eu. Era da minha altura, mas mais magro: digamos que se eu lhe desse cinco quilos ficávamos ambos mais felizes, excepto ele.

São interessantes, os americanos. Não querem nada nas paredes, por causa dos germes. Nem flores. E são burros.
"Como é que eu sei que você não se engana, que esta droga - suponhamos - é mesmo para mim?", perguntou ele.
"Está fodido. Vai ter de confiar em mim. Se pensa que a vou provar eu está muito enganado, sabe?".
"Então eu não sei, certo?". O castanho estava nas sete quintas.
"Certo. Você não sabe."
" E então? Eu quero saber. Que faço para saber?".
" Páre tudo, não se trate, recuse, abra um inquérito. E se eu me tiver enganado na sua droga foda-me. Mas, por enquanto, vá-se foder".
"Mas não sei, pois não? Se esta droga fosse para mim, como saberia, hem!?". Começava a ficar irritado, pensei. E disse-lhe tudo.
"Saberia; porque o frasco da droga teria um rótulo onde estaria escrito "droga para o caralho do americano que vem do Burkina Fasso da Saúde cagar postas de pescada num sítio onde há quadros nas paredes e flores nos cantos da sala de tratamentos, mas onde só nos enganamos uma vez depois de os americanos se enganarem duas".
" Diria lá isso tudo, hem?". Estava roxo. Castanho arroxeado.
" Sim. E repare que diria lá só isto porque somos educados".

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